15. Ciúmes?
"Você pode pegar tudo o que tenho. Você pode quebrar tudo o que sou... Como se eu fosse feita de vidro, como se eu fosse feita de papel. – Skyscraper, Demi Lovato."
Aquele encontro tinha tudo para dar errado, tive certeza disso assim que Susana olhou para trás por cima do ombro, pois pude ver uma figura mal humorada se aproximar dela. Engoli em seco quando os meus olhos se encontraram com os do Jason, e um sorriso cínico se acendeu em seus lábios. Ele tinha mesmo que voltar justo hoje? Não podia passar só mais um diazinho fora? Merda!
– Você que é a Liz? – Susana segurou em minhas mãos, me olhando com uma certa admiração.
– Sim, mãe. Essa é a Liz, minha namorada. – Jordan se precipitou a nos apresentar.
Jason, que até então me media descaradamente com os olhos, arqueou as sobrancelhas, um tanto surpreso. Mas tentei não me importar com a sua presença incômoda, ou suas reações idiotas, e me esforcei mais ainda para continuar sorrindo. Não sei se aquele título de "namorada" me agradava tanto quanto pensava minutos atrás.
– Você é mesmo um anjinho. Tão linda quanto Jordan me contou, querida. – disse Susana, me puxando para um abraço apertado, o qual retribuí igualmente.
– Ah, obrigada. Mas a senhora é ainda mais linda. Se Jordan não tivesse nos apresentado, diria que era irmã dele, não mãe. – fui sincera, apesar de meu nervosismo.
– Ora, mas que gentil. – rompemos o abraço – Jordan me fala muito de você, querida. Eu estava louca para te conhecer.
– Ah, eu também estava muito ansiosa, Sra. Davis. – sorri tímida, e senti o olhar do Jason me queimar.
Será que ele não tinha vergonha na cara não? Me controlei para não rolar os olhos, e minhas bochechas já estavam doendo de tanto que eu forçava sorrir.
– Pode me chamar apenas de Susana, tudo bem? – ela apertou levemente minhas mãos e eu assenti – Há quanto tempo chegou na cidade? Jordan disse que você é de Seattle.
– Na verdade, nasci em Nova York, mas morei a maior parte da minha vida em Seattle. – expliquei isso, deixando até mesmo o Dan surpreso, acho que nunca tínhamos falado sobre Nova York, até porque morei pouco tempo por lá – Estou na cidade há pouco mais de um mês.
– E está gostando daqui? Suponho que as coisas não sejam tão diferentes, mas mesmo assim, se mudar é muito chato. – Susana deu uma risadinha.
– Ah, eu... sim, estou gostando. O Dan tem me ajudado muito a se adaptar. – aquilo não era nenhuma mentira.
Jordan tinha sido muito legal comigo, sempre tentando me fazer se sentir em casa. Pensar nisso me deixava um pouco mal por estar chateada com ele. Talvez eu só estivesse exagerando, e isso me deixava frustrada. Não queria julgá-lo só pelo que me disseram ao seu respeito, sendo que em todo esse tempo ele se mostrou completamente diferente para mim. Mas é que isso com a Ashley estava tão confuso.
A conversa com Susana se deu de forma leve e agradável, ela era um doce de pessoa. Pude perceber, sem nenhuma dificuldade, de onde Jordan tinha puxado seu lado meigo e gentil. Jason, por sua vez, não tinha ficado com um pingo disso. Ele ao menos proferiu uma palavra sequer, mas em contrapartida, não parava de me encarar, como se estivesse me analisando, isso era irritante. O fato da mãe e do irmão estarem bem ao lado não lhe repercutia nenhum efeito, ou nenhuma gota de educação.
Acabei olhando em sua direção, enquanto Susana falava sobre o musical com o Jordan. E seus olhos que estavam fixados em minhas asas, pareceram percorrer cada detalhe em minha roupa. Cruzei os braços e sua atenção veio novamente ao meu rosto, o que não era menos incômodo. Jason umedeceu os lábios rapidamente com a língua, mas dessa vez sem nenhum sorrisinho provocativo no final, ele só continuou me encarando, o que me fez desviar o olhar. Queria que ele sumisse dali.
– Lizzie? Achei você! – uma voz familiar soou atrás de mim, e assim que me virei, vi que era minha mãe – Ah, olá, Jordan, essa é a sua mãe?
