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1: Nuvens, planetas e esquilos azuis

Existe uma espécie de consenso entre os astrônomos de que, quando uma estrela morre, ela implode no pulsar caleidoscópio de uma supernova que, em muitos casos, colapsa sob si mesmo e se converte em um buraco negro sugador de infinitudes. No entanto, às vezes, a intensidade da explosão após o fim pode somente chutar fragmentos estelares pelo cosmos, que se tornam irremediavelmente condenados a se perderem.

Vladimir Nabokov escreveu, certa vez, que tudo é ferrugem e poeira estelar. Não sei se faz muito sentido para explicar a minha existência, pois costumo me sentir como uma anã-branca enferrujada. E acredito que morri antes mesmo de nascer. É a melhor justificativa que tenho para ocasionalmente sentir que faltam pedacinhos de mim: Eles já se dissolveram no universo graças à força com que explodi.

No entanto, isto não é algo necessariamente ruim, considerando que, no meu caso, a incompletude sempre foi a minha maior motivação para buscar formas cada vez mais aleatórias de descobrir quais peças formam o meu quebra-cabeças.

Desde o início, fui uma criança tão discreta quanto uma zebra no meio de um campo de futebol, com minhas meias listradas, coleções de vestidos xadrez e sapatilhas vermelhas de joaninha. Meu pai dizia que eu tinha muito talento para ser estilista, e nunca soube ao certo se era por pena ou devido ao nível extremamente alto de miopia.

De qualquer modo, eu era um repelente de amiguinhos, quase como se tivesse oito tentáculos gosmentos saindo da minha cabeça ou duas antenas alienígenas. As outras crianças não se aventuravam a chegar perto de mim, com medo de contraírem a “Síndrome da estranhice aguda”, então, o meu círculo social se limitava somente ao meu cachorro Salsicha e o meu atualmente falecido hamster Bacon — descanse em paz, amigo.

As coisas eram boas somente com nós três, pairando nas nossas aventuras particulares com pincéis, tinta e brincadeiras de correr. Mas então, em dado momento, minha órbita escorregou para um lado desconhecido do espaço e caiu na elipse de uma estranha galáxia habitada.

Romeu sempre disse que fora ele quem tombou no meu mundo, mas discordei silenciosamente todas as vezes. Havia sido eu que escorreguei primeiro na minha própria gravidade frouxa e tropecei por aí até me infiltrar por acidente no seu; porque, antes mesmo que suas orbes se dirigissem a mim pela primeira vez, eu já estava ciente da sua existência.

Mas não me entenda mal. Quando me deparei com ele, julguei que fosse o garoto mais estranho da Via Láctea e não queria sequer me aproximar do dito cujo, mesmo tendo o par de olhos de luneta mais fascinantes que eu já tinha visto.

No entanto, apesar das íris magnéticas, Romeu, aos cinco anos, não era o que poderia ser chamado de “pequeno galã”, como o seu nome sugeria. Na verdade, assemelhava-se muito mais a uma vara de pescar com pernas, que vivia tropeçando pelos cantos graças às suas vistas embaçadas. Achava, inclusive, curioso o fato de lhe terem sido dados olhos tão bonitos na mesma proporção em que eram defeituosos.

Mesmo estudando juntos, nossos caminhos somente se cruzaram de forma definitiva no meio de uma das aulas do primário, quando o menino vomitou no meu vestido favorito de borboletas, e, como vingança, eu desenhei uma centena de ovelhas no caderno dele com toda a minha coleção de giz de cera.

A partir de então, começamos a brigar como dois ratos famintos encaixotados, com direito a puxões de cabelo e xingamentos mais pesados do que um porco de Ação de Graças estadunidense, do tipo “seu indiota” e “sua boboca”. Só assinamos um acordo de paz na festa de formatura do primário, quando tivemos que dançar juntos, para a infelicidade de ambos.

Claro que não foi fácil, houveram centenas de pisadas intencionais de pé, ofensas e caretas trocadas. Mas, ao final da noite, estávamos miraculosamente brincando de pega-pega no meio do salão, escondendo-nos embaixo da mesa para roubar doces e esbarrando nos professores, com nossas risadas de fazer as bochechas doerem se mesclando no ar.

Se eu era uma peste, a versão criança de Romeu conseguia ser mil vezes pior. Provavelmente tenha sido por isso que começamos a nos dar tão bem: Ele possuía a habilidade ímpar de acrescentar mais carga de esquisitice à minha cabeça rodeada de nuvens, planetas iridescentes e esquilos azuis.

