Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 3 - O paraíso

A discórdia começou a ganhar força no interior da carrinha, alimentada pela frustração de passar três horas a fitar o completo vazio. Sempre que subiam um monte, crescia a esperança de encontrar-se algo novo, algo para além de rochas, areia e lagos avermelhados. Porém, nunca nada acontecia.

− Acho melhor contornarmos o rio Loire – sugeriu Taupe ao encarar as mudanças nas coordenadas no dispositivo que tinha entre as mãos. Ele seguia, em tempo real, o trajeto que a carrinha fazia por todo o país. – A zona circundante do antigo rio Dordogne foi a pior até agora. Não me parece muito boa ideia enfrentarmos mais terras escaldantes. Os pneus não vão resistir.

− Ainda tenho o cheiro de enxofre impregnado nas narinas – murmurou Gaston, coçando o nariz com as costas da mão livre.

− O Rayne defende que nossa melhor hipótese será se encontrarmos algum rio ainda vivo – contra-argumentou Killian, de olhos fixos nas terras áridas à sua frente. − O Loire sempre foi o mais longo de França. Pode ainda estar lá.

O informático suspirou, desanimado por sua voz não estar a ser ouvida. Ele encarava o desenho a vermelho do trajeto irregular que haviam feito desde que partiram de Villeneuve. Se tivessem ido a direito, já teriam chegado ao antigo principal rio do país. Mas não, havia-se feito necessário contornar vastas zonas onde a terra fumegava. Já para não falar no cuidado acrescido de não passar pelo litoral, onde as terras e os ventos seriam mais instáveis por causa da força do mar.

− O homem não é Deus, não sabe tudo – protestou Gaston, afundando o pé, um pouco mais, no acelerador. Ele já começava a ficar irritado por Jofrey ser o centro das atenções daquela expedição. Para alguém que se habituara a ver-se como o chefe dos republicanos, era exasperante ter descido tão fundo na cadeia social.

Taupe sorriu por ver o ex-amigo a defender a sua posição. Talvez ainda houvesse como recuperar aquela relação.

− Pode até não ser, mas eu confio mais nele do que em vocês dois. – Os ex-republicanos olharam de lado o general, que se encontrava sentado no meio. – E não é preciso muito.

− Está a esquecer-se de que tenho a sua vida nas minhas mãos, general. – Gaston apertou o volante com força, as veias nas mãos estavam bem salientes. – Lamento informar, mas um homem não chega para fazer isto dar certo. Estamos dependentes uns dos outros. – Aquilo não agradava a nenhum dos três homens, que prezavam a sua independência. Mas, no silêncio, viam-se obrigados a admitir esse terrível fato, trazido à luz do dia por Gaston. − Na verdade, o meu papel parece mais importante do que o seu, general. Até agora, pouco fez e muito pouco mandou.

Aquela era uma provocação clara e Killian teria de responder à altura, não quisesse ele perder, de vez, o controle da situação.

− No momento, depois de horas a observá-lo a conduzir, não me parece que seja assim tão indispensável, Gaston. O processo já está aqui, − o general levou o indicador à têmpora, − bem memorizado.

O ex-prisioneiro travou a fundo. A carrinha que os seguia, de perto, quase que se estatelou na traseira do veículo imóvel. Os soldados, que já dormiam, foram sacolejados para à frente, despertando em sobressalto.

− Força! – Gaston desapertou o próprio cinto de segurança. − Estou curioso para ver isso.

− Galera, o que é aquilo ali ao fundo? – indagou Taupe ao apontar para um ponto distante a noroeste. Gaston segurava a porta meia-aberta da carrinha e sua cabeça voltou-se a contragosto para o colega. – Não estou a ter uma ilusão provocada pela inalação de enxofre, pois não? – gracejou, sabendo que tal cenário seria altamente improvável.

Killian e Gaston ficaram boquiabertos. Um ponto verde, no meio dos tons monótonos e aborrecidos que haviam encontrado até agora, era certamente um sinal de esperança.

− Só se for uma ilusão coletiva. − O general estreitou os olhos e conseguiu ver o ponto alastrar-se numa linha continua. – Gaston, o que você me diz a fechar a porta e voltar à sua função? − Não era uma ordem, propriamente, mas não deixava de ser uma forma de colocar o ex-prisioneiro no seu lugar.

