Capítulo 20
As manhãs não seriam as mesmas se não tivesse o café da manhã preparado pela Jordana. Eu me acostumo fácil com as coisas, e quando ela não prepara aquele achocolatado com leite delicioso que eu amo, parece que algo fica faltando.
A ruiva tira do forno um pão caseiro. Enquanto isso, fico folheando um livro de Matemática com uma das mãos, a outra segurando um pedaço de pão com margarina que já está pela metade.
— Como consegue se concentrar no estudo enquanto come? — ela põe a fôrma sobre a mesa, tirando as luvas.
— Não consigo. Mas tenho que aproveitar o pouco tempo livre que me sobra, pra ver se alguma coisa entra na minha cabeça.
Jordana faz uma expressão engraçada e se senta, se servindo de uma fatia do pão que acabou de assar.
— A Lê te contou sobre as novidades?
Respondo com um aceno.
— Ela quer levar a Rebeca, o Bruno e eu para a Argentina no mês que vem.
— É muito legal competir em Posadas. Você conhece bailarinos de outros países, gente do Uruguai, do Chile, do Peru…, da própria Argentina, que sempre vem forte.
— Dançou lá muitas vezes?
— Duas vezes. Na primeira fiquei em terceiro, e na outra, em segundo. Nessa última, quem ganhou foi uma paraguaia linda, de traços indígenas, que emocionou todo mundo dançando Cisne Negro. Eu a sigo no Instagram. Hoje ela dança numa companhia grande, em Santiago. Você tem chances de se dar super bem nesse festival.
— Não sei se vou poder ir — fecho o livro.
Jordana bate na mesa sua caneca com achocolatado.
— Não me venha com essa, Sofia Christina. Você vai, sim. Meu, você vai perder a chance de representar o Brasil? Sabe quantos bailarinos queriam essa honra e não podem?
— Pois eu faço parte desse grupo de bailarinos que não podem. À menos que você me empreste dinheiro.
A ruiva faz uma careta.
— Meu bem, bailarinas não têm dinheiro pra emprestar — ela esclarece. Se bem que sei disso muito bem.
— Então não vejo como.
— Bombom… Bombonzinha, você quer competir em Posadas?
Pressionada, com o coração angustiado, levo as mãos a testa e balanço a cabeça para os lados.
— É claro que eu quero — confesso. — Quem não quer brilhar em outros países? É importante pra mim.
— Então vá a luta. Não pense que você é a única garota que passou por dificuldades na vida. A Duda vendia trufas pra poder comprar sapatilhas de ponta e olhe onde ela chegou: primeira bailarina da companhia jovem do Bolshoi.
Fico sem saber o que responder. Como nenhuma palavra sai da minha boca, Jordana continua:
— O cara da YEX vem hoje, não é?
— Vem — respondo vagamente.
— Seduza ele com sua dança. Dê tudo de si nessa apresentação particular. Esses empresários ricos e cheios de boas intenções amam ajudar meninas talentosas, porque isso massageia o ego deles, além de dar visibilidade a sua marca.
De repente o conselho da minha amiga me faz enxergar uma possibilidade. As pontadas de angústia diminuem dentro de mim, e um sorriso desabrocha em meus lábios.
— Você tá certa, como sempre. Obrigada, amiga. O que seria de mim sem você?
— Uma bailarina com dor de cotovelo por ficar de fora — Jordana brinca.
O pequeno cômodo da cozinha é preenchido pelo som das nossas risadas. Então o telefone dela toca.
— É a Alice, ela está lá fora — Jordana informa.
— Será que ela transou com outra garota e quer te contar os detalhes? — faço uma brincadeira.
— Deus é mais!
Enquanto a ruiva desce para abrir a porta, como outra fatia de pão caseiro. Não tenho mais cabeça pra continuar olhando os exercícios do livro, de qualquer forma é algo desafiador e inalcançável. Tô mesmo fodida.
