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5: Afrescos Renascentistas, Peter Pan e o Sorvete de Ovomaltine

Um dos meus lugares favoritos no mundo era, com certeza, a loja da minha tia Júlia.

O que se vendia na Relicário era uma coletânea de velharias doadas, compradas e outras que passaram pela nossa família durante gerações, a exemplo de móveis rústicos, eletrônicos ultrapassados por modernidades não tão impressionantes, vinis cobertos pela poeira do tempo e outras relíquias fantásticas.

Aquele lugar era quase místico. Durante parte da minha infância, depois que o estabelecimento foi aberto, eu e Romeu costumávamos viver nele à procura de descobertas interessantes que atiçassem a nossa criatividade, dissolvendo imaginação no ar rumo à infinitude repleta de estrelas, planetas e galáxias em expansão no cosmos surreal que girava acima das nossas cabeças.

Quando não éramos nós dois, era eu e o meu primo mais próximo, Jader. Debaixo das conchas alaranjadas que compunham seu cabelo, havia uma mente tão colorida quanto a minha, o que provavelmente foi o motivo mais forte dele ter sido a minha paixonite de criança por um tempo considerável, a ponto de ter até mesmo escrito cartinhas repletas de desenhos tortos para o garoto - as quais, muito felizmente, nunca foram entregues.

A questão é que o tempo de convivência naturalmente fez com que eu o conhecesse o suficiente para ter certeza, no momento em que um par de mãos taparam abruptamente meus olhos fixos em uma prateleira, que o responsável pelo ato fora o ruivo.

- Sei que é você, Jader. - Descontração enfeitou a fala.

- Como você sempre sabe? - Falseou indignação, libertando minhas vistas assim que deixou as palmas caírem na lateral do corpo.

Girei nos calcanhares, erguendo levemente o queixo diante dos seus quase dois metros de altura para fitar as íris cor de caramelo.

- Porque você faz a mesma coisa desde, sei lá, sempre. - falei, com ar de riso.

Seu nariz se torceu em uma careta, o ato repuxando as inúmeras constelações de sardas que polvilhavam sua pele por toda parte.

- Touché.

Dei risada, esticando os pés para enlaçar seu pescoço. O tecido da sua camisa xadrez grudou completamente na minha quando ele circundou minha cintura, apertando-me contra ele em um abraço ensolarado.

- Senti sua falta. - murmurou por entre os meus fios. - Como a gente mora na mesma cidade e se vê tão pouco?

Deixei uma risada breve escapar, desvencilhando-me do seu toque para imprimir uma pequena distância entre nós. Suas palmas mergulharam nos bolsos da calça recheada de listras amarelas e vermelhas, os lábios exibindo seu costumeiro sorriso que desmanchava tentáculos de luz no ar capazes derreter a atmosfera congelada de qualquer planeta.

Era incrível como Jader conseguia ser um sol andante, mesmo com todas as nuvens tempestuosa que nublavam seu passado.

- Quem nunca mais me chamou para pintar foi você. - brinquei, estapeando levemente seu braço com as costas da mão.

Ele riu, começando a imprimir passos lentos no corredor, e eu arrastei meus tênis sobre a cerâmica para acompanhá-lo.

- Desculpa.

- Está tudo bem. - Forcei-me a dar de ombros. - Mas então, o que anda fazendo?

- Na maior parte dos dias, só estou trabalhando feito um filho da puta na oficina do tio Jonas, para pagar a carteira de motorista que ele tá me ajudando a tirar. - Riu.

- Isso é ótimo! - Empolgação inundou minha fala.

- Exatamente. É meio triste pros meus braços, mas eles vão ficar bem. - Um sorriso se alargou no seu rosto. - Ah! Eu estou aprendendo uma nova técnica de pintura em gesso, também. É meio estranha e dá um trabalho do cacete, mas acho que vai ficar legal. Quer dizer, o que eu queria mesmo era conseguir fazer tipo aqueles negócios bonitos de nome estranho que faziam lá pro Renascentismo, sabe? Os afrescos.

- Será que chamaram assim pensando em fazer um trocadilho com ar fresco? - Apertei os cílios.

Jader riu.

- É uma ótima hipótese. - afirmou. - A propósito, esse vestido fica muito bem em você, os girassóis e tudo o mais. E eu sempre me impressiono com a sua capacidade de combinar qualquer peça de roupa com bonés. - Seu timbre foi descontraído, o indicador tocando o fecho do acessório mencionado no centro da minha testa.

- Ah, obrigada. - sorri, tocando a aba virada para trás para escorregá-la em um ajuste rápido sobre meus fios. - Eu comprei em um bazar. Sabia que tem muita coisa incrível neles? - A pergunta foi acompanhada do meu arregalar deslumbrado de olhos.

Sua risada ecoou.

- É o que eu te digo há uns dois anos.

Minhas vistas acompanharam o surgimento de uma mulher no final do corredor. O reconhecimento estalou por entre meus neurônios assim que mirei seu rosto modelado pelos fios ruivos que lhe acariciavam as bochechas, as quais foram empurradas pela sua boca assim que abriu um sorriso enorme na nossa direção.

- Precisei ver com meus próprios olhos para ter certeza de que meus dois sobrinhos favoritos finalmente lembraram da minha existência!

Nossos risos se mesclaram.

- O João ficaria meio puto se soubesse disso. - Jader brincou, referindo-se ao seu irmão, logo que estacionamos em frente à tia Júlia.

- Ainda bem que estamos entre pessoas que sabem segurar a língua dentro da boca, não é? - A entonação da mulher mais velha foi divertida, seus dedos se erguendo para esfregar o emaranhado de cachos incendiários de Jader.

O garoto riu, encolhendo ligeiramente os ombros diante da singela acusação contida na fala. As íris cor de óleo de Júlia caíram no meu rosto, e um sorriso largo precedeu sua caminhada rumo à porta ao lado do balcão de pagamentos.

- Venham! Vou mostrar umas coisas que chegaram mais cedo. Quem sabe vocês não se interessam.

Não pensamos duas vezes antes de segui-la.

Seus dedos giraram a maçaneta, e um empurrão fez o retângulo de madeira dar lugar ao cômodo que servia de depósito para as peças que se alternavam diariamente nas prateleiras, além de ser, também, um pequeno escritório.

Havia uma vitrola clássica sobre uma mesa encostada na parede, itens de porcelana dentro de caixas espalhadas pelo chão, uma máquina contadora do século passado e alguns poucos móveis. Pude vislumbrar uma coleção de discos de vinil em um dos retângulos de papelão, exibindo álbuns de Ney Matogrosso e Tim Maia.

Semanalmente, tia Júlia recebia ligações do museu da cidade para doar alguns dos seus itens ao acervo da instituição, mas ela recusava veementemente. Havia viajado muito e feito esforços demais para conseguir cada um dos itens que ergueram seu negócio, e não estava disposta a abrir mão deles para uma causa que não fosse a que lutara tanto para construir.

- Aliás, como vai o Romeu? - a mulher indagou para mim, assim que adentramos no espaço ligeiramente abafado.

O cheiro quente de mofo mesclado à poeira e velharia escorregou pelas minhas narinas, acumulando-se nos meus pulmões até explodir na forma de um espirro que fez minha garganta pinicar.

- Ele está bem. - Funguei. - Disse que me encontrava aqui. Deve chegar daqui a pouco.

- Já são namorados? - Jader provocou, esbarrando o ombro no meu propositalmente.

Levei o polegar e o indicador ao seu braço, torcendo a pele em um beliscão que o fez se contorcer inteiro e apertar os lábios com força para reprimir uma exclamação de dor. Entretanto, fingiu extrema normalidade assim que nossa tia se virou para nos fitar, recompondo-se em uma fração de segundo.

- Fez bem em mencionar isso, Jader, porque já tem um tempo que eu não vejo Julieta saindo com ninguém. Cadê as paqueras, querida?

Resisti ao impulso de rolar os olhos diante da pergunta estupidamente clichê, que eu sempre tentava fugir o máximo possível.

Não fazia a menor questão de me relacionar de formas mais profundas do que o que se pode ter no espaço de um beijo - ou vários - desde o dia em que peguei o último cara com quem namorei com a mão dentro da calcinha de Jennifer Ribeiro, a garota que fazia a Sininho na peça que a nossa turma estava ensaiando no primeiro ano, dentro do trocador feminino do teatro da escola.

Com uma porção de lágrimas ardendo nos meus olhos, puxei a peruca cacheada da Wendy e a arremessei sobre o Peter Pan infeliz, visualizando a única coisa que conseguiu crescer do seu corpo muito bem marcada na calça verde do figurino.

O resultado final de tudo isso foi uma Julieta em frente à televisão de casa em plenas duas da manhã, com um pijama das princesas que ganhara no aniversário de doze anos, forrando o estômago com megalomaníacos potes de sorvete de Ovomaltine enquanto produzia um oceano de lágrimas maior que o do País das Maravilhas.

O que Laura costumava dizer era que eu estava traumatizada e isso me fazia mal, mas possuía a mais absoluta certeza de que não era esse o caso. Pelo contrário: Depois desse acontecimento fatídico, eu tive a maior iluminação sentimental da minha vida!

Foi uma ideia simples, cujo foco principal era não me apaixonar até o final do Ensino Médio por qualquer garoto cheio de hormônios que fosse, sendo uma lei passível de acréscimo temporal até depois da faculdade. E, para que isso se tornasse possível, notei a necessidade de criar a minha lista com regras de convivência básica para qualquer ser do sexo masculino que cruzasse o meu caminho.

Não era muito difícil não me apaixonar, já que eu sempre tive uma tendência incurável a atrair caras, no mínimo, bizarros, em que no fim sempre acabava faltando alguma coisa importante; quando beijavam bem, tinham o cérebro do tamanho de uma uva murcha de Natal, e quando eram gentis, cativantes, cheirosos e artísticos, possuíam um beijo entediante ao ponto de me fazer preferir roçar a boca em um pepino coberto de groselha.

Por isso, eu afirmava, com toda certeza, que não existia um cara no universo inteiro, fosse alienígena ou terrestre, capaz de reunir todos os atributos que eu considerava essenciais a ponto de me fazer revogar minha amada lista de convivência para evitar tragédias sentimentais. E não é como se eu procurasse, também.

O único cara que conseguia me fazer quebrar algumas das regras dela era Romeu, porque, pelo fato de ser meu melhor amigo há tempo demais, certas coisas sempre foram muito impossíveis de conter com ele.

- Não faço ideia de onde estão. Devem ter ido para Marte. - respondi.

Felizmente, Julia não insistiu no papo, apenas voltou a se concentrar na tarefa de procurar o que nos mostraria em meio às caixas espalhadas.

- E aí. - O timbre grave tão familiar quanto minha respiração infestou cada partícula de oxigênio ao meu redor, disparando minúsculas picadas de agulhas invisíveis pelas minhas células. - O que estão fazendo?

Romeu se infiltrou no vão entre mim e Jader, esbarrando o ombro levemente com o dele no processo. As íris tingidas pela sua heterocromia se espremeram em dúvida na direção da minha tia.

- E aí, Romeu! - Meu primo exclamou, animado. - Tia Júlia vai mostrar uns negócios doidos pra gente que chegaram hoje. Fica aqui para ver também.

As ondas do cabelo do meu amigo lhe escorriam em uma mar cor de céu noturno ao longo da nuca, cobrindo parcialmente as maçãs demarcadas do rosto com sua cortina de fios interdimensionais.

Levei a ponta dos meus dedos até a sua testa, penteando uma mecha que quase lhe atingia o cílio para o lado, até encaixá-la com os seus outros irmãos-fios.

Romeu inclinou o rosto até que suas íris caíssem na órbita das minhas, despejando pequenas estrelas abrasadoras nas minhas bochechas. Parecia haver alguma coisa se enovelando por trás das suas pupilas, como se quisesse me dizer algo.

Cortei o contato visual, voltando a olhar para frente. Minha tia posicionou um retroprojetor de slides antigo sobre a mesa de madeira, passando a mão ao longo do trambolho para remover a poeira.

- É meu. - Jader afirmou, de imediato.

- Nem fodendo. - Fui firme. - Essa relíquia vai ficar ótima no meu quarto!

- Julieta, eu preciso usar essa coisa para me declarar para uma garota, algum dia. - Seu tom foi pretensamente sério, os lábios ameaçando se curvar em um sorriso.

- Para isso, você precisa da garota primeiro, Jader. - Ergui as sobrancelhas.

Seu nariz se torceu em uma fingida careta de dor.

- Crava uma faca no meu peito logo...

Dei risada.

- Acho melhor resolvermos isso como adultos... - Romeu sugeriu, imprimindo uma seriedade jurídica às palavras. - Joguem par ou ímpar.

Estreitei os olhos em desafio para meu primo, e ele fez o mesmo.

- Ímpar. - entoei, batendo a mão fechada contra minha outra palma consecutivamente.

- Par. - Repetiu o ato, estacionando à minha frente. - Um, dois, três, jogue lá!

No fim, a contagem dos nossos dedos foi par e Jader ficou com o trambolho, enquanto eu levei apenas um pequeno porta-joias e dois ou três vinis novos.

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