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Capítulo II


II.1. O início da aventura

Entrada no meu diário, data: desconhecida, estou noutra dimensão

Um ar morno afugentou o torpor que me tolhia o corpo. Amolecida, deixei-me embalar pela sensação agradável de estar dentro de um sonho, até que as memórias apareceram. Boas e más e foram estas últimas que me fizeram abrir os olhos. Especialmente a dor da garra a estrangular-me e a levar-me para dentro de um remoinho escuro.

A sombra de umas mãos esguias desviou-se de mim. Não reconheci o que via, um céu violeta, artificial. O calor sumiu-se e ficou o frio do chão de mármore onde me deitava. Voltei a cabeça para o lado direito, para o dono das mãos que me tinham feito sombra.

Gritei. Era alguém verde. Verde como uma alface! Mas o que me causou perplexidade foi o facto de eu o conhecer.

- Dende?! – Exclamei.

Sentei-me. Olhei para as minhas mãos e para os meus braços e gritei outra vez, horrorizada. As calças de ganga, a sweat azul, os braços, as mãos, iguais ao céu. Artificiais. Pus-me de pé com um salto aos gritos:

- Sou um desenho animado!

- Acalma-te, Ana-san... onegai shimass.

Dende, em desenho animado, falava comigo. Voltei o pescoço, da esquerda para a direita. Estava tudo desenhado, com cores berrantes, sem profundidade, como se o mundo fosse apenas a duas dimensões. Apertei os braços, o toque era familiar, contudo. De olhos fechados, era tudo igual.

- Ana-san!

Dende sabia o meu nome. Calei os gritos.

O corpo estava diferente. Estava mais leve e tinha a sensação que se me pusesse aos pulos começava a voar. Tinha ainda um peso esquisito no peito que me tirava o ar. Acho que era medo... Medo do que podia ter acontecido para me ter transformado num desenho animado. Medo também de olhar-me a um espelho.

- Compreendo que deves estar confusa, mas existe uma explicação para estares aqui, connosco.

Abri os olhos, Dende tentava acalmar-me com um sorriso.

- Onde... é que eu estou?

- Na Dimensão Z.

A minha mente paralisou.

- Sabes o que é a Dimensão Z? – Perguntou-me.

- "Dragon Ball" – respondi.

Senti-me agoniada e apertei a barriga. Dende inclinou-se, preocupado. Gracejei:

- Tens de ter paciência comigo, Dende. Não é todos os dias que me transformo em desenho animado.

Ele não encontrou piada naquela minha observação.

Então, notei outro pormenor. Tapei a boca, falei através dos dedos:

- Que língua é esta que estou a falar? É japonês? Mas eu não sei falar japonês! E estou a perceber tudo o que me estão a dizer e tudo o que estou eu a dizer! O que é que se passa aqui?

- Fizeste uma viagem entre dimensões. É uma experiência...

- Estranha?

- Violenta. Falo com conhecimento de causa.

Recordei as palavras de Gohan a dizer-me que estar no meu mundo era um castigo. Apertei os lábios, fechei os olhos com força. O sonho não terminava, o que queria dizer que era real, eu estava mesmo ali, em desenho animado. Leve e confusa e estupidamente nervosa.

Dende acrescentou:

- Tu conheces-nos a todos, não é assim?

A voz era calma, suave como um bálsamo. Queria ajudar-me naquela experiência que classificara de violenta.

- E conheces este sítio – acrescentou, indicando o lugar com o braço.

Os meus olhos fizeram uma breve passagem pelos recantos harmoniosos do Palácio Celestial. Era um lugar encantador, envolvido numa paz absoluta, onde apenas o vento cortava o silêncio sublime.

Concordei, acenando com a cabeça.

- Conheces-me a mim, a ele... - Apontou com um dedo para uma figura parada, ligeiramente atrás de si. Ainda não me tinha apercebido da presença dele.

- Mr. Popo - balbuciei.

- Mas não conheces aquele que ali está... pois não?

O dedo passou para um rapaz que se postava distante. Demarcava-se da cena, afirmando categoricamente que não pertencia ali. Não exatamente àquele recinto, mas àquela história. Era jovem, tinha um olhar opaco, uma barreira que o separava dos outros e que o salvava da contaminação da vulgaridade do mundo. A altivez dele era ofensiva, a solidão era evidente, a mágoa escondia-se algures naquela alma que se retorcia inquieta. Fascinou-me, mas infundiu-me receio. Haveria de estabelecer a mesma distância entre mim e ele que fazia questão de estender entre ele e os outros.

Dende apresentou-mo.

- Chama-se Toynara e é um sacerdote do Templo da Lua.

- Lua? – Admirei-me. – Existe um templo dedicado à lua na Dimensão Z? Mas a lua já não existe.

O rapaz irritou-se com a minha observação. O olhar opaco disparou chispas na minha direção.

- O mestre dele é agora o nosso maior inimigo e é contra ele que estamos a combater – revelou Dende. – Chama-se Zephir e é um poderoso feiticeiro. Foi ele que te trouxe para a Dimensão Z.

- O que quer esse feiticeiro de mim?

- Zephir precisa de ti, Ana-san.

O meu medo aumentou.

- O... quê?

- E tu precisas de fugir de Zephir. A magia negra do feiticeiro quer aprisionar-te, fazer de ti uma fiel servidora do mal. Se isso acontecer, o Universo estará condenado.

A seguir, Dende resumiu o que estava a acontecer na Dimensão Z e que, a dada altura, se estendeu à minha dimensão. Haveria de se estender a todas as outras dimensões possíveis, ao Universo inteiro, se Son Goku não saísse vitorioso. Contou-me que eu fizera a viagem até à Dimensão Z quando interagira com Trunks, o que me deixara a cara a arder de tão corada. Contou-me também que contava comigo para lutar contra o feiticeiro e eu disse que sim, sem saber muito bem com o que concordava, porque eu não sabia lutar e nem sabia o que podia fazer contra um feiticeiro.

- Onde está Trunks? – Perguntei.

- Depois de te ter deixado aqui, voltou para o Templo da Lua.

- Foi Trunks que me salvou?

- Hai.

- Ele vai combater?

- Muito provavelmente. – Sorriu para tranquilizar-me. – Não te preocupes, Ana-san. Ele é um saiya-jin.

- Os saiya-jin também são derrotados. Também...

Não consegui completar. Morrem, pensei. Dende reforçou o sorriso.

- Vai correr tudo bem.

O vento soprou e mexeu-me com os cabelos. Encolhi-me com um arrepio de frio. Mr. Popo entregou-me um par de sapatos de pano e só então reparei que estava só de meias. As minhas sapatilhas tinham ficado na minha dimensão, recordei. Calcei os sapatos sorrindo um agradecimento. Mr. Popo perguntou-me se desejava mais alguma coisa. Abanei a cabeça, respondi que não.

Dende foi até ao bordo do recinto circular e daí pôs-se a contemplar o mundo, numa pose divina que me impressionou. Era gentil no trato, mas exibia a dignidade própria de um deus quando era preciso. Prometi a mim mesma que deixaria de o tratar pelo nome. Soava a desrespeito. Passaria a tratá-lo por kami-sama, o ser todo-poderoso daquele mundo. Deus.

Mr. Popo entretinha-se a jardinar. Percorria os canteiros floridos com um regador, dando água à terra, sorrindo placidamente.

Olhei para Toynara. Descobri-o a cismar com as copas das palmeiras que ornamentavam os limites do recinto. Ao sentir o meu olhar, encarou-me. Não tinha nenhuma expressão no rosto e fiquei perturbada.

Tinha de dizer alguma coisa. Perguntei-lhe:

- Estás aqui há muito tempo?

- Nove dias e algumas horas.

- Ah... Contabilizas o tempo com precisão?

- É importante conhecer o tempo, o passado e o futuro. Gosto de saber quanto tempo irá passar até voltar para casa.

- A tua casa é o Templo da Lua?

- Julgo que o kami-sama já revelou tudo o que precisavas saber.

- Desculpa se te estou a incomodar. Pensava que podíamos conversar... Pareces ter a mesma idade que eu. Vinte e dois, vinte e três?

Não me respondeu.

- És um feiticeiro como Zephir, não és?

- Julgo que o kami-sama já revelou...

- Muito bem! – Cortei exasperada. - Já percebi que não queres conversar comigo.

Ignorava-me pomposamente com o seu silêncio. Fugi dele, afastei-me o mais que pude. Sentei-me no rebordo de um dos canteiros. Aborrecida, quase amuada e resolvi esquecer os maus modos do sacerdote importante, porque ele não merecia que me importasse uma pevide com ele. Entretive-me a ver Mr. Popo e o seu regador. Segui-lhe os movimentos meticulosos, a leveza com que se deslocava, o amor que dispensava às flores, as gotas de água que lhes ofertava com enlevo. De vez em quando, pássaros pousavam-lhe nos ombros.

Nisto, Dende alarmou-se.

- Não!

Mr. Popo perdeu o sorriso plácido. Pousou o regador no chão, junto ao último canteiro que regara e aproximou-se de Dende.

- Kami-sama, o que é que se passa?

Dende recuou. Mr. Popo espreitou as nuvens. O bordão de madeira do Todo-Poderoso foi espetado na minha direção e o grito fez-me estremecer:

- Toynara, leva-a a contigo para o Palácio. Rápido!

E foi realmente rápido. Toynara agarrou-me no braço, com tanta força que me estrangulou a circulação sanguínea. Correu e eu tentei correr com ele, tropeçando nas pernas, entrámos no edifício. Consegui reagir, sacudi o braço e ele soltou-me.

- Espera! O que é que está a acontecer?

- Um dos demónios de Zephir aproxima-se. Vem por ti.

Gaguejei:

- De-demónios?

- Temos de nos esconder. Vem comigo.

Segui Toynara, apreensiva.

O interior do Palácio Celestial era sombrio, mas fresco e incrivelmente sereno. O soalho estava polido e brilhava como um espelho, colunas esguias sustinham um teto alto e abobadado. Os salões eram gigantescos e as galerias eram amplas, escondiam nos recessos mistérios e belezas que não me atrevi a querer conhecer naquela fuga dramática. Atrás de Toynara escalei uma escadaria de degraus brancos, que se enrolava até um patamar aberto onde assobiava o vento.

