Capítulo 21
Fernando e Pablo não disseram mais nada. Estavam esperando por uma palavra minha.
- Isso é bom ou ruim? - questionei.
- Bom... É ótimo para nos ajudar a vencer a guerra. - Fernando disse. - Mas por outro lado, só vai ser se você conseguir controlar boa parte de todo esse poder. Você terá que treinar muito, Ariana. E pelo o que eu soube, o seu elemento não é muito fácil de controlar. Por sorte você terá um ótimo professor.
- E quem seria esse professor? Quem mais tem esse poder além de mim e da minha mãe? - perguntei, na esperança de entender melhor tudo aquilo caso ele continuasse falando.
- Seu avô, Jahi.
- Meu avô?! - falei confusa, tendo certeza até então de que meu único avô vivo era o vovô Marcos que vivia na Bahia.
- Claro, o pai da fundadora Malaika. Jahi é o subliminar mais poderoso que conhecemos e o antigo representante da Guiné-Bissau, ele ensinou Malaika muito bem, tenho certeza de que será um ótimo professor para você também.
Já não sabia mais que expressão fazer, ou o que sentir. Eram informações demais. Olhei para Pablo, ele sorria levemente de canto, se divertindo com a minha confusão.
- Não se preocupe, vai chegar no nível deles. - disse com o sotaque argentino.
- Provavelmente irá além. - Fernando disse sorrindo. E no meio de tudo aquilo me parei pensando no quanto o sorriso dele era perfeito. Um dentista desmaiaria de emoção vendo ele.
Me dei um sermão mentalmente, me cobrando de manter o foco.
- Você irá treinar por um tempo antes de te colocarmos no campo de batalha. - Fernando falou. - Pablo não deve ter te dado muitos detalhes sobre a guerra não é?
- É, ele me disse apenas o suficiente para me convencer a vir com ele. Sou convencida bem fácil, então não sei muita coisa.
- Realmente, foi muy fácil convencer você. - Pablo disse, arqueando uma sobrancelha.
Fernando abriu uma pasta no computador, me mostrando uma foto de um homem calvo, já não era nada novo, usando um paletó que aparentava custar um rim.
- Subliminares de nível nove são capazes de transformar pessoas limiares em subliminares. Esse tipo de subliminar não nasce há um bom tempo, são bem raros. - Fernando começou a explicar. Esse na foto é Pierre Garnier. Nasceu limiar, foi transformado há trinta anos atrás pelo último subliminar de nível nove que nasceu. A família de Pierre é uma boa mistura, muitos são limiares e muitos são subliminares. Quando ele foi transformado ficou tão revoltado por escondermos esse tipo de poder das pessoas limiares, que decidiu que era hora de isso acabar.
Ele passou para a próxima foto, onde Pierre se encontrava com uma mulher, uma das mulheres que estavam na sala com os fundadores.
- Essa é Chloé Garnier, irmã caçula de Pierre. Nascida subliminar.
Vendo a imediata expressão de dúvida em meu rosto, Fernando logo tratou de explicar tudo.
- Ela nunca aprovou as atitudes do irmão, mas se fez de espiã para nós por um bom tempo, Pierre logo descobriu mas foi o suficiente, ela conseguiu muitas informações para nós. Pierre está tentando transformar pessoas limiares em subliminares de forma científica, através de cirurgias, implantes de células subliminares e tudo o que for preciso. Existem rumores de que com isso, ele conseguiu criar uma criança de nível nove.
- E vocês acham que eu sou capaz de derrotar essa criança? - perguntei.
- Bom, ainda não. Você deve treinar. Mas como já deve saber, nosso poder só se revela depois de uma certa idade, durante a adolescência, não durante a infância. Essa criança terá sérios problemas para conseguir controlar seu poder, então eles provavelmente irão garantir um treinamento intenso para ela. Ela vai precisar de no mínimo dois anos. Devemos treinar você urgentemente se quisermos garantir a nossa vantagem. E até lá, rezarmos para que encontremos outros como você.
Ele e Pablo se encontravam sérios, esperando para ver a minha reação. Senti todo o peso disso sobre os meus ombros, e não era nada leve.
- Por enquanto, eu sou a única chance que vocês tem, não é? - perguntei, temendo a resposta mesmo já sabendo qual ela seria.
- Sim, Ariana. - ele disse. - Você é a nossa única chance de salvar milhares de vidas inocentes.
- Estarei com você quando chegar a hora. - Pablo falou tentando me confortar, me deixar menos assustada.
Olhei mais uma vez para a tela do computador, gravando bem o rosto de Pierre em minha mente.
Aquele era o homem que eu deveria parar, ou várias pessoas inocentes morreriam.
- Estamos esperando o quê? - perguntei. - Me levem até ele, eu tenho que começar a treinar logo.
A quantidade de quartos e andares que aquele lugar possuía era impressionante. Se não tomasse cuidado, me perderia facilmente por aqueles corredores.
Nós descemos até um dos últimos andares, onde os corredores eram mais largos, e os quartos aparentavam ser diferentes dos outros.
- Aqui é onde os fundadores dormem. - Fernando explica. - Para alguns, incluindo a mim, aqui é como uma casa, portanto construíram os quartos um pouco maiores. E claro, para que possamos ter os equipamentos de vigilância próximos a nós.
Um dos quartos continha a porta levemente aberta, e aparentava ser o único com a luz acesa.
Fernando bateu na porta três vezes, e uma voz grave o respondeu.
- Pode entrar!
Fernando abriu a porta tendo Pablo e a minha logo atrás dele.
- Jahi, sua neta está aqui. - Fernando anunciou, me conduzindo para dentro do quarto.
Quando entrei não acreditei no que vi. O subliminar mais poderoso que existe assistindo futebol, sem camisa e com uma cerveja na mão.
- Não disse que ele era representante da Guiné-Bissau? Ele é mais brasileiro que eu! - falei, e o velhote caiu na gargalhada.
- Você está enorme, olha pra você! - Jahi disse se levantando e vindo em minha direção. - Da última vez que a vi você sequer conseguia me chamar de vovô!
Ele suspirou, com as mãos em meus ombros.
- Você se parece muito com a sua avó. - ele disse, com um sorriso que aqueceu meu coração, e me abraçou.
A barba e cabelo perfeitamente brancos em contraste com a pele negra o deixava charmoso. Diria que ele faz sucesso com as coroas, mas mal o conheço ainda, e por ter citado minha avó presumi que coisas assim não aconteciam muito com ele.
- Que bom que puxou a beleza da sua avó. Sempre achei seu pai um tanto judiado. - Jahi disse franzindo o cenho, me fazendo rir.
- Eu a achei a cara da Malaika. - Fernando falou.
- É claro, Malaika é quase uma cópia da mãe dela, mas ainda assim é bem parecida comigo também. Ariana não, ela é o retrato de Amélia.
Eu me sentia tão feliz naquele momento. Depois de tantas loucuras e coisas que eu jurava serem impossíveis, até que enfim um momento para eu me sentir normal.
Jahi me encarou por mais um instante, como se quisesse gravar cada detalhe de mim, os olhos em chamas como os meus. E mesmo sem me conhecer, o que estava estampado em seus olhos era orgulho.
- Você será uma subliminar excepcional. - sussurrou cheio de certeza, e meus lábios se curvaram no maior sorriso que já pude dar.
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