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"Punição Severa"
27/03/##
Querido diário...não sei como começar. Faz duas semanas que o episódio no parque aconteceu, tento ao máximo fugir do assunto, e esconder qualquer sentimento que apareça, o mais difícil seria fazer com que a Tamashi não perceba. Não paramos de nos falar, mas não significa que, para mim, esteja tudo bem entre nós. Amanhã é o ultimo dia para os testes para a peça, me deixa triste o fato de não ter coragem suficiente para fazer coisas simples, devo apenas esquecer e seguir em frente, afinal, não conseguiria nem se tentasse. Bom, vou ir dormir, ainda tenho que ir a escola.
{Himawari 🐥}
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Estava escutando música enquanto desenhava no pátio, quando sinto um toque no meu pé, levanto a cabeça e sorri quando vejo a Tamashi na minha frente.
- você realmente desistiu? - diz cruzando os braços
- do que? - mordo o lábio já sabendo da resposta
- não se faça de lerdo, sabe que hoje é o ultimo dia dos testes para a peça
- mesmo que tentasse, não conseguiria - desvio o olhar e fecho o caderno
- vem comigo - estende a mão
- eu não vou conseguir fazer o teste...
- não é para isso - ri e eu seguro em sua mão me levantando
Ela me guia até a uma sala escura, no começo estranhei e permaneci na porta.
- calma, não vou te atacar nem nada - pega na minha mão novamente e me puxa para dentro - espere aqui por um segundo - me solta e sai de perto de mim
De repente as luzes se acendem e vejo que estava em cima do palco no auditório, coloco as mãos no rosto não conseguindo conter o sorriso e olho em volta , atrás de mim estava o cenário ainda em construção, mas vi que se tratava de um jardim e uma arvore com maçãs douradas.
- surpresa! - diz sorrindo
- obrigado, é realmente incrível a sensação de estar no palco, de verdade. Se eu fechar os olhos, consigo imaginar as cortinas se abrindo e toda a historia ganhar vida.
- me conte, sobre o que é a peça? - se senta no chão e eu sento de frente para ela
- minha historia favorita dos Irmãos Grimm, "O Pássaro Dourado". Conta a historia dos três filhos do jardineiro que trabalhava para o rei, ambos saem em busca do pássaro dourado que comia as maçãs douradas no jardim do palácio. Queria fazer o teste para o terceiro filho do jardineiro.
- interessante, e por que esse personagem?
- ele ensina que cada ação tem uma consequência, é escolha sua fazer o certo ou não, mesmo sabendo dos riscos. As vezes e necessário passar por certas situações para aprender lições.
- poético...sabe alguma frase desse personagem?
- é a melhor parte, ele quase não tem fala, mas tem uma... - me levanto - "eu lhe darei a sela boa, tenho certeza de que ele merece", nessa parte ele desobedece um dos conselhos da raposa, que o aconselhava e ele sempre fazia o contrario. É legal você dar vida a um personagem...
Nesse momento as luzes se ascendem no fundo e vejo a professora de teatro junto com alguns alunos batendo palmas, me levanto na hora tentando processar o que estava acontecendo, meu olhar alternava para a Tamashi e a "plateia" a nossa frente.
- eu realmente não esperava que gostasse de atuar, mas você é perfeito para esse papel - a professora se levanta e vem até mim - a maioria dos alunos recusava por ser um personagem que quase não tinha fala, mas você quer o papel por esse exato motivo, bom, sem duvidas irá fazer o o terceiro filho do jardineiro!
Eu mal conseguia falar de tão envergonhado que estava com aquela situação, apenas abria e fechava a boca sem saber o que dizer, meu rosto parecia que a qualquer momento iria explodir de tão vermelho...isso estava mesmo acontecendo?
- tudo bem, isso acontece as vezes - diz Tamashi pegando em meus ombros por trás e sussurra no meu ouvido - ao menos agradeça...
- ...o-obrigado... - sussurro sorrindo
- os ensaios são todas as sextas depois da aula, espero você no ensaio de hoje!
- claro! - sorri e peguei no braço da Tamashi saindo de lá
- e então? - diz quando paramos no corredor
- sinceramente não sei como agradecer - abraço ela - se não fosse por você...
- ei, não precisa agradecer. Claro eu te dei uma ajudinha, mas conseguiu o papel por si mesmo.
- estou te devendo muito
- não, eu disse que iria te ajudar, lembra? - diz e o sinal toca - te vejo depois, pequeno girassol
- até - abraço ela e vou saltitando em direção a minha sala
No meio do caminho, Akira e Yudi vem até mim, eu recuo alguns passos com as pernas começando a ficar trêmulas.
- agora não tem a sua guarda costas pra te proteger - diz Akira e me empurra na parede
- ...v-vão embora! - digo me apoiando na parede
- olha, o garotinho de repente ficou corajoso e aprendeu a falar - pega no meu rosto com força
- vamos logo para a sala, não quer levar outra bronca do professor - diz Yudi cruzando os braços
- logo agora que ficou interessante? - pega uma gilete no bolso - eu não vou demorar
Começo a me debater tentando me soltar mas ele desfere um soco no meu estômago, depois segura meu rosto tapando minha boca e aproxima a gilete do meu rosto com um sorriso juntamente com um olhar insano, em um movimento rápido Akira perfura minha bochecha me fazendo gritar e seguro suas mãos com a pouca força que tinha, e o empurro para cima de Yudi.