Gostávamos de caçar piabas e girinos em uma lagoa perto da escola, andar de bicicleta e criar teorias sobre tudo no mundo, a exemplo do porquê os adultos se beijavam ou o motivo de não terem construído uma escada alta o suficiente para chegar até a lua ainda.

Outro detalhe particular sobre nossas infâncias é que chegamos perto de sermos expulsos da escola ao longo do fundamental diversas vezes, por sermos um terror quase equivalente a ameaças nucleares, uma infestação de tamanduás ou dominação mundial por anchovas modificadas geneticamente.

Ao que aparentava, os diretores-cabeça-de-tubarão não viam muita graça em levar um rato dentro de uma garrafa e soltar o roedor no meio da aula prática de ciências em laboratório, muito menos em pular o muro do colégio para filar mais da metade das aulas na lanchonete onde a minha tia trabalhava, porque ela nos dava batatas-fritas e milk-shake de graça.

Porém, ainda assim, em plenas dez da manhã estávamos encolhidos atrás do balcão do estabelecimento, nos entupindo de quanta porcaria coubesse em nossos estômagos e achando que éramos dois criminosos por termos fugido da escola aos treze anos.

Quando tínhamos uma década e meia de vida, a família de Romeu se mudou para a casa verde na mesma rua da minha, cuja placa de “vende-se” já estava tão enferrujada que quase não conseguia se ler. Então, passamos nosso primeiro Natal desastroso juntos regado a champanhe escondido debaixo da mesa à meia noite, bem como todas as comemorações que vieram a seguir.

Éramos Romeu e Julieta, uma dupla de crimes inseparável, assim como Bonnie e Clyde — sem a parte do romance água com açúcar, é óbvio. Ou talvez fossemos mais como pão com macarrão. Ou pizza doce com cobertura extra de doce de leite, e uma outra cobertura por cima de chocolate com uvas passas.

Não faço ideia se essas três últimas coisas ficariam boas juntas, mas eu gostava delas separadas. Então, unidas, deveriam ser imbatíveis.

Era o que eu estava pensando enquanto caminhava por aquela rua deserta bem conhecida pelas minhas retinas, debaixo das constelações que pulsavam em seu bordado cósmico no céu que se estendia acima dos meus cachos rodopiantes.

Apertei as mãos com mais força dentro do bolso quente da minha calça xadrez assim que o vento cortante da noite soprou mais forte suas partículas de gelo, e me arrepiei um pouco ao sentir o metal do molho de chaves no compartimento de tecido espetar suavemente uma das minhas palmas.

Não tinha uma alma viva além de mim nos arredores, porque aparentemente naquele dia — e em vários outros — eu era o único ser humano que simpatizava com a ideia de parecer um espírito perambulando pelo bairro à meia noite.

Minha pequena caminhada só se encerrou assim que parei em frente à única casa verde da rua.

Nunca pensei que gostaria tanto da arquitetura de uma residência, como fazia com a de Romeu.

Graças à sua estrutura típica de décadas passadas, a construção era circundada por uma mureta que sequer chegava a ser maior que eu, com alguns daqueles espertos metálicos fajutos em cima que falhavam miseravelmente em dar medo a possíveis ladrões.

Era fácil feito gostar de chocolate escalar o pequeno muro e, com um certo cuidado para não ser empalada e morrer de forma tão ridícula, deixar os pés descansarem no seu jardim com um baque surdo.

Tinha virado uma quase-rotina invadir a casa do meu amigo desde o início das férias, há duas semanas, quando sua mãe resolveu contratar a dupla de pedreiros mais duvidosa da cidade para fazer um serviço no telhado e nas janelas. Era para ser rápido, mas a situação já perdurava por todo esse tempo, e sem previsão de término.

Agradeci mentalmente aos trabalhadores nem tão honestos assim depois de me infiltrar por entre o jardim nos fundos da casa e estacionar ao lado do andaime quase rente à parede, que se estendia alguns metros até a janela do quarto de Romeu.

Girei o pé, apoiando no cilindro de ferro o tênis que tentara personalizar em um dos meus surtos criativos e, segurando outra barra gélida por entre os dedos de uma mão, impulsionei o corpo e me pus a escalar até o segundo andar na estrutura que tremulava com o meu peso.

Por mais que Laura, uma das minhas amigas mais próximas, já tivesse me alertado algumas vezes sobre invadir quartos de garotos à noite — algo relacionado à espécie de síndrome da masturbação compulsiva que normalmente acomete meninos adolescentes — eu não conseguia mais evitar.

Em primeiro lugar, por gostar de aventuras noturnas, e em segundo, porque Romeu nunca pareceu se afetar com isso.

