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Capítulo VII


VII.1. Uma menina em apuros

Sentado no seu cadeirão favorito, acendeu um charuto e começou a fumá-lo religiosamente. O fumo saía-lhe da boca em argolas perfeitas. Quando praticava aquele ritual, conseguia relaxar-se totalmente ao ponto de não pensar em nada. O médico já o tinha avisado para deixar de fumar, mas ignorava ostensivamente esses conselhos que o deprimiam. Um charuto seria sempre o passatempo favorito de Mr. Satan.

Os escritores tinham acabado de sair e sentia-se, pela primeira vez desde que começara aquela empresa, satisfeito com a sua biografia. Os capítulos dedicados ao Cell Games estavam completos e contavam exatamente como tinha acontecido – ou pelo menos, tinham sido fiéis à versão oficial. Estava tudo tão bem descrito que ele chegara a emocionar-se. Ao verem as lágrimas do grande campeão, todos os escritores se levantaram ao mesmo tempo e aclamaram-no em uníssono durante mais de meia hora.

Continuava a ser amado e isso era uma sensação melhor que a de fumar um charuto especial.

Ao abrir os olhos tinha o mordomo postado à sua frente. Endireitou o charuto entre os dedos.

- O que foi?

- Mr. Satan, a sua filha veio visitar-vos.

Esqueceu prontamente a emoção daquela tarde. Saltou do cadeirão, correu para apertá-la nos braços.

- Videl!

- Papa... Esqueces-te que já não sou a tua menina pequenina?

O mordomo saiu discretamente da sala, fechando a porta dupla silenciosamente. Mr. Satan corou enquanto pousava a filha no chão.

- Pois... Gomen nasai. É verdade, esqueço-me que és uma menina crescida.

- Uma mulher.

- Hai, uma mulher. Bonita como a tua mãe.

- Papa! – Foi a vez de ela corar.

Reparou nas folhas de papel espalhadas pelo sofá, pela mesa e pelo bar, pela sala inteira como se tivessem sido dispersas por uma ventania que por ali entrara.

- Tiveste trabalho hoje.

- Hai.

- Os biógrafos não te perguntaram onde passaste os últimos nove meses, papa?

- Claro! – O charuto fumegava-lhe entre os dedos. – Disse-lhes que tinha estado de férias, numas ilhas do sul. Ficaram satisfeitos, não perguntaram mais nada.

- Vês como foi fácil justificar a tua ausência?

Ela sentou-se no sofá, ele regressou ao cadeirão.

- Mais uma vez, safo-me bem inventando uma mentira qualquer... Não é assim?

- Remorsos nesta fase, papa?

- Eh... – Tirou uma passa ao charuto, esquivando-se à resposta.

- A biografia já está do teu agrado?

- Está perfeita!

Sorriu e as rugas em redor dos olhos apareceram em todo o seu esplendor. Videl sorriu com ele, mas depois, bateu com as mãos nos joelhos e disse:

- Bem, papa, venho buscar a Pan-chan. Podes chamá-la. Nem sei como é que conseguiste trabalhar com ela a cirandar pela casa. Enviaste-a para os jardins para brincar com o Beh e com Mr. Bu, não foi?

O sorriso de Mr. Satan desapareceu.

- Nani?

Os dedos de Videl crisparam-se, as unhas arranharam a pele dos joelhos.

- Pan-chan... Manda chamá-la, está bem?

E como o pai continuava pasmado, ela adiantou levantando-se:

- Então, chamo-a eu. Não preciso de mordomo para chamar a minha filha. Lá em casa, não tenho mordomo! – E riu-se da espécie de piada.

Mr. Satan também se levantou. Hesitou, mas acabou por dizer:

- Pan-chan não está comigo.

Houve uma pausa, como o tempo que se leva a esticar a corda do arco antes de disparar a flecha. Pontaria. Mais um instante. E então a flecha partiu, atravessou o cérebro de Videl que levou as mãos à cabeça e berrou:

- Papa, Pan-chan não está aqui?!!

- Não, Videl... Desde que chegámos daquele sítio esquisito que nunca mais a vi... Passa-se alguma coisa?

Videl saiu esbaforida da mansão do pai, enfiou-se no automóvel e atravessou metade da cidade numa velocidade alucinante, sem olhar para nada, nem semáforos, sinais de trânsito, peões, outros automóveis. Julgava ter escutado as sirenes da polícia algures, no meio do trajeto. Entrou em casa aos gritos.

- Gohan! Gohan! A nossa filha desapareceu!

Ele correu para junto dela, a atirar para o chão o livro que tinha nas mãos.

- Nani? Mas ela não passou a noite na casa do teu pai?

- O meu pai não sabe onde é que ela está! – Arrepanhou os cabelos, suada, vermelha de medo. – Ela desapareceu. A minha querida Pan... desapareceu!

Tapou a boca com as mãos, arregalou os olhos.

- Foi do castigo. Ela não quis comer as ervilhas e eu mandei-a para o quarto de castigo.

Ele abanou a cabeça.

- A Pan não aceita mal os castigos. Aconteceu outra coisa...

Sem destapar a boca, Videl perguntou:

- Mas onde é que ela está?!

- Já viste se está com a Maron?

- Hai, telefonei hoje de manhã para a casa de Kuririn-san. Ninguém me atendeu.

- E com Bra?

- Também não. Bulma-san disse-me que não estava lá.

De repente, Gohan empalideceu.

- O que foi?

- Masaka...

- Gohan-san, o que foi? – Gritou-lhe.

- Zephir.

- Ahn?! Zephir, o quê? Estás a dizer-me que... que a nossa filha... O que é que queres dizer?

Ele correu para o quarto, escancarou o roupeiro, puxou uma caixa da prateleira de cima. Despiu a blusa, tirou as calças, sacudiu os sapatos dos pés. Arrancou a tampa à caixa, começou a vestir o dogi. Videl apareceu na porta, de braços abertos a segurar a ombreira como se acontecesse um tremor de terra e ela estivesse a aguentar a casa inteira. Ofegava.

- Pan foi para o Templo da Lua? Mas por que estúpida razão foi a nossa filha para o Templo da Lua?! Diz-me, Gohan!

- Ela quer combater Zephir. Desde o início que o quer combater.

- Nani? E o que é que tu estás a fazer?

Os dedos dele tremiam enquanto enrolava o cinto na cintura, a prender a túnica e as calças.

- Vou atrás dela... O que é que querias que eu fizesse?

Como ela estava a tapar a porta, abriu a janela do quarto.

- Tu também vais combater?

- Se for necessário...

Espreitou-a por cima do ombro. A brisa que penetrava no quarto agitava os cabelos dele e também os cabelos dela. Ficaram parados, à espera de se despedirem, a não querer fazê-lo.

- Trarei a nossa filha, sã e salva, Videl.

E saltou pela janela.

Videl regressou à sala, devagar, sonâmbula. Afundou-se no sofá. O silêncio da casa pesava como chumbo. As lágrimas estavam prestes a saltar-lhe dos olhos escancarados, mas estava tão assustada que não chorou.

Deixou-se ficar a olhar fixamente para a porta, à espera.


VII.2. Alternativas

- Bulma, o que foste tu fazer? – Gritou Goku em pânico.

Ela descalçou as luvas amarelas, tirou o boné da cabeça. Tinha vindo das oficinas, onde interrompera os trabalhos no segundo motor da máquina das dimensões para vir participar na pequena reunião que iria acontecer na Capsule Corporation. Soubera que Goku tinha chegado para falar com Vegeta e o assunto seria certamente o feiticeiro. Queria estar a par das novidades.

Vegeta olhava para Goku com um olhar vazio. Bulma disse:

- Não estou a perceber a tua reação, Son-kun. Lembro-te que Zephir não é apenas assunto vosso, é também assunto deste planeta e de todo o Universo. Tive uma ideia e tentei ajudar, só isso.

- Mas enviar Ubo atrás de Toynara! Isso era o pior que podias ter feito...

- Porquê?

Goku explicou:

- Dende avisou-me que Ubo não podia saber que Zephir existe, quanto mais contactar com um dos sacerdotes desse templo. Está bem, a culpa também é minha, nunca devia ter perdido Ubo de vista, mas tenho andado ocupado com outras coisas... Enfim. Ubo é a reencarnação de Majin Bu e Zephir serve-se da magia de Babidi.

Ela compreendeu.

- Ah!... Zephir poderá enfeitiçar Ubo e virá-lo contra nós.

- Pois...

- Isso seria terrível. A força de Majin Bu era imensa.

Goku concordou com um aceno, cruzou os braços imitando a postura de Vegeta.

- Não me agradava nada ter de combater contra Ubo.

- Uma das vantagens de Majin Bu era ser imortal – disse Vegeta. – Nós eliminámos Majin Bu várias vezes, só que ele conseguia reconstruir-se de cada vez que o fazíamos em pedaços. Ubo não tem essa capacidade, não é imortal. Poderemos derrotá-lo facilmente.

- Não quero eliminar Ubo – protestou Goku. – Ele é meu aluno. Seria como combater contra um dos meus filhos...

- Pfff... Estamos em guerra, não há lugar para esse tipo de sentimentalismos.

- Vegeta – avisou Goku sério. –, se Zephir chegar a enfeitiçar Ubo contra nós, terás de passar primeiro por cima de mim para lutar com ele.

- E passarei!... Sem qualquer problema.

Bulma intrometeu-se entre os dois.

- Rapazes! Vamos esquecer Ubo por um momento, está bem?

Goku acalmou-se, Vegeta voltou-lhe a cara.

