Capítulo 10 - É a minha Aine
Contém 3680 palavras.
Boa leitura❤
O riso de Maya ecoa, pintando minhas bochechas de vermelho. Ela se aproxima, segurando um copo verde, os olhos brilhando em animação.
— Tome, é para a ressaca — ela me alcança o copo. Hesito, meu olhar fixo em Maya. A cautela me domina, meu corpo tenso, preparado para qualquer eventualidade. — Suco de abacaxi, hortelã e couve!
Cheiro o copo com cuidado, sentindo o aroma doce e refrescante, mas a desconfiança permanece. Velhos costumes não morrem, entre as fadas, não é comum aceitar bebidas sem saber o que é. Ela gargalha, e sua alegria me deixa ainda mais confusa.
— É bom, bebe, vai me agradecer!
Tomo o conteúdo do copo. O suco explode na minha boca, uma cascata refrescante que acalma a sede e a tensão dos momentos anteriores. É doce, levemente ácido, uma explosão de sabores que me surpreende.
— É bom! — a constatação escapa de meus lábios, num sussurro surpreso.
Ela ri, sentando-se na cama. Seu sorriso, no entanto, não me convence totalmente.
— Para quem nunca bebeu, foi bem divertida, aliás parecia mais uma criança que nunca conheceu o mundo!
Arregalo os olhos, surpresa com sua observação.
"É confuso pensar que nunca realmente vivi de fato. A lembrança me atinge como uma onda, uma inundação de emoções e sensações que me roubam. Um aperto no peito, um vazio imenso, uma incerteza que me consome. Imagens do passado emergem, fragmentadas, confusas, como um quebra-cabeça incompleto. A opressão me sufoca, a sensação de estar prestes a desabar é avassaladora.
Comecei a ter vontade, um desejo intenso e incontrolável, de que meus desejos fossem aceitos por Belzebub. A lembrança de seu toque, a textura áspera de sua pele contra a minha, o cheiro inebriante do seu perfume, um aroma terroso e quente que me arrepia até hoje. Um calor intenso, de seu olhar, me invade, me deixando arrepiada. Um calor intenso, como brasas sob a pele, me percorre, misturando-se à excitação e ao desejo. Ele nunca me repreendeu, nunca me fez sentir inferior. A liberdade ao seu lado era inebriante, uma sensação de poder e controle que nunca experimentei antes.
Claro que ele me levou para lá contra a minha vontade, mas, mesmo assim, o submundo foi o único lugar onde pude viver sem regras, sem a opressão constante das fadas. A lembrança me deixa com um misto de culpa e gratidão, uma sensação complexa e contraditória que me deixa confusa e desorientada. Talvez esse seja o motivo de ser tão imatura, tão despreparada para lidar com as regras e as expectativas da sociedade humana. A minha vida sempre foi controlada, sempre tive que obedecer, nunca pude ser quem realmente sou.
Aine não fala a menos que seja solicitada...
Seja paciente e deixe que eu lidere...
Você é uma veela, não deve se intrometer, isso é assunto das fadas...
Belzebub me libertou, mesmo que seja de um jeito torto. Ao seu lado, posso falar o que penso, posso ser quem sou, e não serei repreendida por isso. A liberdade que senti ao seu lado foi inebriante, uma sensação de poder e controle que nunca experimentei antes.
— Então, Aine, o que faz na cidade do pecado? — A pergunta de Clara me interrompe. Seu olhar curioso me deixa desconfortável. O ar está denso, carregado de perfume e um leve cheiro de álcool.
Olho para a loira de olhos azuis como o céu, um azul intenso e vibrante que me hipnotiza. Apesar do rosto meigo e delicado, com traços suaves e delicados que a tornam incrivelmente atraente, já percebi que ela tem uma língua um tanto ferina, capaz de lançar palavras como dardos envenenados. Mesmo assim, algo em seu jeito me agrada, uma espontaneidade e sinceridade que me tocam. Ela me lembra um pouco da Carlin, talvez minha única amiga no mundo das fadas.
