Capítulo 6 - Você é perfeito
Contém 3940 palavras.
Boa Leitura❤
A manhã me recebe com uma luminosidade inesperada, diferente da escuridão opressiva do laboratório. Sorrio alegremente, uma sensação de otimismo que me surpreende, considerando o ocorrido de ontem. Decidi ignorar a frustração, a decepção, tocar no assunto agora só vai piorar as coisas. Conheço Belzebub o suficiente para saber que ele vai reagir mal, se ousar mencionar o clima intenso que criamos, o beijo que quase aconteceu.
A tensão entre nós é palpável. A minha própria inexperiência, a confusão dos meus sentimentos, um turbilhão de emoções novas que me deixam levemente tonta. Ele, por sua vez, carrega a cautela, o medo, gravados em cada traço do seu rosto. Mas não sou boba. Vi a preocupação dele ontem, a forma como ele se importa com a minha vida, um sinal claro de que ele não é o monstro que acredita ser. Seu coração é puro, sua alma brilha com uma luz divina, apesar da escuridão de Satã.
Entendo o medo dele. No caos da vida dele, se aproximar de alguém é arriscado, criar laços é algo quase impossível, uma vez que ele nunca consegue mantê-los. Mas estou decidida a mudar isso. Pela primeira vez, sinto algo pelo qual vale a pena lutar, e a ideia de me arrepender sem nem ao menos tentar é insuportável.
A maneira como ele me olha... é diferente de tudo que já vivenciei. Não é apenas a beleza externa que ele vê, muitas vezes ele enxerga diretamente a minha alma. Ninguém jamais me olhou assim antes. E não quero perder isso. Todos que se aproximaram de mim o fizeram por causa dos meus poderes, da minha beleza evidente. Ninguém se importou em conhecer quem realmente sou, não havia interesse em ir além da superfície. Por isso, acredito que o que estamos vivendo é especial.
Sou uma guerreira. Desde que me conheço por gente, luto pelo que quero. E agora, o que mais desejo é entender esses sentimentos, se são reais, duradouros. Pode ser apenas um encantamento passageiro, uma ilusão, nunca conheci ninguém como ele.
A madeira fria do piso range levemente sob meus passos firmes. O ar está carregado de uma tensão palpável que sinto na pele, mesmo antes de chegar ao laboratório. A porta range ao se abrir, e um sorriso quase involuntário se forma em meus lábios ao ver Belzebub sentado à mesa, completamente tenso. Seus ombros estão enrijecidos, as mãos trêmulas batendo um ritmo frenético sobre a madeira polida. Ele está visivelmente nervoso, a culpa e o arrependimento gravados em cada traço do seu rosto, nos músculos tensos da mandíbula, nas pupilas dilatadas.
— Bom dia! — minha voz ecoa no silêncio do ambiente, leve e descontraída, em contraste com a tensão que o envolve. Ele se sobressalta, como se tivesse sido pego em flagrante, os olhos se arregalando em surpresa. O alívio que o toma é tão evidente que não consigo conter uma gargalhada suave, um som que quebra o silêncio pesado do laboratório.
Belzebub me olha, completamente atônito, a boca entreaberta em uma expressão de puro espanto. Os ombros ainda estão tensos, como se estivesse esperando um golpe, as mãos continuam a bater na mesa, agora com um ritmo mais frenético, quase compulsivo.
— É... bom dia. Tudo bem? — a pergunta dele sai como um sussurro, hesitante, a voz rouca, o olhar desviando do meu, buscando refúgio em qualquer ponto da sala, menos em mim.
A incredulidade me invade. Ele está falando sério? Milhares de anos de existência, e ele está com medo por causa do que aconteceu ontem?
— Francamente, não é criança, vamos esquecer... o que aconteceu ontem! — minha voz é firme, mas com um tom de brincadeira, para quebrar a tensão que paira no ar.
Seus olhos se arregalam ainda mais e percebo o conflito interno dele: a vontade de falar sobre o que aconteceu, a necessidade de esquecer. Ele está confuso, dividido, e não quero piorar as coisas. Sei que ele se vê como um perigo constante para mim.
— Desculpa por agir daquela forma — a voz dele é baixa, quase um pedido implorante.