Assim que meus tênis tocaram o piso do seu quarto, deixei que minhas orbes escorregassem pelo cômodo para me certificar de que tudo estava seguro. O cheiro fresco da noite se mesclava à melodia perfumada da fragrância que meu amigo costumeiramente usava; algo como hortelã, gelo flamejante e notas de limão. Ele havia esquecido a vitrola ligada, provavelmente por ter pego no sono, de modo que as notas chiadas de algum jazz dos anos quarenta dissipava sua calmaria no ar.

Visualizei, de imediato, o conjunto de camisa, cinto e calça jeans jogados de qualquer jeito na cadeira em frente à mesa repleta de trambolhos, em uma bagunça que era a marca registrada do meu melhor amigo. Havia folhas amassadas de papel sobre o tampo de madeira, fragmentos que sobram do lápis depois de ser apontado e objetos que ele tinha mania de colecionar, como uma porção de selos desbotados guardados em uma caixinha empoeirada e cadeados de senha de diversos modelos.

Suas paredes exibiam amontoados de pôsteres, recortes diversos de citações que via em livros velhos e desenhos seus colados com fita, em um caleidoscópio pulsante de arte por toda parte.

Ele estava deitado na cama, os olhos fechados e uma das palmas apoiando a lateral da cabeça sobre o travesseiro. Estava desacelerado, em paz da própria cabeça enquanto dormia.

Com um pequeno suspiro, fui até a sua cadeira e empilhei nos braços as roupas usadas, arremessando-as no cesto de roupas sujas há poucos metros para que Romeu não recebesse uma bronca da mãe logo pela manhã. De forma automática, meus olhos recaíram para o tampo amadeirado da mesa, e vislumbrei um pequeno pedaço de papel fixo na parte de cima da capa do seu caderno surrado de poesias com um dos clipes que costumeiramente guardava em um pote próximo.

Pzc 7 horas, era o que estava escrito na folha retangular dentro de um círculo vermelho traçado à caneta, com a caligrafia apressadíssima. Romeu tinha o costume de anotar coisas importantes e colocar no seu caderno, que era o objeto que mais pegava durante o dia, para que visse e se recordasse de cada um dos lembretes que fazia.

Cortei a distância rumo à sua cama. Ao lado dela, jazia o copo de água que sempre deixava próximo à cabeceira antes de dormir, por ainda ter medo, aos dezessete anos, de ser abordado por alguma entidade maligna na cozinha caso fosse pegar o líquido de madrugada.

Estacionei em frente ao garoto adormecido no meio da desordem de lençóis, com as pálpebras fechadas e um emaranhado de ondas negras lhe caindo pela testa sob a singela luz diáfana que as cortinas abertas da janela permitiam adentrar no cômodo. As metades do tecido fino deslizavam no ar, arrastadas pelos torvelinho de vento provenientes do lado de fora.

Agachei-me até a altura dos nosso rostos se equiparar e estalei suavemente os dedos em frente ao seu nariz. Suas íris se revelaram devagar em meio ao tremelicar preguiçoso dos cílios.

— Surpresa!

Ele se projetou para trás como reflexo do susto, enquanto piscava umas cem milhões de vezes por segundo.

— Caralho, Julieta. — A voz grave embebida em sonolência ecoou, despertando em mim uma vontade de rir que não pude conter.

Gargalhei e me joguei ao seu lado, sendo recebida pela maciez morna do colchão. Deixei uma perna escorregar por cima das suas, cobertas pelo tecido da calça moletom.

— Já deveria estar acostumado. — afirmei, inclinando a cabeça para fitar seu rosto, cujos olhos se espremiam vez ou outra em tentativas falhas de enxergar direito sem as lentes de contato.

Ele ergueu a mão, esfregando-os por um instante.

— Impossível. — garantiu, em meio a um bocejo. — Eu quase morri, pela centésima vez em duas semanas!

— A sua testa! — retruquei. — Só são quatorze noites, e eu nem invadi seu quarto em todas elas. E na maior parte das vezes, você estava acordado.

O canto dos seus lábios se repuxou suavemente debaixo da parcial penumbra, modelando a expressão cínica que lhe era de costume enquanto suas íris viajavam para meu rosto.

— Tô contando com as vezes que você me assusta durante o dia.

Ergui as sobrancelhas.

— Obrigada por insinuar que eu pareço um monstro do paleolítico! — Sarcasmo banhou meu tom.

— Cretáceo. — corrigiu, fingidamente sério. — Já ouviu falar no T-Rex?

Afundei de leve o cotovelo nas suas costelas e seu resmungo polvilhou o ar, enquanto se jogava involuntariamente para o mais longe de mim que a cama de solteiro permitia.