- Mas onde é que ele está, Bulma? – Perguntou Goku preocupado. – Não o enviaste antes de ontem para o Palácio Celestial? Já tinha mais do que tempo para ir e voltar para cá com Toynara.

- Ora, não aconteceu nada – sossegou ela tentando acreditar nas suas próprias palavras. – Provavelmente, Toynara não quis vir com ele e Ubo deve estar escondido, cheio de vergonha, porque não conseguiu fazer o que lhe pedi. Ou talvez tenha voltado para a sua ilha. Afinal, não passa de um miúdo.

- Pois... – Goku, pensativo, apoiou o queixo numa mão. – Ou talvez Toynara já não estivesse no Palácio Celestial. Agora que me lembro, Toynara estava no templo, quando roubámos as bolas de dragão ao feiticeiro.

- Honto?

- Hum-hum.

- Estranho... E por que razão Dende deixou Toynara ir embora e logo para o Templo da Lua? E não nos disse nada?

Goku encolheu os ombros. Tentou mais uma vez, mas o ki de Ubo continuava invisível à sua perceção. Ou melhor, fugia-lhe elusivo, troçando das suas tentativas, esgueirando-se para as sombras fazendo-lhe uma careta. E depois desse curto exercício, ficava incomodado e não se demorava na busca.

- Kakaroto, não foi para falarmos sobre o teu aprendiz que vieste, pois não?

A impaciência de Vegeta cortava a direito, mais uma vez, dividindo o espaço e fazendo pender o campo para o seu lado. Bulma suspirou, sempre incorrigível aquele saiya-jin.

- Não. Vim para saber o que pensas fazer agora – disse Goku. – Qual é a tua ideia?

- Bem, estamos em vantagem sobre Zephir. Temos a intrometida e a segunda metade do Medalhão de Mu.

- Por que é que não a chamas pelo nome? – Perguntou Bulma.

Vegeta olhou-a espantado, a observação fora totalmente descabida. Prosseguiu, a olhar para ela de cenho franzido, indicando que não toleraria outra interrupção daquele calibre:

- O feiticeiro vai empregar-se a fundo para recuperar a intrometida – vincou a palavra de propósito – e o medalhão.

- Também penso o mesmo. O que significa que vai enviar os seus guerreiros atrás da rapariga. Sabe que somos nós que a protegemos, o ataque será em força para ter alguma hipótese de vitória. Vai ficar sozinho no templo e confia que nós vamos estar tão ocupados que não vamos ter a oportunidade de o atacar. Aí é que ele se vai enganar... Nós vamos atacá-lo. Eliminamos o feiticeiro e os guerreiros, que foram feitos com a magia dele, desaparecem com o feiticeiro.

Viu o desagrado na expressão de Vegeta.

- O que foi?

- A tua ideia é uma mer...

- Vegeta! – Cortou Bulma com um grito.

- O que foi?!

- Porque é que não gostas da minha ideia?

- Estás com medo de te enfrentar aos guerreiros do feiticeiro, Kakaroto?

- Não, mas o que eu disse vai acontecer. Zephir vai querer raptar a rapariga e levar o medalhão e poderemos ter aí uma oportunidade.

Vegeta rangeu os dentes.

- Nunca farei algo tão cobarde, Kakaroto. Atacar o feiticeiro e esquivar-me aos seus guerreiros... Sou um saiya-jin, raios!

- Eu também sou um saiya-jin e prefiro, tanto como tu, um confronto direto. Mas sempre que temos enfrentado os guerreiros de Zephir têm uma surpresa reservada para nós. Os demónios são imortais, Keilo atinge o nível três dos super saiya-jin e sabe-se lá que mais níveis...

- E depois? – Vegeta forçou um sorriso. – Quando estivemos na Dimensão Real aproveitámos para nos treinarmos com aqueles corpos estranhos, o que nos ajudou a melhorar as nossas capacidades. Também nós temos uma surpresa reservada para aqueles malditos.

Goku concordou com um ligeiro aceno:

- Hai. Realmente, este último combate contra Keilo foi diferente do primeiro... O saiya-jin lendário já não me pareceu tão terrível.

- Então, cobarde! – Vegeta cuspiu subitamente irado. – Enfrenta-te ao saiya-jin do feiticeiro que eu lido com os demónios. Poderão ser imortais, mas devem ter algum ponto fraco.

- O que quer dizer que enquanto vocês enfrentam os guerreiros, poderemos enviar Trunks ou Goten, com o apoio de Piccolo, para eliminarem Zephir no templo.

Olharam os dois para Bulma.

Um apito agudo estilhaçou a cena, fazendo-a estremecer. Acabava de ser contactada. Levou a mão ao bolso, onde guardava o intercomunicador portátil que utilizava para receber as mensagens comunicadas pelo computador central que geria a Capsule Corporation. Era uma forma de controlar o vasto complexo, desde simples informações sobre refeições até lembretes sobre reuniões de negócio importantes.

- Nani? – Vegeta parecia ainda mais irado.

- A ideia de Son-kun parece-me boa – defendeu-se ela, tocando no intercomunicador portátil –, não a devemos desperdiçar. Quando Zephir se atrever a atacar-nos para levar a Ana e o medalhão, vocês defendem-na, desafiando os guerreiros que ele enviar para fazer esse trabalho. Entretanto, temos uma equipa preparada para o assalto ao templo, procurar o feiticeiro e eliminá-lo.

- Que ninguém se atreva a acabar com o feiticeiro enquanto eu estiver a lutar com os demónios, ou mesmo com Keilo!

- Vegeta, não podes ser assim tão egoísta! – Gritou Bulma. – É o nosso futuro e o futuro do Universo que está em jogo!

- Acho que devemos aproveitar todas as oportunidades – murmurou Goku cauteloso. Não pretendia irritar o príncipe ainda mais.

Mas Vegeta já estava irremediavelmente irritado.

- E depois?! Kuso! O futuro do Universo já esteve nas nossas mãos noutras ocasiões e conseguimos sempre salvar o maldito Universo. Tens medo de não estar à altura, Kakaroto?

- Não, Vegeta, não tenho medo. Mas quero muito que isto acabe em bem, para nós e para todos os que nos são queridos. Lembro-te que as bolas de dragão já não nos poderão ajudar se qualquer um de nós perder a vida.

- Não me importo de perder a vida a combater – replicou com arrogância.

- Sabes também que não me importo de sacrificar a minha vida para salvar o Universo – contrapôs Goku. – Já o fiz uma vez.

Vegeta rosnou, a corar violentamente. Recordava um episódio do passado deles que o incomodava acima do suportável, que ocorrera durante o Cell Games. Bulma retirou o intercomunicador portátil do bolso.

- Mas não podemos entregar a nossa vida sem pensar. E se morrermos demasiado cedo? O feiticeiro vencerá e o nosso sacrifício será em vão...

- Não deixarei o feiticeiro vencer! Ofendes-me ao fazer essa insinuação.

- Está bem... Gomen nasai, Vegeta, não te queria ofender. Mas pensa na minha ideia. Bulma concorda com ela!

Vegeta desviou o olhar, cruzou os braços. Ficara tenso.

- Então, diz-me: o que queres fazer... hoje?

Goku ficou sério, os sobrolhos uniram-se por cima dos olhos.

Bulma olhou para o minúsculo ecrã do intercomunicador portátil e começou a ler a mensagem que lhe tinha sido endereçada, enquanto continuava atenta à conversa.

- Vamos falar com a Ana... Ela tem de saber o papel que vai ter nesta história, daqui para a frente. Precisamos que o feiticeiro saiba onde é que ela se esconde para que venha atrás dela.

- Servirá de isco... Achas que conseguirá fazê-lo? Poderá ter medo.

- Ela confia em mim... Acho que a vou conseguir convencer, se falar com ela. Eh...

Estranhou a hesitação dele, Vegeta encarou-o. Notou uma gota de suor escorrer-lhe da testa, semicerrou os olhos desconfiado.

- O que é que se passa?

- Eh... A rapariga é engraçada! – Exclamou e coçou o cabelo com um dedo, a sorrir como um pateta. – Talvez porque vem de outra dimensão e porque nos conhece a todos... não é, Vegeta?

- Nani? – Soprou a tentar perceber o que raios tinha acontecido entre ele e a intrometida. Não tinham estado sozinhos o tempo suficiente para que pudesse ter acontecido alguma coisa, pensou. Mas a reação daquele idiota era mesmo muito estranha.

- Também podemos pedir a Trunks que fale com ela. Confia mais nele do que em mim, certo? Afinal, interagiu com ele.

- Kakaroto... O que é que a intrometida anda a inventar?

- Nada.

- Hum?

- Eh... nada, Vegeta. Ela e Trunks... Bem...

De repente, Bulma gritou agarrada ao intercomunicador portátil com as duas mãos. Goku suspirou de alívio com a interrupção, não gostava do rumo da conversa, não sabia o que explicar. O abraço da Ana na noite anterior, antes de utilizarem as bolas de dragão, tinha sido inédito e não conseguia muito bem lidar com isso. Mas também ficou preocupado com o grito da amiga. Bulma acrescentou, lívida:

- Vegeta... A Bra desapareceu!


VII.3. As intrusas

Bra espirrou e o seu espirro ouviu-se a quilómetros. Pan saltou com o susto. O eco perdia-se pelo corredor afora. Atirou-se para cima dela e tapou-lhe a boca.

- Queres que descubram a nossa presença? – Sussurrou zangada.

Como não podia falar com as mãos da amiga na cara, negou com a cabeça, os olhos azuis a brilhar, murmurou uma desculpa que soou como:

- Hummm... Hum.

Pan soltou-a. Colou o dedo indicador nos lábios e pediu:

- Shhh... Pouco barulho, estamos na casa do inimigo.

