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𝗣𝗿𝗼́𝗹𝗼𝗴𝗼 - 𝖠 𝖫𝗎𝖺 𝖣𝖾 𝖲𝖺𝗇𝗀𝗎𝖾


Com sua mão delicada e ossuda, Eveline, roçou o arco nas cordas do violino. A melodia suave transformou o ambiente em algo mais leve, algo indescritivelmente aconchegante.

Ela não estava a tocar uma música metodicamente criada, sua imaginação estava livre desenvolvendo acordes jamais juntados. Sua mente, na verdade, estava focada em lembranças. Ela tinha certeza de que se nomeasse aquela música, a chamaria de "Memórias", pois isso era a fonte da criação.

Eveline vislumbrava de uma noite, a muito vivida. Onde a lua não estava totalmente branca e o bosque fora dos padrões amedrontadores. Aquele ambiente estava incomumente sedutor. Ela conseguiu sentir algo chamando-a para fora, algo guiando-a para mais dentro daquele bosque.

Seus pequeninos pés, por vezes, tropeçavam em alguns obstáculos, como buraquinhos na grama, ou em algumas raízes discretas das arvores próximas.

Quando chegou a clareira do Lago Espelho de Prata, seus olhos encararam a lua, continuava igual, mas os reflexos de sua luz estavam inimaginavelmente vermelhos. Para Eveline, aquilo era mágico, e suas enormes írises verdes brilharam de excitação.

As folhas de um arbusto do outro lado do lago atraíram seu olhar assim que farfalhara. Seu coraçãozinho acelerara tanto que conseguiu ouvi-lo com perfeição. As pequenas mãozinhas tremiam, e um grande arrependimento, de ter ido até ali, cercou-a. Conseguia prever seu fim, já que suas perninhas não a obedeciam.

Dentro das sombras das arvores, algo saiu do arbusto fazendo Eveline cair sentada. Seus olhos encheram de lágrimas, e antes de conseguir gritar, um focinho pequenino apareceu na pouca luz emanada da lua. Ele aparentava estar verificando o local, ou apenas apreciando o aroma desconhecido que Eveline também sentia.

Em seu primeiro passo, a garota tentou se puxar para atrás, mas congelou completamente ao ver a carinha peluda do animal. Peludinho, com orelhas cumpridas e asas plumadas, talvez esse fosse o bichinho que Eveline acharia ser o rei das fofuras do mundo. Ela se levantou lentamente, sem tirar os olhos daquele serzinho. Então caminhou envolta do lago para vê-lo melhor.

Novamente assustada cravou os pés no chão quando em um movimento brusco, o animal correu até ela. O pânico subiu por seu corpo, aquela mistura de filhote de dragão com cachorro corria tão alegre que, todas as suas reações esvaíram.

Ele parou a centímetros de seu corpo. Eveline, pensando muito se deveria ou não fazer um pouco de carinho, agachou-se e tocou a cabecinha com a palma da mão e começou a acariciá-lo, como resposta ele começou a tremer uma das patas traseiras.

Você me assustou, bichinho — Eveline sussurrou.

O animal se agitou sob sua mão como quisesse aproveitar o carinho.

Você é muito fofinho.

Ela sorriu para ele, mas ficou triste ao perceber que deveria ter-se passado tempo demais.

— Preciso ir...

Ela se levantou, mas ao se virar, o animal fez menção em segui-la.

— Não posso levar você, minha mamãe ficaria maluca — Ela suspirou, olhando em direção ao caminho de volta. — desculpa...

Eveline saiu correndo. Tropeçando novamente em algumas raízes, ou na própria grama. Tentou não pensar muito no animalzinho que, de alguma forma, fazia-a se sentir segura. A alternativa de tentar falar com sua mãe passou por sua mente, mas ela sabia muito bem como ela gritaria sobre não poderem ter animais em casa.

Sem demorar muito, a garotinha avistou sua casa pequenina. Estava tudo apagado, ela sentiu um alívio. Entraria em silêncio se deitaria em sua cama, e fingiria que nunca saiu de casa.

Garantindo que ninguém estava observando-a, abriu a porta e entrou em casa, dando de cara com sua mãe.

— Por que saiu de casa, a essa hora da noite, Eveline Spring?

O coração dela acelerou, bem mais do que quando achou que morreria, pois sabia que agora não morreria, mas sofreria tanto que preferiria morrer.

— E-eu...

— Vo-você — Ela imitou o gaguejo com raiva — Vá para seu quarto e não saia de lá até eu mandar!

Eveline tocou um acorde errado, desafinando a música, então parou abruptamente de tocar e respirou fundo humedecendo os lábios

Ela sabia que já estava bom o suficiente de memórias para um dia só.






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