Capítulo 3- Conflito de decisões
Contém 3800 palavras.
Boa Leitura❤
Meu coração dispara, num ritmo frenético que eu havia esquecido. Anos de vazio, a crença de que a paz só chegaria com a morte... Mas seus passos, apressados, despertaram algo em mim. Uma vontade incontrolável, uma sede insaciável de tê-la perto, de a possuir. A vida pulsava nela, um brilho intenso que vi por um instante, enquanto a segurava em meus braços. E naquele instante... senti-me vivo de um jeito que não sentia há séculos.
Mas como? Como posso abraçar essa vida sem destruí-la?
Esquecer quem sou? Não é só me jogar no abismo, é levá-la comigo.
A vitalidade dela, a pureza que emana dela... fez o monstro em mim se esquecer por um instante. E isso é um erro fatal. Monstros como eu não têm finais felizes. Não adianta tentar mudar, não importa o quanto deseje ser diferente.
Queria ser normal. Viver sem causar dor. Mas essa é a minha maldição, minha condenação eterna.
Se pudesse apagar essa maldita memória... se pudesse esquecer quem sou... a tomaria para mim. Beijaria seus lábios e me perderia nela, sem pensar nas consequências.
Não posso. Não posso perder o foco. Qualquer distração, qualquer pensamento nela... é uma ameaça. Preciso ignorá-la, mesmo que essa seja a dor mais insuportável que já senti.
Droga!
Meu punho atravessa a parede, a raiva acumulada se estilhaçando em concreto. Mas a dor física não alivia nada. Só me faz perceber o quanto estou perdido, o quanto estou sozinho.
Ignorá-la... ignorar o brilho que emana dela... é como tentar ignorar o sol. Aqueles poucos minutos ao seu lado... me senti uma mariposa, cega, irremediavelmente atraída por uma chama que me consome.
Sou um monstro. Não posso esquecer disso, mesmo que cada célula do meu corpo implore por ela, mesmo que queira tomá-la em meus braços e fazê-la minha para sempre. Não mereço estar perto dela. Não mereço o toque da sua luz. Não mereço sua vida.
— Vou matá-lo... juro por tudo que é sagrado nesse mundo, vou acabar com esse monstro que tirou tudo de mim!
Os corredores parecem infinitos, o tempo se esticando enquanto corro em direção ao quarto. Mas talvez seja só a minha pressa, a minha incapacidade de enxergar direito, porque a minha cabeça está uma completa confusão.
O que fiz?
Como pude ser tão... imprudente? Tão... ousada?
Finalmente, alcanço o quarto, entrando como um foguete. Minhas mãos pressionam o peito, tentando controlar a batida frenética do meu coração. Não sei se é excitação ou medo. Talvez sejam as duas coisas, misturadas em uma explosão de sentimentos.
Nunca senti nada parecido. Nunca senti nada por ninguém. Quando comecei a cantar, era só uma demonstração de poder. Uma forma de mostrar a minha força. Mas... aquilo se tornou algo muito maior do que esperava.
Aquele olhar receptivo... seus olhos sedentos... famintos... o desejo crescendo entre nós... me deixou... excitada. Sedenta por ele, senti algo aflorar dentro de mim, algo que nunca reconheci antes. Algo profundo, intenso, avassalador. E, sem querer, usei meus poderes de um jeito que nunca imaginei. Não apenas intensificou o desejo dele... mas acendeu o meu próprio. O desejei e isso me assusta.
Como vou encará-lo agora? Como vou admitir o que senti? O que senti? Nem mesmo sei o que significa.
— O que aconteceu?
Fecho os olhos e a imagem dele invade meus pensamentos. O contorno do seu corpo, a minha pele arrepiada sob sua respiração, o meu coração disparado só de vê-lo... o calor do seu olhar, um desejo puro e avassalador.
É loucura. Isso não pode ser real. Não posso estar desejando ele.
Ele é só um idiota que me meteu nessa confusão. Mas... por algum motivo... estou aliviada por ele ter me tirado daquela situação. Apesar disso, estou presa a um dilema ainda maior. Envolvi-me com ele. E isso me coloca em uma situação terrível. As fadas são conhecidas pela sua bondade, mas elas nunca perdoam uma traição. Estar ao lado dele, mesmo que contra a minha vontade, me marca como uma rebelde, uma traidora dos meus.
