Capítulo 22
Jahi se encontrava extremamente empolgado para me treinar. Estava feliz por eu controlar o mesmo elemento que ele e minha mãe. Eu queria poder rir com vontade com as muitas piadas que ele fazia, mas quanto mais o tempo passava mais ansiosa eu me encontrava por ter que conhecer a minha mãe.
Cresci me esforçando para odiá-la, por ter me largado com o meu pai. Mas agora, sabendo de tudo o que se passa no mundo, já não sei se realmente a odeio, afinal todos aqui apenas me dizem o quanto ela é incrível.
Eu estava nervosa como nunca estive. Nem mesmo eu conseguia prever qual seria a minha reação.
- Ansiosa? - Pablo sussurrou para mim, enquanto Fernando e Jahi riam de alguma coisa na tv. Apenas assenti. - Não consigo imaginar como você está se sentindo, mas está tudo bem. Malaika é uma boa persona. Ela passa uma boa energia, seu nervosismo vai sumir rápido perto dela.
Sorri para ele, me sentindo um pouco mais calma com suas palavras, mas ainda havia aquela pontinha de ansiedade.
- Obrigada. - murmurei para ele, observando meu querido vovô desapontado com o jogo.
Imaginei se estaria mais calma ali se Carolina estivesse comigo. Ela realmente sabia encontrar a melhor forma de me acalmar em qualquer situação. Mas ela não estava ali, ela estava em casa, segura longe de mim.
Minha perna balançava freneticamente, e vez ou outra estalava os dedos de minhas mãos. A cada minuto eu me mantinha mais inquieta. Aquela espera estava acabando comigo de tal forma que acredito que sempre irei me lembrar da sensação.
E apesar de Fernando e meu avô continuarem conversando, eu ainda consegui ouvir os passos distantes no corredor que se aproximavam com rapidez.
Suspirei fundo, e quando a porta se abriu mais uma vez pude sentir os fortes batimentos de meu coração. Ela olhou para todos na sala e por fim pousou seus olhos em mim, olhos iguais aos meus. Seu cabelo estava escondido por um turbante, mas consegui ver pelo pouco que estava à mostra próximo a sua testa que ele estava trançado. Assim como os outros fundadores ela utilizava um broche do país que representava, preso ao seu longo vestido. A pele negra era mais clara que a minha, e assim como Jahi havia dito era clara a semelhança entre ela e eu, e entre ela e meu avô. Mas de certa forma ela era única. Ela era linda.
Seus olhos se arregalaram quando me viu e os lábios grossos logo se abriram em um largo sorriso. Eu não tive reação quando ela me abraçou. Fiquei estática, ainda sem acreditar naquilo.
De todas as coisas que aconteceram até agora, aquele encontro sempre foi a que eu acreditei ser a mais impossível de acontecer.
Eu tinha tantas perguntas, tantas coisas que queria dizer, tantas coisas que queria ouvir dela. Mas no meio daquele choque de realidade, eu não soube organizar tudo o que eu estava sentindo em palavras.
Devagar e ainda hesitante, eu a abracei de volta.
Se não conseguia acreditar no que meus olhos viam, o toque me fez voltar a mim. Ela realmente estava ali. Aquilo tudo não poderia ser um simples sonho. Eu realmente havia encontrado a minha mãe. E nós realmente estávamos à beira de uma guerra.
Sem perceber lágrimas calmas escorreram pelo meu rosto, caindo nos ombros nus dela. Reagindo ao toque das minhas lágrimas ela me abraçou ainda mais forte, me fazendo chorar ainda mais.
- Você cresceu tanto. - ela sussurrou suavemente sem se soltar do abraço, a felicidade em sua voz era tão evidente que fez com que meu coração começasse a se acalmar.
- Amélia teria tanto orgulho dessas duas. - ouvi Jahi dizer para Fernando com um suspiro. Não queria abusar demais, mas adoraria ter tido a chance de conhecê-la também.
- Me desculpe por tudo... - Malaika sussurrava para mim. Eu ainda não conseguia dizer nada.
Eram tantas perguntas que ecoavam na minha mente. Desde o motivo de ela ter me abandonado com meu pai até em como eles se conheceram. Eu queria saber tudo sobre ela, e tudo sobre esse mundo maluco em que fui parar.
- Como você está? - ela me questionou assim que me soltou, me observando de cima a baixo.
- E-Eu... - comecei a falar mas as palavras insistiam em fugir de mim, era como se meu cérebro houvesse dado uma pausa e me deixou ali, apenas a observar a mulher a minha frente.
Ela pareceu entender pois logo sua expressão se tornou mais serena. Colocou as mãos sobre o meu rosto, secando os resquícios de lágrimas que estavam nele. E por um momento, eu quis fugir dali, fingir que nada disso havia acontecido e que os subliminares nunca tivessem existido. Por um momento, quis a minha vida de volta. Mas essa vontade se esvaiu quando senti o toque dele, mais uma vez me trazendo conforto.
- Você está bem? - Pablo perguntou ao apoiar uma de suas mãos em meu ombro, e finalmente meu corpo conseguiu responder.
- Sim. - falei, balançando a cabeça positivamente.
- Que bom. - Malaika disse com um sorriso calmo no rosto, e Jahi se aproximou de nós.
- Quem diria que já podemos estar assim, tão perto um do outro! - meu avô falou se emocionando também.
- Gostaria que fosse em melhores circunstâncias... Mas que bom que estamos juntos. - disse Malaika, e me encarou com ternura nos olhos, mas também uma grande culpa. - Me desculpe por te colocar no meio disso tudo, Ariana.
E realmente não era assim que eu gostaria de ter conhecido a minha mãe. Conhecê-la após descobrir que faço parte de uma sociedade de pessoas mágicas já é difícil de processar, e conhecê-la depois de saber isso e que ainda por cima essa sociedade está entrando em guerra... Se não tivesse visto tudo isso até agora com os meus próprios olhos, jamais acreditaria.
- Vou garantir que você não fique em perigo. - ela continuou. - E sempre que puder, vou monitorar seu treinamento.
Antes que ela pudesse dizer algo mais, uma voz soou nos corredores e no quarto de uma pequena caixinha de som colocada na parede.
- Por favor, fundadora Malaika, comparecer a sala de reuniões. - a voz de dizia, e a mensagem foi repetida mais duas vezes em inglês e em espanhol.
Ela agora continha uma expressão triste, e me abraçou mais uma vez.
- Vou deixar ela nas suas mãos, pai. - ela disse para Jahi. - Me desculpe, querida. Tenho que ir.
Ela aparentava estar chateada por eu não ter falado muito, mas parecia compreender o grande choque que eu estava tendo. Malaika depositou um beijo em minha testa e se retirou daquele quarto.
Eu não entendia o que estava sentindo. Eram tantas coisas. Mas tinha a certeza de que uma delas era um medo indescritível.
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