• Capítulo 3 •
MÁQUINAS DÃO MENOS TRABALHO
Estou ficando tonto com as voltas que Breno está dando em meu quarto. Sério, meus olhos passaram a segui-lo automaticamente.
— Cara, você vai fazer buracos no meu piso — falo, já ficando enjoado dessa andança toda. — Por que não conta logo o que aconteceu?
— Não é uma coisa simples de dizer, Dimi. — Ele bagunça o cabelo mais uma vez.
— Experimenta abrir a boca e deixar as palavras saírem — gracejo, mas acho que não surte muito efeito sobre seu humor. — Sério, senta aqui e fala de uma vez — bato na minha cama, retiro meu óculos de leitura e indico para que ele se sente.
Estava na minha poltrona, relendo tranquilamente meu livro — "O Iluminado" do Stephen King — quando meu irmão entrou como um furacão no quarto dizendo que estava ferrado, mas até agora não sei do que se trata e isso deve ter acontecido há uns 40 minutos.
— É sobre a Amanda. — Ele finalmente diz algo relevante. E isso explica muita coisa.
Breno é meu irmão mais velho, um exemplo para mim em muitas coisas. Papai e ele são os caras que mais admiro no mundo, temos 4 anos de diferença e ele sempre quis cuidar de mim desde crianças. Como nossa mãe morreu quando eu tinha 5 anos, papai se encarregou de cuidar do sustento e prover o melhor para os nossos estudos, ele realmente nunca deixou faltar nada, mas isso lhe custou muitas horas de lazer conosco, por isso Breno se esforçava ao máximo para que eu não sentisse falta de um pai por perto. E não senti, pois mesmo distante, meu pai sempre foi presente e, com meu irmão cuidando de mim, tive tudo em dobro. Só que tudo isso muda de cenário quando se trata da Amanda.
Quer dizer, meu irmão muda completamente quando se trata dela. Ele vira o adolescente que nunca foi. Pior de tudo, um adolescente estupidamente apaixonado.
Tanto meu pai quanto Breno trabalham na Bluberry Company há anos. Papai começou como um assistente administrativo, hoje já trabalha cuidando do setor financeiro diretamente com o dono da empresa, Benício Mirtillo, o cara é uma lenda da tecnologia, sua história é mundialmente conhecida e os produtos que cria quase me fazem chorar.
Tenho a sorte de ter conseguido um notebook da linha Berry R30, uma das melhores máquinas já inventadas para programadores como eu. A máquina quase trabalha pra gente! É claro, nunca teria conseguido pagar por uma beleza como essa, afinal, qualquer produto que carregue o cacho de mirtilos, carrega também um preço bem acima do mercado. Já tentaram piratear, mas nunca ouvi falar de uma cópia que chegasse aos pés dos originais, o diferencial da BC é exatamente seu sistema operacional único, o Skyfull, inventado pelo próprio senhor Mirtillo e melhorado ainda mais por um programador anônimo. Programadora, pelo que ouvi dizer.
Enfim, voltando à história, Breno começou a trabalhar na empresa como estagiário assim que saiu da faculdade, hoje, seis anos depois, ele também conquistou o chefe e trabalha como seu assistente.
Tanto ele quanto papai escolheram o caminho dos números. Meu pai é formado em Administração com especialização em Economia. Breno seguiu pelo mesmo caminho, com exceção de que já começou pela Economia e depois fez uma especialização em Gestão Empresarial. Eu, por outro lado, gosto das máquinas, e números pra mim só se forem os números de série que encontro nas programações.
Sou completamente apaixonado por máquinas. Todas elas. Amo os fios, funções e, principalmente, amo saber como parar e fazer funcionar cada uma delas. Não só gosto de montar meu próprio computador como gosto de brincar com todo o sistema dele. Um dia minha história vai estar nas redes igual a todos os grandes, até como Benício Mirtillo. E foi por isso que aceitei trabalhar na BC, comecei como estagiário também, parti para programador júnior e hoje sou assistente de programação.