Isso é injusto! Ele me salvou, sim, mas me condenou a algo pior.
E sei que não vou conseguir esquecer. Mas ele... ele vai ignorar. Vai fingir que nada aconteceu. Vai tentar me fazer sentir culpada, quando a culpa não é só minha.
Espera... não o forcei. Não o fiz desejar... quer dizer, manipulei as suas emoções, sim, mas foi ele quem deu o primeiro passo. Ele se entregou a isso sozinho.
Então... ele sente algo também? A pergunta me assusta, me deixa inquieta.
Preciso esquecer tudo isso. Ele é um perigo. Um perigo que não estou disposta a correr. Só a presença dele já me sufoca, me rouba o ar sem esforço. Se continuar assim... não vou sobreviver.
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Estou além da loucura. Trancada no quarto há três dias, desde aquilo. Não por vontade própria. Ele foge sempre que me vê, desaparecendo como fumaça, sem dar chance de conversa.
Como ele quer a minha ajuda se não me deixa sequer chegar perto?
Sei que há limites, barreiras que não podemos ultrapassar. Mas esse comportamento dele... está me irritando.
Encontrar um dos seus servos não foi difícil. Mas queria tanto não os ter encontrado. O desconforto é avassalador, a pressão é sufocante. Não é só o poder deles, é o olhar. Um olhar que percebe tudo, que penetra a alma. Cada um deles tem uma presença tão opressora que sinto o peso das suas intenções nos meus ombros, nos meus músculos.
Mas a situação exige medidas drásticas. E, por mais que quisesse evitar, não posso mais hesitar. Vou usar meus poderes.
— Olá! Poderia me mostrar onde está o Senhor Belzebub? — minha voz sai mais doce do que eu gostaria. Ele parece... hipnotizado. Isso não me conforta. A cada passo em direção a ele, uma sensação estranha me toma. Preciso manter a calma. A última coisa que quero é demonstrar fraqueza.
Ao menos, meus poderes funcionam nos demônios. Isso é um alívio.
Ele assente, impassível. O rosto severo, o olhar distante... Aquele olhar frio me observa, me analisa.
O corredor é sombrio, as paredes de pedra escura sugam a luz. O ar é pesado, denso, como se estivesse se afastando de tudo o que fosse vivo. A porta se abre, revelando uma biblioteca. Não é acolhedora, mas possui uma beleza austera, quase imponente.
Livros em capas de couro envelhecido lotam as estantes. A iluminação fraca das lâmpadas antigas torna o ambiente ainda mais pesado, como se o próprio ar estivesse impregnado de um saber antigo e perturbador. O cheiro de poeira e papel velho preenche minhas narinas. Mas o que me chama a atenção é o contraste: o calor tênue da luz e a frieza opressora do local. É aconchego e opressão misturados, como se a biblioteca guardasse segredos obscuros, recusando-se a revelá-los.
Belzebub está sentado em uma poltrona, os olhos fixos em um livro. Ele me viu chegar, mas, como sempre, mantém a distância. A indiferença dele é uma parede.
Ele me ignora deliberadamente.
— Sei que sentiu minha presença antes mesmo de chegar aqui! É muito rude ignorar as pessoas! — a irritação escapa em um resmungo.
Ele ergue os olhos lentamente. A expressão impassível, mas uma tensão sutil se revela no franzir quase imperceptível das sobrancelhas.
— Não estou ignorando. Só estou aqui há mais tempo, o que significa que quero ficar sozinho — a voz dele é séria, fria.
A distância dele só aumenta a minha irritação. Um suspiro de frustração escapa antes que ele me olhe com desdém.
— O que quer?
Não acredito! Ele me tirou do meu mundo, me fez virar as costas para tudo... para me manter à distância?
— Me trouxe aqui para me manter presa? — a petulância na minha voz é involuntária.
Belzebub suspira, os olhos se estreitando.
— Pelo que vejo, está livre! — a ironia na sua voz é cortante.