Ela estendeu sua mão para Jason, que franziu a testa em confusão. Era óbvio que a dona Elisa estava confundindo os dois, afinal, eu não lhe contei que Jordan tinha um irmão gêmeo, não achei que fosse ser necessário, porque não pretendia apresentá-los. Em segundos, Jason pareceu entender a situação, e rangeu os dentes, visivelmente irritado, o que me fez encará-lo apreensiva, ele não podia ser grosseiro com a minha mãe como foi comigo quando o confundi na festa de Tayler.
– Sim, dona Elisa, essa é a minha mãe. – o verdadeiro Jordan se apressou a responder, e ela finalmente olhou em sua direção.
– Ah, espera, dois? – ela olhou de um para o outro, e depois para Susana.
Em seguida todos riram, menos eu e Jason. Dentro de mim havia um turbilhão de emoções prestes a entrar em erupção, mas nenhuma delas era felicidade. Essa noite não estava sendo nada legal, eu só queria ficar sozinha, nem que fosse só por alguns minutos. Jason franziu um pouco a testa, me encarando como se pudesse me entender. Que bobagem. Ele era a última pessoa no mundo a qual me entenderia agora. Apertei meus próprios braços com força, como se aquilo pudesse me acordar, ou me ajudar a continuar fingindo que estava tudo bem.
– São os meus meninos, querida. Esse aqui é o Jason e eu sou a Susana. Você é a Elisa, mãe da Lizzie, certo? – Susana fez as apresentações, e elas se cumprimentaram com beijinhos – Jordan me contou bastante sobre vocês.
– Lizzie me falou sobre você também, querida. Mas eu não sabia que Jordan tinha um irmão gêmeo. Acho que ela esqueceu de mencionar. – minha mãe sorria um tanto sem graça – Então me desculpe, Jason, não quis ser grosseira.
Ela tornou a se referir diretamente a ele, o que era preocupante a julgar por sua falta de educação, mas talvez por um milagre, Jason decidiu sorrir simpático.
– Tudo bem, Elisa. – ele passou seu olhar dela para mim – A sua filha também confunde às vezes. Não é mesmo, Lizzie?
Rangi os dentes ao ouvi-lo, claro que aquele idiota faria alguma piadinha com isso. Ele não perdia a droga da chance de ser um babaca.
– Não mais. – respondi, fuzilando ele com o olhar, e logo senti Jordan me abraçar de lado.
– Quando você chegou, Jason? – ele fez o irmão rolar os olhos, em completo tédio.
– Acho que não é da sua conta, maninho. Mas a todo caso, estou indo dar uma volta. – Jason deu alguns passos para trás, metendo as mãos para dentro dos bolsos da calça – Foi um prazer, Elisa, até mais!
Minha mãe acenou com a mão e ele se virou rápido, seguindo na direção oposta pelo corredor, o que me fez respirar um pouco mais aliviada. Depois disso, nos estendemos mais um tempinho conversando com Susana, até que algumas de suas amigas chegaram e a dona Elisa se lembrou de que queria me mostrar algo. Me despedi de Jordan com um selinho, mas as coisas ainda não estavam completamente bem entre nós dois. Ashley não saía da minha cabeça, até porque confiar é uma coisa, e se fingir de cego é outra bem diferente.
– Filha, mas que vergonha. – minha mãe falou em tom risonho, quando finalmente nos afastamos de todos – Por que não me disse que Jordan tinha um gêmeo? Tadinho do Jason, saiu todo sem graça.
– Ah, ele não... – me auto interrompi, não queria entrar em detalhes com minha mãe sobre aquele garoto idiota – Eu devo ter esquecido. Mas a senhora viu, eles estão acostumados, fique tranquila.
– Então você também já confundiu, é? Não me diga que já beijou um, pensando que era o outro? – ela deu uma risadinha, e eu arregalei os olhos.
– Quê? Não! – me apressei a responder. Não beijei o Jason, mas talvez o que rolou entre nós dois tenha sido até pior do que um simples beijo – Não chegou a tanto. Só confundi os dois no colégio uma vez.
Menti, pois era bem melhor fingir que nunca aconteceu nada. Foi um erro, e tinha que ser esquecido, porque não se repetiria nunca mais.