Suspiro, resignada. Não consigo ficar com raiva dele, não quando a única coisa que vejo é medo e arrependimento em seus olhos.
— Tudo bem. Entendo o motivo da sua atitude — digo, um sorriso suave surge em meus lábios.
Seu olhar encontra o meu, intenso, completamente sério, em contraste com a minha serenidade. Ele suspira, um som profundo que preenche o silêncio entre nós, e o meu sorriso se alarga.
Não estou chateada. Estou me esforçando para entendê-lo, mesmo que a minha paciência seja um pouco curta. Isso é algo inerente à minha natureza de veela, somos temperamentais.
— O que vai cantar hoje? — ele pergunta, seus olhos brilhando ao ver o meu sorriso.
— Que tipo de música quer ouvir? — respondo, sentindo um calor agradável percorrer meu corpo.
Seguro sua mão, ele entrelaça nossos dedos com um sorriso leve e tímido.
— Me surpreenda... mostre seus... sentimentos, quem você é... — ele responde, sem desviar o olhar do meu.
O brilho intenso que vi em seus olhos na noite passada está de volta, e sei exatamente qual música cantar. Um arrepio percorre minha espinha.
— Minha mente é uma ilha fora do mar... Eu só quero conhecê-la, mas você está indo pelo caminho errado...
Seus olhos se fixam nos meus, um olhar intenso, profundo, inebriante. Como ele não consegue ver o quanto é perfeito?
Minha voz ganha força, um tom mais sedutor, e um sorriso se abre no rosto dele. Uma aura brilhante o envolve, irradiando uma luz quase etérea. Ofereço-lhe um olhar de admiração. Vejo a emoção dele, a intensidade dos seus sentimentos, um turbilhão de emoções que me deixa quase sem fôlego. Ele é tão sublime, tão único... uma criatura destinada a carregar um fardo pesado, marcado por traumas, mas sua determinação em lutar contra o que o machuca é admirável. Apesar de tudo, ele é perfeito.
— E se curtimos a noite... Não importa onde estamos e onde não estamos... Então me dê seu beijo, agora...
Ele engole em seco, o movimento quase imperceptível, mas sinto a tensão em seu corpo, a rigidez dos músculos, a força com que ele aperta minha mão, nossos dedos entrelaçados como se fossem um só. A pressão de sua mão na minha é crescente, um reflexo do desejo que o consome, irradiando dele como um calor intenso. Seus olhos descem lentamente até meus lábios, um percurso lento e torturante, que me deixa sem fôlego. O olhar dele é intenso, pesado, carregado de uma necessidade incontrolável. O ar entre nós esquenta, fica denso, carregado de uma eletricidade palpável, um silêncio que grita mais do que qualquer palavra. O desejo dele como se fosse uma onda, me envolvendo, me queimando. O ar parece vibrar, carregado de uma energia quase física e palpável como se fosse uma entidade viva entre nós.
— Não quero pensar em ir sozinha sem isso... É só amor, ninguém morre...
Sua respiração se torna mais ofegante, rápida e superficial, um sinal claro da excitação que o domina. O deslumbramento em seus olhos não é mais apenas um brilho, é uma chama intensa, que me queima por dentro. É uma energia bruta, visceral, que vibra dele, intensa e avassaladora, mas não é causada pelos meus poderes. Não precisei usar nenhum tipo de magia, essa energia é pura, genuína, emanando do seu desejo por mim.
Seu olhar vagueia até meus lábios, num percurso lento e torturante. Ele morde o lábio inferior com força, um gesto quase selvagem, que revela a intensidade da sua luta interna. Sua mão solta a minha, como se a proximidade fosse demais para ele suportar, e ele se apoia na cadeira, os nós dos dedos esbranquiçados pela força com que os fecha. É uma tentativa desesperada de se controlar, de conter a força avassaladora do seu desejo, mas o seu coração pulsa descontroladamente, um ritmo frenético que ecoa no meu peito, em perfeita sincronia. Cada batida como se fosse minha própria, uma conexão visceral, inegável.
— Eu sei que há uma parte de você que você esconde... E você se convenceu de que eu vou usar isso contra você...