A raiva me invade. Ele não ajuda em nada a controlar meus poderes! Não sei como ninguém teve a coragem de matá-lo, irritante como ele é!
Não vou deixar que ele me irrite.
Ele desvia o olhar, um sorriso sarcástico nos lábios.
Acho que finalmente entendi...
— Está fugindo de mim? — aproximo-me lentamente, a distância entre nós ficando cada vez mais tênue, mas ainda assim mantenho um espaço seguro, perto o suficiente para que ele não possa me ignorar.
Sua respiração acelera, um contraste gritante com a frieza dos seus olhos. O ambiente parece se encolher ao nosso redor, e o silêncio entre nós se torna palpável. Ele fecha o livro, a ação ecoando como um sinal de que agora me dá atenção total. E isso... me deixa mais nervosa do que gostaria de admitir.
Mesmo tentando esconder, percebo a chama que arde em seus olhos, uma mistura de desafio e desejo que parece vibrar no ar. O calor da sua presença me envolve, fazendo meu coração disparar de uma maneira que não esperava.
Desvio o olhar, tentando recuperar o controle, mas a tensão é quase insuportável, como se algo estivesse prestes a romper a barreira entre nós.
— Conseguiu usar seu poder em mim, mas não por tempo suficiente. Vamos usar hipnose agora — a resposta dele é simples, direta, mas a tensão está em cada palavra.
Ele vai mesmo me ignorar assim?
— Não vai me responder? — a frustração transborda na minha voz.
— Não tenho motivo para responder — a secura da sua resposta é como uma bofetada. A fúria me queima por dentro.
Não! Ele não vai me tratar assim, como se fosse invisível. Também tenho vontades, desejos, e não vou me curvar a ele, como se fosse um mero brinquedo em suas mãos.
Um sorriso irônico dança em meus lábios. Aproximo-me, a minha perna roçando levemente na dele. Um simples toque, mas a eletricidade que percorre meu corpo é inegável. A reação dele é imediata, um enrijecimento quase imperceptível.
Ele não quer proximidade física... interessante.
— Belzebub, não vai mesmo responder à minha pergunta? — minha voz sai diferente, sedutora, num tom que me surpreende tanto quanto a ele. Nunca usei essa arma antes.
Seus olhos se fecham com força, a concentração visível na tensão de seus músculos. Um suspiro contido escapa, uma mistura de rendição e resistência, um conflito que me deixa fascinada. Ele está lutando... mas a batalha interna é visível.
Sorrio, sentindo o poder que emana de mim. Seu olhar encontra o meu, desafiador, e a carranca dele é uma máscara mal disfarçando algo mais.
— Diga-me, está fugindo de mim? — o sussurro é quase uma carícia, uma provocação explícita.
Seus punhos se cerram, o rosto contraído em uma expressão de esforço. Seus olhos se fecham com tanta força que parece que ele está tentando se apagar, se anular. Mas a luta interna é gritante, visível em cada músculo tenso, em cada respiração ofegante.
Não acredito que ele esteja usando os próprios poderes para resistir à minha persuasão. A força dele em me ignorar é... admirável. E, ao mesmo tempo, profundamente excitante.
— Belzebub... responde...
Seu olhar encontra o meu, um desafio silencioso. A proximidade é inevitável. Aproximo-me, sentindo a eletricidade no ar, a resistência dele como uma onda de calor contra a minha pele. Ele ergue seus muros, mas os sinto tremer sob o meu poder. Sua concentração em me ignorar é tão intensa que quase se torna palpável, um véu tênue que não consigo romper completamente, mas que sinto se esgarçando sob meu toque.
— Use a maldita hipnose! — A irritação na sua voz é uma admissão de sua própria vulnerabilidade.
Ele quer jogar?
— Então, foque no meu olhar, Senhor Belzebub — o sorriso malicioso se espalha pelos meus lábios enquanto seguro seu rosto, aproximando-o do meu com uma delicadeza que mascara a força da minha intenção. Sinto a sua respiração contra a minha pele, quente e agitada.
Suas pupilas dilatam, a frieza em seus olhos se derrete gradualmente, cedendo aos meus comandos. A rendição é lenta, mas inevitável.
