Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

14: Algodão Doce de Patins

— Os discos castanhos têm formato de rio, sim. — decretei, inclinando um pouco mais o rosto na direção de Romeu, equilibrada sobre meus patins amarelo-girassol enquanto mantinha as íris fixas nas suas, tentando desvendar o mistério da cor dos seus olhos que havia o encucado naquela tarde.

— Às vezes, parece que mudam de cor. — Torceu o nariz em uma pequena careta debaixo dos raios tingidos de ouro que caíam sobre nós. — Tipo, na luz da manhã são esverdeados, no pôr do sol ficam um castanho cor de lusco-fusco, e à noite voltam a serem verdes.

Dei risada, escorregando para o lado com minhas rodinhas debaixo dos pés, e fitei o amontoado de brinquedos esquecidos do parquinho infantil há poucos metros do calçadão em que estávamos, com suas estruturas de metal encaixadas no tapete de grama da praça deserta.

Já deveríamos estar perambulando pela cidade por pelo menos trinta minutos; eu com meus patins incríveis e Romeu com seu skate repleto de adesivos, rodopiando pelas ruas ensolaradas imersos nos nossos devaneios com o mesmo gosto do algodão doce que se expandia em nuvens cor de rosa na minha palma antes de eu devorá-lo quase por inteiro.

Levei-o à boca, sorvendo o último resquício todo aquele açúcar colorido, que se desmanchou na minha língua do jeito mais gostoso do mundo; porque soava, de alguma forma abstrata, como liberdade. Era o principal motivo de eu gostar tanto de andar de patins: aquela sensação de se estar pairando livre rumo a qualquer canto que eu quisesse.

Aproveitei-me do fato de que ao meu lado havia um dos inúmeros lixeiros engraçados espalhados pela cidade, na forma de um picolé gigante de plástico que parecia ser de morango, e enfiei o palito do algodão comestível na sua fresta frontal.

— Romeu, seus olhos são tão indefiníveis quanto você. — Soprei um riso, deslizando um pouco mais para trás, e enfiei as mãos no bolso da minha jardineira de calça, sentindo o jeans arranhar levemente as pontas dos meus dedos.

Ele ergueu a sobrancelha, deixando um sorriso meio sacana se repuxar em seus lábios. O gesto o deixou ainda mais inexplicavelmente bonito do que já estava, mesmo trajando somente uma calça jeans desbotada debaixo da sua jaqueta amarrada no quadril, uma camisa do Barão Vermelho e seu costumeiro par de tênis pretos, cuja sola não parava de chutar pedrinhas soltas pelo chão.

— Está tentando me seduzir, sra. Belmonte? — brincou, tão leve feito éter.

— No dia que eu der em cima de você propositadamente, pode ter certeza que tem algo muito errado com o mundo. — Imprimi o máximo de convicção possível à afirmação.

— Essa certeza eu já tenho há muito tempo. — Riu, levando a mão à nuca.

Comprimi os lábios com força, sentindo um ligeiro temporal de estrelas perdidas no peito ao fitar a vastidão espacial que se expandia no seu olhar.

Para não deixar essa sensação firmar raízes cósmicas capazes de perfurarem meu coração, tratei de desviar o foco dele, mirando as coisas que coloriam o ambiente ao nosso redor. E tive certeza que minhas íris reluziram logo que avistei os três balanços metálicos suspensos há poucos metros, na proporção que minhas células eram preenchidas de uma empolgação quase infantil.

— Você não está pensando no que eu acho que está pensando, ou está? — Romeu soou divertido.

Lancei-lhe um sorriso enigmático,  inclinando-me para soltar as amarras do patins. Já livre deles, removi as meias, mergulhei-as nos seus interiores e dei um passo confiante na direção da grama.

