São Paulo - capital - ano 2013

Jorge Antônio, apesar de todos os problemas, sentia-se um homem realizado. Filho mais novo de uma família com cinco irmãos, aos trinta anos, já conseguira se estabilizar na vida.

Formado em engenharia, conseguiu um bom emprego em uma indústria automotiva. Tinha uma vida boa com a mulher e os dois filhos que sempre desejou.

Mas, por mais que achasse que tudo estava bem, o excesso de trabalho o consumia. A fábrica onde ele trabalhava começou a solicitar horas extras aos seus colaboradores para conseguir dar conta dos pedidos e Jorge ficava mais horas no trabalho do que em casa. A pressão no emprego mais a distância das coisas que amava, que lhe traziam paz, o levaram a uma estafa, desencadeada pelo stress da rotina pesada.

Assim que começou a sentir palpitações, procurou um cardiologista. Descobriu que a pressão estava alta e o coração rápido demais, o que o médico chamou de taquicardia.

Foi aconselhado a se consultar com um psiquiatra, que recomendou a diminuição do ritmo de vida, senão a coisa podia piorar.

O médico escrevia a receita enquanto lhe dizia:

— Você precisa desacelerar, Jorge. Não se chega a lugar algum desse jeito. Muito pelo contrário, você acaba parando no meio do caminho com uma crise de ansiedade, enfartado ou coisa pior. Este é o mal do nosso século. Vou passar uns remédios para você relaxar, mas isso não vai adiantar de nada se não modificar a sua rotina. Que tal tocar algum instrumento musical ou ter uma atividade esportiva? São coisas que ajudarão, acompanhadas das nossas sessões. Dará tudo certo.

— Obrigado, doutor. Entendo que preciso mudar minha vida e vou seguir as suas orientações.

E assim ele o fez. Começou a fazer aulas de violão. Conseguiu um professor que era guitarrista de uma banda de rock que tocava no Alto Leblon. Em pouco tempo, Jorge realizava algo que nunca imaginou fazer. Para ele, a vida passara a se tornar inacreditável. Depois de alguns meses começou a tocar e cantar para a família sempre que dava, quando chegava em casa à noite.

Os sintomas da ansiedade atenuaram, permitindo que ele voltasse a viver a normalidade de sua vida. É claro que diminuiu as horas extras e aprendeu a dizer "não" para as pessoas, aprendendo a valorizar o próprio trabalho e a se valorizar, sem stress.

Ele também decidiu se dedicar a outra de suas paixões: contar histórias. Lembrava-se de como os filhos ficavam hipnotizados durante a noite, ouvindo-o inventar novos personagens e situações. E com a cabeça cheia de ideias passou a escrevê-las como um processo natural, e assim que começou nunca mais parou. Pouco a pouco, as aulas de violão foram substituídas pela escrita, elegendo o ato de criar histórias o novo tratamento para a sua alma.

Em pouco tempo, ele terminava de escrever a sua primeira obra.

Todos ficaram perplexos com a nova faceta dele e assim que anunciou que lançaria o livro, pensou em juntar a família para comemorar. Seus irmãos viviam na cidade, mas devido ao ritmo de metrópole, era quase impossível vê-los, assim como o pai. A saudade apertava e por isso, queria aproveitar o lançamento do livro para reuni-los e lhes dar um abraço apertado, além de relembrar os bons tempos.

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https://youtu.be/wls5uCksXCY