Côté fechou a porta com força e sorriu. Ele estava demasiado satisfeito com a hipótese de um Novo Mundo para sequer se importar com as insinuações do guarda.

− O que se passa? – Ouviu-se a voz de um soldado perguntar lá atrás. Ele tentava espreitar pela pequena janela central na divisória da carrinha.

− Coloquem os cintos! – gritou Gaston, sendo ele o único que o havia retirado. − Novo Mundo, aqui vamos nós!


As árvores agigantavam-se à medida que as carrinhas se aproximavam. O verde ganhava novas nuances, cada vez mais vivo, cada vez mais absorvente. A comitiva permanecia fechada num silêncio solene. Como se qualquer palavra fosse estragar aquele momento milagroso.

Os arbustos rasteiros, com flores de variadas cores, já se distinguiam na paisagem. Cada pequeno detalhe era absorvido com deleite. A forma como cada ramo se inclinava para o solo fértil em reverência. Os raios de luz que rompiam as frestas das copas frondosas, só para agraciar a mais pequena folha que rompia mais abaixo.

Gaston continuava a avançar, ainda que o pé mal pressionasse o acelerador. Aquele cenário não era algo que se pudesse desperdiçar, e, como condutor, estava menos abençoado que os restantes, que poderiam despender toda a atenção no que os olhos captavam.

Taupe assobiou baixinho ao erguer a cabeça lentamente para o céu. Ele seguia o trajeto das árvores, pouco interessado no monitor que registava as coordenadas. Eram só números, não tinham como competir com a beleza e força da Natureza. Os troncos castanhos cresciam robustos, rompendo o azul límpido e alcançando uma altura impressionante.

Na carrinha que seguia atrás, Soline deixava verter as lágrimas que aprisionara durante anos a fio. Suas dúvidas eclipsadas pela afirmação perentória de esperança, que preenchia uma área surpreendentemente vasta. Ela perguntava-se até onde se prolongariam as raízes, até onde se estendiam os ramos, até onde voariam, intactas, as folhas verdes. Ela havia chegado ao paraíso, ao lado do homem que se considerava um verdadeiro Messias. "Jofrey pode, realmente, ser o guia escolhido por Deus", ponderava a jovem, desculpando o primo pela sua atitude egocêntrica.

Quando os pneus começaram a marcar a terra húmida, os dois Rayne se benzeram como se estivessem a entrar em território sagrado. Provindos de uma educação religiosa, os primos eram devotos às crenças que os havia feito chegar até ali. O mais velho nem conseguia adormecer sem rezar, tal era seu apego ao grande Criador. Jofrey levou a mão ao peito, sentindo o terço por debaixo da camisa.

As duas carrinhas abriam caminho por entre as árvores, que se espalhavam pelo terreno à sua revelia. Os arbustos rasteiros eram pisados sem misericórdia. As linhas, que se desenhavam sobre a relva alta, mostravam a capacidade destrutiva do ser humano. As pequenas e frágeis flores silvestres eram completamente espezinhadas.

− Vamos parar por aqui e explorar a pé – ordenou Killian. Assentindo, Gaston pisou a fundo no travão. − Esta beleza tem de ser admirada de perto.

Os homens saíram um a um, de pulmões abertos para aquele ar puro que lhes chegava às narinas. As botas, finalmente, grudando em um solo repleto de vida.

− Ele existe! – gritou um dos soldados, levantando os braços no ar. – O paraíso existe!

Os soldados, acordando do transe em que se encontravam, gritaram como animais selvagens. Uns choravam, deitados de barriga para baixo, abraçados à relva alta que chegava quase aos joelhos dos que se mantinham em pé. Outros pulavam de alegria, sem se entender uma única palavra do que diziam. E havia outros tantos que se moviam descoordenados, em uma dança improvisada, entoando melodias confusas. LeFou e Taupe pertenciam a este último grupo, se deixando levar pela loucura dos soldados. Até os Rayne pareciam possuídos por uma aura incongruente com sua postura mais reservada, percorrendo o espaço de forma elétrica. Os únicos elementos destoantes eram Killian e Gaston, que se limitavam a observar.


Não tardou muito para que tudo não se transformasse numa enorme festa, regada ao melhor vinho. Os ânimos dos homens preenchiam a floresta silenciosa, de uma forma gritante. Nem parecia o mesmo local.