— Ainda estava meio dormindo, mas depois dessa, despertei de vez. — Seu nariz se torceu em uma careta, repuxando os pequenos sinais de sol em suas bochechas.

Soprei um riso.

— É o que você ganha pelas piadinhas.

— Como se já não bastasse interromper o processo de revitalização da minha beleza, ainda me bate, na minha própria cama... — Estalou a língua, falsa indignação se refugiando nas sílabas. — Eu deveria te expulsar daqui, sabia?
 
Girei o corpo na sua direção, mergulhando a lateral do rosto sobre os nós dos dedos assim que o meu cotovelo afundou no lençol.

— Deveria começar a trancar a janela, se não gosta que eu entre aqui. Mas sei que não vai fazer isso, porque é óbvio que você ama a minha companhia.

Ele rolou os olhos, soprando um riso.
 
— Talvez.

Então, virou-se para mim, imitando a minha posição logo que enterrou a bochecha no punho. Por um instante, suas orbes esquadrinharam cada traço do meu rosto do jeito que sempre fazia, como se tentasse ler nas minhas feições o motivo de eu estar ali, tipo ter acontecido alguma tragédia grega que me fez querer fugir para o seu quarto.

Odiava quando fazia isso.

Não pergunta, não pergunta...

— Você tá bem, jujuba?

Merda.

Soltei o ar em um suspiro, baixando o olhar para a logo da banda que ilustrava sua camisa. O Queen’S me fitou de volta, com as orbes de um Freddie Mercury ilustrado estacionando no meu rosto de uma forma quase inquisitória, semelhante à de Romeu.

Era o tipo de questionamento que eu detestava que fizesse; e mais ainda naquele dia, porque não havia exatamente um motivo trágico e, portanto, lógico, de eu estar ali, além de estar com sérias dificuldades em pegar no sono sozinha há umas duas noites, devido à insônia insuportável que me acometia há anos.

A questão era que, nas noites em que estava com Romeu, ela se tornava magicamente muito pequena. Então, conseguia dormir, nem que fosse por apenas algumas horas. Mas era o tipo de coisa que não dava para explicar em voz alta, sem soar piegas e nojento para cacete.

— Muito bem. — Limitei-me a responder, esticando os lábios em um sorriso mais falso do que o meu cabelo cor-de-céu-do-meio-dia.

Ele ergueu a sobrancelha sob uma pequena mecha de fios escuros, seu semblante banhado em ceticismo.

— Tem certeza?

Uma onda de desconforto quebrou contra minhas células e, num ímpeto, levantei-me, caminhando até a sua estante de livros apenas para fingir que estava prestes a fazer algo.

— Estou ótima. — frisei. — Como foi seu dia? — A pergunta foi automática, visando desviar seu foco do jeito mais escancarado possível.

Deixei que meus dedos escorregassem ao longo dos seus exemplares, as unhas puxando levemente os pontos descascados das capas de forma involuntária.

A presença de Romeu fervilhou atrás de mim e seus braços envolveram meu abdômen em um aperto tão forte que, por um momento, fiquei sem ar.

— Meu diafragma, filho da puta! — resmunguei baixo, e seu riso ecoou em um sopro abafado contra meu ombro.

Pensei em soltar as caveiras e cruzadinhas dos palavrões existentes e inventados, mas engoli todos quando seus lábios pincelaram o ponto abaixo do meu lóbulo, dissolvendo um emaranhado de fervor no meu estômago que transformou minha cabeça em uma grande tela azul impossível de pintar.

Fiz pressão para que o seu aperto diminuísse e, assim que afrouxou o toque em volta de mim, girei nos calcanhares para fitá-lo.

As estrelas que se escondiam nas suas íris derramaram pontos de luz nas minhas, enquanto seus dedos torciam preguiçosamente a barra da minha blusa no quadril.

— Foi... esquisito. — Uma careta se esboçou nas suas feições. — Eu saí com o Vance e encontramos uns amigos dele. Ficaram me oferecendo erva.

Ergui a palma até alcançar um intruso fiapo solto na gola da sua camisa, puxando-o de leve para tentar desprender o miúdo pedaço de pano.

— Você ficou chapado? — indaguei, com ar de riso.

Ele apertou os cílios.

— Acho que não. Só dei dois tragos, eu acho. É estranho pra cacete.

— Estranho tipo bom, ruim ou “que porra é essa”?

— Estranho tipo uma música que a gente ouve ao contrário.

— Então, estranho nível “que porra é essa”.

Sua risada ecoou.

— Exatamente.