- Devem estar a falar mal de mim, Pan-chan.

- Anda, vamos continuar.

O Templo da Lua era feio, pensou Bra. Demasiado escuro, frio, silencioso, com estalidos estranhos e suspiros que saíam das paredes. Era feito de muitas casas quadradas umas em cima das outras, como se tivessem sido despejadas do céu e ficado conforme tinham caído. Uma parte estava em ruínas, lançando rolos de fumo para a atmosfera, o que significava que tinha sido destruída recentemente.

Pan caminhava à frente, liderando a diminuta comitiva.

- Estamos à procura do quê? – Perguntou-lhe em surdina.

- Do feiticeiro.

- Ahn?! E isso... não será perigoso?

- Vamos dar-lhe uma lição. E não vai ser perigoso, porque somos saiya-jin.

- Pois, mas...

- Mas, nada! Estamos aqui para lutar contra Zephir.

Bra fechou a boca, numa linha direita. Apertou os punhos, amaldiçoando a sua falta de coragem e embrenhou-se de tal maneira nos seus pensamentos que não deu pela amiga ter parado e enfiou-lhe uma marrada nas costas. Pan puxou-a pelo dogi.

- Vem esconder-te!

Esgueiraram-se para um buraco na parede, junto a uma coluna. Uns segundos depois, alguns bichos pretos saltitaram pelo corredor, passaram sem que se tivessem apercebido da presença delas e sumiram-se numa curva mais adiante.

- Ah! O que era aquilo? - Perguntou Bra com os olhos muito abertos.

- Não sei... Que criaturas tão feias. Vamos, o feiticeiro não deve estar longe.

Prosseguiram, agora com cautelas redobradas para não voltarem a encontrar mais bichos pretos. No fim do corredor descobriram uma porta e, passada a porta, estava um pátio interior. Entraram e descobriram, sob a luminosidade esparsa da manhã que nascia, uma estátua negra, enfeitada com um colar de flores brancas. Bra analisou a escultura com uma careta.

- O que será?

- Talvez... uma deusa – respondeu Pan com outra careta.

- É...

- Feia? Parece, mas depois... deixa de parecer.

- Achas que é uma estátua enfeitiçada?

- Hai, Bra-chan. Esta é a deusa do feiticeiro. A lua.

- Hum... Mete medo. – E Bra girou a cabeça para deixar de olhar.

Sentiu uma cotovelada nas costelas, um toque leve mas impertinente. Olhou para Pan espantada.

- Tu estás com medo? Então, não és uma verdadeira saiya-jin?

A insinuação irritou-a. Crispou os punhos.

- Eu não tenho medo de nada.

- Ah, não? Parece que tens medo de uma estátua de pedra que está ali parada e que não te pode fazer mal nenhum, a não ser que caia em cima de ti. Mesmo assim, duvido que te magoe, porque tens os músculos preparados.

- Ah, cala-te, Pan-chan. Queres que eu te provo que não estou com medo?

- Quero. Vai ali e tira uma flor do colar da estátua.

- Pois tiro!

Pan olhou de relance por cima do cabelo apanhado em rabo-de-cavalo de Bra, o desafio ainda a sair-lhe da boca, a amiga já a alçar o braço, a preparar o salto para responder ao desafio e viu um movimento perturbador. Raios! Aquela pequena conversa tinha-lhe roubado a concentração e esquecera-se completamente de estar atenta às deslocações de energia. Puxou pelo dogi de Bra, para afastá-la daquela criatura enorme que, pelo aspeto, só podia ser um dos demónios do feiticeiro.

A criatura sorria-lhes. E ainda a sorrir disse:

- Ora, ora... O que temos nós aqui?

O ki indicava que era muito forte, um adversário formidável. Pan arrepiou-se ao tentar medir mentalmente aquela energia desmesurada mas, estranhamente, a alma vibrou-se-lhe de alegria por encontrar alguém tão poderoso com quem pudesse medir a sua força. O sangue saiya-jin aqueceu dentro das veias.

A criatura ficou séria e rugiu:

- Intrusas! E vão pagar o preço por terem entrado num sítio que não deviam perturbar. – Volveu os olhos vermelhos para Bra, pois parecia-lhe a mais impressionável. Inclinou-se ligeiramente, apoiando os punhos na cintura e revelou divertido: – Sabias que como meninas ao pequeno-almoço? E hoje ainda não tomei o pequeno-almoço...

Bra nem pestanejou. Se estava assustada, escondia muito bem o que estava a sentir. Pan preparou-se para intervir. Iria tentar um golpe que o deixasse atordoado, esperava consegui-lo para fugirem dali, já que a criatura tapava a porta, a única via de fuga. Mas antes de se lançar no que planeava, Bra fê-lo – atacou a criatura. Desferiu-lhe um pontapé com tanta força nos queixos que a criatura acabou estendida no pequeno pátio, batendo com a cabeça na parede criando um conjunto de rachas.

Pan abriu a boca de espanto. Bra desatou a fugir pelo corredor, atravessando a porta desimpedida e chamou por ela com um grito:

- Não fiques aí, baka! Não vês que ele vai levantar-se?

A criatura apoiou o queixo numa mão, rugindo:

- Kuso!... Ninguém ataca Kumis desta maneira e fica impune!

Antes que Pan pudesse reagir, a criatura levantou-se com uma agilidade surpreendente e disparou um raio de energia que reduziu a porta a escombros. Apontava a Bra, que se escapulira pelo corredor. Pan chamou pela amiga, voltou-se, ia impulsionar-se para sair daquele pátio a voar. Ainda viu o rosto da estátua negra e pareceu-lhe que aquela boca de pedra se torcia num sorriso malévolo. Piscou os olhos, distraiu-se nesse milésimo de segundo e a sua oportunidade esfumou-se. Uma manápula agarrou-se à sua perna e deu-lhe um puxão tal que o chão chocou violentamente contra as suas costas. Pan gemeu com a dor que a paralisou.

A claridade ensombrou-se e ela viu o demónio parar à sua frente. Apertou os dentes, estava em desvantagem, à mercê daquele adversário. Mas nunca iria dar a conhecer como era inferior naquele combate. E talvez nem precisasse. Talvez a criatura soubesse.

Isso irritou-a. Ela era filha de Gohan e de Videl. Ela era a neta de Son Goku!

A criatura inclinou a cabeça para a esquerda, sorrindo.

- Adeus, intrusa.

Mostrou-lhe uma mão ameaçadora, dedos abertos. Pan reagiu, movida pelo instinto da preservação. Antes de receber o disparo da criatura, esticou também o seu braço e envio um ataque de ki. Era fraco, uma descarga mínima, a energia que tinha latente no braço, mas serviu para surpreender a criatura que não se conseguiu defender e apanhou com este em cheio na cara. A expressão sorridente desapareceu numa nuvem de fumo. Pan levantou-se, ia fugir, mas apanhou com um pontapé em cheio nas costelas e tornou a cair, cuspindo uma bola de sangue.

As gargalhadas da criatura furaram-lhe os tímpanos que zuniam.

- Dás luta e gosto disso... Muito bem, queres brincar. Então, vamos brincar mais um pouco, intrusa.

Pan arquejou.

Tinha de ser mesmo muito rápida, sem pensar na precisão do ataque, apenas na força deste. Uma coisa desesperada, inconsequente sabia-o, mas não sabia o que mais podia fazer para se escapar.

Atacou a criatura, saltando para cima desta com um punho em riste. O soco foi defendido facilmente, a criatura insistia nas gargalhadas. Ela tentou outros socos e pontapés, numa luta corpo-a-corpo que estava a cansá-la, sabia-o, mas também que distraíam a criatura que continuava a rir.

Então, afastou-se, uniu as mãos diante de si, soltou um grito profundo e disparou uma esfera energética vermelha como o sangue que se revolvia com a saliva dentro da sua boca. A explosão engoliu a criatura e uma convulsão tremenda varreu o pátio. A estátua negra da deusa e o colar de flores brancas desapareceram no mar de fogo.

Pan fugiu, esgueirando-se por uma racha maior que se abrira na parede mais afastada. Correu até as pernas lhe doerem, sem olhar para trás. Ao perceber que não estava a ser perseguida, parou. Encostou-se, a tentar conciliar a respiração, a perceber que os corredores tinham escurecido e que tinha descido escadas enquanto corria desatinada. Olhou em volta, engoliu a saliva que tinha o peculiar sabor metálico do sangue. O coração batia frenético. Lembrou-se que tinha perdido Bra de vista e dispôs-se a procurá-la, ficando atenta ao ki da criatura para não ter outro encontro desagradável. Esfregou o estômago, não lhe apetecia lutar outra vez com o demónio Kumis.

Apareceram mais daqueles bichos pretos, escondeu-se e esperou que passassem. Teve sorte, não foi descoberta e retomou a caminhada. Não conseguia detetar o ki de Bra e assustou-se.

Viu luz mais adiante e correu para lá. Era uma sala cuja porta estava entreaberta e entrou.

Em cima de um altar, ladeado por dois castiçais onde ardiam as velas que iluminavam a sala, estava um livro aberto. Espreitou as páginas amareladas e não conseguiu perceber uma palavra do que lia, pois era uma língua estranha, cheia de símbolos esquisitos. Lembrou-se que o pai lhe dizia sempre que os livros eram muito importantes e murmurou:

- Isto deve ser um livro de magia. Deve ser o livro de Zephir.

Passou uma folha e apareceu o desenho de um monstro com grandes dentes que a sobressaltou. Fechou o livro com um safanão, soltando uma baforada de pó. Tossiu um pouco e resolveu levar o livro com ela.