— Olha quem tá aqui. A bailarina sensação do Festival de Dança de Barra Bonita.
— Oi, Alice.
— Tudo bem?
— Tudo.
Me levanto arrastando a cadeira pra trocar beijos com a bailarina careca. Ela está super estilosa, toda de preto, com jaqueta de couro, calça legging e botas de cano alto. Os brincos de argola lhe dão um toque feminino.
Jordana traz mais uma cadeira pra perto da mesa.
— Senta aí, Alice. Quer tomar um achocolatado? Café com leite?
— Um café puro tá legal pra mim. Tô precisando de um pouco de cafeína pra ficar ligadona.
A garota de preto não se faz de rogada e se serve da bebida preta. Meu estômago dá voltas quando minhas narinas sentem o cheiro.
— Vai pra Posadas com a gente? — nossa visitante pergunta depois de tomar um gole.
— Alice, a gente nem foi selecionada — Jordana observa em tom de reprovação.
— Humpf! E você tem dúvida que a gente vai passar na seleção? Todo ano os bailarinos da Letícia vão para a Argentina.
— Você se acha muito, amiga. Menos.
Alice dá de ombros, não ligando para o puxão de orelha que a minha amiga lhe dá.
— E aí? — a garota de cabeça pelada insiste.
— Eu quero ir — falo com sinceridade.
— Boa. É assim que a tia aqui gosta — minha mão é tomada por ela.
Quando não está ranzinza e com acessos de ironia e sarcasmo, Alice é uma pessoa legal pra se conversar. Ela é toda estilosa, tem um carisma próprio (meio punk e meio dark), mas quando ela está vestida com um collant, polaina e sapatilha, é uma princesa dançarina como qualquer uma de nós.
Não sei como deve ter sido o passado dessa garota. Tenho curiosidade de saber o que fez ela raspar a cabeça de um modo que nunca mais nascesse cabelo (com laser). Jordana disse que os pais não aceitaram sua orientação sexual, que eles não queriam uma lésbica como filha, mas acho que deve haver mais coisa. De qualquer forma, se ela quiser me contar, não preciso perguntar.
— Vou escovar os dentes e ir pro colégio — peço licença às duas.
— Se quiser, te dou carona — Alice me olha por sobre o ombro; estou à porta da cozinha. — Escola Estadual Vitória Spoladore, certo? Posso te deixar lá.
Meus lábios estremecem ao me lembrar que o Angel disse que a Alice voa com a moto.
— E aí, topa?
Não quero parecer medrosa.
— Claro! — sorrio, apreensiva.
Entro no quarto e me debruço na cama. Como vou ganhar uma carona na garupa da moto da Alice, tenho tempo pra navegar um pouco nas redes sociais.
Quase todo mundo do estúdio postou suas fotos e vídeos. As minhas têm mais de cem visualizações e curtidas, inclusive do meu pai.
Parabéns, minha neguinha linda. Que você siga conquistando tudo o que quer, porque sua mãe e eu sabemos o quanto você é uma batalhadora, o quanto você treina pra ser uma bailarina completa. A gente te ama muito.
Essa mensagem do meu pai me deixa emocionada. Droga, logo de manhã leio uma coisa tão linda.
Há também uma mensagem e uma curtida da minha mãe. É só um te amo, meu amor. Mas pra mim basta. Ela não é tão expansiva quanto papai.
Aliás, é a mamãe a quem quero provar que eu posso ser a melhor do mundo. Desde aquele dia lá em casa, em que eu falei que posso ser melhor que a Simone Brooks e ela me deu um banho de água fria (dizendo que preciso ter humildade), não almejo outra coisa senão provar que só preciso de uma chance pra superar a americana.
Mamãe me pediu pra ser humilde. Eu, Bombom, humilde? Porra, eu não sei ser humilde. Nunca precisei disso pra ganhar nada, então por que tenho que mudar agora?
Como eu imaginei, até Gigi, dona Fernanda e as minhas ex-colegas comentaram. O que me deixa em choque é que até a Eva curtiu. Será que ela quer virar minha fã?
Deslizo o polegar pela tela, tentando achar algo que valha a pena curtir e comentar. Acabo achando um post da Simone Brooks. A garota postou e vídeos de uma competição que venceu em Boston. Ela dançou Fada Açucarada (O Quebra Nozes), um solo contemporâneo livre, além de dois pas de deux.
Obviamente está tudo em inglês, mas basta tocar com o polegar na tradução e logo as informações ficam compreensíveis pra mim.
Estou super feliz por ter vencido uma competição tão prestigiada como o Boston Dance Festival. Todos os meus agradecimentos para meus professores, meus pais e a todo mundo que acreditou em mim. Agora vamos pra Nova York.
A garota conquistou um primeiro lugar, dois segundos e um terceiro. Pouco? Nem ferrando. Ela competiu com algumas das melhores bailarinas do mundo, as sempre cotadas coreanas, japonesas e russas.
A verdade é que as asiáticas estão dominando todas as principais competições de dança e Simone é a única que vem batendo de frente com elas. E eu quero mostrar meu balé pra todas elas.
Ela vai competir em Nova York, falo em pensamento.
É a cidade natal dela. Onde ela aprendeu seus primeiros passos de balé e onde mais tem admiradores, gente que a considera celebridade.
De repente fico excitada, e digito no campo de pesquisa as datas das próximas competições de dança em Nova York, me surpreendendo que a única data está prevista pra dezembro.
Não pode ser.
A referida competição é simplesmente a versão americana do festival que ocorrerá no próximo mês na Argentina. Ou seja: quem vencer lá, terá vaga vai garantir uma vaga pra dançar nos Estados Unidos.
Meu ânimo vai às alturas. Ganho mais motivação pra dançar, ao compreender que uma chance de disputar com Simone Candice Brooks não é mais um sonho distante, mas algo tangível.
Empolgada, curto a publicação da americana e abro um sorriso. Prometo a mim mesma que eu vou ganhar a admiração e o favor do tal Ademir Gonçalo. Eu vou para Posadas.
Visto o uniforme do colégio, calço os tênis e ponho a mochila nas costas. Jordana e Alice continuam conversando quando me aproximo. A garota sem cabelo fala sobre uma tal de Leona, imagino que seja uma mulher com quem ela esteja de namoro.
— Nossa, mas rolou sexo logo no primeiro encontro? — Jordana fica admirada com o relato que sua amiga faz.
— Eu não sou de perder tempo — Alice sorri.
Então elas percebem que voltei.
— Tá pronta? — Alice se levanta da cadeira.
Respondo que sim com um aceno.
— Legal. Jô, eu vou levar sua colega de quarto para a escola e logo mais volto para a aula de PBT¹ — ela fica do meu lado e põe sua mão em meu ombro.
A ruiva sinaliza em aprovação e acena com os dedos.
— Boa aula.
— Tchau.
A garota de preto não fala comigo enquanto andamos pelo corredor rumo a saída, e quando passamos pela porta, vejo uma moto preta com um capacete amarrado à garupa por uma corda fina.
— Pode pôr — me oferece o capacete. Ela põe o dela e o afivela com rapidez, enquanto seguro o objeto sem saber como colocá-lo na minha cabeça. Nunca andei na garupa de uma moto.
— Deixa que eu ponho em você. Assim — Alice gentilmente afivela no meu queixo e abaixa a viseira diante dos meus olhos. Ela tira dos bolsos da jaqueta um par de luvas de couro e as põe. Subo em sua garupa assim que dá a partida.
A motoqueira ultrapassa carros nas ruas de Perdizes, acelerando e reduzindo quando se faz necessário. Muitos alunos estão conversando no portão da escola e se viram quando chegamos.