Ele pareceu se lembrar de algo, porque, de súbito, caminhou até a escrivaninha e abriu sua primeira gaveta, fisgando alguma coisa lá dentro. Depois, voltou a caminhar até mim e, assim que parou à minha frente, esticou a mão no espaço entre nós, revelando uma miúda concha espiralada sobre sua palma.

— Ai, meu Deus, ela é tipo um bebê concha! Que bonitinha!  — falei do mesmo jeito que uma criança faria ao ver um brinquedo novo, pescando a pequena casa de bichos do mar com um cuidado semelhante ao que se pega um recém nascido.

Ele riu.

— A gente foi na praia, daí eu achei isso e guardei para você.

Um pequeno sorriso riscou suas bochechas, impelindo-me a sorrir também.

— Obrigada.

— De nada, jujuba.

O apelido em homenagem ao meu doce favorito trouxe uma costumeira efervescência ao meu peito.

Após colocar meu filhote de concha e minha chave na lateral da cama, joguei-me novamente nela e Romeu se acomodou ao meu lado, seu braço irradiando singelas fagulhas de calor contra o meu enquanto mantínhamos os olhares fixos nos adesivos de plástico fluorescente que moldavam estrelas no teto. Os astros artificiais espalhavam seus suaves feixes de luz verde por toda parte debaixo do parcial breu que inundava o cômodo.

 — Agora, tira esses tênis imundos de cima da minha cama. — Seu tom foi descontraído, enquanto o pé chutava levemente meu calcanhar coberto pelo calçado em questão.

Um sorriso riscou meus lábios.

— Não tô afim. — Brincadeira refugiou-se nas palavras.

— Então, vai pro chão.

— Como é? — inquiri, virando o rosto para fitar sua expressão cínica.

Ele soprou uma risada.

— Tira logo esse reservatório de bactérias de cima do meu lençol.

Obviamente, eu o fiz. E, depois que os sapatos descansaram na cerâmica ao lado da cama, fisguei o cobertor enrolado em um bolinho fofo entre mim e Romeu e abracei meu corpo de lado com o pano macio, convertendo-me em alguma espécie de burrito humano.

— Quer ouvir música? — questionou. — O fone tá aqui do lado. Eu baixei mais algumas do Cosmo Sheldrake.

— Seu vício em indie fica maior a cada dia. — brinquei, e um riso lhe escapou. — Seria um prazer orgástico ouvir mais músicas dele além das cinquenta que você me fez escutar essa semana, mas hoje eu estou morta. Só quero hibernar feito um daqueles ursos de documentário.

— Tudo bem, dona ursa. — Riu, o colchão se remexendo sob mim enquanto se ajustava nele. — Tem certeza que não tem nada que queira me dizer? — O timbre grave voltou a ecoar, reverberando em um sopro quente perto do meu pescoço.

— Tenho, sim. — retruquei, e o mundo escureceu diante dos meus olhos assim que os fechei. — Boa noite, Romeu.

Ele não falou mais nada, apenas suspirou e puxou o lençol, enfiando-se também debaixo do manto.

As singelas ondas de calor do seu corpo perfuraram meus poros, e o travesseiro se moveu suavemente debaixo da minha bochecha quando acomodou a lateral do rosto nele, seu ciclo de inspirações e expirações abraçando minha nuca em uma cosquinha singela.

Gostava de ouvir o ritmo sublime da sua respiração se mesclando aos ruídos baixos do mundo lá fora; um gato vadio que por vezes escorregava as patas no telhado, as rodas de um carro perdido cortando o asfalto e o cantar de algum grilo distante para o orvalho da noite. Tudo isso montava os acordes de uma sinfonia narcótica que se infiltrava nas minhas veias com um poder altamente entorpecente.

E era apenas isso; sem toques, sem abraços por trás ou qualquer coisa que pareça minimamente pervertida na cabeça de um ser humano normal. Apenas dormíamos juntos às vezes, como os bons amigos que sempre fomos, e, se o mundo não acabasse muito em breve por alguma tempestade de meteoros ou infestação de robôs mutantes, sempre seríamos.

Se havia alguém que duvidava ser possível existir amizade genuína entre pessoas do gênero pelo qual se atraem, certamente seria dolorosamente refutada se conhecesse a minha relação com Romeu.

Saudações, terráqueos!

Sim, esse primeiro capítulo ficou bem grande, mas espero que tenham gostado. Eu trabalhei nele por mais de um ano, então espero que sim (risos mesclados a lágrimas).

O que acharam dessa amizade?

E da Julieta?

E do Romeu?

Deposite aqui o que achou do capítulo, no geral.

Já, já eu apareço de novo. Prometo não demorar muito.

Fiquem bem! Beijos de nuvem para vocês <3.

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