Capítulo 18
A mensagem era curta e direta, mas suficiente para fazer meu coração disparar. "Precisamos falar. Urgente. Não conte a ninguém." O remetente era meu irmão, Cláudio. Algo no tom da mensagem me deixou inquieto, mas tentei disfarçar. Fingi que era de outra pessoa.
— Você reconhece esse número? — perguntei, tentando manter a voz firme.
Lucas balançou a cabeça. — Sim, alguém do trabalho. Vou precisar fazer plantão amanhã.
Fernando, que estava prestando atenção, se aproximou. — Talvez devêssemos seguir com cautela. Acha mesmo que deve voltar a trabalhar?
— Sim, — respondi, com rapidez. — não vou parar de trabalhar porque tem alguém atrás de mim ou de Lucas.
Gabriela pegou seu laptop e começou a trabalhar, seus dedos ágeis digitando com rapidez. Enquanto isso, Fernando e Lucas discutiam as possíveis origens da mensagem, tentando fazer conexões com as informações que já tínhamos. Eu, no entanto, não conseguia ficar parado. A pressão de manter o segredo estava pesando sobre mim.
— Eu preciso de um ar, — murmurei, me levantando rapidamente. — Vou para a varanda um instante.
Lucas me olhou, preocupado, mas não disse nada. Gabriela, no entanto, percebeu meu incômodo. Caminhei até a varanda, sentindo a brisa fresca tentar aliviar a tensão que tomava conta de mim. Poucos minutos depois, ouvi passos atrás de mim e me virei para ver Gabriela.
— Está tudo bem? — perguntou ela, com um olhar preocupado.
Suspirei, olhando para a cidade abaixo. — Não sei, Gabi. Essa mensagem... é do meu irmão, Cláudio. Ele disse que precisamos falar urgentemente e que não devo contar a ninguém.
Gabriela arregalou os olhos. — E por que não contou isso para os outros? Se esse tal Cláudio é seu irmão ele não vai lhe fazer mal.
— Eu não sei se posso confiar nele, — respondi, minha voz cheia de incerteza. — Cláudio sempre teve um lado obscuro. Se ele está envolvido, pode ser perigoso para todos nós. Alias, Lucas ainda é um foragido. Ele pode estar vindo atrás de mim, mas Lucas seria um prêmio para ele.
Gabriela se aproximou e colocou a mão em meu ombro. — Precisamos decidir o que fazer, mas não podemos agir sozinhos. Precisamos de um plano.
Assenti, tentando acalmar meu coração acelerado. — Você tem razão. Mas acho que deveria encontrar com ele, saber o que quer. Preciso mesmo conversar com ele e afastar ele ainda mais de Lucas.
— Certo. Mas tenha muito cuidado, Marcus, — disse Gabriela, com firmeza. — Não conte a ninguém, mas se precisar de ajuda, eu estarei aqui.
Entramos novamente na sala, onde Lucas e Fernando ainda discutiam possibilidades. Os dois estavam tão imersos na conversa que nem perceberam nossa ausência momentânea. Gabriela e eu trocamos um olhar cúmplice, e ela me deu um leve aceno de cabeça, indicando que estava pronta para me acobertar.
— Descobriram alguma coisa? — perguntei, tentando soar o mais natural possível.
— Ainda estamos analisando, — respondeu Fernando. — Esse número parece ter algumas camadas de segurança. Estamos tentando rastreá-lo, mas pode levar um tempo.
Lucas me olhou, preocupado. — Você está bem? Parecia meio abalado lá fora.
Sorri, tentando esconder minha ansiedade. — Só um pouco de tensão, Lucas. Precisamos resolver isso logo, e a pressão está começando a me afetar. Mas vou ficar bem.
Gabriela interveio, mudando de assunto. — Marcus, talvez você devesse resolver aquelas pendências no hospital hoje à noite. Pode ser uma boa distração e ainda nos dá tempo para continuar investigando.
Lucas franziu a testa. — Isso é arriscado. E se for uma armadilha?
— Não é uma armadilha. E outra eu posso cuidar de mim. E vocês estarão aqui, prontos para agir se algo der errado. — argumentei, tentando soar convincente.