- Sabes por onde estás a ir?

Parou, voltou-se para mim irritado.

- Estou a proteger-te. Não me questiones!

Não gostei daquela reação bruta. Aliás, não gostava daquele Toynara, feiticeiro e sacerdote do Templo da Lua. Pensei naquilo que realmente o diferenciava de Zephir. Se seria a vontade, o desejo oculto de se vingar de um mestre que o desiludira, uma genuína alma boa ou apenas as circunstâncias que o faziam prisioneiro do Palácio Celestial e, no final de contas, de Son Goku.

Com um gesto seco, mandou-me parar, antes do patamar.

- Baixa-te, para que não te vejam.

Agachou-se, agachei-me atrás dele. Rastejámos pelo patamar, mas a curiosidade mordeu-me. Respirei fundo e antes que me arrependesse, apoiei as mãos no parapeito colunado e espreitei lá para baixo.

- O que é que estás a fazer? – Censurou-me Toynara.

- Quero ver esse demónio – expliquei a tremer.

Com a cabeça entre duas colunas vi o que se desenrolava mais adiante, com arrepios, terror, apreensão, sem apartar o olhar. Um ser monstruoso e gigantesco, de cabelo cor de fogo e pele transparente, interpelava Dende, com os braços cruzados sobre o peito de músculos salientes e ameaçadores. Mr. Popo colocava-se ligeiramente atrás de Dende.

O vento assobiava, transportava as palavras até mim, trazendo-as fragmentadas, mas perfeitamente audíveis e estremeci ao perceber que o demónio procurava, efetivamente, por mim. Escutei:

- ...a rapariga? Venho buscar o que pertence ao meu mestre.

Dende respondeu, mas não entendi nada, a rajada seguinte levou a voz dele para longe. O demónio riu-se. Mais palavras.

- ...dificultes as coisas. Não queria destruir esta tua bela casinha para levar a rapariga comigo.

O vento era caprichoso. Deixava-me ouvir o demónio, calava a voz de deus. Mais uma vez, Dende respondeu e eu não percebi nada do que ele disse. O demónio ria-se. Toynara insistiu:

- Vamos embora.

Concordei, acenando com a cabeça. Soltei o parapeito, mas um berro inesperado, fez-me espreitar novamente entre as duas colunas.

- Mais devagar, demónio!

Exclamei:

- Ten Shin Han!

Toynara reagiu pela primeira vez como um rapaz normal. O seu espanto era genuíno quando disse:

- Nani? Ele está aqui?

- Conheces Ten Shin Han?

Recompôs-se, pigarreou. Revelou com relutância:

- Hai. Ele ajudou-me, depois de eu ter lutado contra Zephir.

O demónio voltou-se para Ten Shin Han, que o enfrentava sem qualquer receio. Sempre fora um lutador impressionante e admirei-o durante alguns segundos, até que perguntei a Toynara:

- Lutaste contra Zephir?

- Hai. O resultado dessa luta é evidente, se estou aqui. Vamos embora. Se o demónio te descobre, é o fim.

- Mas Zephir é muito poderoso... Se perdeste...

Toynara zangou-se.

- Eu também sou um feiticeiro muito poderoso. E hei de conseguir derrotá-lo, com ou sem a ajuda de Son Goku.

- Com a ajuda dele, vencerás de certeza.

Mas o auxílio e o sacrifício de Son Goku e dos seus amigos era um espinho cravado no orgulho daquele jovem feiticeiro. Não gostei de conhecer mais esse detalhe sobre Toynara, aumentava a minha descrença e a minha desilusão. Ele puxou-me pela sweat.

- Vamos! Já nos demorámos demasiado aqui.

O patamar tremeu quando Ten Shin Han atacou o demónio com um disparo invisível de ki. Fui projetada de encontro à parede oposta do patamar. Toynara caiu junto às minhas pernas. O combate entre o demónio e Ten Shin Han começava. Escutei alguns golpes, outro ataque de ki e o patamar tornou a tremer. Uma luz branca e intensa entrou na galeria e cegou-me. Tapei os olhos para os proteger. Ainda cega, rastejei até ao outro extremo do patamar, tentando alcançar a saída. Ouvi Toynara tossir atrás de mim e depois ouvi-o gritar.

Abri as pálpebras. Havia pontinhos de todas as cores, como fogo-de-artifício, à medida que a minha visão estabilizava. Vi um vulto erguido diante de mim, espalmei as omoplatas na parede. Toynara enfrentava o demónio que tinha entrado no patamar naquele momento, estraçalhando um punhado de colunas. Havia poeira, lascas de estuque e pedaços de mármore por todo o lado. Espalmei as omoplatas com mais força, sustendo a respiração.

Ten Shin Han tinha sido ultrapassado, Dende não conseguira fazer nada e agora era Toynara quem se enfrentava ao demónio. Devia ser realmente muito importante que eu não caísse nas mãos de Zephir. Teria de fugir, mesmo que também Toynara fosse ultrapassado e não conseguisse fazer nada. Mas Toynara enfrentava o demónio com uma dignidade e uma coragem incomuns.

O demónio inclinou ligeiramente a cabeça, descobriu-me atrás de Toynara, sorriu-me. O meu estômago embrulhou-se. Tateando a parede, buscando apoio nesta, pus-me de pé a tremer.

Alguns momentos de silêncio, enquanto a poeira assentava, enquanto os adversários se preparavam, enquanto eu me acalmava. Depois, o demónio ergueu um punho fechado, mas o golpe foi travado a meio por um feitiço lançado por Toynara.

Olhei para o fim do patamar, à minha direita, uma abertura arredondada em cima que levava ao interior do Palácio Celestial. Tentei correr para lá, mas um rugido do demónio travou-me a corrida.

- Para com essas magias, feiticeiro! Não me atingem... Sou uma criatura das trevas.

Toynara recuou. Um fumo negro em fiapos desfez-se a partir dos seus dedos. Eu também recuei. O demónio desferiu um murro em Toynara que o lançou contra a parede. Gemeu ao cair no chão do patamar, calou-se, quedou-se inerte, numa posição estranha, como um monte de trapos.

- Toynara! – Gritei.

O demónio avançou, a sorrir vitorioso.

- És minha.

Julgo que empalideci de horror.

Puxou-me pelo pulso do braço direito. Gritei e ele soltou uma casquinada estrepitosa. Escutei os passos de Dende a correr pela escadaria acima.

- Ana-san!

O demónio saltou para o vazio, puxando-me com ele. Por momentos, flutuei no ar, totalmente desamparada, caindo, o vento assobiando, as gargalhadas do meu captor escarnecendo dos meus gritos.

O braço grosso do demónio apertou-me o estômago. Descíamos em queda livre, a atravessar as nuvens negras que amparavam o Palácio Celestial nos céus. Não aguentei a violência da descida. Sufocada naquele abraço que me raptava, perdi todas as forças e desmaiei.

Fim de entrada.


II.2. Segunda ronda

Keilo cruzou os braços.

- Estás contente por voltar a ver-me, Kakaroto?

A flutuar sobre a superfície do lago, Goku foi incapaz de arranjar um sorriso cínico que condissesse com a entoação irónica da voz de Keilo. Ficara apreensivo, não contava com um confronto contra o saiya-jin naquela altura. Julgava-o mais longe. Mascarou o que sentia dizendo:

- Estava a ver que nunca mais aparecias.

- Treinaste na Dimensão Real?

- Treinei-me o suficiente.

A sua energia era imensa, tinha plena consciência do facto, mas os poderes de Keilo deixavam-no inquieto. Enfrentava um saiya-jin esquisito, imprevisível, servido pela magia, criado por esta, um mito milenar que não devia viver naquela era. Era tão misterioso e opaco quanto o feiticeiro.

- O suficiente para quê?

- Para te derrotar, Keilo.

O ki de Keilo subiu assustadoramente, passou para o estado de super saiya-jin, nível dois. Goku concentrou-se.

- Não sabia que eras tão otimista, Kakaroto.

- Sempre fui um otimista.

- Mas muito ingénuo.

- Hum... Se calhar, também sou ingénuo. Mas isso nunca me impediu de derrotar os meus inimigos.

- E julgas que vais conseguir derrotar-me?

Goku encolheu os ombros.

- Não faço muita questão disso... Mas se for indispensável.

- Não fazes questão de me derrotar? – Keilo soltou uma gargalhada boçal. – Então, o que fazemos aqui, quase a lutar um contra o outro? Um treino?

- Gosto de lutar. E tu também gostas, pois és um saiya-jin... Não significa que tenha de haver um vencedor e um vencido. – E depois sentiu-se ligeiramente idiota a dizer aquela frase. Pois Keilo fez uma cara estranha, de quem não o tinha entendido, ou sequer escutado. Goku fechou a boca numa linha dura.

O semblante de Keilo tornou-se sério.

- Basta de conversa fiada. Passemos ao que realmente interessa.

As águas do lago multiplicaram-se em ondas minúsculas, as nuvens no céu correram mais depressa. A natureza dava sinal que os elementos iriam fundir-se em breve em grandes conflitos de energia.

Keilo atacou.

O seu destino era combatê-lo e Goku sabia que não podia escapar dos caprichos dessa força que comandara tantas vezes a sua vida.

Keilo e Goku começaram a lutar.


II.3. Regresso ao mundo dos vivos

Entrada no meu diário, data: desconhecida, estou noutra dimensão

Um coro de vozes ensurdecedoras juntou-se num bolo indistinto de ruído e fundiu-se numa só voz quando despertei. A cabeça doía-me. O demónio falava.

Soltou-me e caí sobre uma pedra estreita, dura e fria. Fingi que continuava desmaiada, de olhos fechados, a respirar devagar, a escutar. Estava de barriga para baixo, os braços pendurados.

- Cumpriste a tua tarefa, Kumis. Fiquei agradado.

Estava mais alguém com o demónio. Talvez o feiticeiro que se queria apoderar de mim... A voz dele era dura e fria como a pedra.