— Vai escutar minha voz... mantenha a atenção nela... só quando ouvir 'acorda' você sairá do transe... estará a meu comando...
Em segundos, ele está totalmente sob meu poder. É estranho... porque, apesar de saber que ele sabe o que estamos fazendo, não consigo evitar um desejo estranho. Quero que ele confie em mim. Não para usá-lo, não é isso. Mas a curiosidade... ela me consome.
— Está fugindo de mim? — minha voz é suave, quase um sussurro.
— Sim... estou... — a resposta dele é vaga, desconectada.
Franzo o cenho. Confusão. O que está acontecendo? Por que ele age assim?
Ele é Belzebub, príncipe do inferno. Alguém com tanto poder... mas por que está fugindo? Ele não pode estar levando isso tão a sério... não é? Um príncipe, um Deus... fugindo? Não faz sentido.
— Por quê? — a pergunta escapa, antes que possa me controlar.
Meu peito ainda aperta. Meus pensamentos são um turbilhão. Há algo na fragilidade dele, algo tão profundo e vulnerável que é impossível ignorar. A linha que nos une é tênue demais. Sei que, com um movimento, ele pode cortar tudo, bloquear meus poderes.
— Faça o que seu coração deseja — a frase escapa dos meus lábios como um suspiro, um convite e uma ameaça entrelaçados. A vulnerabilidade que transparece nele é um ímã, mas também uma chama que pode me consumir. Se ele deseja a aniquilação, se esse é o seu destino sombrio, não posso impedi-lo. Mas há algo mais, um mistério que me fascina e me aterra, algo que se esconde em seus olhos escuros, algo que ele não me diz, um segredo que pulsa entre nós como um segundo coração.
Não posso perguntar diretamente. Ele erguerá seus muros impenetráveis, bloqueará meus poderes, me deixando à mercê de sua escuridão. O que ele esconde? O que o faz fugir, não de mim, mas de si mesmo?
Seus olhos brilham, como naquela noite fatídica em que nossos mundos colidiram, um choque de poder e desejo. Antes que possa reagir, ele me envolve em seus braços, um abraço que é ao mesmo tempo uma prisão e uma libertação. O impacto é avassalador, corpo contra corpo, calor contra calor, desejo contra medo, uma batalha travada em silêncio, na pele. Sinto seu coração batendo contra o meu, um ritmo frenético que ecoa no meu próprio sangue, uma pulsação que nos une e nos separa.
Suas mãos descem pelas minhas costas, um toque suave que me deixa em brasa, uma carícia que me arrepia. Seus dedos se entrelaçam nos meus cabelos, a pele queimando contra a minha, um contato que me deixa sem fôlego, um prenúncio do que está por vir. O desejo é intenso, irresistível, um veneno doce que me consome, me deixa à beira do abismo.
Não posso deixar que isso aconteça. Não agora. Não assim.
— Acorda! — a urgência na minha voz é inegável. Não posso deixar que ele faça algo de que se arrependa.
Seu olhar vai ganhando foco lentamente. Ele não se move. Apenas observa nosso abraço. A surpresa em seu rosto é visível, mas sua mão se aperta contra mim. Seu coração bate desesperadamente contra as minhas mãos. Seu aroma me invade, me deixa tonta.
— Está tudo bem... não te forcei a fazer isso — o murmúrio contra seus lábios tenta transmitir tranquilidade, mas a minha própria insegurança me trai.
— Por que não aproveitou a chance para me matar? — a pergunta dele, um sussurro, me atinge, mas não tanto quanto a vulnerabilidade por trás dela.
— Não acredito que queira isso — a afirmação sai hesitante, a dúvida me deixando tensa.
Seu semblante muda. A mudança é instantânea, brutal. Ele me solta, o olhar se tornando furioso, ameaçador. A rapidez da transformação me congela. Ele não está mais vulnerável. Está pronto para me expulsar.
— Não sabe de nada! — a rosnado dele me lembra o quão perigoso ele é.
— Então me diga! Se quisesse isso, teria feito, já que ordenei que fizesse o que seu coração mandasse! — a minha resposta é direta, o conflito entre nós agora é explícito.
