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8: A Ferrugem e o Pássaro Azul

Eu tive a impressão de que aquele sábado seria, no mínimo, esquisito, assim que despertei com uma sequência de batidas nada educadas na porta do meu quarto em plenas cinco da manhã.

Enchi os pulmões de ar para acalmar a efervescência das minhas células, remexendo-me por entre os lençóis feito uma minhoca recém tirada do seu abrigo terroso. Meus músculos não queriam obedecer o simples comando de levantar, mas quando as batidas ficaram mais frequentes, me forcei a apoiar a mão na cama e ficar de pé.

Meus olhos pesavam como se fossem feitos de micro-bolinhas de chumbo dentro das órbitas enquanto eu cambaleava até a porta feiro um zumbi no meio do apocalipse do meu quarto.

Levei os dedos até a braguilha da calça, ajeitando o volume matinal que empurrava o tecido para que não ficasse tão evidente, e girei a maçaneta logo em seguida, deparando-me com o cara-parede-de-chapisco que tinha dormido com Lia.

Ele não usava nenhuma camisa para cobrir as centenas de músculos que com certeza se desenhavam em cada parte do seu abdômen, os quais eu não conseguia visualizar com definição por causa da minha vista embaçada.

- E aí, cara. Você tem camisinha? - A pergunta foi feita do jeito mais casual possível, como se o desconhecido não estivesse me pedindo o objeto que usaria para se enfiar na minha irmã. - É que a gente meio que usou tudo ontem a noite.

Eu imaginava que sim, porque os urros animalescos daquele cara quase não me deixaram pegar no sono. Ele se parecia mais com uma britadeira de construção civil transando do que com um ser humano, se britadeira fizessem sexo.

Com um suspiro, dei-lhe as costas e caminhei até a minha escrivaninha, puxando a alça da gaveta para revelar alguns dos retângulos laminados no meio do amontoado de trambolhos refugiados lá dentro.

Com o olhar na gaveta, capturei uma das camisinhas e cortei o espaço até Alex, estendendo a embalagem na sua direção. Assim que ele a fisgou, pude sentir suas íris queimarem sobre mim.

- Não tem extra G?

Resisti o ímpeto de rolar os olhos diante do seu exibicionismo óbvio - e desnecessário para um cacete.

- Desculpa te decepcionar, Alex, mas eu tenho um pau, não um canhão de guerra.

Seu riso ecoou, e eu fechei um pouco mais a cara.

- Que mau humor do caramba. - constatou o óbvio, sem parecer sentir o mínimo pesar por ter sido o desencadeador disso. - Valeu, garoto.

- De boa.

Ele se distanciou no corredor e, assim que sua imagem desfocada sumiu do meu campo precário de visão, escorreguei para dentro do cômodo novamente e fui rumo à minha mesa, tateando o tampo até meus dedos alcançarem o estojo das lentes.

Dentro de alguns segundos, estava no banheiro. Lavei as mãos como de praxe e, depois, encaixei os miúdos escudos translúcidos sobre as íris, piscando algumas vezes até os meus contornos no espelho acima da pia ganharem total definição.

Alguns pelos escuros despontavam em trechos irregulares na pele que cobria meu maxilar, formando falsos caminhos de rato de dar inveja a qualquer um desses roedores.

Àquela altura, já estava convencido de que não ia poder realizar o meu antigo sonho infantil de me tornar um viking com barba cheia descendo até os joelhos.

Infelizmente, a genética não costuma conceder um universo de boas características todas as vezes. Ela já fora muito açucarada comigo em ter permitido que eu nascesse com os olhos verdes bonitos do meu avô, então, não podia reclamar de não ter me dado atributos legais em todo o resto.

Estava me sentindo meio enferrujado, como um boneco de lata ficaria após dias debaixo de uma nuvem esfumaçada de chuviscos intermináveis. Minha lataria rangia com meus movimentos, e pequenos pedaços oxidados de mim se perdiam mais a cada passo, desmontando periodicamente meu esqueleto de metal fragilizado. Tempestuoso, caído e indelével; me pareciam boas definições para minha existência desencaixada naquela manhã. Mas tudo bem, eu estava disposto a fazer as coisas melhorarem o máximo que fosse possível.

Depois de esvaziar a bexiga, passei o aparelho de barbear pelos inquilinos no meu rosto com uma lentidão premeditada, porque desde quando comecei a usar aquelas coisas, tinha medo de fazer um movimento brusco, cortar minha jugular e morrer dentro do banheiro, da forma mais ridícula possível. O prestobarba com certeza ficaria muito indignado.

Quando desci para o andar de baixo e adentrei na cozinha, visualizei minha mãe em frente à pia, arremessando alguns grãos de gengibre no liquidificador para a sua vitamina costumeira, dentro de uma típica combinação de legging e regata que usava para fazer caminhadas matinais em certos dias da semana.

De súbito, suas sobrancelhas se apertaram contra os olhos, como se houvesse imergido em um estado de concentração para pegar alguma coisa no ar. Provavelmente, era o eco distante do avião-humano que reverberava do andar de cima, e minha irmã julgava como sendo potencialmente transável.

- Ele imita direitinho o som do motor do Opala 69 que eu tinha.

Dei risada, lembrando-me com clareza do carro decrépito em questão que precedeu o que tínhamos em dias atuais.

- Eu tinha pensado em uma britadeira, mas o Opala representa melhor.

Seu riso breve ecoou, as íris alcançando as minhas em um olhar que parecia carregar algo sob o silêncio.

- Seu pai ligou ontem, quando estava fora. Esqueci de te dizer. - Respondeu aos meus pensamentos. - Ele quer falar com você. Disse alguma coisa sobre a reforma que estava fazendo no escritório, e que a parede parecia branca demais. Quer uma opinião sua.

Não precisava nem conversar com Thomas para saber as ideias que se passavam pela sua cabeça. Provavelmente, estava querendo que eu chamasse Julieta para pintarmos juntos o seu escritório, como já tinha pedido que fizéssemos com a sala da sua casa.

Tudo para ele costumava ser muito utilitário. Às vezes, eu me perguntava se me via como um filho de carne, sangue e sentimentos, ou apenas como alguém que poderia lhe servir para alguma coisa no presente e em algum ponto do futuro, quando estivesse definhando de velhice em uma cama.

Nossa relação não era mais tão ruim, mas poderia ser melhor se não lembrasse da minha existência apenas quando lhe era conveniente ou para não parecer um completo irresponsável; coisa que ficou ainda menos frequente depois que se casou de novo.

- Eu ligo de volta daqui a pouco. - respondi, vencendo a distância até a geladeira. - Como ele está? - abri a porta metálica do eletrodoméstico, mirando seu interior à procura de algo para comer.

- Está alegre. Vivian anda fazendo bem à ele. - Seu tom carregava a casualidade típica de quando falava sobre o ex marido, sem quaisquer notas de rancor ou tristeza há tempos. - Conversei com ela, disse que era por causa dos biscoitos de chocolate que aprendeu a fazer. - riu. - Você sabe que seu pai sempre adorou chocolate, que nem você.

Fisguei a caixa de leite e fechei a porta.

- É. - Lancei-lhe um meio sorriso.

Fui até a mesa, esvaziando as mãos sobre o seu tampo debaixo do olhar direcionado da minha mãe.

- Como vai a Julieta? - A pergunta carregou um interesse quase palpável.

Minha genitora amava minha melhor amiga com todas as suas forças, sentimento que era reforçado ainda mais pela sua crença de que, um dia, nós formaríamos o famoso casal Shakesperiano nojento para cacete.

Ficava com ânsia de vômito sempre que pensava nessa fatídica - e dependente - história de amor, porque nunca consegui ver sentido em alguém se suicidar unicamente por querer acompanhar a pessoa alvo dos seus sentimentos na morte.

- Vai bem. - Despejei o líquido branco em um copo. - E a senhora, como está?

- Ah, querido, estou ótima! - A afirmação foi empolgada. - Quer me fazer companhia na caminhada hoje? Você quase não está parando em casa, e eu... sinto falta de passarmos um tempo juntos.

Mirei seu rosto, observando as feições convertidas em expectativa quase palpável, de um jeito que me deixava incapaz de dar uma resposta negativa.

Deixei o ar fluir dos meus pulmões em um suspiro derrotado, e esvaziei o copo em minha mão, sentindo seu conteúdo gelar minha garganta.

- Tudo bem, mãe. - aceitei, pela primeira vez em mais tempo do que era capaz de lembrar.

Seus lábios se esticaram em um sorriso radiante que se repuxou involuntariamente nas minhas feições. Às vezes, esquecia-me do quanto minha mãe conseguia ser solar, e que, se aquela que me trouxe ao mundo era assim, alguns fragmentos reluzentes do seu espírito talvez tivessem respingado em mim.

Saí do cômodo rumo ao meu quarto, para trocar de roupa e calçar meus tênis. Não demoramos para sair, e fizemos giros intermináveis na vizinhança sob a melodia matinal dos pássaros. Suas gargantas de aves fugidias vibravam nos fios dos postes, em frente à vastidão oscilante do céu tingido do tom de azul oceânico mais bonito do que o de qualquer outro planeta habitável existente em todas as realidades possíveis, porque era o céu do nosso mundo. E não faz muito sentido almejar fugir para outras possibilidades de astros perdidos no breu que podem sequer existir, sem desfrutar o brilho de onde nossos pés rodopiam.

Após a caminhada, sentia como se ramos de flores se projetassem para fora das minhas articulações metálicas de homem-de-lata, e parecia haver, até mesmo, um pássaro invisível cheio de azul corajoso o suficiente para pousar no meu ombro cinza.

Mais cintilante do que quando acordei, sorri um pouco à toa, parado em frente a um dos sebos da cidade muito conhecido por mim, com os braços floridos pendendo ao redor do meu corpo ainda recoberto por uma camisa precária do Bukowski e a bermuda de tecido de coloquei antes de sair com minha mãe. Ela fora para casa, mas eu decidi andar um pouco mais até o centro, que abrigava o meu lugar favorito em todo o cosmos.

A sineta acima da porta de madeira tilintou assim que adentrei no recinto, estacionando os pés sobre o tapete cor de mostarda desgastado que dormia no chão. Sorvi o cheiro de poeira, velharia e calma que escorregava em arabescos no ar, correndo as vistas pelos títulos coloridos nas estantes amadeiradas. Seu Manoel, que administrava tudo sozinho desde que sua esposa falecera há alguns anos, não apareceu para me receber com seu tradicional charuto barato e calças de suspensório, o que me levou a crer que deveria estar resolvendo alguma coisa lá nos fundos.

Aquele era o tipo de ambiente que não permitia a qualquer um no seu interior ter pressa de existir. Se o amarelo fosse um lugar, com certeza seria aquele; se todas as músicas do Vinicius de Moraes tivessem suas notas materializadas no mundo físico, certamente se tornariam cada aspecto da sua estrutura; e se a felicidade tivesse um cheiro, não tinha dúvidas que possuía o aroma impregnado em cada dobra atemporal do sebo.

Puxei fôlego para meus pulmões, enchendo meus músculos de torpor e sinestesia.

Às vezes, eu tinha vontade de ser pequenininho como um ácaro para poder escorregar para dentro de todos aqueles livros e dormir abraçado nas palavras. Mas me contentava somente em lê-las.

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