- Porque levaste tanto tempo, Kumis?

- O jovem saiya-jin levou-a para um sítio longínquo, sensei. Para o Palácio Celestial.

- Hum... Interessante. Sabia que Son Goku conhecia o kami-sama, mas nunca julguei que ele e os seus companheiros lhe fossem tão próximos.

- Tive de arrancá-la de lá à força. Primeiro, combati contra um guerreiro de três olhos.

- Encontraste Ten Shin Han.

- E a seguir lutei contra um feiticeiro.

- Um feiticeiro?

- Fez-me frente com um conjuro muito bem elaborado, mas era inexperiente e consegui quebrar o conjuro facilmente. A rapariga gritou pelo nome dele quando o derrubei.

- E como se chama esse feiticeiro?

- Toynara.

- Toynara?!

A voz do feiticeiro deixou de ser dura e fria naquele berro. Arquejou, inspirou fundo, utilizou uma pausa para recuperar o domínio sobre si mesmo, sobre o demónio, sobre a situação. O meu coração batia depressa e se não me acalmasse acabaria por me denunciar. Mas aquela conversa começava a enervar-me.

- Tens a certeza que foi esse o nome que ouviste, Kumis?

- Hai, sensei.

- Quer dizer que Toynara está vivo...

- Quem é esse Toynara, sensei?

- A pergunta é impertinente, mas irei responder-te.

- Gomen nasai, sensei. Não pretendia ofender-vos.

- Hum... Os teus modos compensam a tua impertinência, ao contrário do teu irmão que está sempre a desafiar-me. Bem, respondo-te. Toynara era um sacerdote do templo e traiu-me. Sentenciei-o à morte mas, por alguma razão desconhecida, conseguiu sobreviver.

- Se soubesse que esse Toynara era tão importante, tê-lo-ia morto.

- Uma oportunidade desperdiçada, de facto.

Mas estava ali a minha oportunidade. Os dois conversavam e estavam distraídos o suficiente para me concederem a nesga de tempo que me permitiria escapar.

Entreabri os olhos. Vi o demónio, de costas para mim, e um homem magro, vestido com um comprido hábito cinzento, o rosto velado pelo capuz do hábito. Saltei daquela pedra estreita, dura e fria e saí a correr pela porta escancarada que encontrei à minha direita. Ouvi a ordem estridente:

- Kumis, a rapariga está a fugir. Vai atrás dela!

O medo fez-me veloz e ágil. Corri como se voasse por aqueles corredores cavernosos e escuros. O fogo dos archotes agitava-se à minha passagem criando mais sombras nas saliências rochosas. Tinha a sensação assustadora de não correr sozinha, que era acompanhada por presenças invisíveis.

Ouvia os passos de Kumis, o demónio, na minha peugada. Dobrei uma esquina, desci um lanço de escadas. Escorreguei pelos degraus carcomidos, caí, magoei os joelhos. Levantei-me num breu aterrador, mas continuei a correr em direção à luz que ondulava adiante.

Os fantasmas insistiam em acompanhar-me ululantes. Pelo menos, tinha conseguido despistar Kumis, já não ouvia os passos dele. Mas estava num sítio fundo, escuro, confuso. Um labirinto impossível de vencer.

A luz era apenas um archote, pregado numa parede interminável. Parei de correr, andei tateando por ali afora, vencendo o corredor passo por passo. A perna esquerda doía-me por causa da queda, massajei o local dorido.

Avistei um par de luzinhas vermelhas no fundo do corredor. Abrandei. Quando o par de luzinhas se foi desdobrando em dezenas de pares de luzinhas parei de vez. O suor pingou-me da testa.

Eram bichos, negros e atarracados, com braços longos e garras no fim dos braços. Grunhiam e arrastavam os pés no chão rochoso. Olhei para trás e descobri mais bichos. Estava encurralada. Fiquei gelada.

Então, reparei numa pequena passagem sinuosa, disfarçada entre duas colunas corroídas, à minha direita. Entrei pela passagem correndo como se fugisse da própria sombra. Os bichos grunhiram mais alto e as patas martelaram pelo corredor afora, perseguindo-me num magote furioso.

Descobri uma luz azul a sair por uma porta entreaberta. Um refúgio! Entrei num pulo. Não contei com os degraus a seguir à porta, caí. Levantei-me aflita. Caí outra vez ao tropeçar num cabo estendido algures na entrada daquela câmara. A luz azul extinguiu-se, um zumbido elétrico que soava ali dentro também. Ficou apenas uma claridade ténue, acinzentada e sufocante.

Sentada no chão, afastei os cabelos dos olhos.

Um dos bichos assomou-se à entrada. O desalento do meu falhanço comeu o resto das minhas energias. Era tarde demais... Iria ser atacada, despedaçada. Encolhi-me, solucei de medo.

Mais grunhidos, mais bichos. Gritei, tapei a cara com as mãos. Escutei o som de vidros a se partirem em mil pedaços, uma grande janela a cair de muito alto. Devia ser a minha alma a estilhaçar-se, antes mesmo do corpo.

O ataque veio. Inesperadamente escutei o som seco de um soco. E depois silvos e um odor pestilento. Grunhidos mais agudos, o martelar das patas a afastar-se a levar os grunhidos.

Destapei a cara. Estava um rapaz de pé, encarando a porta onde já não estava nenhum bicho. Vestia uma túnica com um grande buraco nas costas, estava encharcado, coberto por uma matéria verde e viscosa.

Quando ele se voltou para mim, reconheci-o. Tinha outro buraco na parte da frente da túnica.

- Go... Goten?

Ele recuou.

- Como é que sabes o meu nome? – O rosto crispou-se, alçou o mesmo punho que utilizara para rechaçar os bichos. – Quem és tu? És um feitiço de Zephir?

- Não! – Exclamei esticando os braços para me defender. – Não, Son Goten!

- Fala!

- Mas Trunks disse-me que estavas morto!

- Ahn? Trunks?

Levantei-me lentamente. Continuava a ameaçar-me com o punho fechado.

- De certeza que não és um maldito feitiço? Este lugar é assombrado.

- Tu é que és uma assombração – refutei. – Não tinhas sido morto por... por...

Não consegui completar. Olhei-o de cima a baixo. Ele estremeceu, transtornado com alguma memória. Talvez o momento em que Trunks o atacara.

- Hai, estou vivo – respondeu confuso. – Acho que nunca cheguei a morrer.

Olhamos ao mesmo tempo para uma caixa negra que estava no centro da câmara, com o tamanho exato para o conter. No interior havia gelo e restos da mesma matéria viscosa e verde que o cobria. Vidros partidos espalhavam-se do lado esquerdo, restos de uma espécie de tampa. Um cabo saía da parte inferior da caixa e enrolava-se como a pele descartada de uma cobra.

- Ainda não me disseste quem és tu!

- Chamo-me Ana e venho da Dimensão Real.

- Nani?

A explicação deve ter acendido mais dúvidas, à mistura com as memórias recentes. Baixou o punho.

- Zephir quer apanhar-me – expliquei agarrando-o pela túnica. – E Zephir não pode apanhar-me. Anda um demónio a perseguir-me que se chama Kumis. Ajuda-me a sair daqui.

Agarrou na minha mão e saímos da câmara, andámos alguns metros. Os grunhidos regressaram ao corredor. Senti um calafrio ao vislumbrar pares de luzinhas vermelhas atrás de nós.

- Os kucris voltaram.

- Kucris? – Estranhei.

- Hai.

Soltou-me a mão. Afastou-me com um braço e transformou-se em super saiya-jin. Senti um calafrio ao presenciar a esplendorosa beleza e o magnífico poder de um super saiya-jin. Son Goten estava maravilhosamente belo naquela aparência dourada e faiscante.

Os bichos organizavam-se num grupo compacto, preparando o ataque, grunhindo, exibindo as garras. Goten concentrou energia.

- Escuta, Ana. Será melhor fugires.

- Fugir? Mas queres que fuja para onde?

- Vou combater, não te poderei proteger.

- Mas protegeste-me, ali, na câmara.

- Eram apenas três kucris. Agora, temos um exército deles. Foge, onegai shimass.

Escutei, por instantes, a voz de Son Gohan.

Um kucri investiu com um salto, garras em riste.

- Goten! - Gritei.

As garras passaram-lhe rente à cara. Desviou-se, acertou no kucri com uma potente joelhada. Disparou um raio alaranjado e fritou um grupo de cinco bichos que corriam na nossa direção. O fumo em que se converteram cheirava a enxofre.

Não o queria atrapalhar. Desejei-lhe boa sorte e fiz como me pedira. Fugi, corri como uma louca pelo corredor afora.

Fim de entrada.


II.4. O combate interminável

O santuário tinha-se desmoronado e combatiam, por fim, no exterior. Era o seu desejo, desde o início, mas Julep estava irritado. Nada que pudesse ter sido evitado, pois o combate crispara-se.

Aquilo durava havia largos minutos.

Vegeta recuperava o fôlego a ver o demónio a cambalear, os olhos ainda vazios de vida. Esperava e não podia fazer mais nada que não fosse esperar, enquanto observava o fenómeno pela sexta vez. Os tecidos abdominais reconstruíam-se, o sangue estancava, a ferida fechava e o demónio renascia.

Demasiados minutos, estava a ficar cansado do jogo. Combatia contra o demónio imortal, Kakaroto, que também tinha começado a combater com o outro demónio imortal, envolvia-se agora em explosões com Keilo. A chegada do saiya-jin de Zephir não lhe tinha passado despercebida.

O sorriso presunçoso de Julep captou-lhe a atenção.

- Continuamos, Vegeta?

Odiava aquele demónio que sucumbia sob o seu poder, que se renovava após cada golpe fatal. Desgastava-o e roubava-lhe discernimento, o que poderia tornar-se problemático. Vegeta reuniu energia, arrancando lajes do pátio onde lutavam, rachando e derrubando colunas.

- Não te cansas, saiya-jin?

- Já te tinha dito. Não me importo de te matar cem vezes.