Nesse momento corri o mais rápido que pude e subi as escadas tropeçando em meus pés, quando chego no meu canto secreto, entro batendo a porta atrás de mim, coloquei as mãos na boca e lentamente sentei no chão tentando abafar o choro. Olho para minha mão e a mesma estava ensanguentada, me sentia horrorizado pelo que tinha acabado de acontecer.
A ferida começava a arder conforme os minutos se passavam, apenas pego um lenço e passo no rosto limpando o sangue, depois pego um curativo da mochila - por experiência própria, sempre tenho um na mochila, mas não esperava que iria usar dessa forma - e coloco na ferida.
Enquanto olhava dentro da mochila, noto que meu diário estava dentro, o que era confuso, porque não lembro de ter o colocado aí. Quando o pego, abro o cinto e as páginas passam para a que estava em branco, suspiro e pego uma caneta começando a anotar meus sentimentos mais profundos.
Querido diário, eu odeio o Akira e o Yudi, os detesto mais que tudo nesse momento. Parece que a função deles na terra é fazer da minha vida um inferno. Hoje passaram dos limites, foi completamente diferente de tudo que já fizeram comigo, tem uma ferida enorme na minha bochecha, céus como vou explicar o que aconteceu!? Para mim não dá mais, eles me fizeram mal pela última vez, os dois devem pagar. Começando por Akira, aquele psicopata doente merece ser punido no mesmo grau que suas ações contra mim. Yudi merece uma penalidade também, por ser sempre o cúmplice de todas as maldades.
{Himawari}
Quando larguei a caneta, me senti estranho, como se algo terrível estivesse prestes a acontecer, esse sentimento me causava arrepios.
|Narrador
Depois que Himawari sumiu pelos corredores, os dois valentões se encaravam em silêncio, até Yudi se pronunciar:
- você pegou pesado dessa vez - disse olhando para a gilete na mão do companheiro
- a qual é, não sabe se divertir? - disse cortando o ar a lâmina em mãos
- eu sei bem o que é se divertir, mas o que você fez está longe disso!
- era só um garoto tonto, por que se importa?
Essa pergunta fez Yudi refletir no fundo de si, fez muitas coisas que prejudicassem outras pessoas - maioria contra Himawari - mas outra pergunta surgiu em sua mente: por que fazer isso? Desde quando seu passatempo se tornou atormentar os outros?
- por que a gente faz isso? - disse após alguns minutos em silêncio
- se você não demonstrar superioridade, os outros te comem vivo - disse o olhando sério
- acha que ser covarde e machucar os outros, faz você melhor?
- você me chamou de que? - a raiva borbulhava dentro de si
- eu não sei como fiquei tão cego ao ponto de aceitar isso. Você é um covarde!
Aquelas palavras fizeram a fúria de Akira se acender chegando ao limite, o mesmo fechou os punhos e girou a gilete em seus dedos, se aproximando lentamente do amigo.
- Akira...você está me assustando - Yudi recua sentindo medo do olhar sombrio do outro
- se não está do meu lado, está contra mim. Sabe o que eu faço com os meus inimigos, Yudi?
Sem responder, o mesmo corre em direção a escada, mas é segurado e jogado no chão por Akira que o segurava ao mesmo tempo que desferia socos no rosto dele. Em um momento a lâmina acidentalmente passou pelo olho de Yudi o fazendo gritar de dor.
Ele bateu sua testa contra a do maior e o empurrou com toda força, saindo de seu aperto e se arrastando para mais perto da escada. Colocou a mão sobre o olho e tremeu ao ver o sangue escorrendo por seus dedos, sentia uma dor absurda no local a medida que sua visão se trovava cada vez mais turva, tanto que não viu quando Akira o golpeou no peito no momento em que se pós de pé.
Só percebeu o que tinha acontecido quando sentiu a lâmina da gilete atravessar seu peito. Naquele momento, Akira que antes estava cego de ódio, viu o que sua raiva tinha feito e encarou seu amigo que fazia uma expressão de horror para o mesmo. A mesma expressão que suas vítimas faziam quando se deparavam com os dois. Yudi agarrou a gola da camisa dele e pisou em falso no primeiro degrau perdendo o equilíbrio, assim os dois caíram escada a baixo, sem parar de encarar um ao outro.
Quando aterrissaram no chão, lado a lado, já não estavam mais conscientes. Yudi pelos graves ferimentos e Akira por bater fortemente a cabeça em um dos degraus no momento da queda.
Uma enorme poça de sangue se formava em volta dos mesmos, se não fosse uma aluna que saíra da sala para ir ao banheiro, não seriam notados até o sinal tocar, a mesma soltou um alto grito de horror ao se deparar com a terrível cena que via a sua frente, chamando a atenção dos demais alunos e professores que saíram das salas alarmados.
Quando Himawari sai da sala após ouvir o grito, quase perde o equilíbrio nas pernas ao ver aquela cena. Então o caderno veio a sua mente, e chegou a estremecer com a hipótese de ter provocado isso, não sabia ao certo.
Mas uma ideia veio logo em seguida, a qual inesperadamente pareceu fazer sentido: o caderno talvez possa ser a verdadeira causa do que aconteceu.
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