— Cidade do pecado? — pergunto ao me tocar no nome da cidade.
Arregalo os olhos, minha expressão é uma mistura de surpresa e confusão.
Não é uma cidade no mundo humano? Será que ainda estou no submundo?
Meu corpo treme levemente e uma onda de suor frio me percorre.
— Los Angeles recebeu esse nome devido aos inúmeros... entretenimentos — Maya responde, animada e entusiasmada, seu sorriso radiante e contagiante. Ela gesticula com as mãos, enfatizando suas palavras, e seus olhos brilham com entusiasmo.
Suas amigas riem alto, uma onda de alegria e euforia que me envolve como um abraço. O som de suas risadas é contagiante, um sorriso hesitante se espalha pelos meus lábios. Mas, ao mesmo tempo, uma sensação de confusão e desorientação me domina. Olho para Maya, minha expressão, uma mistura de curiosidade e incompreensão.
— Vocês humanos são tão diferentes — sussurro, minha voz baixa e quase inaudível, carregada de incompreensão.
Como uma cidade que tem nome de anjo é do pecado? Aqui é algo de punição? Se for, como os deuses permitem isso?
— Você era do campo ou algo assim? — Clara pergunta, rindo, seu olhar divertido me deixando levemente desconfortável.
A pergunta me pega de surpresa, coro fortemente, sentindo-me levemente deslocada e fora do lugar.
— Algo assim... passei a minha vida toda em uma... fazenda — digo, minha voz hesitante e insegura. Sinto um nó na garganta, e meus olhos ardem levemente. — É a primeira vez que saio dela para falar a verdade, por isso sou um pouco perdida nas suas gírias? — mais pergunto que afirmo, minha voz quase um sussurro.
É meio difícil conversar com os humanos, sendo que nem ao menos consigo entender o que eles falam!
Elas me olham por longos segundos, seus olhares curiosos e inquisitivos me deixam ainda mais insegura. O silêncio se estende, pesado e denso, me sufocando. Até que Clara ri levemente, um som suave e melodioso que quebra o silêncio.
— Já que nunca conheceu o mundo, é nossa obrigação mostrar os prazeres da cidade a você! — Clara comenta, rindo, seu sorriso radiante e contagiante.
Suas amigas gritam animadas, suas vozes vibrantes e cheias de energia me envolvem como um abraço.
Sorrio levemente e ergo minha tequila em concordância, meu movimento lento e hesitante. A bebida arde em minha garganta, um gosto forte e estranho que me deixa surpresa. É muito mais forte do que esperava, meu corpo reage, a mente um pouco turva e meus movimentos lentos. Observo as outras mulheres e percebo que estou me enturmando naturalmente.
— Vamos à boate! — Maya grita para as amigas, sua voz vibrante e cheia de energia. As outras mulheres concordam, seus gritos de entusiasmo ecoam no ambiente.
Olho para Maya, minha expressão, uma mistura de confusão e curiosidade.
— O que é boate? — A pergunta escapa dos meus lábios como um sussurro, minha curiosidade evidente em minha expressão. Meus olhos brilham com expectativa, e meu corpo se inclina levemente em direção à Maya, ansiosa por uma resposta.
— Temos muito que ensinar a você! — Maya pisca marotamente, seus olhos brilhando com diversão. Seu sorriso é radiante e contagiante, meu corpo relaxa levemente sob seu olhar. Ela me puxa para fora da Casa das Luzes, seu toque firme e decidido me transmite.
As ruas são diferentes de tudo o que já vi, mesmo tendo emergido de um portal próximo a esse local. Não consigo entender como eles conseguem ter uma pista tão escura, tão diferente de tudo o que conheço. A ausência de elementos naturais me deixa com uma sensação de vazio e melancolia.
