Capítulo 38
Edgar fez questão de recebê-la à porta do escritório. Ao passar rente a ele, Dara tentou decifrar; através de seus olhos; o teor da conversa que estava por vir, e o que detectou a deixou ainda mais apreensiva: a alegre cor do mel com o qual habituara-se ao longo dos meses cedera espaço para um melancólico tom de verde...
Assim que adentrou o ambiente; e diante dos dois homens com os quais não simpatizava de pé, à sua frente; Dara foi direta:
- Por qual motivo eu fui chamada? O que está acontecendo aqui?
- Logo entenderá. - afirmou Edgar, após um suspiro tristonho - É um assunto do seu interesse. - ele assegurou-lhe, enquanto passava por ela e posicionava-se do outro lado do birô.
Agora eram três homens de pé diante dela, que continuava desconfiada:
- Não sei não... - franziu o cenho, tensa - Tem certeza que é mesmo do meu interesse?
- Com certeza, é. Sente-se - Edgar fez um gesto de mão, indicando-lhe a cadeira - Será uma longa conversa.
*****
Com todos já devidamente acomodados - Dara sentada entre os dois homens, os três de frente para Edgar - o dono do palacete pôde retomar seu raciocínio:
- Creia-me, Dara: eu não a chamaria até aqui à toa. Desde que você entrou em minha vida, - remexeu-se na cadeira, constrangido com a mensagem que poderia passar, corrigindo-se em seguida - digo, em minha casa, você tem me ajudado de forma efetiva e determinante. Mesmo sem saber, auxiliou-me na confecção deste invento que me possibilita andar. Ajudou na minha libertação, revitalizou o meu jardim e desde então tem se dedicado a mim e à esta casa com afinco e alegria, de modo que eu continuo em débito com você, mas é chegada a hora de lhe recompensar...
- Imagina, senhor Winks. - a jovem adiantou-se, receosa com o rumo que a conversa tomava - Aqui eu tenho tudo, não me falta nada. O senhor não tem débito nenhum comigo, não.
- Tenho, sim, e não gosto de ter débitos. Acredite. Procurei recompensar a todos os que me ajudaram. No caso de Margot e Sebastian; além do aumento em seus salários; dei-lhes a garantia de que terão teto e comida até o fim de seus dias, mesmo que fiquem muito velhinhos e não possam mais trabalhar. Serão sempre meus protegidos. Mas com você não pode ser assim, como você é diferente. Eu nem posso te dar um aumento: você nunca foi minha funcionária. Nem poderia supor que enterrar-se nesta casa, neste vilarejo distante como Lockwood fosse uma recompensa para uma jovem vivaz como você.
- Mas eu não estou aqui obrigada. Estou aqui porque gosto.
Com um sorriso triste, Edgar duvidou:
- Pensa que gosta, mas é só porque não tem opção. Ou melhor, não tinha...
- Do que o senhor está falando?
O distinto cavalheiro, que fora acompanhando o senhor calvo e; até então, mantinha-se calado; não pôde mais se conter:
- O que ele está tentando explicar é que você tem casa. Aliás, casas. Propriedades, terras, cavalos... Você tem opção. Você tem para onde ir e tem uma família; pequena. É fato; que se resume a um pai, mas que te ama desde que soube da sua existência e que nunca desistiu de te procurar... - e, com os olhos marejados e a voz embargada, o senhor concluiu - Filha, eu sou o seu pai!
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