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Capítulo 28

      Há um breve intervalo para que nos permite conversar um pouco. Jordana está feliz por ter ficado em terceiro lugar e Angel também, com sua medalha de segundo colocado. Mas eles demonstram estar muito mais felizes por eu ter ficado em primeiro lugar na minha categoria, por eu ser a vencedora.

      Às vezes custo a acreditar que isso aconteceu. Embora eu jamais imaginasse que alguém pudesse dançar melhor que eu, sempre pode acontecer o imponderável. Uma queda, um pé dobrado, sei lá.

      Quando olho para o dourado da minha medalha, no entanto, a dúvida se dissipa e eu volto a sorrir.

      — Pra variar, uma bailarina da Letícia sempre é a grande vencedora — Alice me segura pelos ombros. Ela sorri. — Parabéns, meu amor.

      Perdi a conta de tantos obrigados dei como resposta. Prefiro responder com um sorriso de gratidão.

      — Eu tô orgulhoso de verdade da minha amiga — Jordana me aperta contra seu peito, me balançando. Quando me solta, posso ver uma pequenina lágrima brotando de seu olho direito.

      — Ela simplesmente AR-RA-SOU! — Angel corrobora o sentimento da colega ruiva.

      — Deu uma aula a nós três de como se dança — Alice se refere a ela e aos dois colegas.

      Faço um gesto de negação com a cabeça, embora eu goste de estar recebendo essa massagem na autoestima.

      — Gente, nada a ver. Vocês também dançaram muito.

      Angel dá de ombros.

      — Pode ser. Mas hoje a honra maior cabe para a caçulinha do nosso grupo — o louro sorri de um jeito todo Bonachão e meloso.

      Todos desviamos os olhares quando escutamos o barulho dos saltos de sapatos. Letícia está sorrindo, embora não mostre os dentes. Se aproxima de nós, me segura pelos ombros.

      — Eu concordo com o que os três disseram. Hoje a noite é toda sua. Você é o destaque — seus olhos castanhos e cristalinos se pousam nos meus.

      Não sei o que responder. Não é do feitio da Letícia elogiar um aluno com tanta sinceridade, o que quer dizer que eu superei suas expectativas.

      — Você não se intimidou, não ficou nervosa, foi pro palco e mostrou um balé gracioso. Todo mundo te aplaudiu em pé ontem. E hoje… — ela faz uma pausa, tentando achar palavras. — Todo mundo te aplaudiu em pé de novo. Sua coreografia foi perfeita!

      Nós duas ficamos em silêncio, apenas sorrindo.

      — A melhor coisa que eu fiz na minha vida foi ter te tirado da Fernanda Rossini. Eu sempre soube que você tinha o que a dança precisa. E é só o começo. Eu me emocionei demais ao assistir sua apresentação. Estou muito orgulhosa de você.

      Meus olhos fazem uma incursão breve do semblante feliz da minha professora para os rostos dos bailarinos do Balé Profissional. Eles sorriem, me mostrando que não estão com inveja. Pelo contrário.

      Volto a olhar para Letícia.

      — Obrigada por ter acreditado em mim — reconheço de coração por todo o cuidado, por todo o zelo que ela teve na minha preparação.

      Letícia toca a maçã do meu rosto. Com um dos braços me envolve pelo ombro, e com o outro, chama Alice, Jordana e Angel. Nós cinco nos abraçamos e a emoção transborda.

      — Estou orgulhosa de vocês quatro. Vocês representaram nossa escola, deram seu melhor, me encheram de alegria. Sei que pego no pé de vocês sempre, mas é porque quero o melhor de todos. A maior fã de uma bailarina é sua própria professora.

      Eu sei disso, Letícia. Agora eu sei.

      Letícia rompe o contato subitamente, pigarreando. Seu rosto recobra a neutralidade habitual, os olhos se estreitam.

      — Agora, voltem para seus lugares. O que estão esperando? A premiação do contemporâneo vai começar, gente.

      Ela bate palmas, nos instigando a voltar às nossas poltronas. Enquanto se senta ali atrás, junto com alguns professores das escolas que participaram, nós quatro vamos lá a frente, perto do palco.

      O locutor do evento toma um copo d'água oferecido por sua bela assistente morena, agradece e recebe da mão dela os envelopes azuis. Ela se retira e ele pigarreia.

      Os efeitos irritantes da microfonia voltam a dar o tom, sendo facilmente silenciados.

      PEDIMOS À TODOS SILENCIO PARA O ANÚNCIO DOS VENCEDORES DA MODALIDADE BALÉ CONTEMPORÂNEO!

      As vozes se calam. 

      CATEGORIA JÚNIOR, FEMININO!

      TERCERA COLOCACIÓN, CON SOLO SENTIMIENTO LIBRE, BAILARINA DE ESCUELA DANIELA SANSINI, BUENOS AIRES, ARGENTINA: JULIANA PLACENTE!

      A argentina se aproxima do palco, sobe os quatro degraus da escada e é cumprimentada pela Primeira Bailarina do Teatro Colón enquanto esta lhe põe a medalha no pescoço.

      Como há pouco, quando ficou em segundo lugar na modalidade Ballet Clássico, todos os flashes das câmeras captam seu sorriso de agradecimento, tímido e discreto, seus gestos. Ela é uma fada. Tenho certeza que nós duas vamos concorrer muitas vezes ainda.

      — Eu gostei demais dela — confidencio a Jordana.

      — Eu também — minha amiga continua batendo palmas. — Ela me lembra bastante a Danny, talvez pelo olhar doce.

      Juliana faz seu caminho de volta ovacionada por seus fãs. Ela não ficou em primeiro lugar em nenhuma das modalidades que disputou, mas o carinho e reconhecimento de seus fãs é incrível.

      SEGUNDA COLOCACIÓN, CON SOLO CAMINO DE LA ALMA, BAILARINA DE ESCUELA FLOREANA AGUIRRE, LIMA, PERU: RAFAELA ARISTIZÁBAL CONTRERAS!

      Quem se levanta é uma bela moça negra. Ela fica tão emocionada que leva as mãos à boca, tentando abafar o grito involuntário causado pela felicidade.

      A peruana é, até o momento, a que mais demonstra o sentimento de estar em êxtase, vivendo um sonho de olhos abertos. Ela não sente medo de se despir por completo, de mostrar para as pessoas o quanto está feliz e acho isso lindo numa bailarina. 

      Acho que devíamos ser assim, afinal, temos alma latina. Somos passionais por natureza, isso faz parte de nós.

      Os aplausos cessam aos poucos. O silêncio imbuído de suspense volta a imperar.

      O último envelope está sendo aberto pelo locutor, e como se eu tivesse uma audição apurada, é como se eu pudesse ouvir os dedos ásperos do argentino correndo pela camurça do sobrescrito.

      PRIMERA COLOCACIÓN, CON SOLO PRIMAVERA DOS SENTIDOS, BAILARINA DE LETÍCIA BALLET, SÃO PAULO, BRASIL: SOFIA CHRISTINA DA SILVA!

      Tomada por uma alegria impossível de conter, dou um grito e fico em pé. De todos os lados, gritos de maravillosa, hermosa, explodem de todos os lados, acompanhados de aplausos, e me acompanham até o palco.

      Agora acredito de verdade que esse festival foi meu. Que eu sou boa de verdade, que não fico devendo nada a ninguém.

      Eu honrei com todos os louvores a confiança que todo mundo depositou em mim. 

      Eu honrei a mim mesma e representei com orgulho todas as meninas negras, todas as mulheres de pele preta, que todos os dias têm que se esforçar muito mais que os outros pra conquistar seus objetivos.

      Estou feliz de verdade.

      Jordana me dá um abraço muito mais apertado, a felicidade saindo de cada poro de sua pele branca como leite como se ela estivesse vivendo seu melhor momento. Ela me puxa pra si como uma mãe faz com uma filha

      — Você tem ideia do que fez, menina? Sabe da importância disso tudo? — ela pergunta com voz embargada.

      — Eu sei — respondo em poucas palavras. — E quero muito mais. Quero que momentos como esse se repitam sempre.

                             …

      A melhor parte do fim de um festival de dança é quando todo mundo pode voltar ao hotel a fim de dormir e voltar pra casa. Estou pregada. Preciso tomar um banho quente e dormir, já que nosso vôo para São Paulo sairá bem cedo e nem vamos ter tempo de tomar desayuno.

      Mas os momentos pós-premiação estão sendo tão gratificantes que consigo sorrir e ser simpática enquanto sou fotografada e respondo à perguntas de repórteres e professores de escolas de balé da Argentina e do Paraguai.

      — Fiquem juntas. Segurem suas medalhas com a mão direita — uma fotógrafa pede a mim, a Juliana e a Paola Sierra.

      Como fiquei em primeiro lugar, me posiciono no meio. A argentina fica à minha direita e a chilena, à esquerda. Sorrimos e a fotógrafa faz vários registros.

      — Bueno. Ahora, una foto de las ganadoras del Contemporâneo.

      Juliana e eu trocamos um olhar com significado. Ela cede seu lugar ao meu lado para a Rafaela Aristizábal e ocupa o lugar deixado pela chilena.

      — Sorriam, meninas.

      Com a minha parte cumprida, me afasto das meninas e fico aguardando os bailarinos do Balé Profissional tirarem suas fotos. Jordana e Angel não obtiveram medalhas no Contemporâneo, mas Alice conquistou o segundo lugar. E como o número de medalhas da Letícia Ballet nunca passou de quatro por festival, com as cinco que conquistamos em Posadas quebramos a marca.

      — Como você se sente agora? — Letícia me aborda após se despedir da professora da Juliana.

      Dou de ombros.

      — Satisfeita. Por enquanto, tá bom.

      Letícia faz um meneio de cabeça afirmativo.

      — Depois de amanhã mostro as notas que os jurados deram às apresentações de vocês quatro. Mas e aí, sabe o que vai fazer com o dinheiro dos prêmios?

      A pergunta da minha professora me alça a um outro patamar de entusiasmo. Tinha me esquecido do dinheiro.

      — Faz tempo que tô querendo comprar um par de botas de cano alto e uma jaqueta.

      — Bombom… — Letícia faz uma expressão de advertência.

      — Sou adolescente, preciso caprichar no meu visual — torço para que ela compreenda.

      Letícia revira os olhos. Ela teve minha idade um dia, deve saber o quanto é importante para uma garota renovar seu guarda roupa.

      — Se eu fosse você, economizaria para pagar por cursos de especialização com professores da Promoarte ou para viagens. Afinal, você ganhou vaga para disputar o Dance Festival em Nova York. Mas tudo bem.

      A primeira a se aproximar de nós após as fotos é Jordana. Mostrando no rosto sinais de cansaço e sono, solta um suspiro alto.

      — Por mim, a gente podia voltar agora para o hotel — ela acaricia meu cabelo. — Acho que ninguém mais vai querer sequestrar a Bombom — a brincadeira dela me faz rir.

      — É bom mesmo, eu não admito que queiram levar minha bailarina prodígio. Só eu posso tirar bailarinas de outras escolas e não tô nem aí. Demorei muito pra achar alguém como ela e não admito perdê-la tão cedo.

      Julgo que é meu dever me abrir, e por mais que ache isso meloso, que não combine comigo, simplesmente falo:

      — Fica tranquila, Letícia. Eu ainda tenho muito o que aprender com você e vou ficar muito tempo ainda na Letícia Ballet.

      É a resposta que ela quer ouvir. É também a certeza de que estou disposta de trabalhar junto com ela, de evoluir mais e crescer junto com sua escola.

      — Gosto assim — ela põe a mão em meu ombro. — Bom, acho que cabe a você uma mensagem de agradecimento ao Ademir Gonçalo e à YEX, não é mesmo?

      Sim. Não posso me esquecer que sem patrocínio eu não estaria aqui.

      Ela se afasta um pouco, mas logo volta.

      — Bombom, como eu sei que você gosta de se comparar, vou te dizer uma coisa que vai te deixar com a autoestima lá em cima: nem a Danny, e nem a Duda conquistaram duas medalhas de ouro num único festival. Ou seja, você é especial.

      Assim dizendo, ela se distancia de nós duas, dando um sorrisinho folgado.