Aqui não tem natureza, mas é cheio de luzes, um contraste estranho e perturbador que me deixa confusa e desorientada. A quantidade de luzes me deixa com uma sensação de opressão e claustrofobia. É um pouco triste, uma sensação de solidão e isolamento que me deixa com um nó na garganta.
Maya me puxa animada pelo local movimentado, sua energia contagiante me envolve como um abraço. Mas, ao mesmo tempo, sinto um medo crescente, uma sensação de pânico que me deixa sem fôlego. O barulho é ensurdecedor, uma mistura de vozes, músicas e sons que me deixa sobrecarregada. Tantas pessoas circulando, muitas de maneira estranha e imprevisível, me deixam ainda mais assustada. Ela caminha alguns segundos, até parar perto de alguns objetos estranhos, grandes e metálicos, que me deixam confusa. Suas amigas se dividem e entram nos objetos, e Maya me puxa animada para um deles.
Arregalo os olhos, surpresa e confusa. O interior do objeto é diferente do exterior, com bancos e um ambiente aconchegante. Mas por fora, é apenas metal, frio e impessoal. A contradição me deixa intrigada.
O que é isso?
Olho incrédula ao redor, meu olhar percorrendo cada canto do local, mas não consigo entender o que está acontecendo. A curiosidade me domina, mas o medo me impede de perguntar. Não quero parecer mais esquisita do que já sou para elas.
O objeto começa a se mover, um movimento suave e silencioso, meu corpo se contrai em surpresa. Pulo para a janela de vidro, meu corpo vibrante de adrenalina, e olho espantada para as ruas se movendo. A sensação de movimento é intensa, meu estômago se revira.
Estou parada, mas a Casa das Luzes onde estávamos ficou para trás. Como pode isso?
A sensação de estranheza e desorientação me domina, meu corpo treme levemente. A tecnologia humana é tão avançada, tão diferente de tudo o que conheço.
As meninas conversam animadas, suas vozes vibrantes e cheias de energia ecoam ao meu redor. Elas parecem completamente alheias ao que se passa ao redor, imersas em sua própria bolha de alegria e entusiasmo. Mas eu não consigo tirar os olhos da janela, meu olhar fixo no movimento frenético das ruas. A cena me deixa fascinada e, ao mesmo tempo, assustada.
Os humanos são estranhos demais...
O objeto para e as meninas saem dele ainda mais animadas, suas risadas ecoando no ar. Sigo o exemplo delas, meu corpo hesitante e inseguro. Entro no local, um pouco receosa, mas minha atenção é imediatamente voltada para a casa em frente, um prédio imponente e iluminado com luzes intensas e gritantes.
Ao adentrarmos, fico momentaneamente surda. O som alto e ensurdecedor me atinge como uma onda, uma mistura de música, vozes e outros ruídos que me deixam sobrecarregada. A quantidade de pessoas é imensa, um mar de rostos e corpos que se movem freneticamente.
Não consigo compreender como isso pode ser diversão, a experiência é tão intensa e sobrecarregada que me deixa confusa e desorientada. Mas, ao mesmo tempo, observo os humanos ao redor, e percebo que eles se divertem, que eles se sentem bem nesse ambiente caótico e barulhento.
— Essa é a doate? — pergunto, minha voz quase um sussurro perdido no mar de ruídos. Minha expressão é uma mistura de confusão e incredulidade.
Maya ri, balançando a cabeça levemente, seu sorriso radiante e contagiante.
— Boate! Está lotada, mas é a mais animada! —Maya me puxa para o centro da multidão, ela pula animadamente, seu corpo vibrante de energia, e então se volta para meu ouvido, aproximando-se para que possa ouvi-la por cima do som alto. — Exchange LA é uma das boates mais frequentadas!