Como posso controlar meus próprios sentimentos diante do seu sofrimento silencioso, do seu desejo contido, que me clama em cada gesto, em cada olhar? A sua luta interna é tão palpável que me dói, o quero tanto, com uma intensidade que me consome, que me deixa desesperada. A necessidade de estar perto dele, de tocá-lo, de sentir o seu corpo contra o meu, é quase insuportável. A minha própria respiração se torna ofegante, meu corpo treme sob a força do meu desejo.
Um suspiro profundo escapa dos seus lábios, carregado de uma tensão que parece romper o ar entre nós. A sua mão envolve meu corpo com uma rapidez que me surpreende, a força do seu toque me faz ofegar. Sou puxada para perto dele, o seu corpo pressionando o meu, a proximidade gerando um choque elétrico que me percorre da cabeça aos pés. Minha voz se perde na garganta, engasgada pela emoção, pela intensidade do momento. Meu coração pulsa loucamente, num ritmo frenético que acompanha a aceleração da minha respiração. Seus dedos se entrelaçam em meus cabelos, puxando meu rosto para perto do seu, o toque firme e possessivo, me deixando completamente entregue. Seus olhos brilham com um vermelho intenso, vibrante, como brasas incandescentes, e me entrego completamente, sem resistência, sem lutar contra o turbilhão de emoções que nos consome.
— Me sinto uma mariposa indo ao encontro do sol... — ele suspira, a respiração quente contra minha pele, um arrepio percorrendo todo o meu corpo. Seu nariz roça no meu, o contato enviando ondas de choque que me deixam trêmula. — Sou tão sortudo por tê-la aqui... ao mesmo tempo, tão azarado por não poder aproveitar... — a voz dele é rouca, carregada de uma dor que me parte o coração.
— Belzebub... — consigo apenas sussurrar seu nome, a emoção me engasgando.
— Você é como o sol após uma tempestade! Completamente deslumbrante! — seus olhos brilham, num misto de admiração e sofrimento. Seu rosto se aproxima do meu, um carinho terno, nossos lábios a centímetros de distância.
— Belzebub, você é perfeito! — murmuro, minha voz quase inaudível, meus olhos fixos nos seus.
Ele sorri, um sorriso ladino e sofrido, acariciando minha pele com a ponta dos dedos.
— Não sou, mas me alegra saber que pensa isso de mim — ele confessa, depositando um beijo suave na minha bochecha.
Seu olhar escurece, se fixando em meus lábios. Ele engole em seco, visivelmente dividido, preso em um dilema interno que o consome. Seguro suas vestes com firmeza, olhando-o com determinação.
— Beija... me beija! — minha voz é um pedido, uma ordem, uma súplica.
Ele suspira, fechando os olhos com força, como se estivesse lutando contra algo dentro de si. O encanto quase palpável entre nós começa a se desfazer, uma sensação de perda me atinge. Ele não vai me tocar, mesmo sentindo o mesmo, não vai ceder.
— Não posso... por favor... não posso — ele murmura, a voz sôfrega, distribuindo pequenos beijos em meu rosto, um em minha testa, um gesto delicado que contrasta com a sua luta interna.
— Não vai me machucar, quero você e sei que também me quer! — retruco, a minha ansiedade crescendo.
— É uma tortura isso... sua presença é um bálsamo, mas também uma tortura, e não posso ceder... — ele replica, a voz cansada, exausta.
— Não vai me machucar! — insisto, a minha voz firme, determinada.
Ele suspira, me puxando para seus braços em um abraço terno, mas hesitante.
— Aine... não! Não posso nem ousar sonhar com isso — ele retruca, a voz quase um lamento.
Suspiro, exasperada, mas a frustração não me impede de me aconchegar melhor em seu abraço. Ele apoia o queixo no topo da minha cabeça, inalando meu perfume. Apesar de não ser o que quero, sinto uma conexão profunda com ele, pequenas vitórias. Este abraço é um grande passo para ele, um sinal de que a barreira está começando a ruir.
