Rejeição
Somos moldados por todos os acontecimentos da nossa vida, mesmo antes de termos vida somos culpados pelos pecados dos pais ou responsáveis por seus erros e irresponsabilidade.
Ninguém pede para vir ao mundo, é suposto ser uma dádiva dada por um ser superior mas ele não pergunta aos receptores se estão prontos, se são maduros o suficiente e se o querem ter. Não quero aqui questionar os planos do criador, acredita em mim, mas eu aposto que em algum momento você fez os mesmo questionamentos que eu, "por quê escrever direito em linhas tortas?" é o que dizem para explicar nossos fracassos, perdas e frustrações, então eu fui aquela rejeitada ainda embrião, sem pensamentos, batimentos cardíacos ou culpas.
Mas a mulher que foi contra suas crenças e regras religiosa, estava grávida sem casar ou ter alguém do lado, apenas um efêmero amor ,o medo, a rejeição da família e o sentimento de abandono, consequentemente, a negação da própria vida e a daquela que ainda não tinha vida.
Porém, até isso lhe foi negado por uma breve desintoxicação ela podia viver e dar uma chance a nova vida que ainda não tinha vida.
Daí em diante me é desconhecido qualquer acontecimento com versões credíveis e me abstenho aqui de qualquer facto que não foi provado.
Meses e anos a vida que não era vida começou a viver, aprendeu com a melhor sobre como tentar viver, sem se desvincular de seus braços e seu calor era o que mais tinha, aquela mulher que renegou sua vida havia ganhado um novo motivo, uma nova vida que dava sentido à sua, se foram felizes? É tudo que meu "eu" se lembra daqueles primeiros anos.
Meu primeiro "eu" perdido, foi de quando comecei a escolaridade, cinco anos suponho, já não era a menina rejeitada pela família era a menina de ouro deles, mimada por todos o tempo todo mas aquela marca da rejeição não sumiu, não some de jeito nenhum, foi tatuado na alma desconhecida do meu eu perdido, mas aquele ingênuo eu não tinha noção do que estava em jogo, não sabia que aquele momento, aquele dia já mais voltara acontecer.
Aos seis anos e pouco se os tivesse, meu eu assistiu ser a causa do espancamento da sua mãe, por um homem mau, um homem de quem aprendeu a ter medo por todas as noites a ouvir gritar, deitava na cama com os olhos fechados porque estava com medo e queria que pensassem que dormia.
Algumas vezes obrigada a dormir em casa de sua vó porque o homem mau a queria longe e sua mãe se recusava, então ele a espancava por defender seu pequeno motivo que não entendia o que raios acontecia todas às noites e por quê acontecia. Mais uma vez a vida foi rejeita a uma vida que aprendia a viver.
A pequena vida sem experiência foi afastada do seu pilar, exilada do mundo que conhecia para um mundo novo e diferente, onde precisava reaprender a ser, a falar e a viver.
Aos oito anos meu eu tinha novas figuras maternais, novo lugar para recomeçar e começar a entender que o lugar era difícil.
Nessa época começaram-se as regras. Meninos vão para cama mais cedo, menininhas não ficam na rua, adaptada à rotina, não sem ter caído em prantos de lágrimas com saudades da sua mãezinha. Apegada ao lugar e às novas regras meu eu era feliz, com as mesmas crenças religiosas que sua mãe usufruiu, após dois longos anos sem ver minha mãe ou se tivera visto não me lembro e me desculpem, mas devem entender que a memória já não me é a mesma daquela época, talvez seja pior que a do meu eu de anos atrás.
Em meio aos dois anos distante, minha mãe teve meu primeiro irmão, meu eu estava feliz, não lembro como nos conhecemos e apesar disso eu o amava, então foi-me anunciado que minha mãe me levaria para casa, para minha primeira raíz. Naquele mesmo dia foi me dado a pior notícia durante a volta para casa, meu irmão havia morrido após uma doença que não me foi explicada a causa, lembro-me de chorar durante o caminho todo, e naquele dia metade do meu eu se perdeu.
Mas ela disse "não precisa chorar agora tem a Deusa" ela sorriu enquanto contava que terei tido outra irmã nesse tempo.
Recordações de meses talvez anos depois daí não me é nítido agora, minha mãe tivera se separado daquele homem.
Minha mãe, eu e minha nova irmãzinha voltamos a viver com a minha vó, devido a última briga da minha mãe com aquele homem mau ele espancou-nos pela última vez, até ela ter a coragem admirável de separar-se com uma bebé de meses talvez um ano o que acho difícil mas como disse, talvez minha memória me esteja a enganar.
Aos 7 anos meu eu já havia passado por moldes, como a rejeição e agressão.
Meses depois daquele dia nós fomos felizes, não me lembro de ter tido um dia ruim após a separação da minha mãe com aquele homem, minha irmã crescia e era apenas eu e ela aos olhos da minha mãe. Embora me sentisse especial em relação ao meu relacionamento com a minha mãe, talvez por ser seu primeiro motivo de vida, por a ter feito ver que mesmo depois da rejeição talvez nem tudo estivesse perdido, ela tinha-me como seu novo motivo, nós tínhamos uma ligação surreal que hoje espero ter com meus filhos pois toda mãe precisa ter com pelo menos um de seus filhos, mas a conversa agora não é de como mães ligam-se aos filhos e sim de quão capazes elas são de ser o pilar deles, mesmo quando suas paredes desabam.
Quando enfim éramos só nós, um homem entra em nossas vidas novamente, diferente daquele que tínhamos antes, esse era gentil, amável e mostrava carinho por nós, mais pela minha irmã talvez por ela ser a mais nova, eu não ligava porque assim minha mãe só teria olhos para mim.
Naquele mesmo ano minha vó teve alguns problemas pessoais/familiares que desencadearam sua primeira crise de uma doença psicológica que alguns insistiram em chamar de espírita (somos africanos nada é tão normal que não pode ser vista como espiritualismo), foi necessário que vendêssemos a casa em que vivíamos pois seu sobrinho alegara que a casa o pertencia por ter emprestado o terreno onde inicialmente se fez a construção, então minha mãe assistiu ser desalojada por seu primo e melhor amigo.
Mesmo sem ter noção na época meu eu presenciou outro molde a traição de quem mais se confia.
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