Fernando assentiu lentamente. — Pode ser uma boa ideia. Mas Marcus, você precisa estar preparado para qualquer coisa.
Olhei para Gabriela, que entendeu o recado imediatamente. — É só o trabalho dele, vamos deixar ele resolver suas coisas.
Lucas ainda parecia preocupado, mas finalmente concordou. — Tudo bem, mas tenha muito cuidado. Não podemos nos dar ao luxo de perder nenhum de vocês. — Ele se aproximou de mim e encostou seus lábios nos meus. — Principalmente você. — ele sussurrou.
— Só irei ao hospital, baby. Tudo ficará bem!
Com um plano improvisado, me preparei rapidamente para sair. Antes de partir, Lucas me puxou de lado, seu rosto grave. — Por favor, Marcus, prometa que vai voltar seguro.
Segurei sua mão, sentindo a preocupação em seu toque. — Prometo, Lucas. Eu vou voltar.
A tensão ainda pairava no ar, mas o ato de cozinhar juntos oferecia uma sensação de normalidade em meio ao caos.
— O que vamos fazer para o almoço? — perguntou Fernando, tentando aliviar o clima.
— Que tal uma massa? — sugeriu Gabriela. — É rápido e fácil de preparar. Podemos fazer um molho de tomate com manjericão fresco.
Concordamos, e logo estávamos todos ocupados com diferentes tarefas na cozinha. Fernando picava cebolas e alho, enquanto Gabriela preparava o molho. Lucas estava encarregado de cozinhar a massa, e eu me encarreguei de preparar uma salada.
Enquanto trabalhávamos, a conversa fluía de forma mais leve. Falávamos sobre memórias de infância, histórias engraçadas e planos para o futuro, tentando manter a esperança viva. Aquele momento de descontração era um alívio bem-vindo, e ajudava a fortalecer nosso vínculo.
Quando a comida ficou pronta, nos sentamos à mesa e começamos a servir. O cheiro delicioso do molho de tomate se espalhava pelo ar, e a visão dos pratos bem preparados trouxe um sorriso aos rostos de todos.
— Isso parece incrível, — disse Lucas, pegando uma grande porção de massa. — Precisávamos disso.
— Sim, — concordei, servindo-me também. — Um pouco de normalidade em meio a tanta confusão.
Comemos em um silêncio confortável por alguns minutos, apreciando a refeição. Gabriela olhou para mim, sua expressão séria, mas com um toque de carinho.
— Marcus, vamos resolver isso. Estamos juntos nessa, e vamos encontrar uma saída.
Assenti, sentindo um calor reconfortante em seu apoio. — Eu sei, Gabi. E agradeço por tudo.
A refeição continuou com conversas casuais, risadas ocasionais e um sentimento de camaradagem crescente. Era como se estivéssemos criando um momento de paz, uma pequena bolha de tranquilidade em meio à tempestade.
Depois do almoço, nos juntamos para limpar a cozinha, trabalhando juntos de forma eficiente. O tempo que passamos juntos, mesmo em tarefas mundanas, ajudava a fortalecer nossa determinação e confiança.
Saí da casa de Fernando e Gabriela, meu coração batendo rápido. Sabia que o que estava prestes a fazer era arriscado, mas não tinha outra escolha. Precisava descobrir o que Cláudio queria e garantir que Lucas estivesse seguro. Mandei mensagem para ele me encontrar nas docas do porto. Faltavam horas para que meu encontro com meu irmão de fato acontecesse.
Peguei um táxi que passava pela rua e dei o endereço da minha casa na Urca. O motorista me lançou um olhar curioso, mas não disse nada, apenas acelerou, deixando as ruas desertas para trás.O clima lá fora começava a mudar. O sol, que até então brilhava intensamente, agora estava escondido atrás de pesadas nuvens cinzentas que ameaçavam trazer chuva. A luz do dia estava desaparecendo rapidamente, dando lugar a uma escuridão sombria que parecia refletir a minha inquietação interna.