Sem se organizarem em círculo e sem precisarem de caixotes, os homens falavam animados entre si, passando, de mão em mão, o garrafão. Os que já estavam cansados de pular e dançar, recostavam-se às árvores, aproveitando os alimentos recém colhidos. Aquele espaço da floresta estava infestado de amoras, que brotavam em tons de vermelho e negro dos ramos castos, para regozijo da comitiva.

− Isto é que é vida! – desabafou Taupe, com a cabeça calva protegida do sol ardente. As folhas, que o acolhiam, mantinham-se serenas, parecendo nem notar a sua presença. – Comer e beber à fartura!

− Por mim, ficávamos aqui para sempre – confessou Gaston, com a voz afetada pelo álcool. As mágoas afogavam-se com facilidade, com uma pinga atrás da outra. Não havia necessidade de sofrer com imagens do passado, quando se estava em um local idílico como aquele. – Villeneuve já deu, para mim!

− Boa tentativa, Gaston. – A voz de Killian impôs-se aos de seus homens, que já balbuciavam em concordância. O guarda e a jovem Soline eram os únicos de pleno controlo de sua consciência, no momento. Nenhuma gota de álcool lhes corria no sangue. − Você só estará livre da província, quando os reis assim o desejarem. Por enquanto, temos uma missão a cumprir.

− Não vejo as grades, general, mas, da maneira como fala, isto não deixa de ser uma prisão.

− Porém... − começou um dos soldados, tombando para cima de Gaston. O ex-republicano empurrou-o com o braço, voltando a fixar o homem à arvore que lhe servia de apoio. − Uma prisão muito bem fornecida! – acrescentou, sacudindo, à frente do corpo, o garrafão quase vazio, e caindo, depois, numa gargalhada histérica.

− General – chamou Soline ao encaminhar-se para o local onde Killian estava sentado. Ele aguardou, paciente, sem fazer qualquer pergunta, enquanto ela se agachava à sua frente. – Não acha perigoso, tudo isto? – A voz doce saiu-lhe sussurrada. Ela sentia as suas forças a esvaírem, enquanto olhava no fundo dos olhos do homem à sua frente, e não era da posição instável em que seu corpo se encontrava. − Os homens estão bem afetados pelo álcool. Não estão capazes nem de se levantar.

Killian viu um de seus homens se estatelar sobre a relva. A queda não havia sido bonita, mas o soldado já se tentava levantar novamente. Bem desengonçado, como uma cria que está dando seus primeiros passos.

A jovem tinha razão, mas ele não poderia privar seus homens de um prazer efémero depois de uma grande conquista. Ele mesmo queria beber e gargalhar junto aos seus companheiros, mas a missão não estava concluída e, enquanto assim fosse, ele não poderia dar-se ao luxo de relaxar. Porém, isso era ele! Tomaria conta de seus homens para que nada de mal lhes ocorresse. Não que ele acreditasse que houvesse qualquer perigo possível naquele verdadeiro paraíso.

− Eles não lhe tocarão, nem com um dedo. Não se preocupe, Soline.

− Sei que está disposto a proteger-me e lhe agradeço muito por isso. – Seus olhos castanhos desceram até ao chão, sem força para encarar o general. Ela dava graças aos céus pela sua pele, de um tom castanho quase dourado, não deixar antever o sangue que lhe aflorava às maçãs do rosto. – Mas não é comigo que estou preocupada. LeFou saiu há alguns minutos e ainda não voltou.

− Saiu? – Killian levantou-se de um salto e perscrutou os homens, um a um. Eles estavam tão dispersos uns dos outros, que o guarda não notara a ausência de um dos elementos da comitiva.

− Ele estava bêbado. – Soline endireitou-se, mal chegando ao queixo do general. Os ombros descaídos faziam-na parecer ainda mais pequena do que era. A culpa começava a corroê-la. − Mas eu pensei que fosse... tratar de necessidades fisiológicas.

− Em que direção ele foi?

− Por ali. – Seu curto braço estendeu-se no ar, apontando para o lado oposto em que se encontravam.

− Fica de olho neles – pediu Killian, já correndo na direção indicada.

Soline duvidava que sua voz fosse ouvida caso algum homem precisasse de ser repreendido ou controlado. Ela só rezava para que o general regressasse logo com LeFou. E para que nada de mal acontecesse a nenhum dos dois. Mas não iria acontecer, certo? Afinal de contas, aquele era o Paraíso.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro