Herdeiro
Bettany viu algo intrigante. Na alça da bolsa dele tinha metade de um pano, e esse pano era uma parte que completava seu vestido de quando era garotinha.
- Rigion, onde você conseguiu isso? – ele a encarou, tentando entender sobre o que ela estava falando. Bettany apontou para o pano.
- Meus pais me deram – ele deu de ombros, mas acabou ficando triste. Odiava lembrar dos pais, porque se odiava por ter matado eles.
- Você sabe onde eles estão? – perguntou curiosa. Talvez a família dele fosse ajudar ela a entender o motivo de ser uma Poderosa, talvez seus pais fossem amigos.
- Mortos – Rigion disse friamente e segurou a bolsa pesada. Deu um suspiro e saiu andando, mesmo sem saber para qual lado era a casa dela.
Bettany engoliu seco e o seguiu, sem perceber que estavam indo na direção errada. Eles ficaram em silêncio o caminho todo, até Bettany cair em si e notar que estavam indo para o lado contrário.
- Rigion, para onde estamos indo? – olhou ao redor e só tinha mato – você não está pretendendo tentar me matar aqui, certo?
- Você que deveria saber, já que estamos indo para a sua casa – falou irritado e bagunçou o próprio cabelo.
- Só tem um probleminha... minha casa é por ali – olhou para trás e apontou para o lado oposto do que estavam indo.
- E por que você não falou antes? – ele estava suado, cansado, triste e agora irritado.
- Porque eu não percebi – bateu o pé no chão, agora ela mesma estava indignada. Não tinha dito uma palavra para não parecer insensível e agora estava sendo tratada como se fosse burra.
Deu as costas e começou a andar em direção à própria casa, agora teria que percorrer o dobro do caminho. Homem ingrato!
Ela ficou resmungando o tempo inteiro, principalmente falando de Rigion. Já ele... Não queria falar nada, só queria chegar logo ao seu destino e se deitar em algum lugar.
Não gostava mesmo de lembrar da família, porque os amava tanto e os destruiu. Sentia tanta falta de seus pais, eles eram pessoas incríveis e nunca trataram ele mal só por ser um Altaiea.
Pode-se dizer que eles eram do grupo dos liberais, que odiavam toda e qualquer distinção social. Sentia orgulho de ser um Trevor, mas não gostava de ser sobrinho do rei.
Quando chegou em Acátion, parou de usar o seu sobrenome, todos sabiam que os Trevor's eram da família real de Aredon e ele não queria que ninguém soubesse que ele era um integrante daquela família.
Após muitos minutos caminhando em silêncio, Bettany finalmente viu sua casa e se sentiu um pouco melhor. Era uma casa simples, feita de pedras fortes, porém tinha certo charme e conforto.
Pegou sua chave e abriu a casa, convidando-o para entrar. Rigion novamente percebeu que aquela garota era uma sem noção por estar sozinha com ele dentro de um ambiente.
Balançou a cabeça e entrou a contragosto, era difícil ficar perto dela, porque alguma parte dele, a pior e menor parte, gostava de beijá-la, e a parte sensata dele, sabia que não podia fazer isso.
- Aqui é bem aconchegante – ele começou a olhar para a lareira que tinha ali, se perguntando como a acenderia. Bettany viu o tanto que ele encarava e jogou fogo, acendendo a lareira – obrigado.
Ela deu de ombros e foi até seu quarto, se sentando na cama. Lembrou-se do vestido e do pano de Rigion e pegou o vestido em seu guarda-roupa.
Aquela casa era onde ela guardava tudo de valor para ela, sabia que ninguém conhecia aquele local. Se roubassem o palácio, a única coisa valiosa que tinha lá era sua família.
- Rigion – ela chamou o garoto que estava dando um murro leve na mesa. Provavelmente estava muito fascinado pelo material de que era feita – isso aqui significa alguma coisa? – mostrou a ele o vestido e apontou para o pano em sua mala.
- Como? – ele abriu a boca e pegou a mala, tirando o pano de lá e o colocando no vestido, vendo que se encaixava perfeitamente – nós não nos conhecíamos antes, certo?
- Não que a gente se lembre – ela franziu a testa, tentando se lembrar se já tinha sido apresentada a ele, mas nada – não consigo lembrar nada. Qual é seu sobrenome? O que seus pais faziam?
- Prefiro não comentar isso, Bettany – ele falou na defensiva. Ela jamais poderia saber que ele era um "herdeiro" do trono de Aredon.
No fundo era algo que ele sabia que era, herdeiro. Se algo acontecesse ao primo ou ao tio, ele seria o único que poderia assumir. Tudo que ele menos queria na vida era um reino.
- Isso pode ser a resposta para a nossa dúvida – ela berrou, estava estressada por ele não cooperar com ela em nada – e você nunca me ajuda!
- Isso é a resposta para a sua dúvida – olhou ela no fundo dos olhos – eu não posso te dizer, não quero lembrar do meu passado.
Ela suspirou, se sentindo derrotada por não conseguir nenhuma informação útil. De que forma os dois estariam ligados?
- Tudo bem, Rigion. Estou indo embora, te espero amanhã cedo – se despediu e saiu depressa de sua casa.
Rigion se sentou na cama dela que era bem macia e se permitiu dar um sorriso, agora ele teria um pouco de conforto. Apesar de sentir um leve aperto no seu coração, sem conhecer o motivo.
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