— Está entregue — Alice sorri ao tirar o capacete. Devolvo o que estou usando a ela, que o amarra de novo na garupa assim que desço.
— Obrigada, Alice — agradeço, me virando pra ir em direção ao portão.
— Bombom…
— Oi?
— Sobre aquele pedido que você me fez, de eu te dar aulas particulares… Juro que eu queria poder dar aula pra você, assim como tô dando para a Rebeca. Mas eu não tenho tempo pra quase nada. É foda conciliar balé com meu estúdio de tatuagem.
— Tudo bem, eu entendo, não precisa se vexar.
— Você já tem uma ótima professora particular; Jordana sabe ensinar muito melhor que eu, sem falar que é uma ótima bailarina e tem muito mais paciência que a Letícia pra explicar.
— Foi ela que me sugeriu fazer aula com você; disse que ninguém na Letícia Ballet dança balé contemporâneo melhor que você.
As sobrancelhas dela se estreitam. Pela cor ruiva dos pelinhos acima dos olhos, então seu cabelo devia ser dessa cor.
— A Jordana disse isso de mim? Que top. Mas eu não danço contemporâneo melhor que ninguém, eu só danço contemporâneo mais do que clássico. O contemporâneo me permite criar, colocar o que é meu na coreografia. Não preciso ser uma princesa delicadinha, enjoativa — Alice faz gesto de desdém.
Acho graça em sua explicação.
— Além disso — ela aponta com os indicadores para a cabeça pelada e brilhante —, eu não fico bem dançando papéis clássicos com esse visual.
— Eu acho que você fica muito bem assim. No começo te achei bem esquisita, mas agora acho um charme bem dark.
Alice revira os olhos.
— Dá um beijo aqui na tia.
Me adianto e beijo a face esquerda dela, que põe de novo o capacete e dá a partida na moto. Aceno com a mão, formalizando nossa despedida, e tomando ar, passo pelo portão de entrada da escola.
— Tá podendo, hem? Vindo de carona pra escola.
Encontro o semblante bonachão de Léo ao virar a cabeça.
— Você não perde a mania de me stalkear, né, seu bobo? — estou de bom humor.
— Eu estudo aqui, sempre vou estar andando atrás de alguém enquanto vou pra sala de aula.
— Ah, tá. Se você não estivesse namorando com a pata choca da Rebeca, eu diria que você tá a fim de mim.
No mesmo instante ele para e eu, surpreendida por esse gesto, estaco no lugar e presto atenção em seu rosto.
— O que foi?
— A gente combina bastante. Somos negros, gostamos de funk, torcemos pro mesmo time e temos personalidade forte. A gente daria um casal da porra.
Minha boca se abre em choque.
— Léo… — levanto o indicador.
A frase fica em suspenso nos meus lábios. Ele ri sem pudor algum enquanto levanta as mãos em rendição, e se mistura a um grupo de garotos que anda em direção à sala de Física.
Balanço a cabeça em descrença. Conhecendo o jeito despojado, brincalhão do Léo, pode ser que ele só estivesse brincando. Mas há brincadeiras que tem um fundo de verdade, e além disso, se palavras mentem, os olhos não conseguem enganar.
Aquele brilho, aquele sorriso escondido atrás das orbes negras.
Será que… Será que Leonardo está gostando de mim?
…
Há pouco fiz xixi e estou sentada durante uns bons dez minutos no vaso sanitário, com os cotovelos apoiados nos joelhos, pensando.
Eles estão dentro da sala, conversando. Dando um suspiro, me levanto e saio nua do lavabo, andando até a pia de granito. Desdobro o collant de manga comprida, e o visto, sem meia calça ou calcinha. Calço as sapatilhas de ponta depois de pôr as ponteiras, e ficando em pé, examino minha imagem no espelho.
Parece que estou apresentável. Coque bem feito, numa altura média. Redinha. Maquiagem discreta.