      Meus olhos se arregalam, minha boca se abre em espanto enquanto olho para Jordana esperando uma confirmação.

      — Aham! — a ruiva quebra o suspense. — Tá feliz, fenômeno adolescente?

      — Super feliz! — comemoro. — Super feliz!

                             …

          Flashback on:

      Minha mãe entrou no pequeno estúdio me segurando pela mão. As mães conversavam sobre viagens de avião que pretendiam fazer e nem se deram ao trabalho de olhar para nós duas, se limitando a fazer os coques de suas meninas.

      Me sentei num banco de madeira, tirei a blusa de moletom enquanto mamãe tirava meus tênis e minha calça de malha. Fiquei em pé, passei a saia em volta da cintura pra ela amarrar.

      — Não pode usar saia. A gente só usa collant e meia calça com sapatilha rosa.

      Mamãe e eu voltamos nossa atenção para uma garotinha ruiva com cara de enjoadinha.

      — Eva! — a mulher ruiva que fazia o coque da menina a admoestou.

      — Desculpem minha filha, mas ela está certa. Dona Fernanda não deixa usar saias.

      Mamãe e eu trocamos um olhar. Ela sorriu, sem graça, desamarrou minha saia e a guardou na minha mochila.

      — Ela vai fazer aula teste? — a mãe da enjoadinha chamada Eva perguntou.

      — Vai sim. Ela quer ser bailarina, igual a Michaela Deprince.

      Olhei com o queixo empinado para a mulher que puxou assunto com minha mãe e a olhei de um jeito altivo. Também fuzilei a Eva.

      — Legal! — a mulher sorriu de um jeito amistoso.

      Mamãe se levantou, andou para trás de mim, começou a mexer no meu cabelo. Suas tentativas frustradas de fazer um coque no meu cabelo encaracolado me deixaram angustiada, e todas as mães olharam para nós. Elas viram na dificuldade de uma dona de casa pobre em deixar o cabelo de sua filha de cinco anos igual ao daquelas meninas que faziam balé desde que usavam fraldas como um aperitivo para a predisposição natural de rir de quem não fazia parte de seu círculo social.

      — Parecia tão fácil olhando pelo vídeo — mamãe estava constrangida, obviamente querendo que ficássemos invisíveis.

      — Tá bom assim — respondi.

      — Posso ajudar?

      Mamãe e eu olhamos para a mãe de Eva, que veio mais pra perto de nós.

      — Não precisa ficar envergonhada por não saber fazer coque, nenhuma de nós sabia — ela ficou ao lado da minha mãe, atrás de mim. Senti que não era minha mãe quem mexia no meu cabelo. — Mas essa fofura merece um coque lindo. Como ela se chama? — se dirigiu a minha mãe, sem interromper o trabalho começado.

      — Sofia.

      — Bombom! — respondi, enérgica.

      Calmamente, mamãe explicou que eu gostava de ser chamada pelo meu apelido.

      — Vai ser um nome artístico lindo. Bombom — a mãe da Eva retrucou com simpatia. Enquanto isso, sua filha nos fitava de longe com um semblante emburrado.

      Depois de alguns minutos, Francine se levantou – pois havia trabalhado no meu cabelo ajoelhada. Andou a minha frente, abriu um sorriso orgulhoso.

      — Pronto. Agora está linda.

      Fiquei em pé, andei até o espelho e olhei minha imagem. Um sorriso se formou em meu rosto. Era um coque lindo, sem nenhum cachinho fora do lugar, igual ao das meninas.

      — Gostou? — Francine me perguntou.

      Acenei que sim.

      — Obrigada, tia Francine.

      Ela respondeu com um toque suave no meu ombro, se voltou para minha mãe.

      — Eu posso ensinar você a fazer.

      — Obrigada — mamãe sorriu.

      Francine acenou com os dedos, voltou para perto da menina ruiva – que bufava com os bracinhos cruzados.

      O collant e as sapatilhas que eu usava foram compradas por mamãe num brechó da Vila Abernéssia. Talvez tivessem pertencido a uma das alunas daquele estúdio. A meia calça mamãe comprou numa loja de dança, e quanto às polainas, eu usava muito antes de sonhar em fazer uma aula de balé.

      Uma das minhas tias, irmã de papai, um dia me viu dançando em frente à tv enquanto eu via as bailarinas do Renata e você dançando aeróbica. De repente eu abri espacate e ela chamou minha mãe com um grito, impressionada com meu movimento. Aquilo era normal pra mim, já que nasci flexível.

      Mamãe já havia me pedido pra parar de fazer aquilo. Achava que eu podia me machucar. Minha tia, porém, disse que estava na hora da nossa família ter alguém importante. Uma bailarina. Pra desespero de dona Marina (éramos muito pobres), eu me fui seduzida pela sugestão da cunhada dela.

      — Mamãe, quero fazer balé.

      De tanto eu insistir, papai concordou que eu fizesse uma aula teste. No fundo eles acreditavam que uma menininha de personalidade forte e ranzinza como eu não fosse gostar de receber ordens de uma professora.

      Eles não podiam estar mais enganados.

      Mal entrei na sala de aula, logo fui para o primeiro lugar na barra, perto do espelho. Eva me mandou sair, pois aquele era seu lugar, porém me recusei.

      — Não tô vendo nenhum nome escrito aqui — afrontei a enjoadinha.

      A ruivinha chamou dona Fernanda. Para surpresa da menina, a mestra de dança explicou que por ser minha primeira aula, era melhor que eu ficasse ali, pois assim seria mais fácil para ela me ensinar os passos.

      Fiz uma aula tão auspiciosa que dona Fernanda chamou mamãe em sua sala e mostrou interesse em me dar uma bolsa de estudo integral.

      — A Sofia não mostrou insegurança em nenhum momento, acompanhou todas as meninas e tem expressividade de artista. Não posso perder um talento desses.

      Diante da oferta da bolsa integral, meus pais não se opuseram à minha vontade de fazer balé. Na semana seguinte comecei a fazer aulas regulares com aquelas meninas e o resto da minha história todos conhecem: ensaios, festivais pelo Estado de São Paulo, workshops, troféus e medalhas.

      Choques de egos, principalmente com o cocô de sapatilha chamado Eva.

      Talvez meu jeito briguento de lutar pelas coisas tenha criado para mim uma imagem de antipática e arrogante. Tudo bem. O que as pessoas pensavam de mim nunca foi da minha conta. Eu só queria dançar, encantar as pessoas e ser feliz, e eu estava obtendo isso. Eu estava conseguindo me descobrir como pessoa, e a cada festival eu descobria que podia ir além.

      Aos quinze anos, eu tinha convicção de que eu não era mais uma promessa e que não poderia permanecer indefinidamente na escola de dona Fernanda Rossini. Eu precisava trilhar outro caminho. Nenhuma companhia iria me olhar se ela não soubesse que eu existia.

      Aquele dia em que eu disputei o título de solista em São José dos Campos foi o ponto da virada na minha vida. O começo de tudo. Eu simplesmente estava no lugar certo, na hora certa, sendo olhada pela pessoa certa.

      Letícia era mais rígida do que dona Fernanda. Ela nunca me convidaria para comer omelete numa padaria ou para nadar na piscina da sua casa, como minha primeira professora fazia. Ela sabia separar as coisas. Em contrapartida, me deu muito mais do que sonhei ter: me ajudou a ser uma bailarina mais confiante, com controle e técnica.

      São coisas que eu nunca vou poder pagar, por isso sou grata.

          Flashback off:

      — Bombom!

      A sacudida que Jordana dá em meu ombro faz com que eu volte aos poucos do sono de pouco mais de duas horas que tive.

      — O que foi? — pergunto, num súbito rompante de mau humor.

      — Você não escutou a comissária de bordo mandar pôr os cintos? O avião vai pousar.

       Bocejando, afivelo o cinto. Olho através da janela as poucas nuvens no céu azul, os prédios pequenos lá embaixo. Dou um sorriso.

      O avião perde altitude aos poucos, e quando as rodas do trem de pouso tocam o chão do aeroporto, provocando solavanco normal de toda aterrissagem, vibro por dentro.

       O Airbus para.

      As pessoas aplaudem o pouso seguro.

3k de palavras 









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