Puxando o ar com o cheiro agridoce de algo indistinguível que pairava entre musgo e sal, comecei a caminhar até o balanço de uma das pontas, e depositei os patins ao lado dele. Então, encaixei-me no assento meio frio, firmei os dedos ao redor das correntes e comecei a usar as pernas para pegar velocidade, balançando-me para frente e para trás cada vez mais rápido debaixo da sequência de risadas do meu amigo.

O vento ricocheteou minhas tranças, liberando alguns dos fios azuis que começaram a esvoaçar ao redor do meu rosto. Indo cada vez mais alto, sentia-me como se fosse capaz de capturar uma nuvem só de esticar o braço ou mergulhar de cabeça no azul do céu, onde eu saltaria sobre constelações inteiras, bebendo planetas e soprando poeira cósmica.

Lembrava-me que, em uma certa época quando criança, passei a achar que o céu de dia era uma piscina imensa, e as nuvens algodoadas eram, na verdade, grandes porções de uma espuma especial que nunca se dissolvia, pairando perpetuamente naquelas águas surreais.

Seria tão divertido nadar ali em cima.

Cacete! — gritei, com um sorriso irreprimível se esticando nas minhas bochechas, movido pela dose de furor que crepitava sob minha pele.

— Meu Deus, minha melhor amiga tem oito anos... — brincou Romeu, sem parar de me olhar com aquela miscelânea surreal de encanto e surpresa se expandindo em um amontoado de cores ao redor das suas pupilas.

— Fica quieto e se aproxima um pouco mais! — pedi, com a centelha de uma ideia que tinha tudo para dar errado estalando na minha cabeça.

Incerto, ele deu alguns passos na minha direção, e estacionou a uma distância que meus cálculos mentais confirmaram ser suficiente.

— Eu vou pular, me segura! — berrei, no instante que precedeu meu impulso para fora do balanço.

Romeu arregalou os olhos em choque, abrindo os braços automaticamente, e meu corpo se chocou contra o seu em um impacto que nos fez cambalear pela grama, até perdermos o equilíbrio e entrarmos em queda livre até o chão.

Meu tronco esbarrou no seu assim que ele descansou em um baque surdo sobre o tapete verde, e nossas risadas carregadas de um misto de vergonha, dor e uma estranha diversão estouraram no ar.

— Parabéns, você acabou de me desmontar inteiro. — Falou por cima da sua gargalhada, os braços firmes ao redor da minha cintura. — Depois dessa, eu tenho noventa por cento de certeza que a minha coluna não existe mais. Agora, ela é só uns pedacinhos de osso bem bizarros.

Despejei um riso derradeiro, apoiando uma das palmas na grama para erguer o dorso e fitar seus olhos por trás das cortinas de cílios longos que piscavam lentamente. Ele também me fitava, preso nas elipses escuras que moldavam minhas orbes como se houvesse descoberto um novo continente na borda do mundo.

Sua mão alcançou minha bochecha, e o polegar resvalou até as proximidades do meu nariz.

— Seus olhos... — começou, em um murmúrio. — Eles são um tom que parece que eu inventei em algum sonho, cor de alguma coisa muito linda e quase... mágica, do tipo que era para existir só nos livros de fantasia, mas existe em você. E... hipnotiza qualquer um que está ao redor. Qualquer um que sabe ler entrelinhas, e ver além das coisas comuns da rotina.

Meu coração entrou em um descompasso repentino, fazendo o sangue pulsar em ebulição nas minhas veias, e espalhar um incêndio de proporções cataclísmicas nas minhas bochechas.

— Ai, meu Deus. Você me fez corar, seu idiota! — Estapeei de leve seu peito, escorregando para o lado até me sentar a alguns centímetros do garoto.

— Isso é ruim? — Pude sentir seu riso escondido na frase.

— É! — Levantei e girei nos calcanhares para encará-lo, já de pé também, ajustando o nó da sua jaqueta no quadril. — Não gosto de corar. Eu viro tipo um pimentão gigante, e isso é esquisito!

— Você vira o pimentão gigante mais incrível de todos, isso eu posso garantir. — Lançou-me um sorriso torto.

— Não, não e mais uma centena de nãos! — reclamei, para tentar disfarçar o quanto sua fala disparou ainda mais minha frequência cardíaca.

Cruzei os braços, fazendo questão de pressionar os lábios na minha melhor expressão indignada. Ele riu tanto que curvou o tronco para frente, e eu rolei os olhos.

— Você é insuportável. Nunca mais vou te beijar. Eu garanto.

Nossos passos trôpegos ecoavam enquanto subíamos a escada para o andar de cima da casa, tentando não cair em meio ao enlace eufórico das nossas bocas. Equilibrava meus patins em uma mão só, porque a outra se perdera nas ondas escuras do cabelo de Romeu, sorvendo a maciez oceânica dos fios por entre as digitais e o ritmo frenético da sua respiração na ponta da língua.

Seus dedos traçavam arabescos fluorescentes na minha cintura, mantendo meu tronco junto ao seu, que queimava como se ele fosse inteiramente hélio caindo no núcleo da estrela que se expandia mais no meu peito a cada segundo, disseminando fagulhas de calor pelo meu sistema e vertiginosamente derretendo meus órgãos até os converter em um amontoado de cores disformes além do espectro visível no centro da minha via láctea interna em colapso.

Esbarramos na porta do seu quarto, e ele removeu uma das palmas de mim para tatear a maçaneta, demorando mais do que o normal por não conseguir enxergá-la. Meu riso se dissipou nos seus lábios assim que conseguiu abrir a porta com dificuldade, e ele riu também antes de voltar a me beijar, puxando-me em um volteio cambaleante para dentro do cômodo.

Rodopiamos no escuro espacial debaixo das nossas pálpebras fechadas, flutuando além das nuvens em um céu imerso na explosão florescente de cores amanteigadas do crepúsculo, pintando nossas células de vermelho, amarelo e fragmentos de azul até sermos inteiramente pôr do sol.

Um movimento abrupto nos fez tombar na escrivaninha de Romeu. Gargalhamos em uníssono e eu deixei meus patins desmaiarem no chão, abrindo os olhos para observar os contornos do seu rosto imersos no caos mais bonito que poderia existir. Ali, ele era todo solar, reluzindo em frente à janela feito um quadro vivo pintado à óleo.

Apoiei a mão no tampo amadeirado, e meus dedos esbarraram em um fragmento de papel. Fitei-o em um gesto automático, e vislumbrei um poema transcrito na folha sobre a mesa, de autoria de Fernando Pessoa, que assinara com o seu pseudônimo de Alberto Caeiro.

— O que é preciso é ser-se natural e calmo, na felicidade ou na infelicidade... — Pus-me a recitar em voz alta. — Sentir como quem olha, pensar como quem anda, e quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre, e que o poente é belo e é bela a noite que fica. Assim é e assim seja...

Sorri, achando graça ao notar as tentativas de Romeu em controlar a euforia da própria respiração para manter o foco na poesia.

— Bonito, não é? — indaguei.

Seu olhar recaiu sobre mim com uma imensidão cosmológica, derramando centelhas reluzentes nas minhas bochechas.

— Muito. — A profundidade contida na palavra me fez pensar se estava de fato se referindo somente ao poema.

De qualquer modo, não tive muito tempo para pensar, porque no instante seguinte seus lábios voltaram à elipse dos meus.

— Ora ora, se não são aqueles que eram só amigos... — A súbita entonação sugestiva nos fez saltar de susto e afastar nossos corpos como se o chão fosse feito de brasas incendiárias.

— Merda, Cordélia, o que diabos você está fazendo aqui? — Romeu gaguejou, alcançando o nó da jaqueta no quadril.

A garota nos fitava deitada na cama do meu amigo, com um livro grossíssimo do Stephen King aberto no colo e as sobrancelhas arqueadas em evidente diversão. Suas pernas estavam erguidas em forma de triângulo, e um par de meias gigantescas do Hora de Aventura quase alcançava seus joelhos.