Nesse meio tempo, vi Amanda poucas vezes. Ela trabalha com meu pai e Breno no setor financeiro; é uma garota extremamente bonita, é claro, mas não sei o que ela tem que fez e faz meu irmão babar tanto por ela, como se fosse a coxa de peru da ceia de Natal. É sério.
— Cara, já te falei pra colocar o pé no chão um pouco. Você tem 27 anos, é apaixonado por essa garota desde os 20, depois que descobriu que ela sentia algo por você e começaram esse lance escondido, o que reprovo, você parece ter regredido mentalmente, e olha que te considero uma das pessoas mais inteligentes que conheço. Nem sei por que parece um bobão ao lado dela.
— Porque a amo, cara. — O sorriso bobo aparece outra vez. Isso me faz revirar os olhos. — Quando você amar alguém de verdade, vai entender o que é isso.
Ele está certo, nunca me vi em uma situação de dizer que amo alguém loucamente. Tenho 23 anos, já tive algumas namoradas, até me apaixonei uma vez, mas essa mesma garota me fez fechar meu coração para o amor antes mesmo de permitir que ele acontecesse, pelo menos por enquanto e sem previsão de mudar de ideia. Josy fez um estrago nos meus sentimentos e tudo porque não tinha dinheiro nem nome suficiente para ela...
Porém, já não me importo com isso, enquanto tenho o amor de Deus, não preciso de mais nada pra me sentir completo. Não fico procurando por um relacionamento de maneira desesperada. É ótimo ser solteiro e me dedicar às coisas de solteiro, como a Bíblia diz.
— Tá, cara, mas você não precisa ser burro pra amar. — Pelo menos quanto a isso estou certo, graças a Deus não me deixei cegar pela paixonite exagerada que tive. E olha que oportunidade não faltou...
— Você não entende, é ela, cara. Ela é a mulher da minha vida!
— Então por que vocês não param logo de se esconder e assumem o que têm? Por que não fazem o certo? — indago ao meu irmão.
Aliás, eles têm um romance totalmente secreto. Desconfio de que só eu sei disso, até. Amanda é uma Mirtillo, a filha do chefe. A preferida dele, até onde sei. Já ouvi dizer que ele tem outra filha, mas nunca a vi nem soube sobre ela na empresa. Tudo que sei é que Amanda é treinada para comandar todo o império de sua família, inclusive, todo mundo sabe que Benício Mirtillo espera que sua filhinha se case com Joaquim Maldonado, filho de um dos maiores acionistas da BC.
Ah, e ele é irmão da minha ex-namorada. Josy é Josephine Maldonado, a conheci no meu estágio, fiquei apaixonado por sua beleza e carisma, contudo, foi só me aproximar de fato e começarmos a namorar que conheci seu outro lado. Nem sei realmente se posso chamar de namoro o que tivemos, já que ela morria de vergonha de ser vista com um estagiário. Ela disse que eu precisava subir na empresa pra podermos namorar de verdade.
Aham, estou aqui esperando por ela. Blá.
Eu deveria ter orado mais e confiado na resposta de Deus, isso sim! Mas foi bem feito, afinal, quis agir à minha própria maneira e me estatelei. Bem que a Bíblia diz que o coração do homem é enganoso...¹
Bom, pelo pouco que conheci do Joaquim, ele é tão esnobe quanto a irmã. E também é bastante orgulhoso por ter sido escolhido pelo chefe pra ser o marido da sua querida filha — pelo menos é isso que ele pensa, né.
Ele também trabalha na empresa, aliás. É Gerente de Pessoal, eu acho. Não sei exatamente qual é sua função, sei que ele gosta de mandar nas pessoas. Principalmente no pessoal do TI — Tecnologia da Informação —, como eu.
Odeio esse cara, que Deus me perdoe!
1. Jeremias 17.9
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