- Se levar isto comigo, ninguém se vai zangar comigo por ter vindo até ao templo do feiticeiro. Pode ser que isso ajude o ojiisan a derrotá-lo.

Puxou o livro. Mas, ao fazê-lo, encalhou num pequeno vaso azul cheio de terra que também estava no altar. Ainda tentou agarrar no vaso, mas este escorregou-lhe da mão e caiu no chão partindo-se.

- Ups...

Os cacos do vaso tremiam. Da terra saiu uma nuvem de fumo negro que tentava tomar forma. Ouviu-se um guincho, Pan estremeceu de medo e recuou para a porta. Mas como a terra estava toda espalhada e já não se continha dentro do vaso encantado, a nuvem diluiu-se e a forma que guinchava também se diluiu e antes de ser o que estava programada para ser, feneceu num silêncio agonizante.

- Era... um daqueles bichos pretos...

Voltou-se para a porta. Deparou-se com outro bicho preto, mas real e ameaçador, não era nenhuma nuvem disforme de fumo. Preparou a defesa, mas o livro atrapalhou-a. O bicho foi rápido e socou-a na barriga.

Enraiveceu-se por ter sido atingida. Utilizou a mão direita para esmurrar o bicho. Viu a carantonha descrever uma curva, escutou os ossos de alguma coisa parecida a pescoço estalar. E viu também a raiva nos pequenos olhos vermelhos do bicho. Mas não viu o golpe traiçoeiro que o bicho lançou com as garras em riste.

Pan deu um passo atrás. A face esquerda estava aberta com um rasgão doloroso. Susteve a respiração com o ardor que lhe paralisou o rosto. Encarou o bicho que guinchava satisfeito por tê-la atingido. Largou o livro. Solta daquele peso, conseguiu atacar o bicho com um pontapé que o enviou pelos ares. Antes de este cair no chão, fritou-o com um disparo de energia.

Uma náusea obrigou-a dobrar-se, quase a vomitar. Ouviu o matraquear de passos no fundo do corredor. Um bando de bichos pretos aproximava-se. Afastou a tontura, agarrou no livro e começou a correr. Ao fim de alguns metros, tropeçou e caiu. Estava ofegante e não percebia o que é que lhe estava a acontecer. Levantou-se resoluta. Não podia sucumbir, porque tinha com ela o livro de magia do feiticeiro.

Abriu um buraco no teto e saiu dali a voar. Queria fugir, não pensava mais em Bra. Tinha uma missão mais importante do que resgatar a amiga, pensava confusa. Tinha de guardar aquele livro com ganas, com a própria vida. A cabeça era um remoinho de tonturas que nasciam da face e subiam e desciam, conquistando-lhe todo o corpo.

O sol matutino queimava-lhe a pele e provocava-lhe uma estranha sede de água fresca. Cruzava os céus, os olhos já tinham deixado de ver, movia-se por instinto. E disse, alucinada, a enfraquecer:

- Casa... Quero ir para casa... 'Tousan, tenho o livro de Zephir.


VII.4. O salvador

Entrada no meu diário, data: desconhecida, estou noutra dimensão

Despertei com ar fresco a bater-me na cara.

Vento.

Pensei que talvez fosse um sonho. Lembrava-me que era de noite e que estava na Capsule Corporation, cheia de fome. Lembrava-me de Trunks a ouvir música no escuro e que ele não quisera a minha companhia. Talvez tivesse sucumbido à fome e tivesse desmaiado de desilusão porque Trunks me tinha mandado embora e agora fugia embalada pelo vento, voando despreocupada como se o pudesse fazer, a escapar do pesadelo de ter sido rejeitada por aquele que o meu coração adorava.

Não abri logo os olhos. Regressei ao meu corpo mole, encarnando lentamente, sentindo a alma preencher cada centímetro do meu ser físico. A dor percorreu-me como uma chicotada de luz e então percebi que estava pendurada no vazio, braços e pernas caídos, como se fosse uma coisa a ser transportada pelo ar.

E depois lembrei-me de Ubo, que vira na Capsule Corporation e escancarei os olhos cheia de medo, porque tinha a certeza que o miúdo me tinha atacado e era por isso que desmaiara, não fora por causa da fome ou da rejeição de Trunks.

Um grito ficou-me atravessado na garganta e quase me sufocou. Voava por cima de uma mancha verde que deduzi ser um espaço rural, pois a velocidade era tal que a paisagem passava como um borrão colorido. Mexi-me agitada, tentei segurar-me a alguma coisa que me desse a impressão que não estava tão atirada à sorte, porque voava, o vento batia-me na cara, estava presa por algo duro e decidido que me envolvia a cintura. Um braço. Mexi-me mais, lancei a mão esquerda até tocar no corpo ao qual pertencia o braço. Os dedos reconheceram o toque de tecido, agarrei-me à camisa do meu raptor, puxei com força. A mão direita tentou conseguir também um pedaço de tecido ao qual se segurar. Icei-me, esperneando e então, finalmente, gritei.

Vi a cara dele, o penacho de cabelo negro ondulava furiosamente e disse-lhe aos berros histéricos:

- Ubo! Mas o que estás tu a fazer? Estás a raptar-me! Mas... tu és dos nossos. Porque é que me estás a levar? Para onde? Ubo, responde-me... Tu atacaste-me?

Voltou a cara para mim e vi-lhe as pupilas vermelhas, um "M" negro tatuado no centro da testa. O medo contraiu-me o estômago. Apertei ainda mais os dedos, amarrotando-lhe a camisa. Vestia-se como um pescador, notei de relance. Pés descalços, calças enroladas nos tornozelos, camisa aos quadrados aberta no peito. Pareceria um rapaz normal não fosse aquele olhar demoníaco e aquela letra rebuscada. Exigi sem pensar:

- Solta-me! Solta-me imediatamente.

Fez um esgar, algo como um sorriso que lhe torceu a boca de uma maneira assustadora. E depois cedeu à minha exigência: soltou-me.

Gritei, de olhos esbugalhados, a sentir o corpo desamparado. Puxei-lhe a camisa, o tecido rasgou-se. A minha segurança foi-se, caía e a queda não seria meiga, pois iria estatelar-me lá em baixo. Haveria de me desfazer em papa, pois nem aquele corpo leve da Dimensão Z me haveria de salvar e lá se ia a rapariga que o feiticeiro precisava para se transformar num deus.

Talvez fosse melhor assim, o Universo seria salvo...

Fechei os olhos.

Um solavanco deteve a minha queda. Escutei a gargalhada, abri os olhos. Ubo tinha-me apanhado por um pulso e ria-se do susto que me tinha pregado. Esperneei outra vez, a gritar como uma possessa. Tossi engasgada, rouca.

Depois de me ter dado a lição que achava que eu merecia, Ubo tornou a agarrar-me pela cintura e continuou o seu caminho, imperturbável.

A metade do Medalhão de Mu balançava no meu pescoço. Compreendi com um arrepio que Zephir era o mentor daquele rapto e isso explicava os olhos vermelhos de Ubo e o "M" negro na testa. Mas não cheguei a deslindar por que estúpida razão teria o aluno de Son Goku se convertido ao feiticeiro e passado a ser nosso inimigo.

Apertei o medalhão, vincando as arestas na palma da mão. Estava aterrorizada, não queria voltar para junto de Zephir, odiava aquele Templo da Lua e sobretudo não desejava ficar com os olhos vermelhos e com um "M" negro desenhado no centro da testa. Não me queria voltar contra Son Goku ou... Trunks.

Engoli em seco, sentia-me à beira das lágrimas. E por que é que Trunks não me vinha salvar? Estaria ainda a curtir a sala escura e a ouvir música? Ou já teria dado pela minha falta?

Olhei para baixo. O verde tinha sido substituído por diversas tonalidades de castanho, que se elevavam em determinados pontos. Passávamos sobre terreno montanhoso e o voo era agora aos altos e baixos, para escaparmos de picos, escarpas e penhascos. Comecei a ficar enjoada. Apertei ainda mais o metal frio do medalhão.

Uma ideia apareceu, louca e arriscada, mas uma possibilidade como qualquer outra. Ubo nunca me iria deixar cair, pois Zephir precisava de mim – com o medalhão. Mesmo que eu fizesse aquilo... Por um segundo, considerei a hipótese de retirar a corrente dourada do pescoço e de atirar o medalhão para que se perdesse nas ravinas daquele terreno montanhoso. Respirei fundo, iria tentar, não teria nada a perder, já estava numa situação condenada. Ia fazê-lo, quando Ubo travou repentinamente. Arquejei com a dor que me esmagou a barriga e senti-me à beira do desmaio.

Obriguei os meus pulmões a trabalhar normalmente, para oxigenar o cérebro, não podia perder os sentidos. Agarrei-me novamente à camisa de Ubo, levantei a cabeça para perceber o que estava a acontecer.

Alguém pairava alguns metros adiante, barrando-nos o caminho.

Reconheci-o e a alegria foi como uma onda morna a penetrar no terror que sentia.

- Gohan...

Descemos numa aterragem rápida que me arrepiou toda. Ubo pousou num planalto rochoso. Eu tinha as pernas moles como gelatina quando senti os pés tocarem em terra firme, mas quis escapar-me do meu raptor. Tentei um coice para me libertar, que foi tão inútil quanto um suspiro.

Gohan seguiu-nos e também aterrou, ligeiramente afastado de nós.

As rajadas de vento fustigavam o lugar, agitavam o cabelo negro de Gohan e o dogi alaranjado que envergava, semelhante ao do pai. Exibia a altivez de um grande guerreiro, estava concentrado e tinha uns olhos vazios. Antecipava o confronto, o que queria dizer que estava disposto a lutar contra Ubo... para me salvar.