– Ah, sim, querida. Menos mal. – ela apertou um pouco meu braço, parando de caminhar assim que chegamos em frente a porta do auditório – Agora preciso que espere aqui, tudo bem?
– Mãe, o que está aprontando? – arqueei as sobrancelhas, um tanto desconfiada, ouvindo sua risadinha.
– Nada demais. Você vai adorar. Não saia daqui. – ela se soltou de mim, me encarando enquanto dava alguns passos para trás.
– Tá. Tudo bem. Vou ficar esperando. – me dei por vencida, e a vi sorrir largo antes de se virar e adentrar o auditório.
Soltei minha respiração com força. Finalmente sozinha. Estava precisando mesmo disso. Me encostei em uma das paredes daquele corredor, com cuidado para não marcar as asas. Puxei ar de volta aos meus pulmões, e senti meus olhos arderem. Engoli em seco, segurando as lágrimas, Christine me mataria se eu chorasse e borrasse a maquiagem antes da apresentação, principalmente porque as minhas cenas eram com ela e Emily.
– Impressão minha, ou você está se forçando hoje? – ouvi aquela voz rouca soar e olhei para o lado um tanto assustada, mas era só o Jason.
– Isso... não é da sua conta, garoto! – tentei espantar as lágrimas, não aguentaria suas piadinhas agora.
– Tá bom. – ele parou bem ao meu lado, também se encostando na parede, então eu me afastei um pouco.
Não havia mais ninguém além de nós dois naquele extenso corredor, e eu realmente não sabia se era uma boa ideia ficar sozinha com o Jason ali. Contudo, precisava esperar minha mãe voltar, assim como havíamos combinado, ou ela acharia que tinha algo errado, e não era o que eu queria. Então, apenas cruzei os braços olhando para frente, mas consegui ver quando o garoto estúpido ao meu lado meteu as mãos para dentro dos bolsos da sua jaqueta, em total silêncio.
Eu não fazia ideia do que Jason estava querendo, e isso chegava a me assustar um pouco. Digo, a lembrança dele me tocando daquele jeito no banheiro me causava uma sensação estranha. Meus pensamentos foram interrompidos, quando a porta do auditório abriu e, automaticamente meus olhos correram naquela direção, mas infelizmente não era a minha mãe. Duas meninas passaram por a gente, seguindo em cochichos pelo corredor, e Jason continuava em silêncio, encarando a parede a frente.
– Ai, pelo amor de Deus, o que você quer? – não me contive, e ele deu um curto sorrisinho, me olhando novamente.
– Nada. Só... É que eu ainda não achei o jeito certo de falar, e você também nunca me dá espaço pra isso, mas acho... – começou Jason, e eu arqueei uma sobrancelha – Olha, o que eu quero dizer é que aquilo no banheiro lá em casa não foi certo da minha parte.
– Uau! – rolei os olhos, voltando a encarar a parede a frente.
– É sério, eu não quis te assustar, pensei mesmo que você tinha entendido que era eu. A maioria das garotas que o Jordan leva lá em casa costuma curtir esse lance de gêmeos... – Jason parecia meio enrolado nas palavras, e aquilo me fez encará-lo de novo – Me senti mesmo mal por te fazer chorar daquele jeito. Eu entendi errado, achei que você estava curtindo.
– Não com você! – me apressei em responder, e o vi rir fraco – Foi uma brincadeira de péssimo gosto, e eu só correspondi porque pensei mesmo que você era o Jordan.
– Você deixou isso bem desenhado na minha cara aquele dia, garota. – ele falou em tom risonho, e precisei me conter para não lhe acompanhar – E te contar que tem uma mãozinha pesada pra caralho, mas eu acho que mereci.
– É, você mereceu sim. – concordei, e ele deu de ombros, assentindo.
– É, eu sei. Mas alivia pra mim, eu não fazia ideia de que você era virgem. – ouvir aquilo fez minhas bochechas inflamarem de vergonha – Para ser sincero, eu pensei que você fosse o tipo de garota experiente.
– Não quero falar sobre isso. Não acredito que o Jordan contou uma coisa assim pra você... – me senti um tanto ofendida, pois ele não tinha o direito de contar isso para ninguém.
– Olha, aquele idiota não precisou me contar nada. – Jason riu anasalado – Eu saquei que tinha algo estranho quando a toalha caiu e você reagiu daquele jeito. Foi quando percebi que nunca tinha se mostrado para um homem antes. Agora você só acabou de me confirmar.
– Argh! Você é tão... irritante! – cerrei os punhos com força, não sei se por raiva dele, ou de mim mesma por ser tão idiota.
– Igualmente, Lizzie. – meu nome parecia algo amargo em sua boca, ou talvez fosse o maldito deboche empregado em sua voz – Mas então, você está... bonita. Achei esse lance de anjinha bem sexy.
– Até pedindo desculpas você é estúpido, Jason? – perguntei incrédula, ouvindo mais uma de suas risadinhas.
– Você é estressadinha, né? Só te fiz um elogio, Lizzie. – ele não me pareceu maldoso dessa vez, o que me fez engolir em seco.
A porta do auditório abriu novamente e nós dois olhamos para o lado. Franzi a testa ao ver o tio Henry ali, ele sorriu largo caminhando em minha direção, então forcei um sorriso, desencostando da parede. Ele era o irmão mais velho da minha mãe, um pouco mais alto e bem mais forte que o meu pai, já que era um policial.
Olhei dele para o Jason e senti minhas mãos suarem frio. Bem, ele era o tipo de cara que o meu tio prendia. E eu não podia acreditar que isso estava acontecendo justo agora que Jason parecia, do jeito estranho dele, estar sendo legal comigo. Eu não queria que alguma coisa ruim acontecesse, então me forcei a abraçar meu tio, como se exatamente nada estivesse errado.
– Ah, minha menina, como você cresceu! – ele me abraçou de volta, já se faziam alguns meses que eu não o via.
– Gostou da surpresa, querida? – minha mãe perguntou extremamente animada.
Nesse momento, senti um frio na barriga, mas confirmei com a cabeça.
– Ah, tio, que saudade. – disse ao rompermos o abraço. Aquilo não era mentira, apesar de eu estar tensa pela situação.
– Henry, esse é o irmão do Jordan, namorado da Liz. O nome dele é Jason, eles são gêmeos, não é legal? – minha mãe falou animada, e eu franzi a testa.
Olhei assustada para Jason, que se desencostou rápido da parede. Acho que eu queria que ele fosse embora dali, antes do meu tio saber quem ele era. Mas não foi isso que aconteceu.
– Prazer, rapaz. Eu sou o tio da Lizzie, Henry Carter. – meu tio apertou a mão de Jason, que sorriu forçado.
– Prazer. – ele falou meio vago, como quem não se importa.
– Aperto de mão firme, garoto, gostei. Parece ter fibra. Você luta alguma coisa? – tio Henry perguntou risonho e eu encarei Jason muito preocupada agora.
– Boxe. Treino desde criança. – respondeu ele, enfiando as mãos nos bolsos da calça.
– Olha, isso é bom. Eu também treino, ossos do ofício. – meu tio deu uma risada, e Jason assentiu – Sua mãe parece ter sorte, um filho boxeador e o outro jogador. A propósito, eu ouvi dizer que o Jordan joga muito bem.
– É. O Jordan tem isso. – Jason respondeu sem dar muita ênfase, e eu só rezava para ele ir embora, ou que meu tio voltasse para dentro, ou sei lá... que alguém chegasse.
– Ah, te achei, querido. – ouvi a voz da Susana soar, e olhei para trás, vendo não só ela ali, mas também Jordan e Ashley agarrada no braço dele.
Jason olhou para eles, depois me encarou estranho, eu desviei o olhar. Tinha como aquela situação ficar pior? Acho que agora sim eu me sentia muito desconfortável com aquilo. Mas continuei forçando um sorriso enquanto Susana falava alguma coisa com Jason, a qual não consegui me concentrar em ouvir. Jordan sorriu para mim, e novamente desviei o olhar, queria sair dali.
– Então você é o famoso Jordan? – questionou o meu tio, de muito bom humor – Me chamo Henry Carter, sou o tio da Lizzie e já ouvi falar bastante de você hoje, rapaz.
– Ah, é mesmo? Espero que bem, senhor. – Jordan apertou sua mão, em um cumprimento animado.
– Pode me chamar apenas de Henry. – disse ele, franzindo a testa ao encarar a garota loira ao seu lado – E quem é essa moça bonita? Sua irmã, suponho...
– Não, não. Eu sou uma amiga muito chegada do Dan. – respondeu ela em seu lugar, me lançando um breve olhar cínico – Me chamo Ashley.
– A Ash vai ser o meu par na peça. – explicou Jordan, um tanto sem graça.
– É mesmo? Bom, os relacionamentos estão cada vez mais diferentes hoje em dia. – tio Henry olhou em volta – No meu tempo, se outra garota me abraçasse assim, eu perdia a namorada na hora.
Pude ouvir algumas risadas ecoarem por aquele corredor, após seu comentário com fundo bem humorado, o que conseguiu me irritar profundamente.
– Jason, será que a gente pode ir agora? – chamei de repente, sem me importar com os olhares a volta.
– Eu? – Jason cerrou os olhos ao me encarar.
– O Jason? – Jordan pareceu perplexo – Pra onde vocês vão?
– É, lembra que você queria me mostrar uma coisa antes da peça? – ignorei a pergunta do Jordan, inventando qualquer desculpa – Precisa ser agora, porque daqui a pouco vamos entrar em cena.
– Ah, é... isso. – ele assentiu, mesmo sem entender nada – Mas você disse que estava sem tempo.
– Não, eu só disse que tinha que ser rapidinho. – forcei um sorriso, enquanto me aproximava dele – Vamos?
– Claro, mas eu não prometo que rapidinho vá ser tão bom. – seu tom de voz carregava duplo sentido, e agarrei seu braço apressada.
– Só anda logo! – lhe puxei pelo corredor, ignorando o olhar confuso de todos a nossa volta.
Jason não disse mais nada, apenas riu anasalado, sacudindo a cabeça para os lados enquanto seguia comigo quase como se tivéssemos mesmo algum rumo certo, o que obviamente não era o caso. No percurso, passamos por algumas salas, mas infelizmente nenhuma estava vazia, por sorte ninguém pareceu vir atrás de nós dois, o que já era bom a certo ponto. Eu só precisava mesmo ficar longe do Jordan para esfriar a cabeça, não tinha sangue de barata pra aturar numa boa a Ashley se jogando pra cima dele.
Tomei um susto, quando abruptamente Jason me agarrou pela cintura, e antes que eu percebesse ele abriu uma porta estreita para onde me empurrou, vindo logo atrás. Me debati, a fim de me soltar, e ele rapidamente tapou minha boca, fechando a porta atrás de nós. Segurei sua mão, me dando conta de que estávamos agora dentro de um pequeno armário de vassouras, e tentei me soltar novamente, mas dessa vez ele me largou. Então, me virei apressada, esbarrando contra o seu corpo devido ao pouco espaço ali, e o vi fazer sinal para ficarmos em silêncio.
– Você ficou maluco, garoto? – sussurrei, um tanto irritada.
– Achei que tinha visto o Jordan. – respondeu ele, em tom baixo – É dele que você está fugindo, não é?
– Eu não estou fugindo de ninguém. – cruzei os braços, virando a cara.
– Ah, não? – suas sobrancelhas arquearam – Então, o que exatamente estamos fazendo aqui, Lizzie?
– Nada. – menti, mas ele continuou me encarando – Tá, você tem razão, eu preciso de um tempo longe do seu irmão e daquela... A Ashley é tão irritante.
– Então é assim? – Jason riu anasalado – Você briga com o Jordan, e de repente eu me torno uma boa companhia?
– Não, mas no meio de todo mundo, você me pareceu o único que não me encheria de perguntas. – soltei a respiração com força, descruzando meus braços.
– Porque eu não ligo. – o vi dar de ombros.
– É, você não liga. – rolei os olhos.
– Olha, eu sei de um jeito pra você relaxar. – um sorriso meio duvidoso surgiu em seus lábios.
– Não, obrigada. – neguei de imediato.
– Mas eu nem disse qual é. – ele franziu o cenho.
– Não importa, vindo de você não deve ser nada que preste. – fui o mais sincera que pude.
– Poxa, assim você magoa os meus sentimentos, Lizzie! – Jason sorriu malicioso.
– Quer saber, você já pode ir embora. – fiz menção de abrir a porta, mas ele segurou firme em meu pulso.