Ele suspira, irritado.
— Só tem um trabalho! Use a maldita hipnose e me mande acabar com isso, nada, além disso, entendeu? — a fúria dele é palpável.
Não entendo. Ele não parece alguém que queira morrer. Nos poucos momentos em seus braços, senti algo vívido, algo intenso, que não condiz com o desejo de fim. Por que ele acredita que merece a morte?
Há algo profundamente enraizado em seu coração, uma dor que o consome. Se ele realmente quisesse acabar com tudo, já teria feito.
— Poderia ajudá-lo... a superar esse trauma... confia em mim — o sussurro é um fio de esperança.
Ele respira fundo. Seus olhos se tornam vazios, os sentimentos trancados atrás de uma parede intransponível.
Ele não vai desistir disso.
— Não pode me ajudar, apenas me mate quando tiver oportunidade!
Nenhum ser merece esse destino. Não posso matá-lo. Sei que posso ajudá-lo, mas fiz uma promessa a mim mesma: não forçar nada.
— Usarei a persuasão, atendendo ao seu pedido, mas você ainda usa seus poderes para me barrar. Isso não me deixa totalmente à sua mercê. Então, não reclame se não for suficiente — tento manter a calma, embora a situação me afete profundamente.
Ele assente, os olhos vazios. O vazio entre nós é profundo, intransponível.
Fecho os olhos, concentrando minha energia. A linha entre nós é mais forte agora. O medo é real, mas preciso fazer isso.
Minha mente busca uma solução. Um objeto prateado sobre a mesa chama a minha atenção: um pequeno punhal. Não é o que queria, mas é o que tenho.
— Pode pegar aquele punhal? — a voz sai suave, mas minha mão treme.
Ele caminha até a mesa, pega o punhal. O peso do momento aperta meu peito. Meu coração para por um instante.
Terei coragem?
— Acerte seu coração com ele... — o sussurro é quase inaudível, carregado de dor.
O punhal reluz sob a luz fraca, a lâmina cintila, um reflexo da minha própria hesitação. Ele o aproxima do peito, mas, antes que ela o toque, algo em mim explode, uma intuição terrível. O som de passos ecoa no silêncio sepulcral da biblioteca, um som que rasga o ar pesado.
Reajo instintivamente, movida por um impulso primitivo, arranco o punhal de suas mãos. A lâmina se crava na minha própria pele, a dor aguda, intensa, me atingindo como um raio. O choque me paralisa por um instante, a visão turva, a respiração presa na garganta. O sangue escorre, quente e espesso, pintando a minha mão de vermelho.
O choque nos olhos de Belzebub é palpável, mas logo é substituído por uma confusão ainda maior. Então, ele se materializa na porta, a sua presença tão avassaladora que parece remodelar o próprio espaço. A aura de poder que o envolve é quase palpável, uma força que me deixa sem fôlego.
Ele não é exatamente um homem. Alto, imponente, com um tapa-olho no olho direito, seus longos cabelos prateados parecem desafiar a gravidade. Uma tatuagem de folha na testa, uma gargantilha pontiaguda no pescoço, um piercing na orelha esquerda e outros menores. Casaco de gola alta com emblemas, calças brancas impecáveis, sapatos elegantes e quadrados.
Ele nos observa com um olhar maroto, quase cínico.
— Não acreditei quando ouvi os boatos, mas vendo-os assim... — seus olhos se voltam para Belzebub, que parece atônito. O sorriso do homem se amplia. — Então, essa é a sua noiva?
A cena é desconcertante. Eu, com o braço nas costas de Belzebub, quase colada a ele, e ele me segurando como se eu fosse fugir. Tento esconder o punhal, mas o metal contra sua pele me faz estremecer. A posição desconfortável se torna íntima. Curo meu ferimento rapidamente antes de minha mão tocar suas costas. Ele se tensiona, paralisado.
— Como soube disso? — Belzebub murmura, incrédulo.
O homem sorri enigmaticamente.
— Digamos que proclamá-la como sua noiva na frente das fadas não é exatamente a maneira mais discreta de ser... discreto — a ironia é evidente.
Observo Belzebub se encolher levemente. Sorrio, meus olhos fixos nele.
— Falei para o Bel que não era apropriado, mas ele não quis ouvir — provoco, beliscando suas costas.
Ele revira os olhos, me ignorando.
— Não fomos apresentados. Sou Hades, Deus do Submundo. — A reverência é mínima, mas a presença dele permanece imponente. — E você, quem é?
Meu corpo trava ao ouvir seu nome. Hades. O imperador. O senhor desse lugar. O peso do seu título me atinge. Ele não é apenas um Deus. Ele está acima de todos.
— Aine... uma veela, como pode ver — minha voz sai baixa, trêmula. Hades sorri levemente.
Quais são os protocolos diante de um Deus? Meu coração dispara. Sinto-me deslocada.
— O que quer aqui? — Belzebub pergunta secamente, me afastando.
— Só checando — os olhos roxos de Hades estão fixos em Belzebub, observando-o com seriedade. Pela primeira vez, vejo Belzebub reagir como uma criança que foi pega em algo impróprio. — Está mesmo noivo?
Belzebub parece menor diante de Hades. A presença do outro Deus o fez encolher mais que qualquer ameaça. Algo me diz que Hades é como um irmão mais velho.
— Estou! — a resposta de Belzebub é quase inaudível.
Hades olha para ele por um longo momento, seus olhos carregados de um peso incompreensível.
— Não quero confusão ou guerra com as fadas — a voz de Hades é grave, autoritária.
— Não sou uma criança para que fique de olho — Belzebub suspira, exausto.
— Espero que não precise que fique de olho! — o sorriso travesso de Hades é irônico.
Belzebub revira os olhos.
A conversa toma um rumo inesperado. Minha curiosidade se mistura com apreensão.
— Por que isso seria da sua conta? — a pergunta escapa.
Hades se vira para mim, o olhar penetrante.
— Conheço o suficiente dele para duvidar — ele olha para Belzebub. — Aliás, tenho certeza de que há algo nisso. Se for mentira, mandarei você de volta ao seu mundo, já que, pelo que me disseram, sua cabeça está a prêmio. Mas ninguém se atreveu a procurá-la por medo de Belzebub.
A rainha... O pânico me invade. Nunca imaginei que seria caçada. Mas agora tudo faz sentido. Tudo o que temi está acontecendo.
Belzebub mantém a calma, mas a tensão em seus olhos é visível. Ele não parece preocupado. Claro, sua vida não está em risco!
— Não é mentira, Hades. Estamos noivos e resolvi trazê-la para cá — a firmeza na voz de Belzebub contrasta com o brilho divertido, quase curioso, nos olhos de Hades.
Não sei o que está acontecendo. Não sei se tenho forças para continuar.
— Espero que saiba o que está fazendo. Não vou me meter, mas seja discreto — a declaração de Hades, antes de sair, deixa uma inquietação profunda no ar.
Assim que ele se vai, Belzebub me solta. Afasto-me, a raiva queimando minhas veias.
— E agora, meu senhor? — a ironia na minha voz mal disfarça a raiva.
— Continuamos com o plano — a frieza na sua voz e em seu rosto é glacial.
Minha frustração explode. Solto uma risada incrédula.
— Não tenho escolha, não é? Você vai morrer, e vou encontrá-lo, porque o mundo inteiro está à minha procura por sua causa!
— Só dizer que obriguei você — a resposta dele é impassível.
Respiro fundo, tentando controlar a raiva. As lágrimas ameaçam escapar.
— Quem vai acreditar no que diz uma veela? — minha voz se quebra. Não consigo mais me controlar.
Dou as costas e corro. Meu mundo desmorona. A incerteza sobre o futuro me consome.
Aparência do Hades
Hades é um dos representantes da sétima rodada do Ragnarok, preenchendo o lugar de Buda após a traição do mesmo na rodada anterior. Divindade do panteão grego, um dos mais importantes, sendo parte da tríade grega junto dos irmãos Poseidon e Zeus, apesar de ter outro irmão chamado Adamanto.
Muito temido e respeitado por todos os deuses, sendo considerado o "Deus que os outros mais confiam".
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