Ou talvez quisesse apenas salvar o Medalhão de Mu. Cada vez odiava mais aquele triângulo dourado.

Ou era a minha cabeça zonza que me pregava partidas.

Não conseguia raciocinar, estava mortificada, esfomeada, fraca. Para qualquer dos guerreiros da Terra eu não era um mero acessório. Não o seria para Trunks... O meu coração acelerou. Não o seria para Gohan que tivera a paciência de me tentar ensinar japonês. O meu coração acelerou ainda mais. Não o seria para Goku, que eu tinha abraçado na noite anterior. E o meu coração disparou.

Inesperadamente, Ubo soltou-me e caí sentada no chão duro do planalto. Voltou o pescoço, quase num ângulo impossível, torcendo-o todo, criando pregas de pele junto à gola da camisa. Senti a minha cara arrepanhar-se de horror.

- Nem penses em fugir... Se o fizeres, mato-te – ameaçou com uma voz gutural.

- Não me podes matar. Zephir quer-me viva. Se o fizeres, o feiticeiro vai castigar-te – repliquei com uma coragem estranha, vinda das minhas profundezas.

Arreganhou-me os dentes, numa espécie de sorriso ameaçador e de raiva contida.

- Não sabes se irei obedecer ao feiticeiro. Por isso, fica quieta.

Voltou-se para o adversário, sem esperar qualquer resposta da minha parte. Também não a tinha, não perante aquela ameaça mortal. Teria de confiar no filho mais velho de Goku e não me sentia muito confortada com essa ideia. Afinal, ele tinha desistido de combater para se dedicar a uma carreira académica. Fechei os olhos, pensei em Dende, e supliquei-lhe que o protegesse.

Os dois entreolhavam-se em silêncio.

Os minutos passavam e nada acontecia, só o vento uivava furioso no planalto, incitando-os a começar de uma vez por todas a luta pela minha posse. Rastejei às arrecuas, a ponta da minha sapatilha deslocou algumas pedrinhas, Ubo olhou-me de esguelha. Parei. Percebi a irritação dele através da capa fina e transparente que se desprendeu da pele escura.

Mais silêncio.

Tentei engolir e a garganta doeu-me.

Então, Gohan agiu. Atacou, punho em riste. Ubo defendeu o golpe com o antebraço. Soltou uma gargalhada. Empurrou Gohan, fazendo-o subir pelos ares e enviou um disparo de ki. A explosão foi demasiado brilhante e protegi os olhos com as mãos.

O vento dissipou o fumo e Gohan tinha desaparecido. Pelo meio das pestanas vi Ubo encolher-se, enquanto enrijecia os músculos do corpo, preparando-se para o embate. Que veio dois segundos depois, inesperado e poderoso. Não vi o que aconteceu claramente, era impossível também, pois o conjunto de golpes foi demasiado rápido. Quando me pareceu que a cena se focava e devolvia uma imagem estática, uma fotografia do momento intenso, Gohan estava onde Ubo estivera e Ubo tinha desaparecido. Escutei um ribombar distante, voltei a cabeça alertada pelo som. Os pedregulhos caíam, rolando uns por cima dos outros, numa cascata ensurdecedora onde Ubo tinha caído.

Um puxão pôs-me de pé. Ainda tinha as pernas em gelatina e senti os joelhos cederem miseravelmente. Olhei para o meu salvador aliviada, cansada.

- Ana, foge daqui. Ele vai voltar.

Perguntei atónita:

- Queres que fuja? Para onde?

Estava no meio de um deserto pedregoso, sem trilhos ou caminhos à vista.

- Ubo vai atacar e não vou conseguir proteger-te. O nosso combate vai aumentar de intensidade. A energia dele está a aumentar... Isto vai ficar muito perigoso.

Agarrou-me nos braços e foi insistente, duro.

- Percebeste?

Teria de descobrir uma forma de abandonar aquele planalto. Vi os olhos dele passarem de relance pelo medalhão.

- Hai – concordei.

O chão começou a tremer. A areia e as pedrinhas saltavam como pipocas num tacho destapado. Gohan soltou-me. O monte de pedregulhos agitava-se porque o que soterrava mexia-se ali debaixo, queria soltar-se, iria soltar-se. Finas tiras de luz começaram a irromper do monte, uma a uma, criando um porco-espinho luminoso.

- O que é que se passou com Ubo? – Perguntei.

Ele encarava o monte de pedregulhos iluminado que se desfazia sob o efeito de uma força imensa.

- Foi enfeitiçado...

- Vais enfrentá-lo?

- Para que possas fugir, devo fazê-lo... Ana-san, nunca, mas mesmo nunca, poderás cair outra vez nas mãos do feiticeiro.

Voltou-se.

- Se confias em que te vou proteger, confio que consigas fugir para o mais longe possível deste lugar.

- Não combates há tanto tempo... - E depois arrependi-me de o ter dito.

Sorriu-me com alguma mágoa.

- Sou o filho de Son Goku, sou um saiya-jin. Os saiya-jin não se esquecem de como se combate.

Tive de me equilibrar pois o tremor de terra era cada vez mais intenso. Suspirou, confessando:

- Não vim até aqui para combater, mas também não tinha a ilusão de que não iria empregar a força ao ter vindo para um sítio tão perigoso como é o Templo da Lua.

- Estamos perto do Templo da Lua?

- Hai.

Nisto, gritou:

- Foge! Imediatamente!

Os pedregulhos foram projetados para a atmosfera, lançados pela energia pulsante que criava a estrela luminosa que nascera naquela prisão rochosa.

E eu fugi. Escorreguei por uma ladeira íngreme e irregular, raspei as mãos e os braços, rasguei as mangas do casaco. Tremia a fugir, mas só me lembrava que tinha de sair do planalto. Um dos pedregulhos caiu à minha frente com estrondo. Gritei durante um minuto, ininterruptamente, com o mesmo fôlego. Reparei que o tremor de terra tinha terminado. Estava ofegante de medo, de exaustão.

Uma explosão de brilho fez-me olhar por cima do ombro. E vi uma supernova a desagregar-se no céu azul. Ubo e Gohan combatiam. Levantei-me, limpei os olhos lacrimejantes.

- Boa sorte, Gohan.

Continuei a descer a ladeira, uma espécie de trilho, algo parecido a uma escapatória daquele lugar abandonado onde lutavam dois guerreiros fantásticos.

Fim de entrada.


VII.5. A necessidade de combater

Quando tinha corrido pela primeira vez para o Templo da Lua impulsionado pelo apelo mudo de Piccolo, não chegara a combater a sério. Enfrentara os kucris, mas esses bichos eram tão fracos que até podiam ser derrotados por Mr. Satan. Agora, iria combater a sério.

Recordou-se. O seu último combate a sério tinha acontecido havia muito tempo. E curiosamente tinha sido com aquele adversário que se preparava para enfrentar. Majin Bu. Claro, não se iludia com o aspeto dele, o corpo era o de Ubo mas a alma era torcida e maligna como a criatura de Babidi. Aquele "M" na testa era a prova inegável desse facto.

Ubo veio furioso, atacou como um cometa desgovernado. Gohan foi ao encontro dele, chocaram no céu e criaram uma explosão que abafou a paisagem numa onda de calor e de luz.

Entreolharam-se, as faíscas crepitando e silvando em redor dos corpos tensos. Braço com braço. Dentes arreganhados. Cabelos revolvendo-se.

Ubo recuou, ganhou espaço. Gohan conseguiu respirar, uma única inspiração. Não o queria combater, mas sabia que não o conseguiria chamar à razão. Os olhos inflamados e vermelhos denunciavam o feitiço que o comandava. A linguagem corporal era assustadoramente idêntica à de Majin Bu.

Ubo esticou os braços por cima da cabeça e formou uma imensa bola rosa cintilante. Atirou-a. Gohan voou para trás, criou duas pequenas esferas de energia e lançou-as contra a bola rosa, que se desfez em milhentas estrelas. Conseguiu anulá-la no limite, percebeu como o ataque fora ingénuo, quase infantil, contorceu-se ao perceber como estava destreinado. Não aguentaria muito mais contra alguém que estava numa excelente forma e que utilizava a força surpreendente de um inimigo que fora imbatível no passado.

Os pensamentos distraíram-no da segunda bola rosa cintilante. Gohan encheu o peito de ar, gritou e apanhou a bola com as duas mãos. A energia era imensa, viva e perigosa, como uma besta feroz de um mundo tenebroso. Custou-lhe dominá-la. Apertou os maxilares, rugiu determinado. Haveria de o conseguir. Espreitou Ubo através daquele filtro rosa e descobriu aterrado que tinha sobre a palma das mãos que erguia sobre a cabeça uma terceira bola.

O suor escorria-lhe pela testa. Gohan enviou o ataque para os céus num esforço titânico, sentindo a sua própria energia a ser levada. A bola tornou a explodir num conjunto de estrelas.

A terra tremeu com violência. Mais adiante, alguns rochedos desprenderam-se, formando uma avalancha que resvalou ruidosamente para um abismo.

A terceira bola rosa cintilante ameaçava-o. Não tinha maneira de a evitar e recebeu-a, encolhendo-se, protegendo o rosto com os braços, puxando os joelhos para o abdómen, apelando ao seu ki, vazando a mente, mantendo um resquício de um pensamento perturbador: não deveria ter vindo.

Desapareceu na explosão que criava estrelas lindas, mas mortíferas.