– Tem certeza? – de repente, seu corpo se inclinou para frente, e esbarrei com as asas nas vassouras ao dar um passo para trás – Você não quer que eu fique e te mostre aquela coisa?
– Aquilo foi só uma desculpa, não tem coisa nenhuma pra me mostrar. – me soltei do seu toque num solavanco.
– Bom, talvez eu tenha. – sua destra se precipitou a afastar uma mecha de cabelo para trás da minha orelha.
– Jason... – senti minhas bochechas esquentarem ao vê-lo dar um passo à frente, quase colando seu corpo ao meu ali dentro – Você está muito perto.
– Eu estou? – seu olhar recaiu aos meus lábios, seguindo até o meu decote antes de subir outra vez – E você gosta disso?
– Não seja idiota, é claro que não. – cerrei os punhos com força, e ele riu fraco.
– Acontece que me olhando assim, não parece que não gosta, Lizzie. – ele acariciou suavemente minha bochecha com os nós dos dedos.
– E-eu... – gaguejei nervosa, à medida que seu rosto se aproximava.
– Sabe, eu só estou curioso... – Jason sussurrava próximo aos meus lábios – No outro dia, quando pensou que eu fosse o Jordan... O susto que tomou consigo mesma, eu pensei que tivesse me reconhecido naquele instante, mas não... Você reagiu daquele jeito porque, além de ser virgem, também nunca tinha sido tocada de verdade, ou sequer acariciada por um homem antes, não é?
– Isso não é da sua conta! – juntei minhas forças para responder.
– Na verdade, eu quero muito saber... – seu olhar era tão intenso que parecia me atravessar de um lado ao outro – Nem mesmo o frouxo do Jordan te deixou tão excitada daquele jeito... Então, eu fui o primeiro, hum?
– Eu não vou te responder isso. – senti os batimentos acelerarem em meu peito.
– Tudo bem. – um sorriso sacana surgiu no canto dos seus lábios – Eu acho que já sei a resposta mesmo. Só me deixa retribuir, quero que saiba que eu nunca senti tanto tesão daquele jeito antes, e olha que as putas que eu conheço fazem de tudo, mas você... Porra, você quase me fez gozar só batendo punheta pra mim. Se não fosse virgem, juro que teria te comido gostoso naquele banheiro, Lizzie.
– Já disse que isso só aconteceu, porque eu pensei que você fosse o Jordan. – encolhi os ombros, extremamente envergonhada.
– Bom, sabe que não sou ele agora, e mesmo assim não te ouvi me pedir pra se afastar. – Jason tornou a encarar os meus olhos.
– Sai de perto de mim! – o empurrei com força, e o vi esbarrar contra a porta.
– Tá legal, tudo bem. – ele riu anasalado, assentindo mais para si mesmo.
– O que deu em você? – cerrei os olhos – Preferia mais quando apenas não ia com a minha cara.
– Não me entenda mal, eu ainda não vou com a sua cara, mas isso não me impede de te achar gostosa. – respondeu ele, sem um pingo de vergonha na cara.
– Você é um idiota! – alcancei a maçaneta da porta, mas a sua destra rapidamente segurou a minha mão ali em cima.
– Hey, já vai sair? – questionou, com uma das sobrancelhas arqueadas – Achei que não quisesse ficar perto do seu namorado pau de mel e da nova putinha dele.
– Não está rolando nada entre o Jordan e a Ashley, tá legal? – rangi os dentes.
– Deixa eu adivinhar, ele quem te disse isso? – indagou Jason, num certo tom sarcástico.
– Não é da sua conta. – tentei girar a maçaneta, sem sucesso.
– É, você tem razão, não é da minha conta. – concordou ele – Mas se quer saber, eu não apostaria todas as minhas fichas no Jordan.
– Obrigada pelo conselho, agora quer fazer o favor de me deixar sair? – o encarei muito chateada, e ele acabou assentindo.
Depois que largou minha mão, finalmente consegui girar a maçaneta, saindo apressada daquele estreito armário de vassouras, Jason veio logo em seguida. Arrumei melhor minha roupa, torcendo para as asas não estarem tortas, nem meus cabelos desgrenhados, enquanto ele apenas me observava em silêncio. Por sorte, não havia ninguém pelo corredor, não quero nem pensar o que imaginariam ao me ver sair toda bagunçada de um cômodo tão pequeno com um cara desses. É, com toda certeza as piores fofocas iam se espalhar.