Olho curiosamente para o local amplo, um espaço de quatro andares bem decorado e iluminado. A decoração é sofisticada e elegante, uma sensação de admiração e fascínio me percorre. É bonito, e a música começa a tocar mais animadamente, seu ritmo contagiante me envolve como um abraço. As meninas pulam alegres, seus corpos vibrando de energia. Apesar de não conhecer esse tipo de ambiente, não parece ruim.
— Vamos beber! — Clara comenta, sua voz animada e contagiante quebrando o silêncio. Ela nos puxa para perto do bar, a energia dela é contagiante.
Bebo a bebida rosa que ela me oferece, um líquido doce que me deixa surpresa. O gosto é forte e intenso, uma sensação de calor e euforia que me deixa levemente tonta. Depois vieram as roxas, azuis, cada uma com um sabor e aroma diferentes, todos fortes e intensos, uma explosão de sensações que me deixa cada vez mais desorientada. Não tem comparação com as bebidas das fadas, leves e delicadas, com aromas suaves de flores e frutas. As bebidas humanas são fortes demais, meu corpo reage, minha mente fica cada vez mais turva. Quando percebo, o mundo já está girando, as imagens se sobrepondo em um turbilhão de cores e formas.
Não estou mais raciocinando, minhas ideias se confundem e a realidade se torna cada vez mais distorcida. Mas, mesmo assim, não consigo esquecer dele, a lembrança de seu rosto, de seu toque, me assombra.
Por que meu cérebro não para?
A sensação de impotência me consome, meu corpo treme levemente.
— Aquele idiota! — A palavra escapa de meus lábios como um rosnado, um grito silencioso de raiva e frustração.
Maya me olha confusa.
— Quem é o idiota que feriu seu coração? — Maya pergunta, preocupada.
Não consigo conter as pequenas lágrimas que escorrem pela minha face, quentes e salgadas, como uma inundação que me afoga. A dor é intensa, uma dor que me rasga por dentro.
— Ele teve a audácia de tirar-me de onde vivia, proclamar-me como noiva perante a minha... família — digo, minha voz embargada pela emoção. — Agora não posso mais voltar para lá!
Meu corpo está todo entorpecido pela bebida, mas a dor não passa, meu coração continua doendo. A sensação de perda e abandono me consome.
— Bem, já que é noiva dele, por que não está com ele? — Clara pergunta, sua voz direta e sem freios.
A pergunta me pega de surpresa, Maya a olha furiosamente, sua expressão é uma mistura de raiva e reprovação.
— Clara! — Maya a repreende, sua voz firme e autoritária. Clara dá de ombros, como se não se importasse com a reação de Maya.
Sorrio tristemente, uma expressão de resignação e tristeza que me deixa ainda mais desolada.
— Não temos realmente nada — as palavras escapam de meus lábios como um sussurro, carregadas de tristeza e resignação. — Ele apenas queria usar meus... conhecimentos para ajudá-lo — continuo, minha voz quase inaudível. — Inclusive disse com todas as letras que não sou a mulher que ele escolheria!
As lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto, quentes e salgadas, como uma inundação que me afoga. A dor é intensa, uma dor que me rasga por dentro. Maya sorri tristemente, seu olhar cheio de compaixão e compreensão. Ela me puxa para um abraço terno e reconfortante.
Mesmo a conhecendo há pouco tempo, me senti querida, quase como se ela fosse mesmo uma amiga para mim. A sensação de acolhimento e pertencimento me deixa emocionada, meu corpo relaxa levemente em seus braços.
— Não chore, minha querida — Maya diz, sua voz melodiosa como uma canção de ninar. — É muito nova... tem o mundo para conhecer — continua, sua voz cheia de esperança e otimismo. — Veja o lado bom: agora pode fazer o que quiser!
— Devia mandar ele se foder! — Clara retruca, sua voz direta e sem rodeios.
A sinceridade dela me faz rir, uma onda de alívio me invade. Maya também ri, seu sorriso radiante e contagiante.
