Ao mesmo tempo que Monike não conseguia colocar um pé para fora de casa, ele também sentia que havia alguma coisa muito errada.

Nicolas era metódico nas coisas que fazia, sempre conferindo três vezes as portas, quatro as janelas e vindo lhe visitar as noites no mínimo oito vezes. Se perguntava se aquele homem dormia por acaso, afinal a maioria do tempo estava resolvendo coisas pelo celular, vistoriando a chácara, lhe fazendo companhia, ou assistindo Dorama, o mesmo Dorama.

Mell tinha certeza que aquela porta não foi deixada por acaso aberta. 

O que ele queria?

Bem, qualquer um iria sair correndo o mais rápido que podia... Mas Monike apenas conseguiu encostar as costas na porta e escorregar até o chão.

Seu olhar caiu sobre o Roteiro enquanto se concentrava na respiração. 

Não conseguia sair. Não queria sair. 

Ali dentro estava... Seguro?

Se abraçando, o jovem mordeu a parte interna de sua bochecha ao bater a cabeça na porta. 

Havia conhecido Nicolas uma semana depois de ter vindo para a Chácara Limões no Rio de Janeiro, em uma Cidadezinha afastada e esquecida por Deus. Vamos para o Brasil, seus irmãos lhe disseram, vai ser divertido, eles disseram... Porém, aquela altura, estava aceitando qualquer coisa que lhe tirasse da Coreia.

Sair estava fora de questão.

Ao fechar os olhos, Monike escutou o som da chuva forte se chocando contra a casa. Aquele som estranhamente acolhedor, frio e continuo.  

Não deveria sair, pois era um teste. Miguel queria saber se na primeira oportunidade, Monike iria sair correndo dali. Confiança ou insegurança? Seja qual for o motivo, ele nunca poderia escapar de alguém que escondia uma arma.

Seria uma brincadeira de caçada e ninguém escutaria o tiro ou os seus gritos implorando por socorro.

Por que Mell se sentia como um passarinho preso em uma gaiola, mas que mesmo sendo um conceito horrível, não conseguia fugir da gaiola? Era o único lugar que conhecia, que estava seguro... 

Miguel entrou na sala procurando por Monike, se deparando com um jovem rapaz sentado no chão abraçando seus próprios joelhos, igual a uma criancinha assustada. 

E que não estava sozinho.