Fecho a porta do vestiário atrás de mim e caminho pelo corredor que leva à sala, olhando para a parede com fotos de todos os bailarinos que dançaram aqui. Ao passar pela foto da Danny (aquela em que ela está de maiô asa delta, tênis e meias, e com a bunda toda à mostra), paro e fico olhando para seu corpo. Seu sorriso com aparelho dental, os olhos azuis. Seu rosto tão lindo, de princesa, realçado pelo cabelo preso em rabo de cavalo.
É incrível como ela consegue ser bailarina mesmo não estando dançando balé, mas aeróbica. Cada movimento dela é gracioso, leve, e eu quero um dia não apenas ser como ela, mas superá-la e tomar pra mim o título de melhor bailarina.
Eu quero seguir este mesmo caminho, abraçar cada oportunidade que surgir.
— Até que enfim — Letícia bate nas coxas, um gesto característico que transmite sua impaciência.
Entro devagar, olhando com altivez para cada um dos presentes na sala. Além de Letícia (que está em pé), Tânia e Odin, vieram Ademir Gonçalo, três homens trajados com terno e gravata, e um rapaz de colete cinza. Este último está ajustando uma máquina fotográfica num tripé, preparando a iluminação ideal pra me filmar.
Tenho que admitir que é um público importante. Rebeca e Bruno foram filmados há pouco, mas Ademir Gonçalo e os três homens bem vestidos não haviam chegado. A única que está pleiteando patrocínio sou eu.
— Bombom, querida, sua maquiagem está ótima — Tânia se levanta de sua cadeira e vem me cumprimentar com um beijo no rosto. Só agora, ao olhar bem para ela, percebo que usa uma peruca.
Meus olhos procuram os de Odin, que sorri com discrição.
— Se você quiser fazer um pouco de aquecimento antes de dançar, fique à vontade — Letícia se aproxima.
— Não, tô pronta — quero mostrar confiança.
Minha professora sorri, satisfeita. Se volta para o cara responsável pela filmagem:
— A Bombom dançará Variação de Diana.
O rapaz faz com o polegar um sinal de positivo. Vou para o fundo da sala, inspiro e expiro várias vezes, a fim de relaxar e buscar concentração. Ademir Gonçalo sussurra algo com um dos homens de terno.
Letícia caminha até o suporte de som. Faço um gesto afirmativo com a cabeça e ela põe a música pra tocar.
Meu corpo responde com graciosidade e encanto ao que minha alma de bailarina quer. Não quero menos do que me sentir livre, me sentir exalando força e fascínio, e minhas pernas e braços fazem isso por mim.
Um sorriso altivo brinca em meus lábios quando me dirijo ao meu pequeno público, agradecida e realizada. Ademir Gonçalo parece não acreditar no que viu.
— Simplesmente maravilhosa! — Tânia se empolga. — Não é, Ademir?
— Perfeita!
À minha apresentação particular se segue uma conversa entre os executivos da YEX. Depois se dirigem a mim, me fazendo perguntas, às quais respondo sem titubear, sempre mostrando confiança e determinação.
Conto sobre minha vida. Que comecei a fazer balé aos cinco anos de idade, que sempre estudei com bolsa de estudo, e quando questionada sobre qual é meu sonho, abro meu coração.
Meu sonho é ser a maior bailarina de todas. O mundo precisa de uma bailarina negra como estrela.
Letícia, Tânia e os homens trocam olhares significativos, e então compreendo, por seus sorrisos, que conquistei sua simpatia e admiração.
— Bombom, nós vamos patrociná-la — Ademir Gonçalo decide.
Incapaz de esconder minha felicidade e com o coração aos pulos, uno as palmas das mãos diante dos lábios, emocionada, e me dirijo à eles, aceitando seus abraços.
Eu consegui subir mais um degrau. Dei mais um passo importante na minha carreira. E é só o começo.
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