— Estou sendo sincera — Clara continua, sua voz firme e decidida. — Ele ou é muito idiota, ou é gay para dispensar você. Além de ser linda, é um mulherão da porra. Que homem não iria querer ficar com você?
Nenhuma das opções... ele só é traumatizado demais, com isso acaba magoando as pessoas ao seu redor...
Suspiro, bebendo mais.
Maya revira os olhos, num gesto divertido que me faz rir. Ela me puxa em sua direção, seu toque firme e decidido.
— Homens não gostam de perder— Maya declara, animada e confiante. — Faça-o ver o que perdeu!
Seria uma boa ideia, se não fosse sair mais machucada. Ele não está nem aí, do que adiantaria?
— Isso aí! Deixe-o de bolas azuis! — Clara declara, sua voz cheia de entusiasmo. As meninas riem, suas risadas ecoam no ambiente. A energia delas é contagiante, e meu ânimo aumenta.
Olho curiosamente na direção da humana. Não entendi nada do que ela disse, as palavras me escaparam como areia entre os dedos. A gíria humana é tão diferente da minha, tão cheia de nuances e sutilezas que me deixam confusa e desorientada. Mas não quis perguntar, meu orgulho me impediu de mostrar minha ignorância.
— Temos tanto a ensinar... sinto-me uma devassa levando a boa moça para o mau caminho! — Clara retruca, animada e divertida. A sinceridade dela me deixa à vontade.
— O novo plano é tirar você da fossa — Maya comenta, seu sorriso gentil e encorajador me trazendo uma sensação de paz. — Vamos mostrar o mundo a você — continua, sua voz cheia de esperança e otimismo.
Pela primeira vez desde que saí do submundo, me sinto em paz. A sensação é inebriante, uma onda de tranquilidade e bem-estar que me deixa sem fôlego. A tensão e a insegurança que me acompanhavam desde que cheguei ao mundo humano desaparecem."
Uma gargalhada estrondosa irrompe de Maya, ecoando pelo ambiente e me arrancando do turbilhão de lembranças. A vibração da risada percorre meu corpo, um tremor que não sei se é de alegria ou desconforto. Seus olhos brilham, um brilho intenso e divertido, como se ela pudesse ler meus pensamentos mais íntimos. Minhas bochechas queimam, uma onda de calor subindo do meu pescoço até as minhas orelhas.
— Adorei a noite de ontem, obrigada — digo, um sorriso hesitante, quase tímido, se formando em meus lábios.
— Se as mulheres fossem mais unidas... o que importa é isso — Maya responde com gentileza, seu olhar compassivo e compreensivo me envolve como um abraço reconfortante, com tanta sabedoria, como se ela tivesse vivido minhas dores.— No fundo, somos todas irmãs, então não tem o que agradecer. Fiz o que gostaria que fizessem por mim.
— Já sofreu... por amor? — a pergunta escapa, carregada de uma curiosidade que me consome. Meus olhos brilham com uma expectativa quase infantil, e meu corpo se inclina levemente em sua direção, ansiosa por sua resposta. Meu coração bate forte no meu peito, num ritmo frenético que acompanha a minha ansiedade.
Maya solta outra gargalhada, sonora e contagiante, seus olhos brilham com diversão. Observo seus lábios se curvarem em um sorriso radiante, uma expressão de alegria que me contagia, mesmo em meio à minha própria tormenta.
— Demais! Foram muitos relacionamentos fracassados, até encontrar meu amor — ela responde, seu sorriso radiante e contagiante, como um raio de sol em um dia nublado. Mas, mesmo diante de sua felicidade, uma onda de solidão me atinge com força.
Olho para minhas mãos, entrelaçando meus dedos com força. A sensação de solidão e desespero me invade, um frio intenso me percorre, como se um vento gélido estivesse soprando diretamente sobre minha pele. Meu corpo treme levemente, uma demonstração física da minha fragilidade emocional. Estou tão perdida, tão desorientada, como se estivesse à deriva em um mar de incertezas, sem rumo, sem direção. A angústia me sufoca, uma sensação física de opressão que me deixa sem ar.