A convulsão era escaldante. Quase que se deixava ir, mas recordou o sorriso torcido que vira na cara transtornada de Ubo e agarrou-se a esse fiapo de esperança para se resgatar do remoinho perigoso que o queria sugar. Sentiu-se derrotado.

O fumo dissipava-se e já conseguia respirar. Afrouxou os músculos, espreitou por entre os braços. Tentou focar o ki, Ubo escondia-se da sua perceção.

Umas mãos vigorosas agarraram-se aos seus tornozelos. Antes de conseguir reagir, sentiu um impacto súbito e doloroso na cara e caiu na terra dura. Os ossos estalaram.

Limpou o sangue da testa, soergueu-se. Estava zonzo, mas recuperou os sentidos à pressa ao escutar o silvo característico de alguém a aterrar rapidamente e a controlar a aterragem. Ubo inclinou a cabeça para a esquerda, fez um esgar. Soltou uma risada grave que lhe incendiou os olhos vermelhos. Farejara certamente o sangue, gostara e vinha por mais.

Gohan levantou-se, de pernas trémulas.

Iria tentar mais uma vez. Ainda era cedo para abandonar o combate... A Ana não estava suficientemente longe. Atacou com um pontapé, Ubo baixou a cabeça, atirou um uppercut e Gohan sentiu o maxilar vibrar. Saltou para escapar de um tiro energético de Ubo que ia direito ao seu peito e que acabou por abrir um buraco numa parede rochosa atrás dele.

Alarmou-se. Combatiam até à morte.

No ar, desviou-se de outro tiro. E outro e a seguir outro e depois mais outro. Quando descortinou uma ligeira hesitação, no momento em que Ubo afinava a pontaria, ergueu os dois braços por cima da cabeça e gritou:

- Masenko!!!

O ataque atingiu o sítio onde Ubo estava, que o esquivou saltando. Acercou-se dele rindo, escarnecendo da sua pouca habilidade, provocou-o com um soco denunciado. Gohan desviou-se com facilidade, mas era mesmo para ser fácil, era mesmo para se desviar. A raiva surgiu dentro dele, fria e venenosa. Ubo mostrou-lhe o dedo indicador, negando suavemente, dizendo-lhe que ele não precisava de raiva. De facto, não precisava de mostrar mais truques, porque aquilo não passava de uma brincadeira e Ubo poderia rematar a luta quando quisesse.

Gohan sentiu a ferroada no orgulho.

Mas ele era filho de Son Goku, pensou cada vez mais enraivecido, nadando desesperadamente para fugir da desilusão desse pensamento.

Gohan gritou selvaticamente, pernas e braços abertos. Gritou para si mesmo, exorcizando a frustração que o tolhia e investiu.

O céu foi o palco seguinte daquele duro combate.


VII.6. Um milagre

Entrada no meu diário, data: desconhecida, estou noutra dimensão

As explosões faziam tremer tudo em volta, mas nunca me detive. Sabia que teria de continuar, sem olhar para trás, sem pensar no perigo, resolutamente, como Orfeu a subir dos Infernos.

Tinha abandonado a ladeira, havia uma espécie de caminho serpenteante num desfiladeiro escuro e meti-me por aí. Era um lugar estreito e claustrofóbico que normalmente não me atreveria a conhecer, mas a urgência da situação não me dava escolhas ou a possibilidade de ser caprichosa. Era de tal maneira estreito que conseguia tocar nas paredes de cada lado se tivesse os braços abertos e foi assim que corri pelo desfiladeiro, roçando as mãos na pedra que fervia e que oscilava, porque a terra continuava a tremer.

Um ruído ensurdecedor, como milhentos trovões rolando do céu abaixo, penetrou no desfiladeiro. Olhei para cima e vi os limites superiores balançarem perigosamente. O fim da passagem estava a alguns metros, uma corrida breve de não mais que dez segundos e desatei a correr. A luz do sol escureceu e o peso brutal de rochedos gigantescos caía atrás de mim. Sei que gritei, enlouquecida de medo, mas o som do desfiladeiro a desmoronar-se num apocalipse de poeira e de pedra abafou o meu infeliz grito e bem que podia urrar por socorro que ninguém me haveria de escutar.

Atirei-me de cabeça, como quem mergulha para uma piscina e saí do desfiladeiro a tempo de não ser esmagada pelo último rochedo. Tossi ao sentir os pulmões congestionados. Agora já não era só as mangas do casaco rasgadas, tinha também as calças abertas nos joelhos e as bainhas desfiadas.

A terra roncava sacudida pelas explosões. Olhei por cima do ombro. Vi o desfiladeiro em escombros, vi as explosões luminosas no céu. Gohan combatia contra Ubo e se eu quisesse que o sacrifício de Gohan tivesse algum significado, deveria continuar a fugir.

Impulsionei-me com a ajuda de um braço, corri. Tropecei, caí e voltei a correr. O terreno subia. Não podia ser, não queria ir para cima, queria descer e abandonar aquele deserto rochoso. Voltei para trás, contornei um penedo, evitei um abismo, choraminguei de medo mas prossegui, a sentir o peso do Medalhão de Mu a motivar-me para que continuasse sempre, sem olhar para trás, melhor que Orfeu que, no final da empresa, cedera à tentação e olhara mesmo para trás.

Uma explosão trovejou, igual ao rebentar de uma potente bomba. A onda de choque provocada pela explosão apanhou-me e derrubou-me, como se tivesse levado com um monumental murro nas costas. Caí de borco, raspando novamente as palmas das mãos, enchendo-as de sangue. Arquejei sem fôlego. Os arranhões picaram-me a pele. Limpei as mãos às calças e continuei, coxeando.

Descobri outra ladeira e vislumbrei para lá de um muro denteado de rochas, as pontas mais altas de muitas árvores, o que indicava existir ali uma floresta. Não me agradava enfiar-me num sítio onde existiriam animais, mas não tinha alternativas.

Meti-me pela ladeira. O chão continuava a agitar-se, atirando-me da esquerda para a direita, como se tivesse bebido álcool a mais. Os meus pés tentavam não derrapar, mas era impossível. Uma sacudidela mais forte atirou-me contra um rochedo do lado direito, mas a sacudidela seguinte atirou-me para o precipício desprotegido do lado esquerdo. Gritei, não sabia que conseguia gritar tanto. Caí. Consegui agarrar-me a uma saliência do precipício e fiquei pendurada por um braço, sobre um vazio de arrepiar.

- Ah!... Socorro!

Novo grito. Desesperado, profundo, horrivelmente assustado.

Cravei as unhas da mão solta na rocha numa tentativa de me içar e escalar o que podia até chegar novamente à ladeira, mas a terra tremeu outra vez e foi como se me enxotasse, impedindo a minha salvação. Comecei a chorar, em pânico. As forças desapareciam do braço herói que me impedia de me esborrachar na fundura daquele abismo, os soluços agitavam-me o corpo, o peso do medalhão de Mu puxava-me para o inevitável.

Sim, era inevitável eu acabar esborrachada na fundura do abismo. E talvez fosse o melhor. Já era a segunda vez que tinha esse pensamento mórbido. Sem mim, Zephir nunca se iria transformar num deus. Sorri, embalando-me nesse detalhe, convencendo-me que não seria assim tão mau.

Ah!, mas seria. Seria muito mau. Shenron não me podia ressuscitar, pois as bolas de dragão tinham sido recentemente utilizadas. Arrependi-me por ter tido a ideia do segundo desejo, mais valia que Goku tivesse enviado Shenron de volta e o tornasse a chamar, passados dois meses e já me podia devolver a vida perdida naquele abismo, depois de Zephir. Fechei as pálpebras, só que dois meses depois podia ainda haver Zephir e, provavelmente, o melhor fora utilizar o possivelmente último desejo das bolas de dragão.

O rochedo onde me segurava fendeu-se. Vi o meu sangue no rochedo. Arreganhei os dentes com aquele arrepio de medo que me arrefeceu as extremidades do corpo.

Tinha chegado a minha hora.

Lembrei-me de Trunks, queria que ele não chorasse demasiado a minha perda, não suportaria sabê-lo triste por causa de mim ou por causa de outra coisa qualquer. Sabê-lo triste, simplesmente. O meu coração apertou-se. Queria ter-lhe dito tantas coisas, a começar por "desculpa se te falei de mirai Trunks e não o devia ter feito, mas juro que não sabia que tu não sabias que ele existiu".

E então o rochedo quebrou-se de vez e comecei a cair. Voava sozinha, em direção ao Outro Mundo, pensando em Trunks, pensando em como tinha adorado todos os momentos que tinha passado com ele, naquela dimensão, na minha dimensão. Sobretudo, na minha dimensão.

Senti um esticão súbito. Parei de respirar, atónita com as sensações extremas que experimentava. Agora subia e alguém agarrava em mim pelo pulso esquerdo. Estavam a salvar-me. Gritei de alívio, de quase alegria até perceber que até podia ser Ubo e isso significava que estava a ser levada para o templo odioso e que Gohan tinha perdido o combate.

Olhei para cima.

- Pan! – Exclamei com outro grito.

Hoje, era toda gritos. Que raiva por não me conseguir controlar!

Ela não me respondeu. Voava velozmente, com um livro de capa negra debaixo do outro braço.

- Pan, salvaste-me – ventilei, querendo falar mais alto mas tinha um peso no peito a tolher-me as palavras. – A-arigato... Pan-chan...

Senti duas lágrimas grossas desprenderem-se das minhas pestanas. Sim, a miúda tinha acabado de me salvar. Agarrei no Medalhão de Mu, travando a sua dança errática. O metal era real e tocar naquela coisa dura, de arestas precisas, acalmou-me.

