Sentado a mesa Monike comia lentamente, observando Nicolas de canto de olho lavando a louça. 

Não conseguia aproveitar o sabor forte da comida, da sensação meio salgada que o omelete deixava em sua língua ou como o café estava quente demais ao deslizar por sua garganta. Afinal, toda a vez que via Miguel segurar uma faca, seu coração pulsava tão forte que se permita fechar os olhos.

Mas ele nunca fez nada, ao menos não além de lavar, secar e guardar. 

Vê-lo de costas era tentador... Afinal havia uma xícara de vidro nas mãos de Monike. O certo seria tentar. Valeria a pena ariscar... Toda a vez que o homem se movia, o som tilintante das chaves deixava o garoto agoniado. 

Deixando a xícara no cantinho da mesa, Mell pegou o garfo em sua mão. Poderia usá-lo. Apenas bastava acertar o pescoço. Preciso e rápido. Não devia ser tão difícil. 

Fazendo carinho no cabo de plástico, o jovem cortou um pedaço do omelete. A faca na manteiga seria inútil, não tinha corte. Nem a do pão de sal, ou pode de plástico da maionese. Nem o presunto, nem o queijo, nem os pães de queijo... Mesmo que fossem deliciosos.

Monike empurrou um pouco mais a xícara.

O Roteiro estava a sua esquerda junto de uma caneta preta. Ah... A caneta. Ela poderia ser útil.

Deveria correr o risco? 

Qualquer pessoa correria o risco.

Apertando o garfo na sua mão tremula, Mell suspirou em uma tentativa falha de acalmar seu coração afoito. 

Miguel pegou a faca mais uma vez, daquelas de carne, grande com um cabo de madeira. Ela brilhava com o reflexo da pouco luz que passava pela janela. A chuva se engrossou, fazendo os pingos se chocarem desesperados no vidro, avisando quando Miguel pegou o afiador de faca.

Ao raspar a lamina contra a metal, aquele som sofrido ecoou, junto com algumas poucas faiscar. Nicolas afiava a lamina com precisão, tratando muito bem daquela faca.

Até que o som de algo se estilhaçando no chão lhe vez se virar para olhar Mell.

O garoto sente um frio na barriga enquanto engolia a seco.

A xícara de café estava em vários pedaços.