- Está bem. Eu também estou a gostar de lutar contigo. Estou a aprender os vossos truques. Irei precisar deles quando me enfrentar a Keilo.

Vegeta sorriu.

- Hum... Pensei que os guerreiros de Zephir combatiam todos do mesmo lado.

- Oh, claro que o fazemos. Mas depois de o Universo pertencer a Zephir, quando eliminarmos a concorrência, vamos ter de nos divertir uns com os outros.

- Humpf! Primeiro, terás efetivamente de eliminar a concorrência.

O príncipe atacou, Julep pulou para esquivar o ataque. Durante a subida, disparou um raio esverdeado com as mãos. Vegeta pulou atrás do adversário, o raio abriu uma cratera no pátio, espalhando pedra e areia. No mesmo impulso que o levava a vencer a gravidade, acertou no demónio com um pontapé nas costelas, fazendo-o girar como um pião. Tentou um murro, mas Julep levantou um braço e defendeu-se.

Vegeta recuou rapidamente, ganhou espaço. Lançou uma saraivada de esferas de energia que rebentaram sobre o demónio que desapareceu numa nuvem de fumo espesso. Baixou os braços, cansado. A roupa que vestira para o passeio pela cidade, nada apropriada para combater, estava desfeita. Vegeta arrancou os farrapos da camisa rasgada.

A nuvem de fumo dissipou-se devagar. Vegeta focou o olhar e, de repente, ficou tenso. Julep não estava ali.

Voltou-se rapidamente, cruzou os braços sobre a cara e defendeu o murro do demónio. Defendeu um segundo, um terceiro, um quarto murro. Estava a ser sovado ininterruptamente, a ser empurrado pelo ar, lentamente mas com persistência, perdia energia. Arriscou baixar a defesa, como esperado sentiu o impacto doloroso do punho do demónio no maxilar inferior. Cuspiu sangue, mas conseguira distância. Disparou um raio, que Julep afastou com uma palmada. A reação que pretendia. Rápido como um raio, colou-se ao demónio e desferiu-lhe uma cabeçada. Viu-o cair às cambalhotas e afundar-se, por fim, nas margens do lago.

Não o tinha matado pela sétima vez, contudo. O príncipe baixou até ao solo. Estendeu um braço, preparava um ataque energético poderoso. Iria desfazê-lo em moléculas, pensou irritado.

Cerrou os dentes, o ki a subir como mercúrio num termómetro a medir uma temperatura excessivamente alta.

Nisto, um tremor de terra gigante abalou o planeta.

Vegeta engoliu em seco.


II.5. A lenda

A esfera protetora que criara para lhe envolver o corpo sumiu-se com um silvo. Os últimos raios amarelos de Keilo desfizeram-se inofensivos na atmosfera. Uma vitória insignificante, mas que fez Goku sorrir. Keilo cansara-se. Baixava os braços, recuperando a postura, apelando às suas reservas de energia, fingindo que não ficara afetado.

O combate estava a ser interessante, diferente da primeira vez que se tinham encontrado. Goku começava a conhecer as manhas de Keilo, os pequenos truques que lhe davam a supremacia. Movia-se com cautela, deixava o outro atacar, quando atacava tinha a defesa preparada, analisava os erros, tentava prever as situações, antecipava as decisões do outro, não desperdiçava energia em exibições, prosseguia calculista, retraindo-se, provocando, mostrando o jogo e escondendo-o a seguir.

Outra vantagem conseguida tinha sido a temporada que passara a habituar-se ao corpo pesado da Dimensão Real. Dera-lhe força, agilidade, confiança, paciência. Keilo estava confuso, porque esperava o mesmo Goku que tinha encontrado antes.

O saiya-jin deitou a cabeça para trás a rir-se. Goku apagou o sorriso.

- O que foi?

- Pensas que podes acabar comigo facilmente, Kakaroto? Estás tão iludido!

- Tu também tens ilusões a meu respeito.

- Não estou a lutar com todo o meu poder. – Apontou-lhe um dedo e acrescentou agastado: – Nem tu me mostraste todo o teu poder! Do que é que estás à espera?

Não o queria desinteressado no combate, pensou Goku. Poderia tornar-se demasiado imprevisível e irascível, pois no temperamento impaciente fazia lembrar o Vegeta dos tempos antigos. Então, dispôs-se a realizar uma pequena exibição.

Criou uma bola branca com uma mão, que elevou acima da cabeça. Esta faiscou e, quando ganhou o volume adequado, desprendeu-se e voou a deixar um rasto brilhante, a sibilar como um foguete de feira. Keilo desapareceu e foi aparecer mais em cima, fintando a bola.

- Esse ataque? Isso é coisa de principiante!

A bola descreveu uma curva. Keilo rangeu os dentes, concentrando energia, percebendo que o ataque não fora tão ingénuo como parecera. Saiu disparado, voando em linhas retas, descrevendo ângulos apertados, para escapar da bola que o perseguia sem abrandar a velocidade. Goku contemplava o voo estonteante do saiya-jin e da bola que comandava com o seu ki, os dois, presa e predador, ziguezagueando entre as nuvens. Por vezes, a distância encurtava, quase tocando-se, quase a rebentar nesse toque. Outras vezes, ficavam tão apartados que havia a impressão que a bola iria desorientar-se e perder-se no vazio.

Keilo parou e enfrentou a bola, que assobiava rápida e mortífera na sua direção. No instante em que o embate parecia inevitável, sumiu-se. A bola continuou a direito, travou, fez o percurso inverso. Keilo apareceu mais acima, esquivou outra vez o ataque energético.

Seguiu-se uma sucessão de aparecimentos e de desaparecimentos, o saiya-jin tentando, desta maneira, enganar a bola, a bola nunca desistindo de o caçar, alimentada pela perseverança de Goku. Quando percebeu um movimento hesitante, por apenas um centésimo de segundo, aproveitou-o. Utilizou a Shunkan Idou, surpreendeu Keilo ao colar-se nas costas dele. Este voltou-se, espantado por vê-lo ali perto, quase à mercê da própria bola que comandava.

- Nani?!

Goku pontapeou Keilo, precipitou-o para cima da bola de energia. A explosão engoliu tudo numa nuvem de brilho e de fumo.

Depois, veio a calma, um silêncio artificial, os sons emudecidos porque ficavam do outro lado da tela onde se projetava o filme daquele combate. Keilo lançou um berro, abrindo braços e pernas, fazendo tremer a terra e vergar as copas das árvores da floresta próxima. Tinha perdido bastante energia com aquele ataque e não gostara. Goku inspirou uma grande porção de ar fresco, preparando-se para a retaliação.

Que não tardou. Keilo atingiu-o com um violento soco, que veio tão rápido e inesperado que não conseguiu evitá-lo. Goku engasgou-se com a dor, o sangue encheu-lhe a boca. Apanhou com uma sucessão de golpes que lhe massacrou o corpo, com a persistência de um martelo pneumático. Quando sentiu uma nesga de alívio, olhou para cima e só teve tempo de se proteger com os braços, recebendo em cheio com um raio vermelho que lhe explodiu em cima.

O combate recrudescia. Goku atacou, Keilo também atacou. Trocaram disparos energéticos, murros e pontapés. A energia de ambos diminuía, mas nenhum queria desistir, apesar de sentirem as mesmas dores, apesar de estarem os dois a sangrar e de terem os músculos estirados, os ossos fatigados.

Embrulharam-se numa luta corpo-a-corpo. Golpes faiscando, ressoando, descrevendo um bailado mortífero na atmosfera. Separaram-se repentinamente. Keilo riu-se alto, disfarçando o cansaço e a frustração.

- Kakaroto! Gosto de lutar contigo. Divertes-me.

Goku riu-se também, apesar de estar agoniado. Tinha perdido muita energia.

- E como estás a divertir-me, vou mostrar-te o meu verdadeiro poder.

O estômago de Goku deu um nó, mas não deixou de sorrir e atirou:

- Estou ansioso para ver esse teu poder lendário.

Os dois saiya-jin entreolharam-se, suspensos no vazio, por cima do lago.

Keilo limpou a boca com as costas da mão. Respirou fundo, fechou os olhos.

Um ruído surdo cresceu nas entranhas da terra. Rolando, como uma avalancha nas profundezas, foi aumentando de tom, de forma, revelando-se num monstro. Um sismo gigantesco estendeu-se daquele lugar até ao planeta inteiro. Tudo tremia, chão, ar, firmamento, água. No centro do cataclismo estava Keilo, o corpo encolhido, concentrando poder, atraindo a si a energia do mundo, como um íman gigantesco.

Soltou um bramido ensurdecedor, potente, infinito.

Gritava sem parar, fundindo o grito com o sismo.

O planeta continuava a tremer e Keilo reunia um ki monumental. As veias na testa e no pescoço pulsando, os punhos ferozmente apertados. Atirou a cabeça para trás, como se o peso fosse insuportável. Os cabelos começaram a crescer, compactos, volumosos.

Um relâmpago fendeu o cenário. Goku protegeu o rosto com os braços.

Depois, terminava o sismo, terminava o grito.

Goku destapou o rosto.

O corpo de Keilo cintilava com toda a energia acumulada. Os cabelos loiros caíam em grandes cachos pelas costas, as feições estavam esbatidas, mais graves.

Goku gaguejou:

- Ma... sa... ka.

Ouviu-lhe a voz profunda:

- Surpreendido, Kakaroto?

Keilo tinha acabado de se transformar em super saiya-jin, nível três.

Goku engoliu em seco, todo ele se arrepanhou com um calafrio. Keilo exibia-se mais altivo, mais poderoso, mais assustador que nunca. Keilo, o super saiya-jin, nível três.

- O jogo terminou. Chegou a tua última hora, Kakaroto.

De facto, o jogo tinha terminado. Nada de dissimulações, a verdade nua e crua deveria subir à tona. E a certeza que teria de o eliminar, tal como havia dito a Vegeta na Dimensão Real, ganhou ainda mais solidez.

Espreitou o Templo da Lua. Vegeta ainda ali estava, lutando contra Julep. E também Piccolo, que se desfazia de kucris, Kumis rondando-o. Havia mais alguém a combater esses bichos, estremeceu ao reconhecer a aura. E Trunks vinha a caminho.