Um sorriso involuntário se espalha pelo meu rosto ao vê-la parada ali, emburrada, me esperando. Sei que ela está brava. Atrasei algumas horas, mas foi por um bom motivo, espero que ela entenda. É a primeira vez na minha existência que faço algo para agradar alguém, que tenho alguém para quem fazer algo. Todos que passaram pela minha vida foram passageiros, nunca me permiti criar laços, nunca tive tempo. Mas, ao contrário do que esperaria, a ideia não me deixa triste, estou ansioso, e a expectativa de ver sua reação ao que preparei me deixa excitado.
— Posso saber onde estava? — a pergunta dela corta o ar, carregada de irritação. Ela se aproxima, as mãos na cintura, o rosto vermelho de raiva.
Não consigo conter o riso. Vê-la assim, com essa expressão furiosa, é... engraçado. É a primeira vez que alguém exige explicações minhas, e a situação é estranhamente divertida, principalmente considerando a percepção de quem observa. Para quem nos vê, parece que temos algo a mais, algo sério. Seu rosto, uma mistura de raiva e... algo mais, me lembra uma esposa irritada. E, estranhamente, isso me diverte.
Jamais imaginei que estaria em uma situação dessas, ainda mais como protagonista. A demora da minha resposta a deixa ainda mais irritada, as bochechas dela ficam vermelhas. Ela é adorável quando está brava.
— Está brava comigo? — provoco, o sorriso malicioso aumentando ao me aproximar.
Seus olhos, brilhantes como topázios imperiais, parecem incendiar-se. Seus cabelos parecem estar em chamas, e uma veia lateja em sua testa. Meu riso morre na garganta ao sentir uma dor aguda em meu braço. Ela me bateu?
— Idiota! Estou esperando há três horas, ainda tem a audácia de perguntar se estou brava? — ela resmunga, furiosa. Meu riso retorna, mas logo é interrompido quando ela se coloca à minha frente, cutucando meu peito. — Onde você estava? Por que demorou? Posso saber por que está com esse sorriso na cara?
O riso escapa de mim, incontrolável, aumentando ainda mais a sua irritação.
— Aine, nem lembro da primeira pergunta, vá com calma! — digo, tentando controlar o riso.
Ela suspira, cruzando os braços sobre o peito.
— Belzebub, não teste minha paciência, estava aprontando alguma coisa! — ela resmunga, ainda brava.
Reviro os olhos, mas ela me acerta outro golpe no ombro. Seguro sua mão com rapidez, ela cora, virando o rosto para o lado.
— Vamos, nervosinha, vai entender quando chegarmos lá — respondo, alegre, a minha mão envolvendo a dela. Um sentimento de felicidade me invade, uma sensação nova e intensa que nunca experimentei antes.
Meus pensamentos estão repletos dela. Não há um momento do meu dia em que não lembre, não a imagine. O ponto alto do meu dia é estar na sua presença, seja apenas conversando ou ouvindo-a cantar. Muitas vezes, nem me lembro que o motivo da música são os treinos, a beleza da sua voz me transporta para um mundo onde só nós dois existimos. A alegria dela preenche meu ser.
É por isso que sei que, mesmo com a mente ocupada com outras coisas, ela sente falta da vida que tinha antes, e não quero que ela se sinta triste aqui. No mínimo, isso posso fazer por ela.
— Aonde vamos? — ela pergunta, a curiosidade evidente na sua voz.
Ao olhar para ela, não consigo conter o sorriso ao ver seus olhos brilhando como os de uma criança que ganhou um brinquedo. Acaricio sua mão, apressando o passo. Estou ansioso demais para ver sua reação.
— Aguenta um pouco, já vamos chegar! — digo, tentando controlar a minha empolgação.
O caminho foi curto, mas gratificante. Percebi o quanto ela é curiosa, não parou de perguntar para onde íamos. É engraçado, não estou irritado com a insistência dela, pelo contrário, rio a cada careta emburrada que ela faz.
Quando o campo se apresenta diante de nós, Aine para, os olhos arregalados, voltados para mim. De repente, sinto-me tímido, uma sensação estranha e desconfortável. É verdade que meu domínio no submundo é sombrio e melancólico, mas não quero que ela se canse disso. Criar este campo foi um esforço: enormes dunas de areia fina, grama verdejante e exuberante, um pequeno lago serpenteando entre elas. Apesar de ser dia, o céu está escuro, mas repleto de vaga-lumes, criando um ambiente mágico. Minha intenção era trazer um pouco do mundo das fadas para este lugar sombrio, uma tentativa de fazer algo por ela.