Enquanto o táxi avançava pela cidade, meu telefone vibrou no bolso. Era Lucas, enviando mensagens de preocupação:
Lucas: "Você está bem? Estou preocupado."
Lucas: "Por favor, me avise quando chegar em casa."
Lucas: "Marcus, não faça nada arriscado."
O brilho da tela iluminava meu rosto enquanto eu lia as mensagens, sentindo o peso da preocupação de Lucas. Respondi rapidamente, tentando tranquilizá-lo:
Marcus: "Estou a caminho de casa, baby. Vou ficar bem. "
Olhei pela janela do táxi, vendo as luzes da cidade se desfazerem na chuva. A Urca era um lugar calmo, longe do caos do centro, mas hoje parecia especialmente distante e isolado. O som das gotas de chuva batendo no vidro do carro era hipnotizante, quase sufocante, enquanto minha mente corria com possibilidades e preocupações.
Cheguei em casa e paguei o motorista, saindo rapidamente do táxi para me abrigar da chuva. A casa estava escura e silenciosa, um refúgio familiar em meio ao tumulto da minha vida. Entrei e acendi as luzes, a sensação de segurança sendo rapidamente substituída pela necessidade de me preparar.
Precisava estar preparado, tanto mental quanto fisicamente, para o que estava por vir. Troquei minha roupa com movimentos rápidos e precisos, colocando uma calça jeans confortável, uma blusa de manga preta e uma jaqueta de capuz cinza. A jaqueta me oferecia uma sensação de segurança, o capuz poderia esconder meu rosto se necessário.
Enquanto me vestia, olhei para a gaveta onde guardava o velho revólver que havia herdado de meu avô. A arma era uma relíquia, mas ainda funcional. Retirei o revólver da gaveta, sentindo o peso familiar em minha mão. O metal frio contra a minha pele trazia um misto de conforto e alerta. Carreguei o revólver e o coloquei cuidadosamente na cintura, sob a jaqueta.
Saí da casa, a brisa fria me atingindo no rosto, trazendo consigo o cheiro de terra molhada e a promessa de uma tempestade iminente. Entrei em um uber e fiquei em silêncio tantando pensar nas minhas possíveis ações. A cidade, que antes estava banhada em luz, agora era uma sombra de si mesma, com as primeiras gotas de chuva começando a cair.
Enquanto ele dirigia para as docas, as ruas molhadas refletiam as luzes dos postes, criando um efeito de espelho que distorcia a realidade ao meu redor. O caminho estava deserto, exceto por alguns carros apressados que passavam. A cada quilômetro percorrido, o nervosismo crescia. Pensava em Lucas, em Fernando e Gabriela, e na promessa que fiz a todos eles de resolver essa situação. Já passava dás 19 horas, quando saí da casa deles.
Enquanto o táxi me levava em direção às docas do porto, o caminho nos fez passar pelo Museu do Amanhã. As luzes do museu, refletindo na água da Baía de Guanabara, criavam um contraste impressionante com o céu escuro e carregado de nuvens. As linhas futuristas do edifício eram um lembrete do progresso e da esperança, um cenário estranho para o encontro tenso que se aproximava.
O museu, geralmente vibrante com a presença de turistas e locais, estava agora quase deserto devido à chuva. O brilho das luzes se misturava com as gotas de água, criando uma visão distorcida e quase surreal. Eu mal conseguia apreciar a beleza do local, minha mente estava focada no encontro iminente com Cláudio.
Finalmente, deixamos o museu para trás e o táxi entrou na área portuária, as ruas ficando cada vez mais escuras e desertas. O caminho sinuoso e estreito parecia interminável, mas eu sabia que estava perto de descobrir o que Cláudio queria. As docas do porto estavam logo à frente, e eu precisava estar preparado para o que quer que viesse a seguir. Os contêineres e guindastes eram sombras ameaçadoras, e o som distante das ondas quebrando contra os navios ancorados era quase hipnotizante.