Nada de distrações. Por todos eles e por todo o Universo, muniu-se de toda a sua concentração e também se transformou em super saiya-jin, nível três. A comoção que provocou foi similar, mas não se deteve em detalhes. Nem sequer se interessou em ver que cara punha o seu adversário. Não estava ali para o surpreender, somente para o eliminar.

Goku calou o grito, sossegou o interior inquieto pela força tremenda que o inundava. E entregou-se, mais uma vez, sem dúvidas ou receios, ao combate.


II.6. Surpresas

Os kucris desfizeram-se em baforadas fedorentas de fumo entre grunhidos aflitos. Goten respirou fundo, aliviando a tensão dos músculos, verificando satisfeito que o corredor estava totalmente limpo daquelas criaturas horrorosas. Começou a andar com cautela, limpando as mãos na túnica rasgada, vigiando as sombras esquivas do lugar.

Continuou sozinho por alguns metros, pensando no que tinha acabado de acontecer. Encontrara uma rapariga estranha que sabia o nome dele, estava todo coberto de uma papa verde, caminhava no interior do Templo da Lua, quando já tinha saído daqueles subterrâneos.

Encolheu-se subitamente com aquela memória. Tinha combatido contra Trunks até à morte. Ou quase... Não sabia precisar. O certo era que terminara com a sua derrota, um raio a atravessá-lo, a dor funda nas entranhas, perdera o conhecimento.

No fim daquele corredor havia um poço fundo e escuro. Goten espreitou-o. Para baixo não era caminho. Levantou um braço e disparou um raio. Passou pelo buraco que abrira e descobriu-se noutro corredor, mais arejado, menos sombrio.

E se acordava recomposto, dentro daquele emaranhado de passagens, quando fora tão gravemente ferido, só queria dizer uma coisa. Zephir curara-o. Com que intenção, por que motivo, era um mistério, tão ou mais intrincado que a presença daquela rapariga que o conhecia e que, bem vistas as coisas, o tinha retirado da caixa negra onde estivera a restabelecer as forças.

Focou a sua atenção no local, reconhecendo as auras do pai, de Vegeta, de Piccolo. Eles continuavam todos ali, deviam ter passado apenas algumas horas, as suficientes para que ele se curasse. O que, outra vez bem vistas as coisas, fora um golpe inesperado de sorte, pois assim ele podia regressar ao combate e eliminar o maldito feiticeiro.

Subiu uma rampa, viu uma moldura de luz mais adiante e sorriu. Escutou passos nos corredores, os kucris reagrupavam-se. Quando eram derrotados, os que integravam as fileiras mais recuadas desapareciam, camuflavam a sua presença. Mas depois ressurgiam com redobrada agressividade e atacavam com uma ferocidade cega.

Goten não os queria encontrar novamente nos subterrâneos e correu para a moldura de luz. Mas de um corredor, que entroncava naquele, apareceu alguém a correr. Parou, derrapando no chão rochoso. Estava tão distraído com a luz e com a ideia de escapar finalmente daquele pesadelo de escuridão, que não se apercebeu da sua aproximação.

Colocou-se em posição de defesa. Lera primeiro a sua força, descomunal, um adversário de uma têmpera diferente dos kucris, talvez um dos demónios. Depois, reconheceu-o e sentiu a garganta secar.

A memória regressou, como um relâmpago a fender aquele corredor. Voltou a encolher-se.

O outro também tinha parado, ao encontrar quem parecia perseguir e que quisera intercetar naquele cruzamento. Adotara também uma posição defensiva instantaneamente.

Mas algo na imagem que via lhe era estranha, os pormenores não estavam corretos. Gaguejou, baixando a guarda:

- Trunks?...

O tempo parara naquele instante, quando os dois se reconheciam na escuridão.

Recordou, enfurecido, que não devia aligeirar a sua posição. O amigo estava enfeitiçado e tinha-lhe furado as tripas com a intenção de o matar. A dor lancinante e o calor fervente, a memória que o fazia encolher-se regressou e colou-se às traseiras do cérebro, numa amálgama indistinta. Goten atirou-se para cima de Trunks, esmagou-o contra a parede, onde uma tocha ardia. Prendeu-lhe o pescoço com o braço, estrangulando-o, para o observar melhor. E conseguiu ver, com a ajuda do fogo aceso perto do rosto do amigo, que os olhos já não eram vermelhos. Eram azuis... e estavam embaciados.

- Goten-kun... És tu?

O amigo chamava-o pelo nome. Aligeirou a pressão do braço.

- E tu és Trunks-kun?

- Tu estás mesmo aqui?... Vivo? Não és nenhum feitiço?

- Estás a brincar comigo, baka? Tu é que estavas enfeitiçado!

Afastou-se, soltando-lhe o pescoço. Mirou-o confuso, os pormenores continuavam a não estar corretos. Os olhos já não eram vermelhos, claro, mas o cabelo, a roupa, os sapatos, a atitude. Goten recuou, apertando os lábios, sentindo-se gelar. Os pormenores eram importantes e ele não estava a sonhar. Então, pela lógica, aquele não era quem ele julgava que era.

Não conseguiu afastar-se mais, Trunks atirou-se para cima dele, esganando-o num abraço.

- Goten-kun. Tu estás... vivo!

- Hai, estou vivo... Solta-me.

Empurrou-o, quase em pânico.

- Tu não és o meu amigo – rematou.

Foi apanhado pela túnica. Goten sacudiu os ombros, soltou-se, recuou, tentando escapar-se daquela ilusão.

- Espera, Goten! Sou eu, sim... O que é que se passa?

- Como é que podes ser o meu amigo? Tens o cabelo curto e estás vestido com esses calções... Onde está o teu dogi?

- Ora, para ti podem só ter passado nove dias, mas para mim e para os outros passaram nove meses.

- Nani?

- É uma história muito comprida. Não queres que ta conte aqui e agora, pois não? Não temos tempo a perder.

A rispidez com que lhe disse aquilo, com uma pitada de presunção, foi-lhe familiar. Só Trunks é que lhe falava daquele modo. Franziu o sobrolho direito, arqueou o esquerdo, dividido entre a dúvida e a crença.

- Como é que quebraste o feitiço?

- Foi depois de te ter atingido – explicou Trunks e encolheu-se, como se sentisse a mesma dor daquela memória que incomodava tanto Goten. – E tu, como é que ressuscitaste?

- Acho que nunca cheguei a perder a vida. Fui curado.

Abriu os braços, exibiu o rasgão da túnica, a pele imaculada, os músculos abdominais bem vincados.

- Nani? Estás no Templo da Lua. Quem é que te curou?

- Provavelmente... Zephir?

Trunks negou com a cabeça, parecendo assustado.

- Isso não faz qualquer sentido.

- Pois não. Mas estou aqui, não estou?

Um movimento nas profundezas deixou-os alerta.

- Kumis aproxima-se – disse Trunks.

- Hai. É melhor sair daqui. Ouve... Vais contar-me essa história comprida, não vais? Como é que dizes que se passaram nove meses e continuam aqui todos? O meu pai, o teu, Piccolo-san...

Trunks entremostrou um sorriso.

- Claro que ta vou contar, podes contar com isso.

Mas o sorriso, que era tão frágil, desfez-se como se nunca tivesse existido. Trunks acrescentou com a voz embargada:

- Gomen nasai, Goten.

E foi a vez de Goten sorrir.

- Ei... Está tudo bem. Eu estou vivo e tu já não estás enfeitiçado.

Os olhos de Trunks tremeluziram e duas lágrimas escorreram pelas faces, como duas pérolas transparentes, iluminadas de vermelho pela tocha que dava luz à cena. Goten sentiu o coração trespassado pela angústia de estar a ver o amigo a chorar. A sua curiosidade agudizou-se sobre o que tinha acontecido naqueles nove dias, que tinham sido nove meses de distância, em que dormira nos subterrâneos do Templo da Lua.

Um ronco manso e preciso rolou nas profundezas. O chão entrou em convulsão e começou a tremer. As paredes abriram rachas e começou a chover pó. Trunks limpou a cara e disse:

- Isto vai desmoronar-se. Vamos embora daqui.

- Hai!

Os dois desataram a correr para a moldura de luz que se esbatia, como se nunca tivesse estado ali de verdade. Com uma sacudidela mais forte, sumiu-se de vez, ficando tapada por escombros do teto acabado de desmoronar. Trunks travou, puxando Goten pela túnica.

- Isto é uma estupidez. Por que é que estamos a correr?

- Não sei.

Afastou-se, para dar espaço ao amigo que esticava um braço. Com um berro, Trunks enviou um disparo de energia que rasgou tijolo, terra e alicerces até ao exterior. Os dois rapazes impulsionaram-se pelo buraco e quando sentiram o vento frio no rosto rejubilaram. Sorriram, respiraram fundo, bateram punho com punho, como costumavam fazer quando eram meninos e conseguiam fazer alguma façanha na raia do impossível.

O tremor de terra continuava. Olharam em volta, estavam num pátio, ainda dentro do perímetro do templo, delimitado por colunas grossas, no centro havia uma fonte de onde saía um fio de água.

- É o saiya-jin de Zephir – observou Goten a concentrar-se nas vibrações que sentia. – Está a convocar um enorme poder.

- Está a lutar com Goku-san – concordou Trunks, também concentrado. – O saiya-jin de Zephir está a transformar-se em...

- ... Super saiya-jin, nível três! – Exclamou Goten.

- Hai!

O tremor de terra terminou e calou-se um grito potente que certamente ecoara por todo o planeta.

- O meu pai também se vai transformar em super saiya-jin, nível três.

- Goku-san está à altura do saiya-jin do feiticeiro, não vai ter problemas em derrotá-lo. Vamos, Goten. Temos de encontrar Piccolo-san e o meu pai.

O pátio foi inundado de passos, grunhidos e rosnadelas. Trunks e Goten esqueceram os lutadores do céu. Colaram costas com costas e encararam os próximos adversários. Os kucris juntavam-se, a rodeá-los rápida e perigosamente, a ocuparem diversas posições para lançarem um ataque em força.

- Estes bichos irritam-me! – Confessou Trunks.

- Não têm energia suficiente para nos derrotarem, mas atrapalham-nos por serem tantos.

- Preparado?

- Hai, Trunks-kun!

No momento em que começava o segundo tremor de terra, quando também Son Goku lançava um grito que vibrava por todos os cantos do planeta e se transformava em super saiya-jin, nível três, os kucris atacaram em magote, garras em riste.

O combate começou. Trunks e Goten varriam a maré negra com pontapés, socos, disparos ocasionais de energia, sem apurar demasiado a técnica. Qualquer que fosse a forma utilizada, o resultado seria sempre igual: os kucris desfaziam-se em fumo, empestando o pátio de um cheiro acre a enxofre. Demasiado fácil, sem preocupações, quase que poderiam derrotar as criaturas de olhos vendados e com um braço atado.

Trunks acabou com três bichos, Goten acabava com cinco. Vinham mais três a caminho, grunhindo, exibindo as presas amarelas e as garras curvadas.

Uma explosão retumbou no interior e abanou os alicerces do templo. Rolos de pó irromperam de uma porta que dava acesso ao pátio e atrás do pó entrou novo bando de kucris que fugiam frenéticos. Ouviu-se, a seguir, um berro intimidador e, na porta, apareceu a figura imponente e arfante de Piccolo.

O namekusei-jin gritou:

- Cuidado!

Trunks voltou-se mas o kucri estava demasiado perto. As garras arranharam-lhe a face direita.

A dor daquela ferida foi inédita. Deixou-o dormente, azoado e, sobretudo, irritado. Matou o kucri que o tinha atingido com um murro que o furou de lado a lado, o sangue peganhento e as tripas moles do bicho a escorrerem-lhe pelo braço. Um instante de raiva pura, de invencibilidade. O kucri fez-se em fumo, assim como o sangue e as tripas. Enxofre e nada.

Endireitou-se, limpou a cara. Os dedos ficaram sujos de sangue. Sentia-se tonto.

Piccolo investiu para ele, a rugir ameaçadoramente. Não percebeu a reação, lembrou-se de um feitiço, Zephir a voltá-los um contra os outros, o raio a atravessar Goten, o sangue de amizade. Abriu as pernas, ia defender-se, mas sentiu-se fraquejar. Um joelho foi ao chão. A tontura foi insuportável, apoiou também uma mão no chão.

Trunks tentou fugir de Piccolo, mas estava zonzo, as imagens da Dimensão Real a deixar-lhe a cabeça lotada de memórias que o entonteciam ainda mais. Piccolo agarrou-o pela t-shirt, arrastou-o até a fonte do centro do pátio, enquanto matava alguns kucris. Fechou os olhos. Sentiu a mão fria e molhada do namekusei-jin nos lábios.

- Bebe água. Depressa!

Abriu um olho.

- Porquê?...

- Foste ferido pelos kucris. Se não beberes água imediatamente, morrerás.

Esticou um braço, encheu a mão em concha de um pouco de água que saía irregular da bica. Bebeu algumas gotas, sentiu as forças regressarem, as tonturas a levarem a confusão. Meteu a boca na bica, bebeu três grandes goles. Apalpou a face direita. Já não tinha nada, sangue, dor, nem sequer uma nervura na pele, um leve indício de cicatriz. Piccolo soltou-lhe a t-shirt, repreendeu-o:

- Não te deixes ferir pelos kucris. Se não tiveres água por perto, será o teu fim.

- E como sabias isso, Piccolo-san?

Piccolo voltou-se para quem o interpelara. Gritou de espanto.

- Goten-kun!

- Sim, ele está vivo – contou Trunks, esfregando a face direita, para se certificar que a cicatriz não existia. – Nunca chegou a perder a vida e Zephir curou-o.

- Nani?

- Não me perguntes, sei tanto como tu. E Goten também não sabe de nada, afinal passou estes últimos nove dias inconsciente.

E antes que Piccolo fizesse a pergunta seguinte, concluiu:

- É mesmo ele, não é nenhum feitiço. O ki não mente.

- Estranho...

- Concordo. Mas temo-lo de volta e é o mais importante. Logo deslindaremos o mistério mais tarde. Mas voltemos à pergunta inicial: como sabias que a água cura as feridas mortais dos kucris?

E assim que terminou a pergunta verificou, pelo canto do olho, que os bichos escapuliam-se dali, limpando o pátio da sua horrorosa presença. Goten também via o mesmo e ficava tenso.

- Fui em tempos o príncipe das trevas, conheço todas as criaturas que vivem nesse mundo. Oiçam, rapazes: não devemos perder tempo. Vamos procurar pelo feiticeiro e acabar com isto de uma vez por todas.

- Primeiro, terão de passar por mim!

Kumis soltou uma gargalhada ao perceber como os tinha surpreendido.

Nisto, o ar vibrou em ondas quentes. O demónio olhou para cima. Piccolo, Goten e Trunks imitaram-no.

O choque de duas forças colossais nos céus gerou uma explosão avassaladora, uma vaga luminosa que submergiu tudo. Uma chuva de destroços descambou sobre o pátio. Kumis, Piccolo, Trunks e Goten abrigaram-se debaixo do pórtico.

Quando a calma regressou, o pátio estava parcialmente coberto de entulho. Trunks saiu do abrigo, Goten também.

- O que raios acabou de acontecer?

- Acho que metade do templo foi pelos ares.

Kumis empurrou dois enormes blocos de pedra que o tinham soterrado, sacudindo a cabeça. Piccolo juntou-se aos dois rapazes e avisou, fixando o demónio:

- Este fica para mim. Quero que entrem no templo e que procurem pelo feiticeiro. Compreendido?

- E consegues dar conta do recado?

A observação de Trunks ofendeu-o. Piccolo retorquiu entre dentes:

- Antes de vocês os dois nascerem, já combatia piores adversários que este demoniozinho. Afastem-se! Kumis é meu.

Goten segredou:

- Não devias ter dito aquilo, Trunks-kun.

Encolheu os ombros.

- Saiu-me...

O corpo do demónio brilhou com toda a energia que se alojou nos seus músculos. Era incrível como tinha estado debaixo de pedregulhos e não exibia qualquer ferimento, mas Piccolo não se deixou impressionar. Arqueou as costas, também concentrou energia nos músculos, gritou com o súbito aumento de poder.

- Vamos embora, Trunks-kun?

- Espera... Deixa isto começar. Quero ver como é que o nosso príncipe das trevas se sai. E depois, podemos ir.

O combate entre Piccolo e Kumis começou.


II.7. Destruição

Entrada no meu diário, data: desconhecida, estou noutra dimensão

As minhas passadas eram refletidas nas paredes e no teto daqueles corredores solitários, mesmo calçando sapatos de pano, ecoando sinistramente e mentindo-me, pois faziam-me crer que bastavam as passadas para me colocar fora de perigo.

Cansada parei, concedendo a mim mesma uma curta pausa. Conciliei a respiração acelerada, limpei o suor da testa. A sweat azul agasalhava-me demasiado naquele ambiente abafado e lúgubre.

Fiz como Goten me tinha aconselhado. Sempre que pudera, tinha subido e, quanto mais subia, mais me afastava dos grunhidos dos bichos negros.

Espaçadamente, tudo tremia e escutava o som abafado de explosões, sinal de que se combatia no exterior e eu enchia-me de receios. Não podia ficar ali dentro, senão era apanhada pelos bichos ou pelo demónio que me tinha raptado. Mas se fosse para o exterior poderia ser apanhada pelo fogo cruzado dos guerreiros.

Já não conseguia correr mais e pus-me simplesmente a andar. Por sorte, divisei uma escadaria encaracolada, dissimulada atrás de um reposteiro. Subi galgando dois e três degraus, afastei um segundo reposteiro agitando uma nuvem de pó e tive de tapar os olhos com uma mão, encandeada pela luz do sol. Tinha conseguido sair dos subterrâneos e o meu coração bateu de felicidade.

Estava num pequeno pátio quadrangular. Vi o céu azul, vi que no centro havia um pedestal com uma estátua negra enfeitada com um colar de flores brancas murchas. Representava uma figura feminina distorcida, que parecia bela a um primeiro olhar e repulsiva se a fixássemos mais do que cinco segundos. Apartei o olhar, arrepiada.

De repente, tapei os ouvidos porque soou um grito enorme que parecia querer rasgar o mundo apenas com o poder do som. A terra voltou a tremer. Caí, aos pés da estátua negra. Esperei que o terramoto terminasse e depois levantei-me, escapulindo-me pela arcada oposta àquela de onde tinha saído. Quando corria fui empurrada por um segundo terramoto contra uma parede e acabei sentada no chão, agarrada às costas magoadas. Segundo grito, segunda tentativa para rasgar o mundo. Que era bem resistente, o mundo, pois continuou inteiro e a girar quando o segundo grito se calou.

Levantei-me, corri a mancar, tinha uma perna dorida, as costas estalavam, os pulmões gritavam sem fôlego, estava mortalmente exausta. Encontrei uma porta dupla entreaberta. Não me fiz rogada e entrei.

Senti um arrepio de emoção, detive-me perante aquela revelação.

- Que maravilha – suspirei.

O salão onde me encontrava era uma autêntica obra de arte. Era lindíssimo, um local sublime, amplo, que nos esmagava numa beleza luminosa, elaborada num imaculado e celestial branco. Era cortado por um tapete vermelho que levava até um palco onde repousava um trono imponente. As colunas finas bordavam as orlas do salão e os vitrais do teto, que coavam a luminosidade do exterior, eram um esplendor inigualável. A tranquilidade do salão fazia com que parecesse impossível que fizesse parte do medonho Templo da Lua e julguei ter penetrado noutra dimensão, um recanto resguardado da loucura dos feiticeiros.

A luz branca ganhou intensidade. Semicerrei os olhos. A claridade aumentou tanto que se tornou insuportável. Os desenhos dos vitrais esbateram-se, passaram de branco para amarelo e a seguir para laranja. Vermelho... Fogo! Compreendi que aquilo iria rebentar.

Gritei, atirei-me para o lado. O abanão que sacudiu o salão antes do momento final empurrou-me para a galeria colunada.

A explosão foi pavorosa e o estrondo foi aterrador.

Desesperada, cobri a cabeça com os braços.

O que era sólido liquefez-se. As colunas ruíram, os alicerces derrubaram-se, o pavimento rachou, o teto de vitrais quebrou-se. A beleza irreal daquele salão perdia-se para sempre.

Um grande pedaço de parede tombou à minha frente, inclinou-se sobre mim. Fiquei entalada entre esse pedaço e a parede onde me encostava. Foi o que me salvou. O calor da explosão penetrou de chofre nos escombros do salão queimando tudo à sua passagem. Os destroços caíram numa chuva mortal e violenta que soterrou tudo, pedras caindo, martelando, resvalando.

A calma regressou segundos depois. Tremia, mas estava bem, sem nenhum ferimento a registar, a não ser alguns arranhões, talvez um punhado de nódoas negras, a mesma dor nas costas e na perna. Estava viva e era um milagre estar viva.

Descobri uma tira de luz no fundo do buraco onde me enfiava. Rastejei até à luz, espreitei. Vi outra vez o céu, no seu esplendoroso azul, distante da comoção que agitava a terra.

Vi também duas silhuetas douradas, suspensas entre as nuvens. Eram acompanhados por faíscas e tinham longos cabelos loiros. Reconheci um deles apesar de, assim à distância, serem iguais, como falsos gémeos, nascidos da mesma raça mas de progenitores diferentes.

- Goku...

Dois super saiya-jin, nível três. Recolhi-me.

O combate prosseguia e haveriam de surgir mais ataques flamejantes. Seria mais seguro ficar ali, escondida debaixo daquela parede tombada que já me tinha salvado uma vez.

Devagarinho, abracei-me às pernas fletidas, encostei a testa aos joelhos e esperei enterrada entre aquelas ruínas escuras e fumegantes.

Fim de entrada.


II.8. Intervalo

Os seus pulmões secaram, como se tivesse respirado areia. Zephir comprimiu a pedra de cristal entre os dedos esguios. A angústia ensombrou-lhe o rosto lívido. Não acreditava no que estava a ver. Com a língua seca, gaguejou estupefacto:

- Ma... saka... Não.

Refugiava-se no seu santuário. Tentara encontrar o paradeiro da rapariga da Dimensão Real com a ajuda da pedra de cristal mas, por ser de outra dimensão, não a conseguia visualizar e urrara de frustração. Aproveitara para seguir o desenrolar dos acontecimentos, alertado pelos sismos que de esporádicos passaram a persistentes.

Os combates estavam descontrolados.

Vegeta tinha destruído o Santuário das Oferendas enquanto lutava contra Julep, Piccolo disparava raios contra os kucris que corroíam vorazes a estrutura do templo, Keilo exibia-se diante de Son Goku aumentando o seu poder exponencialmente, havia explosões nos subterrâneos e descobriu que o filho de Vegeta tinha conseguido resgatar o filho de Son Goku.

- Não...

Vira os dois saiya-jin, Keilo e Son Goku, lutarem encarniçadamente com aquela aparência bizarra de porcos-espinhos dourados. Vira e não conseguira fazer nada para o impedir como os dois saiya-jin trocaram duas esferas gigantescas de energia, uma vermelha e azul, que, ao se tocarem, explodiram, reduzindo a cinzas o que estava debaixo e os malditos saiya-jin, que estavam por cima, continuavam inteiros.

O Salão da Luz tinha sido destruído pela explosão.

As unhas arranharam a pedra de cristal.

Jamais haveria de olvidar a imagem do Trono de Marfim a ser engolido por um mar de fogo. Assentou as mãos de cada lado do livro de magia e rugiu:

- Basta!

Não lhe importava coisa alguma naquele momento: nem bolas de dragão, nem medalhões, nem raparigas da Dimensão Real.

Fixou Keilo através da pedra e falou-lhe com aspereza:

- Keilo, o combate terminou. Deixa-o ir!

O murro de Goku assobiou-lhe perto do nariz. Keilo levantou a cabeça.

- Nani?

A voz de Zephir insistiu:

- Ouviste-me. Regressa ao Templo da Lua, imediatamente.

A pedra de cristal não deixava passar as palavras de Goku. Este moveu a boca, perguntava qualquer coisa. Keilo revoltou-se.

- Estás dizer-me para desistir? Agora?!

- É uma ordem, saiya-jin! – Exclamou Zephir. – Deixa que Son Goku e os seus companheiros abandonem este lugar.

A capa dourada desapareceu, os cabelos de Keilo tornaram ao negro habitual. Lutava contra a sua ordem e Zephir estalou os dedos. O saiya-jin dobrou-se num espasmo violento, berrando agarrado à cabeça.

Ele que nunca se esquecesse quem era o mestre, ou iria sofrer.

Zephir acalmou-se ao torturar o saiya-jin. Soltou-o quando se achou satisfeito, o M tatuado na testa de Keilo flamejava como se tivesse acabado de ser marcado na carne por fogo em brasa. Ainda o viu a sorrir imbecilmente para Son Goku, pescoço inclinado para a direita, mole como uma marioneta a quem tinham cortado os fios. Ainda o ouviu dizer:

- Voltaremos a encontrar-nos.

***

Goku esbugalhou os olhos. Keilo agitava-se como se alguém lhe estivesse a mexer na alma. Primeiro, desatara a falar sozinho. Agora, enxotava um qualquer fantasma que o estava a esgravatar por dentro. Também regressou ao estado normal, até porque tinha os músculos tolhidos e um cansaço avassalador chupava-lhe as derradeiras forças.

- Keilo, dai jó cá?

O combate terminava abruptamente. O saiya-jin despediu-se com um "voltaremos a encontrar-nos" e entrou no recinto do Templo da Lua, fugindo contrariado.

O vento lamentou-se.

Um grito, pancadas secas e breves. Alguém saiu disparado pelo ar e Goku reconheceu-o.

- Vegeta! – Chamou preocupado.

O príncipe travou o voo forçado. Limpou o sangue da cara. Julep veio logo atrás e ficaram os dois frente a frente. Antes de Vegeta se adiantar, abanou um dedo em sinal de negação.

- O jogo terminou, Vegeta. Voltaremos a encontrar-nos.

A mesma despedida, Goku arrepiou-se. Era coisa de Zephir, de certeza.

O demónio regressou ao templo.

- Espera, maldito!

- Vegeta!

Vegeta travou o impulso.

- O que queres, Kakaroto?

- Não o sigas. Passa-se aqui alguma coisa. Keilo também abandonou o combate.

- Não tenho nada a ver com isso. O meu combate é com Julep.

- Espera!

Espíritos familiares saíam do recinto que fumegava semidestruído. Aproximavam-se, eram três. Piccolo vinha à frente, depois reparou em Trunks e com Trunks vinha o seu filho. Gritou perplexo:

- Goten-kun?!

- Otousan...

Esmagou-o num abraço.

- Goten, tu estás... vivo?

Vegeta interrompeu o reencontro dizendo cínico:

- Tens tempo para essas tretas sentimentais depois. O que raios está a acontecer aqui?

- Zephir recolheu os seus guerreiros – explicou Piccolo. – Quando comecei a combater com Kumis, o demónio esquivou todos os meus golpes e depois disse-me que teria de ir embora, ordens do sensei. Voltaremos a encontrar-nos, acrescentou.

Goku olhou para o filho, agarrando nele pelos braços. O vento agitava-lhe a melena desgrenhada. Sempre tivera cabelos rebeldes, modos rebeldes, apesar de ser meigo como Gohan. Crescera sete anos sem ele, adorara-o desde a primeira vez que o vira naquele torneio, antes de Majin Bu.

- O que foi que aconteceu?

- Nunca cheguei a morrer do ferimento, 'tousan. E fui curado.

- Por quem?

- Por Zephir, acho eu. Vocês também têm coisas para me contar. Não é? Histórias muito compridas.

- Não podemos continuar a conversa noutro sítio? – Insistiu Vegeta. – Não gosto de estar aqui, tão próximo de... Keilo. E dos caprichos daquele maldito feiticeiro.

- Apesar de não concordar com a maneira com que o meu pai está a dizê-lo, julgo que ele tem razão – disse Trunks, de braços cruzados. – Vamos embora daqui.

Goku aquiesceu.

- Hai.

- O que é que acham que aconteceu? – Perguntou Piccolo.

- Não sabemos. Mas este intervalo, permite-nos ganhar algum tempo – respondeu Goku. – Temos a rapariga da Dimensão Real, Zephir recolhido com os seus guerreiros. Podemos pensar no que iremos fazer a seguir.

- Muito bem. Regressamos ao Palácio Celestial – concluiu Vegeta.

- Rapariga? – Admirou-se Goten. – Ela, por acaso, chama-se Ana?

Trunks admirou-se.

- Como é que sabes?

- Encontrei-a no templo.

- Encontraste-a no templo? Ela não está no Palácio Celestial?!

- Talvez não. – Goku focou os sentidos no recinto. – Kumis abandonou o combate comigo para te perseguir e, pelos vistos, foi bem-sucedido. Conseguiu trazer a rapariga de volta para Zephir. Sinto a aura dela lá em baixo.

- Nani?! – Exclamou Trunks. – Ela não pode ficar ali!

Vegeta agarrou-o pelo cós dos calções.

- Espera aí! Onde é que pensas que vais?

- Tenho de ir buscá-la, 'tousan!

- Mas quem é essa rapariga? – Indagou Goten.

- Faz parte da história muito comprida – explicou Piccolo. Dirigiu-se a Goku – Son! Leva-nos até Dende, regressa com a Shunkan Idou e leva a rapariga contigo. Será muito mais rápido e não alertaremos o feiticeiro. Assim, continuaremos com o tempo que nos concedeu para nos reorganizarmos

- Ouviste o namekusei-jin, baka? – Disse Vegeta ao filho. – Pela primeira vez, está a dizer uma coisa acertada desde que isto tudo começou.