— Você estava aqui o tempo todo e não falou nada? — Soei incrédula.

— Ah, para, eu só queria ver quanto tempo as maçãs do amor demorariam para notar a minha presença. — Deu de ombros, despreocupadamente. — Vim aqui porque queria alguém para discutir A Incendiária, do King. Fiquei encucada com a possibilidade de existirem mutantes no nosso mundo criados pelos próprios seres humanos. — Fascinação escorreu de cada sílaba, e ela remexeu o saco de jujubas ao seu lado, enfiando uma porção generosa delas na boca.

— Por que tá comendo doce na minha cama? — O timbre de Romeu se tornou mais grave. — Sabe que eu odeio esse tipo de coisa. Dá um monte de formigas, daí eu tenho que limpar tudo e...

— Ei, ei, calma aí, seu pragmático. — Ergueu as mãos, deslizando as pernas para fora dos lençóis. O movimento rápido fez sua panturrilha esbarrar no pacote de jujubas, e uma porção generosa delas escorregou rumo ao colchão, polvilhando-o de fragmentos de açúcar e gomas. — Ai, desculpa...

— Cacete, Cordélia! — A trovoada vinda do garoto ao meu lado me assustou. — Não poderia ter me esperado chegar nessa porcaria, ao invés de encher tudo de bagunça como você sempre faz?

Lia rolou os olhos, bufando.

— Às vezes você consegue ser um idiota.

Ela capturou seu livro e traçou caminho até a porta, batendo-a contra o trinco com mais força do que o necessário ao sair.

— Você foi ignorante com ela. — constatei o óbvio. — Como sempre é quando alguém não age de acordo com as suas expectativas.

Ele levou as mãos ao cabelo, esfregando os fios com avidez. Com as íris perdidas nas dimensões da própria cabeça, aproximou-se da cama e começou a pescar os resquícios açucarados.

— Vou ter que trocar o lençol... — murmurou para si mesmo, balançando a cabeça em negação.

— Não finge que não me ouviu. — Aproximei-me com alguns passos. — Tem que pedir desculpas a ela.

— Para de ser hipócrita, Julieta. Você faz a mesma coisa, e nunca pede desculpas por ser escrota com alguém.

Cruzei os braços com força, tentando ignorar a veracidade das suas palavras.

— A questão aqui não é como eu ajo, mas como você agiu.

Um sopro ruidoso de ar lhe escapou.

— Não me enche. — Ramos de gelo se enveredaram em cada fibra do pedido.

O reverberar do toque do meu celular me fez engolir uma resposta ácida. Capturei o retângulo eletrônico rapidamente, vislumbrando o nome que tinha salvo para o contato da minha tia na tela meio segundo antes de atender.

— Alô? — Testei o canal assim que levei o aparelho ao ouvido.

— Boa tarde, meu bem. — entoou Júlia, com uma empolgação radiante. — Acabei de receber uma coisa de um amigo do passado aqui na Relicário, que acredito que vá gostar muito de ver.

Apertei os cílios em uma mescla de curiosidade e confusão.

— Como assim?

Um instante de silêncio pairou do outro lado da linha.

— É sobre a sua mãe. — As palavras derradeiras de Júlia agitaram meu coração.

Saudações, terráqueos!

A aventura está prestes a começar.

O que acharam de Romeu e Julieta nesse capítulo?

Julieta, como quase sempre, controversa, artística e meio lelé da cuca.

Romeu, como quase sempre, poético, romântico incurável, abstrato e ligeiramente babaca, porque tudo é questão de equilíbrio.

Curtiram a interação dos dois?

E o aparecimento da Cordélia?

O que acham que vem por aí com a ligação da tia Júlia?

Espero que estejam gostando! Beijos de nuvem pra vocês <3.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro