Capítulo 3
Assim que chegou em seu quarto, Dara agradeceu ao mordomo, mesmo sabendo de antemão que não obteria resposta. Nesse momento, sentiu-se até um pouco culpada pelo mau juízo que fizera dele minutos atrás, quando o cumprimentara à porta da casa. "Também, como poderia imaginar?", justificou-se para si mesma, enquanto cruzava os braços sobre o peito. Mas não demorou-se muito nesses pensamentos, afinal, mais do que cansada, estava faminta!
Seguindo os conselhos da patroa, Dara banhou-se, pôs-se apresentável e, em seguida, fechou a porta do quarto atrás de si, enveredando pelos corredores mal iluminados. Guiada pelo olfato, ainda mais aguçado do que o de costume por causa da fome que devorava-lhe as entranhas, não demorou à encontrar a cozinha.
Lá, ela reencontrou o mordomo, agora já à mesa, sendo servido por aquela que aparentemente, era a cozinheira. O vapor do caldo fumegante, cujo odor delicioso a atraíra até alí como se fora um ímã invisível, tomara conta de todo o ambiente. Diante desse cenário aparentemente convidativo, a ruiva apressou-se em apresentar-se:
— Olá, boa noite! Sou a Dara, a mais nova criada da casa. — seu sorriso, bem como sua simpatia e seu cumprimento, não foram correspondidos. Tudo o que conseguiu foi captar uma enigmática troca de olhares entre a cozinheira e o mordomo. Tratou de recolher a mão que estendera em vão, e assim que foi servida, passou a comer em silêncio. — "Será que ela também é surda-muda?" — pensou, enquanto saboreava a sopa. Contudo, os silêncios de Dara não costumavam durar muito. Logo após as primeiras colheradas, voltou a falar:
— Sua sopa cumpre o que promete: é mesmo uma delícia! Como foi mesmo que disse que se chamava? — jogou a isca, enquanto voltava a encher a boca com o saboroso alimento.
— Eu não disse... — a cozinheira respondeu, com indiferença. Porém, mesmo sendo uma resposta mal criada, foi comemorada por Dara.
— Ai! Graças a Deus que pelo menos você fala! Temia que também fosse surda-muda — e seu olhar imediatamente cruzou com o de Sebastian, que fez uma expressão de quem fora magoado — Desculpe-me, mas já imaginava com quem iria conversar...
Nesse momento, Sebastian arregalou os olhos e pareceu incomodado.
— Então já sabe do Sebastian... Deveria saber também que não é nem um pouco educado desfazer assim de uma doença alheia. — ralhou a cozinheira.
— Eu não quis ofender, eu apenas...
— Mas ofendeu. Ele pode ser surdo-mudo, mas entende tudo o que falamos diante dele.
— Ele entende?! — Dara questionou, verdadeiramente surpresa.
— Ele pode não falar, não ouvir, mas lê lábios muito bem.
— Ora! Quando o cummprimentei, logo na minha chegada, ele não correspondeu nem sequer com um gesto de cabeça. Cheguei até a achar que fosse antipático.
— Vai ver que, assim como eu, ele também não gostou de você. Já cogitou essa hipótese?
— E por que alguém não gostaria de mim? — questionou Dara, diante de uma possibilidade que lhe parecia completamente absurda.
— Talvez porque fale demais. — atalhou a cozinheira, na vã esperança de que a ruiva parace de tagarelar.
— Nunca achei que isso fosse um defeito.
A antiga funcionária suspirou, colocando o talher no prato e deixando o jantar para depois.
— Muito menos é uma qualidade, sobretudo nesta casa... Estávamos tão bem antes de você chegar! O que acha de fazer silêncio pra que voltemos à tomar a nossa sopa em paz? — o argumento soou tão firme que assemelhava-se muito mais a uma ordem do que com uma sugestão.
Naquele momento, Dara pôde observar dois pares de olhos severos sobre si, e preferiu não insistir mais. Mergulhou seu olhar no prato diante de si e não pronunciou mais nenhuma palavra durante aquela refeição. Aquela bronca já estava mais do que de bom tamanho para a sua primeira noite na mansão dos Winks.
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