A lembrança de Belzebub, a intensidade avassaladora do que sinto por ele, me assombra. É um sentimento tão único, tão intenso, que me deixa com medo de jamais amar alguém novamente. Mas, se ele não é para mim... a angústia me aperta o peito, uma dor lancinante que me faz querer gritar. A ideia de viver com essa dor, sozinha, me paralisa.
— Cada sentimento é único — a voz de Maya, suave como uma brisa em um dia quente, quebra meus pensamentos. — Apesar de o meu Gregori ser perfeito com suas imperfeições, levou tempo até que chegássemos ao momento em que estamos. Por isso, o importante é estar bem antes de tomar qualquer decisão.
Um sorriso leve, quase imperceptível, surge em meus lábios. Suas palavras são um bálsamo para minha alma ferida. Ela tem razão. Vou me concentrar em mim, em curar meu coração machucado, antes de pensar em qualquer outra coisa. A tensão e a insegurança que me acompanhavam se dissipam como fumaça ao vento.
O vidro trinca sob a força da minha mão, estilhaçando-se em mil pedaços. A dor aguda na minha pele é insignificante comparada à que me consome por dentro. Jogo o copo com violência, o som do impacto ecoando na sala vazia, um reflexo da fúria que me consome. Pego outro, encho-o até a borda e o esvazio em um único gole. O álcool queima minha garganta, uma sensação que, por um instante, me alivia.
A loucura me domina. A incapacidade de raciocinar me deixa ainda mais furioso.
Inacreditável! Os melhores caçadores do submundo, e eles a perderam?
Meu crânio lateja, uma dor constante que acompanha a pontada incessante no meu peito. Cada batida do meu coração é um eco da minha própria agonia.
O som da porta range, me arrancando dos meus pensamentos. Vejo alguns demônios hesitantes na entrada, seus olhares cautelosos e inseguros me analisando.
— Fale logo! — minha voz sai como um rosnado, carregada de impaciência e raiva.
Eles abaixam a cabeça, evitando meu olhar furioso.
— Senhor, procuramos em todo canto... nenhum sinal dela... é como se ela não existisse! — a voz treme, carregada de medo.
Um riso frio e amargo escapa dos meus lábios.
— Em pensar que a humanidade teme um bando de idiotas! — atiro o copo contra a parede, o vidro se espatifando com um estrondo que os faz pular. — Vocês não conseguem encontrar uma veela? Patético.
— Senhor...
— Silêncio!
Aproximo-me deles, a fúria me consumindo. Sinto meu sangue ferver, as veias latejando em meu pescoço.
— Quero que vasculhem cada mundo, cada canto, até encontrá-la! — rosno, a voz carregada de uma raiva incontrolável. — E torçam para que ela esteja bem!
Eles assentem, aterrorizados. O líder do esquadrão me olha com olhos frios, um olhar que tenta decifrar minhas emoções.
— Senhor, sei que as veelas são extremamente raras, mas pode haver outr...
Não o deixo terminar. Minha mão fecha em torno de sua garganta, apertando com força.
— Cuidado com o que diz! Aine é minha, não existe outra! — rosno, apertando ainda mais. Sinto a força bruta em meus dedos, a satisfação de ter o controle sobre a vida dele. — Não se questionem, apenas obedeçam!
Solto-o, o ar voltando aos seus pulmões com um chiado. Eles assentem, desaparecendo na escuridão.
Passo as mãos pelos cabelos, sentindo meu crânio latejar ainda mais forte. A dor física é um reflexo da dor que me consome.
Encontrar outra? Não existe outra como ela. Milhares de veelas podem existir, mas nenhuma delas seria minha Aine.
Exchange LA é uma casa noturna que fica em Los Angeles.
Clara
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