— Belzebub, por que não me trouxe aqui antes? — ela pergunta, maravilhada.
— Porque não existia até essa manhã — respondo em um sussurro, a minha voz rouca pela emoção.
Seu olhar volta para mim e minhas bochechas queimarem.
— Como assim? — ela pergunta, confusa.
— Sabia que se sentia um pouco triste por estar em um local tão sombrio. O mundo das fadas é cheio de luz, e você mesma emana luz por onde passa. Sei o quanto sente falta de lá, mas infelizmente não pode mais voltar. Então, queria que tivesse um lugar de que gostasse aqui... então fiz este lugar para você — admito, meu rosto completamente vermelho de vergonha.
Seus olhos se arregalam, ela cora intensamente antes de pular alegremente em meus braços. Sou pego de surpresa pela sua reação. O sorriso que ela me dedica ilumina todo o espaço, e sinto uma alegria que nunca experimentei antes. Não me lembro de ter sentido tanta felicidade ao ver a alegria de outra pessoa, mas a felicidade dela é como se fosse a minha própria.
— É tão lindo aqui, amei, obrigada, Bel! — ela diz, e seu abraço me envolve.
Abraço-a pela cintura, elevando-a até a minha altura. Surpresa, ela circula o braço em meu pescoço e sorrio, alegre.
— Tirei-a do seu lar, obriguei-a a ficar aqui. A culpa por estar sendo caçada é minha, se não pode voltar para seu lar, ou ao menos sair daqui, a culpa é toda minha. Isso não é nada, você merece o mundo inteiro — respondo, sincero.
— A culpa não é sua. Se fui julgada sem direito à defesa, a culpa é das fadas. A verdade é que nunca fui aceita lá — ela suspira, triste.
Meu abraço se aperta, acaricio suas costas com carinho antes de soltá-la. O sorriso leve que ela me dedica faz meu coração disparar.
— Mas isso não tira a minha responsabilidade. A forcei a vir e a coagi a ficar — acaricio sua bochecha, ela sorri, segurando minha mão. — Desculpa por isso.
— Nunca me prendeu ou vigiou. Se quisesse, poderia ter fugido desde o primeiro dia. Meus poderes funcionam bem contra seus demônios !
Olho para ela, incrédulo, fazendo-a rir.
— Por que não fugiu? — pergunto, sem entender. Ela poderia ter voltado para seu lar, apesar de desprezar o lugar de onde veio. Aine é boa demais para aquelas fadas.
— Não sei... realmente não sei — ela responde, o olhar distante, perdido em algum lugar além do nosso pequeno mundo.
Meu coração dispara. Antes que possa perguntar mais, seu olhar se fixa na toalha estendida na grama, e ela me puxa para perto do piquenique que preparei.
— Cozinhou também? — ela pergunta, surpresa.
Sorrio, sentando-me na grama macia e puxando-a para se sentar ao meu lado.
— Me ofende pensar que não seria capaz de cozinhar! — respondo, bem-humorado.
Seus olhos se arregalam ao ver a fartura de comida na toalha. Ela pega um pequeno bolo, leva-o à boca com hesitação, e depois suspira, satisfeita.
— Nossa! Isso está muito bom! — ela fecha os olhos, completamente extasiada.
Sorrio levemente, sentindo meu espírito mais leve, mais tranquilo.
Comemos em silêncio, sob o brilho suave da lua, que ilumina o local de forma mágica. A cada instante, ela olha encantada para o cenário, rindo alegremente ao ver os vaga-lumes cruzando o céu noturno.
— Não vamos treinar hoje? — ela pergunta, fazendo-me suspirar.
Pensei muito sobre isso. Mesmo querendo distância, meu corpo clama por sua proximidade. Neste momento, só quero isso.
— Pensei em apenas aproveitarmos a vista — respondo, tímido.
Ela sorri, encostando a cabeça em meu peito. Acaricio seus cabelos longos, sentindo uma paz que não sentia há muito tempo.
— Me fala mais sobre você!
— O que você quer saber?
Não há muito que ela não saiba já!
— Não sei... como você conheceu Hades? Por que ele o trata como se fossem irmãos? — a curiosidade dela é evidente, e eu rio.
Nem eu entendo o motivo!
— Longa história... para resumir, vim para o submundo procurando um meio de morrer. Enfrentei todos os monstros que vi em Helheim, mas nenhum conseguiu me matar. Então, soube do Imperador do Submundo, e mesmo ferido e cansado, o enfrentei. Mas ele também não conseguiu me matar — respondo, vagamente.
Ela se levanta, olhando para mim com incredulidade.
— Lutou contra Hades e venceu?
— Não exatamente, mas ele não conseguiu me matar. Depois disso, ele disse que eu era problemático, como seus irmãos, e passou a me tratar assim — respondo, carrancudo.
— Então são amigos? — ela pergunta, curiosa.
— Não sei dizer... somos conhecidos — resmungo, pensativo.
Sempre que precisei dele, Hades estava lá. Nunca neguei ajuda a ele, mas não sei se isso significa amizade.
— Você é incrível e precisa entender que as pessoas também acham isso! — ela diz, tirando-me dos meus pensamentos.
Abraço-a sem dizer nada. A culpa me pesa, ela me lembra o quanto sou horrível.
— Mas conte mais, estou curiosa sobre você — ela diz, tirando-me da minha miséria.
Ela sorri, encostando a cabeça em meu ombro, me olhando de canto.
— É bem curiosa, então? — pergunto, olhando-a com malícia.
— Sim, então diga-me: como você conseguiu reconstruir o irmão de Hades? — ela pergunta, me deixando surpreso.
Ela está muito bem informada!
— Andou pesquisando sobre mim? — pergunto, sem conter o sarcasmo.
— Talvez... porém quero ouvi-lo falar — ela responde, sorrindo abertamente.
Suspiro, negando com a cabeça, e começo a acariciar suas madeixas.
— Poseidon matou Adamanto porque ele é um idiota. Hades, obviamente, não permitiria que seu irmão morresse, então pediu a Hermes que pegasse os restos mortais dele e os trouxesse para mim.
— Entende de medicina? — ela pergunta, com uma curiosidade que a deixa ainda mais adorável. Sorrio em sua direção.
— Sim. Algumas partes do Adamanto foram trocadas por peças mecânicas, ele tem o tronco de um robô. Depois disso, mudou de nome, já que Poseidon o apagou da história grega. Agora ele é Adamas, e vive no submundo com Hades.
É idiota pensar que os irmãos de Hades são tão imbecis assim!
— Fascinante isso! As veelas têm poder de cura, ajudava muito no mundo das fadas! — ela responde, timidamente, atraindo minha atenção.
— Ouvi dizer que o poder das veelas é impressionante — digo, minha voz rouca, meus olhos fixos nos dela. — Vendo seus poderes de canto, a força e a magia que emanam... não duvido nem por um segundo.
A cor sobe em suas bochechas, e um rubor intenso colore seu pescoço. Meu próprio coração acelera, num ritmo frenético em meu peito. É uma sensação estranha, nova, a observo com fascínio, a beleza dela intensificada pelo rubor.
— Você... é o primeiro que me deixa sem graça — ela sussurra, a voz quase inaudível, os olhos desviando do meu. O olhar dela, porém, me busca, e a vejo corar ainda mais ao perceber que a estou observando. Um sorriso involuntário se forma em meus lábios.
— Isso é ruim?
— Não... isso só te torna único — ela responde, a voz baixa, mas firme. A sua sinceridade me surpreende, agora sinto meu rosto queimar.
Em resposta ao meu olhar, ela sorri docemente, buscando conforto em meus braços. Encosta a cabeça em meu peito e a abraço com ternura, sentindo seu corpo leve contra o meu. Observamos os vaga-lumes juntos, em silêncio, um silêncio preenchido por uma intimidade profunda e aconchegante. Neste momento, não preciso de mais nada além dela, da sua presença, do seu calor, da sua proximidade. Meu corpo se acalma, a paz me envolvendo por completo.
música ➜ Sofia Carson - It's Only Love, Nobody Dies
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