O motorista estacionou o carro em um canto discreto e eu desci, puxando o capuz da jaqueta sobre a cabeça para me proteger da chuva que agora caía com mais intensidade. Cada passo que dava em direção ao local combinado fazia meu coração bater mais rápido, como se estivesse correndo uma maratona. As gotas de chuva escorriam pelo meu rosto, misturando-se com o suor frio da antecipação.
Vi Cláudio de longe, parado ao lado de um contêiner, as mãos nos bolsos e uma expressão sombria no rosto. Ele olhou na minha direção e fez um sinal para que eu me aproximasse. Caminhei até ele, tentando manter a calma e a compostura, apesar da tempestade de emoções dentro de mim.
A noite havia chegado, e com ela, a promessa de que nada mais seria o mesmo. Estávamos prestes a descobrir segredos que poderiam mudar minha vida, e eu sabia que precisava estar preparado para qualquer coisa. A tensão no ar era quase palpável, e a sensação de que algo grande estava prestes a acontecer nunca foi tão intensa. Seu rosto se iluminou ao me ver, mas logo voltou a ficar sério.
— Marcus, — disse ele, com a voz tensa. — Precisamos falar.
— Cláudio, — disse eu, tentando manter a voz firme. — O que você quer?
Cláudio me observou por um momento antes de falar, sua voz baixa e controlada. — Como está o papai?
— Está bem! — digo rápido.
— Precisamos conversar, Marcus. E você precisa ouvir o que eu tenho a dizer.
Cruzei os braços, mantendo uma distância segura. — Então fale. Estou ouvindo.
Ele deu um passo à frente, os olhos fixos nos meus. — Sei que você está envolvido em algo grande, algo perigoso. E eu sei sobre Lucas. Não pense que sou ingênuo.
O coração acelerou ao ouvir o nome de Lucas, mas mantive a expressão neutra. — O que você sabe exatamente?
Cláudio suspirou, parecendo cansado. — Eu sei que ele está sendo procurado e que você está tentando protegê-lo. Mas, Marcus, você está se metendo em algo que não compreende totalmente.
Fiquei em silêncio, esperando ele continuar.
— Existe um grupo, uma organização, que está atrás de vocês dois, — continuou Cláudio. — E eles não vão parar até conseguirem o que querem. Eles sabem que Lucas tem informações valiosas, e estão dispostos a fazer qualquer coisa para obtê-las.
— E você? — perguntei, tentando entender sua posição. — De que lado você está, Cláudio?
Ele deu um sorriso amargo. — Eu estou do seu lado, Marcus. Sempre estive. O fato de eu sempre ter sido rude com você e pela sua tranquilidade com a vidae toda essa sua igênuidade, fantasiada de bondade. Mas precisamos ser espertos. Precisamos jogar esse jogo com inteligência.
— Você sabe que Lucas é um foragido. Sabe que todo Rio está atrás dele. Então, o que sugere? — perguntei, ainda desconfiado.
Cláudio olhou ao redor, certificando-se de que estávamos sozinhos. — Precisamos encontrar provas contra essa organização, algo que possamos usar contra eles. E precisamos proteger Lucas a todo custo. — Meu coração apertou ao ouvir isso. Entre as milhões de coisas que Cláudio poderia falar ou fazer, um sinal de preocupação é uma das menores coisas que eu esperava. — Lucas é peixe pequeno, Marcus. Seus envolvimentos não são comparados com o que está acima dele, ele só acha que está comandando tudo, porém, mal sabe ele.
Olhei estranho para Cláudio. Ele estava escondendo algo.
Ele estendeu um envelope para mim. — Aqui estão algumas informações que consegui. Vai te dar uma ideia melhor do que estamos enfrentando.
Peguei o envelope. — Obrigado, Cláudio. Eu vou dar uma olhada nisso.
Ele assentiu, dando um passo para trás. — Tenha cuidado, Marcus. E lembre-se, não estamos sozinhos. Temos aliados, mas nossos inimigos também tem.
///Nota do Autor ///
Oi, estou acompanhando vocês com os likes e alguns comentários, mas estou sentindo falta do engajamento de vocês com a história e com os fatos que vieram acontecendo... deixe nos comentários com está achando da história e o que vocês acham quem está por vir...
Um beijo e até a próxima.
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