Alcançámos a floresta que eu tinha descoberto quando tentava fugir do labirinto de rochedos. Mas estranhei ao ver que as árvores, gradualmente, passavam cada vez menos depressa e cada vez mais perto. Olhei para Pan. Parecia sonolenta, estava pálida e suada. Reparei num rasto de sangue coagulado num ferimento na face esquerda.

- Pan-chan...?

Nisto, teve um colapso. Os olhos apagaram-se e a cabeça pendeu, fazendo com que os cabelos negros caíssem como uma cortina sobre o rosto, ocultando-o. O corpo ficou inerte e por uma fração de segundo tive a impressão que pairávamos... antes de perdermos totalmente a sustentação e começarmos a despenharmo-nos na direção da floresta.

Não fui capaz de gritar. Acho que até eu ficara farta de escutar os meus estúpidos gritos. Abri os braços e puxei-a para mim, abraçando-a, abraçando também o estranho livro que ela, mesmo inconsciente, não largava.

A fortuna sorriu-nos inesperadamente. Debaixo de nós estava uma árvore frondosa que amorteceu a nossa queda. O primeiro impacto com as ramagens foi, contudo, doloroso. Arquejei, encolhendo-me, protegendo ainda mais a miúda que se aninhava desfalecida nos meus braços.

As ramadas quebravam-se à medida que descíamos, havia folhas verdes lançadas ao ar, a madeira estalava junto aos ouvidos, as farpas arranhavam-me a pele dos braços. Contive todas as interjeições e todos os gemidos, fechando os olhos com força. Até que parei com o chão imenso contra as minhas costas.

Não me mexi durante algum tempo, talvez minutos, para ter a certeza que estava parada, que tinha mesmo chegado a terra firme. Que estava salva, mais o Medalhão de Mu. Então, abri os braços e até as pernas, pois sem me aperceber tinha-as enrolado por cima de Pan para formar uma concha protetora. Continuava a segurar teimosamente aquele livro. Chamei-a, mas não me respondeu.

Pousei-a na erva macia, encostei um ouvido ao pequeno peito. O coração batia, mas sem ritmo e enfraquecido. Apalpei-lhe a testa gelada.

- Oh, não...

Abanei-a suavemente, chamando-a novamente pelo nome, mas Pan não reagiu. A respiração começou a ficar irregular. O estado era grave. Reparei na ferida da face esquerda, estava com um aspeto horrível. Para além do sangue coagulado havia também pus amarelo. Senti vómitos e tapei a boca. Ao desviar a cara, reparei num pequeno regato onde corria água cristalina. Arrastei Pan suavemente para colocá-la mais perto daquele fio de água mínimo. Mergulhei a mão, limpei-lhe a ferida. O pus saiu, o sangue endurecido dissolveu-se. Depois levei-lhe água aos lábios que estavam gretados e secos. Ela bebeu a água com sofreguidão. Estremeceu, reagindo pela primeira vez. Dei-lhe mais água, ela aparentava ter muita sede, pois bebia num ápice o pouco líquido que a minha mão lhe conseguia levar e parecia que nunca era suficiente. Então, esticou-se num estertor, gritou e depois ficou parada a respirar apressadamente. Nunca abrira os olhos e nunca largara aquele maldito livro. Escutei-lhe novamente o coração. Batia depressa.

Mordi o lábio inferior. Estava com febre, agora. Puxei-a para o meu colo e enroscou-se como um gatinho, sempre com o livro. Encostei-me a um tronco próximo, vigiando o seu estado, sem saber o que fazer mais a não ser esperar.

- O-O-Okaa... Okaasan! – Chamou num murmúrio.

Embalei-a o melhor que pude.

Vi o céu azul por entre as árvores e vi que brilhava, de tempos a tempos, onde o horizonte se recortava em penedos e penhascos.

Gohan ainda combatia com Ubo.

Fim de entrada.


VII.7. Desistir

Ubo apanhou Gohan pelos farrapos da túnica do dogi.

O sabor férreo do sangue, primeiro, o ardor do impacto, depois, ajudou-o a despertar. Ubo socava-o e tornava a fazê-lo com requintes de malvadez. Com os olhos turvos de dor e de fadiga, Gohan percebeu o sorriso maligno do adversário.

Tempo de agir.

As forças eram poucas, a energia quase nenhuma. Mas a vontade, essa, era inabalável. Ele era um saiya-jin.

O punho fechado de Ubo viajava de novo para a sua cara. Com as duas mãos, Gohan golpeou-o na base do pescoço. Largou-lhe a túnica. Acertou-lhe com o antebraço no meio da cara, esborrachando-lhe o nariz e depois afastou-se. Ganhou uma curta distância, para respirar apenas, porque Ubo recuperou depressa e atacou mais depressa ainda. Mal teve tempo para se defender das pancadas que se abateram sobre ele. O confronto corpo-a-corpo foi curto e duro. Apanhou com um pontapé em cheio no estômago e caiu de costas. Um espasmo doloroso assaltou-o. Soergueu-se, levantou-se, endireitou-se o melhor que foi capaz.

Um raio de luz cegou-o.

Preparou-se para o embate e ouviu os músculos estalarem com a pressão. Ubo estava na outra extremidade do raio, braço estendido, mão de dedos abertos. Na cara persistia o sorriso malvado.

Talvez não tivesse outra oportunidade e preparou-se para arriscar tudo naquela jogada.

O calor do raio avermelhado chegou-lhe à pele. Cerrou os dentes. Ubo não esperaria um contra-ataque; quanto muito, apenas uma defesa incompleta. A energia daquele raio era imensa.

Saltou, com todo o seu querer arranjou forças no fundo da alma, tão ferida quanto o corpo. A sua velocidade surpreendeu Ubo. Ainda tinha o braço estendido a comandar o raio quando Gohan lhe apareceu na retaguarda.

O raio explodiu, libertando labaredas enormes e pedaços de pedra fumegante.

Ubo voltou-se ao senti-lo atrás de si, rosnando enraivecido. Gohan esmurrou-o com todo o seu empenho, fazendo-o dar uma volta no ar, cair de cara para baixo e enfiar-se contra o rochedo, cavando neste a forma do seu corpo.

Gohan saltou, uniu as duas mãos.

- Kamehame...

Ubo mexeu-se.

- Ha!!!!

A explosão abalou as montanhas.

Depois do ataque, Gohan reuniu o resto das suas energias. O corpo cintilou e partiu.

Fugia.

Um enorme pedregulho caíra sobre o local onde a vaga azul embatera. Ubo tinha desaparecido, engolido pelo entulho e pela explosão. Mas não estava ferido. Ainda tinha muito para dar naquele combate.

Mas Gohan não.

Por isso fugia.

Sabia que era cobardia, mas nada mais poderia fazer. O seu orgulho de saiya-jin doía-lhe, mais do que qualquer ferida que lhe cobria o corpo arranhado, amassado e ensanguentado, mas ele era consciente dos seus limites. Demasiado consciente. Conseguira ganhar o tempo necessário para que a Ana fugisse e o que se propusera fazer, estava feito. E fora impecavelmente eficiente.

Isso não o consolou e, amargurado, chorou enquanto fugia.

***

Ubo viu-o afastar-se. Sorriu. O ataque com a Kamehame tinha sido bom. Fora uma pequena amostra do que o filho de Son Goku conseguira, em tempos, fazer. Observava-o enquanto lhe dava espaço e esperança de que conseguiria fugir dele. A seguir iria persegui-lo e iria terminar aquele combate. Sem qualquer piedade.

A seguir, procuraria pela rapariga da Dimensão Real e pelo Medalhão de Mu. Sem qualquer hesitação.

A voz de Zephir chamou-o. Apagou o sorriso. Esqueceu a adrenalina de uma quase perseguição, o predador farejando o sangue quente da presa, e seguiu o apelo do mestre.


VII.8. Recompensa merecida

Entrada no meu diário, data: desconhecida, estou noutra dimensão

O corpo de Pan escaldava nos meus braços e eu entrava, lentamente, em desespero. O silêncio que me rodeava era espantosamente massacrante. Pelo menos, os tremores de terra e as explosões brilhantes tinham terminado e ousei pensar que o combate já tinha terminado e que tinha terminado bem para o lado dos bons. Gohan viria para nos salvar, a mim e à filha.

Claro que viria...

Mais uma vez, o triângulo dourado ao meu pescoço ajudou-me a conciliar a calma necessária para enfrentar aquela situação. A espera, a doença da miúda, o meu desamparo. Agarrei-o, marquei as arestas na palma da mão. Aconcheguei Pan no meu colo o melhor que pude, beijei-lhe os cabelos. Estavam molhados de suor.

A floresta que nos rodeava era estranhamente repousante e, quando me apercebi, tinha dormitado.

Despertei de repente e pus-me de pé. Vi-o a correr para nós.

- Gohan! - Exclamei.

E depois arrepiei-me porque ele estava magoado e tinha o dogi esfarrapado.

- Ganhaste?

Não me respondeu. Os olhos abriram-se muito ao ver que eu tinha a filha dele nos braços.

- Pan-chan! Onde é que a encontraste?

Claro que tinha ganhado, pensei. Senão, não estaria ali. Respondi-lhe:

- Ela é que me encontrou. E se não o tivesse feito... não sei onde estaria eu neste momento.

No fundo de um abismo, esborrachada, adiantei, mas só para mim.

Passou uma mão pela testa da miúda. Franziu o cenho.

- O que é que se passa com ela? Está tão quente.

- Ficou assim, de repente. Levava-me com ela, a voar, quando perdeu os sentidos e caímos nesta floresta. O que acabou por ser uma sorte, pois as árvores amorteceram a queda.

- Ela estava ferida?

- Hai, tinha um ferimento na cara. Lavei-o com água e o ferimento... desapareceu. Não deixou sequer uma cicatriz. Mas depois ficou com febre.

Ele apertou os dentes, ficou tenso. Tinha um aspeto desolador, todo arranhado e ensanguentado, mas com aquela expressão tornou-se temível e recuei um passo.

- Kucris. Pan sempre esteve no Templo da Lua. Kuso!...

- Nani?

- E dizes que lhe deste água? Mas deveria ter-se curado totalmente. Não percebo como é que apareceu esta febre...

- Curado só com água?

Respirou fundo.

- Ana-san, não podemos perder mais tempo neste lugar. Estamos demasiado perto do Templo da Lua e não desejo enfrentar-me aos demónios do feiticeiro ou ao saiya-jin que ele comanda. – Reparou no medalhão e fez um esgar de desagrado. – Ainda por cima, tens contigo a segunda metade do Medalhão de Mu.

- Decidi usá-lo.

- Hum... Não sei se é uma decisão acertada, mas não quero discutir isso agora. Vamos embora!

Concordei com um aceno de cabeça.

Passou um braço pela minha cintura.

- Arigato – disse-lhe eu.

Ficou atrapalhado.

- Nani?... Porque é que me estás a agradecer, Ana-san?

- Lutaste por mim... Salvaste-me.

Sorriu-me com uma candura desarmante e senti o meu coração dar um salto.

- E tu também salvaste a minha filha. Eu é que te devo agradecer.

Sorri-lhe e ele corou. Fletiu os joelhos, a preparar o impulso e foi então que me lembrei.

- Espera! Pan trazia com ela aquele livro que está ali. Não o largava nem por nada. Se dizes que ela esteve no Templo da Lua, então o livro veio de lá e deve ser importante.

Sem me soltar a cintura, dobrou-se, apanhou o livro e entregou-mo, perguntando-me se eu conseguia carregar com Pan e com o livro, ao mesmo tempo. Respondi-lhe que sim. Gohan agarrou-me com mais força e eu preparei-me para a viagem.

Levantámos voo e dirigimo-nos para a Capsule Corporation.

Fim de entrada.


VII.9. Prisioneira

O espectro de Babidi, com as mãos azuladas e minúsculas coladas no vidro da bola que o aprisionava, contemplava a explosão de fúria de Zephir.

- Os kucris!

A cena de histeria contrastava com a atitude imaculada que o feiticeiro gostava de exibir. Babidi revirou os olhos, aborrecido. Debaixo da capa de uma indiferença arrogante, Zephir era um desvairado de sangue quente que perdia facilmente o controlo. Já se tinha arrependido de o ter escolhido como seu instrumento para a conquista do Universo.

- Roubaram-me o livro e partiram o vaso dos kucris! Acabaram com os meus preciosos ajudantes... Já não vão nascer mais kucris. Mas quem ousou entrar sorrateiramente no Templo da Lua e fazer esses estragos irreparáveis?

Zephir volveu os olhos inflamados para Babidi, que flutuava dentro da bola. Apontou-lhe um dedo esquelético, agitando a larga manga do hábito cinzento.

- Foi obra tua, maldito?

- Não deves estar a falar a sério, meu caro Zephir. Achas que sou capaz de fazer alguma coisa dentro desta prisão? Além do mais, pareces esquecer que sou apenas uma alma do Outro Mundo, sem um corpo palpável. Que posso eu fazer? Se tivesse esses poderes que tu pensas que tenho, utilizava-os em meu proveito, para sair desta bola, por exemplo, e não nalgum esquema mirabolante para me vingar de ti.

- O livro desapareceu do altar. O teu livro! – Bradou.

- Era o meu livro, certo, mas és tu quem o usas.

- O livro era a coisa mais valiosa que possuía. Era o meu passaporte para o trono do Universo. Tu sabias disso, Babidi! Só tu conhecias o meu segredo. – E apontou para o espaço vazio do altar, entre as duas velas.

O espectro encolheu os ombros.

- Não tenho nada a ver com o que aconteceu.

Num acesso de raiva, Zephir atirou a bola à parede. O vidro era especial, criado através da magia, e não se partiu. Quando esta rebolou pelo chão, Babidi atordoado rebolou com a bola, aos encontrões dentro desta. Zephir voltava-se para o altar, punhos apoiados neste.

- Foi aquele maldito rapaz. Foi ele – disse com uma voz seca, acalmando-se aos poucos. – Ele é o teu precioso Majin Bu. Entraste dentro da mente dele, convenceste-o a ajudar-te. Sabotou os kucris, escondeu o livro. Faz o que tu lhe pedes, não o que eu lhe ordeno. Há quase um dia que o enviei à procura da rapariga da Dimensão Real e da outra metade do Medalhão de Mu e ainda não regressou.

Babidi levantou-se dentro da bola, agarrado à cabeça tonta.

- Estive sempre contigo, ando sempre contigo. Como podia fazer isso de que me acusas?

- Sabes que preciso daquele livro. Sem ele, não conseguirei fazer o conjuro para criar o altar onde se utilizará o Medalhão de Mu que me transformará num deus. Queres fazer chantagem comigo... – Rosnou furibundo: – A tua liberdade em troca do livro.

Os olhitos de Babidi arregalaram-se.

- Pensas mesmo que fui eu! Admito que seria uma excelente ideia... mas que não me ocorreu. Juro-te!

Zephir puxou a bola até à altura do rosto lívido. Desenhou um sorriso pérfido e disse pausadamente:

- Já nem quero saber se foste tu, ou não. Vou acabar contigo. Estou farto da tua presença, Babidi. Não passas de um espírito insignificante. E mais insignificante ficarás quando eu convocar as trevas dos Infernos para desfazer essa tua alminha de nada, até que não sobre nada de ti. Nem a recordação! Até nunca, Babidi!

- Olha que te podes arrepender – implorou o espectro com um guincho.

- Eu nunca me arrependo de nada!

Os dedos do feiticeiro, que alçou sobre a bola, cobriram-se com uma névoa intermitente avermelhada. O espectro tornou a guinchar, falando muito depressa:

- Lembra-te que o livro de magia chama-se "Livro de Babidi". Eu sou Babidi! Sei o meu livro de cor e salteado. Todos os conjuros e todas as magias foram criados por mim, foram reunidos por mim. Posso ajudar-te. Não tens o livro, mas tens-me a mim.

Zephir exclamou siderado:

- Mais chantagem?!

- É a única chantagem.

Passos junto à porta do santuário.

- Sensei?

Kumis apareceu. Zephir detestou ser interrompido e gritou ao insolente:

- Demónio, fora daqui! Estou ocupado!

- Mas isto vai interessar-lhe, sensei.

E entrou no santuário, empurrando-a, exibindo-a como se fosse um troféu, presa por um braço. Zephir ficou boquiaberto a olhar atarantado para a miúda que o encarava sem mostrar uma nesga de medo, apesar dos gritos, do demónio e de ter o braço esmagado. Respirou fundo, recolheu a energia avermelhada, ocultou as mãos dentro das mangas do hábito, perguntou sem qualquer emoção:

- E o que vem a ser isto?

Keilo postou-se na entrada do santuário, a observar a cena.

- Encontrei-a no templo, sensei. Vinha com uma amiga que fugiu. Não sei para onde foi a outra, mas esta foi fácil de agarrar.

Zephir estreitou os olhos.

- Outra miúda?

- Hai, sensei. Fugiu... Eh... Atacou-me e conseguiu fugir.

Keilo desatou a rir. Mas Zephir continuou sério.

- Hum... Temos meninas guerreiras no Templo da Lua? – Inclinou-se ameaçador, mas ela continuou a enfrentá-lo corajosa, sem sequer piscar os olhos azuis. – Não vale a pena perguntar-te nada, pois não, minha querida? Não me irias responder. Mas não preciso das tuas respostas para saber quem és, de onde vens e o que queres do Templo da Lua, menina guerreira.

Num gesto repentino pousou a mão gelada sobre a testa dela, pressionou ligeiramente e a miúda reagiu com um gemido e um safanão. Sorriu deliciado. Finalmente, incutira-lhe medo.

O processo não foi muito demorado. A mente era simples e pouco treinada. Bastaram duas palavras, pouco menos de cinco segundos e a excitação da vitória acendeu-lhe o olhar maléfico. Retirou a mão gelada e a miúda caiu de joelhos desmaiada, pendurada na manápula de Kumis.

- Foi um prazer conhecer-te, Bra – disse Zephir calmamente. Voltou-se para o demónio: – Kumis, leva-a para um sítio seguro, vamos precisar dela nas próximas horas. Estás proibido de fazer mal à filha de Vegeta.

Surpreendido, Keilo descruzou os braços. Nunca imaginara que aquela pirralha pudesse ser tão especial. Ela tinha o sangue real dos saiya-jin a correr nas veias!

- Hai, sensei.

Kumis fez uma vénia e foi pelos corredores levando Bra debaixo do braço. Keilo seguiu o demónio com curiosidade.

Zephir elevou a bola de vidro e sorriu.

- Agora entendo que não tiveste nada que ver com os recentes acontecimentos, Babidi.

O espectro não lhe respondeu. Cruzou os braços, baixou os olhos amuado.

O feiticeiro sentiu-se triunfante, apesar dos últimos reveses. Permitiu-se um ligeiro suspiro de alegria. Podia ter perdido o seu precioso livro de magia, podia ter perdido o vaso dos kucris, mas com a menina guerreira ganhara a imortalidade.

Largou a bola de vidro e chamou por Ubo.

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