Trunks concordou contrariado. Mas Vegeta não o soltou.

- Bem, miná. Preparem-se para viajar – disse Goku jovial, como se não tivesse acabado de lutar contra outro super saiya-jin de nível três.

Com os dois dedos na testa concentrou-se nas vibrações de Dende e viajou até ao Palácio Celestial. Um segundo depois, entrava nos escombros do Templo da Lua.


II.9. Uma nova estratégia

Entrada no meu diário, data: desconhecida, estou noutra dimensão

Aconcheguei-me num canto escuro e pus-me a contar os segundos, que eram demorados como minutos, infinitos. Talvez me deixasse dormir, entretanto, e esquecesse, nesse curto sono, que estava metida numa enorme trapalhada, por não ter escutado os conselhos de Gohan e de ter insistido em encontrar-me com Trunks.

A lembrança arrancou-me um sorriso. As minhas atribulações na Dimensão Real pareciam longínquas e irrelevantes naquele canto escuro, naquela minha existência de desenho animado.

No exterior, estava tudo calmo. Sem tremores de terra, sem explosões, sem grunhidos de bichos, sem passos no meu encalço. Apesar do terror, não conseguia adormecer e insisti na contagem dos segundos. Transformei-os em carneiros. Quando se contavam carneiros, saltando sebes e cercas, o sono vinha, assim diziam.

Escutei passos, os carneiros e os números sumiram-se, como bolhas de sabão rebentando. Puf, puf, puf. O demónio continuava à minha procura. Encolhi-me, a gemer.

Um pedregulho que cobria parte da entrada do meu esconderijo foi afastada, um vulto recortou-se na claridade.

Reagi, agarrei numa pedra, ia lançá-la, mas ele agarrou-me no pulso. Gritei.

- Shss – pediu em surdina. – Ana-san, sou eu.

- Quem?

- Goku.

Puxou-me, saímos do canto escuro. Estávamos nas ruínas do salão magnífico, havia labaredas, muito fumo e uma quietude artificial.

Colocou um dedo sobre os lábios, pedindo-me novamente pouco barulho, sussurrou:

- Estamos em território inimigo. Escuta... Vamos agora fazer uma viagem muito rápida. Quero que feches os olhos. Quando os abrires, estaremos a salvo.

Era a quarta vez que o via, a segunda que estávamos próximos um do outro. Estremeci emocionada. Segurava-me no pulso. Tinha um toque suave, mas decidido, transmitia segurança e calor. Acenei que sim e fiz como ele me pedia. Fechei os olhos.

A sensação foi como um lançamento abrupto para a estratosfera por meio do elástico gigantesco de uma fisga, nada sob os pés, em queda livre, sem gravidade. Durou o tempo de um pestanejar, pois abri os olhos com a aflição e quando o berro nascia nas cordas vocais descobri que estava no Palácio Celestial. Goku soltou-me o pulso anunciando com um sorriso:

- Tal como prometido, uma viagem muito rápida.

Uma pequena comitiva aguardava-nos. Para além de Dende e de Mr. Popo, de Toynara e de Ten Shin Han, totalmente recuperados do recontro com o demónio, certamente com a ajuda dos dotes curativos de deus, estavam Piccolo, com a sua estatura gigantesca que me impressionou e Vegeta. Ligeiramente afastados, Goten e Trunks.

Era a primeira vez que via Trunks na sua aparência normal, como era na realidade, com os traços fisionómicos peculiares conferidos pela Dimensão Z. Resumindo, em desenho animado, com aquela impressão estranha de ser de três dimensões ao toque e de apenas duas dimensões à vista, mas mais real do que alguma vez tinha sido no meu mundo. Nítido, perfeito, único. O meu coração começou a bater como um tambor.

Ele olhou para mim e eu olhei para ele. Quando ia atirar-me num abraço que mitigasse a falta que sentia dele, saber se o cheiro era igual ao que me lembrava, saber se aquilo que tínhamos partilhado no quarto da vivenda tinha algum peso agora que ele havia regressado a casa, Dende aproximou-se de nós e disse a Goku que lhe iria repor as energias, tal como já tinha feito com os outros. Provavelmente, não seria muito apropriado eu abraçar-me a Trunks, já que a assistência impunha respeito, a começar por Vegeta. Olhava-me de lado, continuava a não gostar de mim.

Dende recolheu os braços, Goku agradeceu com uma vénia. Mr. Popo devolveu-lhe o bordão de madeira e com uma pancada breve no chão marmóreo indicou que a reunião iria começar.

- Meus amigos, devemos pensar no que iremos fazer a seguir para combater Zephir e os seus planos maléficos para conquistar o Universo. Por enquanto, a guerra foi suspensa. O feiticeiro ficou devastado com a destruição que aconteceu no Templo da Lua...

Vi Toynara torcer-se, camuflando ferreamente as emoções que se revolviam dentro dele, comoção e irritação. A destruição do templo também o tinha afetado e perguntei-me se culparia Zephir ou Goku do facto. Mr. Popo posicionara-se estrategicamente junto a ele, como se o vigiasse fingindo que o acompanhava.

- ...E ordenou aos guerreiros que lutam por ele que retirassem – prosseguiu Dende sério. - Mas, acredito, será uma suspensão temporária, muito temporária. Zephir é calculista, irá planear o que fazer a seguir. Temos connosco a rapariga da Dimensão Real, mas ele tem a primeira metade do Medalhão de Mu, indispensável para a sua aspiração de se transformar num deus. O medalhão está dividido em duas partes, a segunda encontra-se algures neste planeta.

- Então, Zephir irá procurar pela segunda metade do medalhão de Mu.

- Hai, Ten Shin Han. Também julgo que é exatamente isso que Zephir fará a seguir.

- Nós também podemos procurar pela segunda metade do Medalhão de Mu. Se a encontrarmos antes de Zephir, impediremos que o medalhão fique completo e ficaremos em vantagem sobre o feiticeiro.

- Mas a Terra é muito grande – observou Goku. – Por onde iremos começar a procurar?

- Não sejas idiota, Kakaroto – disse Vegeta, de braços cruzados. – Se queremos essa metade desse medalhão, vamos reunir as sete bolas de dragão e pedi-la a Shenron.

- Eh, Vegeta! Que ideia fantástica! – Exclamou Goku.

Vegeta fungou.

Dende disse:

- Concordo. Devemos ter connosco uma das metades do Medalhão de Mu.

- E devemos proteger a rapariga da Dimensão Real – acrescentou Piccolo e o vozeirão do guerreiro namekusei-jin a falar de mim causou-me calafrios. – Ela não pode voltar a cair nas mãos de Zephir.

- Hai! – Goku olhou para mim, depois para Trunks e para Goten. Chamou-os: – Rapazes. Vocês ficarão a cuidar da Ana-san. Levem-na para as montanhas, para o sítio onde me costumo treinar com Ubo. É relativamente secreto, longe de tudo. Existe uma cabana com as comodidades mínimas para passar lá uma curta temporada. A rapariga deverá ficar longe do alcance de Zephir e dos seus guerreiros, que certamente a irão procurar nos próximos dias.

Trunks e Goten entreolharam-se. Aceitaram a incumbência, acenando com a cabeça em simultâneo.

- Hai.

- Eu vou procurar pelas bolas de dragão – prosseguiu Goku.

- Eu também vou – disse Vegeta.

- Estás a falar a sério? Mas isso seria muito bom! Agradeço-te a ajuda, Vegeta.

- Dois a procurarem pelas bolas de dragão encontram-nas mais depressa. Devemos ir até à Capsule Corporation para buscar o radar do dragão e pedir a Bulma que fabrique um segundo radar.

- Depois de termos a segunda metade do medalhão, teremos de definir uma nova estratégia para eliminar Zephir – disse Dende apertando o bordão com ambas as mãos. – Tendo em conta as características singulares dos seus guerreiros. Vi o que aconteceu nas últimas horas no Templo da Lua. Os demónios são imortais, Keilo atinge o nível três dos super saiya-jin.

- Uma etapa de cada vez, kami-sama – alertou Mr. Popo. – Primeiro, o Medalhão de Mu. Segundo, proteger a rapariga da Dimensão Real. Só depois, devemos pensar em eliminar o feiticeiro e restaurar o Templo da Lua para Toynara.

O jovem feiticeiro mostrou-se surpreendido com aquela declaração.

- Tens razão, Mr. Popo. Uma etapa de cada vez.

- Piccolo? Ten? – Indagou Goku. – Se quiserem também nos poderão ajudar com as bolas de dragão.

- Ficarei aqui, a vigiar a vossa retaguarda – replicou Piccolo sorrindo.

Ten Shin Han negou com a cabeça.

- Bastam dois saiya-jin para procurarem pelas bolas de dragão. E também julgo que não vão precisar de mim nos próximos combates. No entanto, se necessitarem da minha ajuda, estarei pronto. Regresso a casa.

Goku rematou:

- Está decidido.

A conversa terminava, havia um novo rumo, cada um seguiria caminhos distintos. Agradou-me a perspetiva de passar uns dias com Trunks e Goten, nas montanhas, num sítio secreto e inacessível.

Inesperadamente, Goku despediu-se de mim, piscando-me o olho:

- Djá ná, Ana-san.

- Djá ná – devolvi atrapalhada.

Era curioso pois as vozes deles eram as originais, o timbre inconfundível, perfeitas como as suas imagens coloridas, mas eu entendia tudo o que diziam apesar de ser, e parecia-me mesmo que o era, em japonês. Também eu falava em japonês e era tudo tão esquisito que me fazia dor de cabeça e recusei-me a pensar mais naquilo.

Goku perguntou:

- Estás pronto, Vegeta?

- Sempre. Nem precisas perguntar.

Trunks passou um braço pela minha cintura. Arrepiei-me com o toque. Igual, igualzinho. Iríamos partir para as montanhas com Son Goten, voando.

Goku teletransportava-se com Vegeta para a Capsule Corporation.

A aventura mais louca da minha vida iria começar.

Fim de entrada.

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