Respirei fundo, ignorando completamente a sua presença ao me virar, não queria nem mesmo lembrar do que havíamos acabado de conversar, até porque o Jason estava completamente enganado. O que rolou aquele outro dia no banheiro, não passou de um erro idiota, que só aconteceu porque eu o confundi com o Jordan. Então, sem dizer mais nada, apressei o passo em direção ao auditório novamente. Era bem provável que todos já se organizassem para começar a peça, e eu não queria me atrasar.
Ao chegar, empurrei a porta tomando em vista que quase todas as cadeiras já estavam ocupadas, a plateia estava bem cheia hoje. Olhei em volta, à medida que avançava por aquele espaço lotado, procurando ao menos um rosto familiar, e foi quando avistei o meu pai sentado em uma das cadeiras vermelhas na segunda fileira a esquerda, acenei para ele antes de subir no palco, que me respondeu com um beijinho carinhoso. Sorri largo, e rapidamente passei para trás da cortina, mas infelizmente ao me virar dei de cara com o Jordan.
– Aonde você foi com o Jason? – ele veio rápido em minha direção.
– Eu não te devo explicações. – o contornei, sem dar muita atenção.
– Lizzie...
– Aliás, cadê a Ash? – olhei para os lados, enquanto me aproximava do camarim feminino – Você não devia estar com ela agarrada no seu pescoço? Afinal, é o seu par romântico na peça.
– Eu já disse que não tem nada rolando entre a Ashley e eu. – ele vinha no meu encalço, bastante preocupado por sinal.
– Bom, eu só sei que não é o que parece. – ri irônica.
– Vamos conversar? – Jordan tentou me segurar pelo braço, mas me soltei num solavanco.
– Não, a gente já conversou, Davis, e você não pareceu se importar muito, então talvez agora eu também não me importe. – me apressei a empurrar a porta do camarim.
– Lizzie, por favor...
– Aceita o meu conselho, e vai procurar a Ashley, passaram a droga da semana toda juntos, então que continuem. – bati a porta com força na sua cara ao passar para dentro.
Logo depois, me escorei ali, respirando fundo algumas vezes, a fim de acalmar os malditos batimentos acelerados em meu peito. A verdade é que, apesar de parecer bem por fora, eu estava me desmontando por dentro. Precisava que aquilo terminasse logo. Ouvi as vozes de Jordan e Dylan conversando lá fora, e me afastei da porta. Emily e Christine já usavam as máscaras para o primeiro ato, as quais cobriam apenas a metade de cima do rosto. Então me lembrei de que eu também precisava encontrar a minha.
Era um bom plano, aquilo me distrairia um pouco. Segui para os fundos, e não tardei a encontrar o baú onde a sra. Miller guardava as coisas. Me abaixei ali, e escutei quando a porta se abriu, o que me fez olhar rápido naquela direção. Pude ver duas meninas entrarem em risadinhas na sala, mas elas não me viram, por conta das roupas a frente. Então, apenas continuei procurando dentro do baú.
– Amiga, o Dan está louquinho para transar comigo. – ouvi a voz da Ashley, e as vi sentarem nas cadeiras em frente ao enorme espelho.
– Não acredito! Ele te disse isso? – aquela outra voz eu também conhecia, era a Dafne, outra garota das Lioness.
– Sim! Depois da peça... a gente já marcou. Estou morrendo de saudades do meu loirinho gostoso. – escutar aquilo me fez paralisar por um momento, olhando para elas por entre as roupas.
– Mas e a Lizzie? – Dafne perguntou, e ouvi a risadinha de Ashley.
– Ele me disse que só estava usando ela para me fazer ciúmes. E acho que conseguiu, porque eu estou louquinha para dormir com ele hoje. – antes que eu pudesse impedir, uma lágrima escorreu pelo meu rosto, então era isso?
Houve dois toques na porta e as duas se levantaram, mais alguém entrou, logo vi que era a Christine. Sequei as lágrimas em meus olhos bem rápido, voltando a procurar a minha máscara. Elas três conversaram alguma coisa, depois saíram do camarim. Acho que eu estava chateada comigo mesma por ter deixado Jordan me usar daquele jeito, mas agora que eu sabia, não ia ficar chorando, tinha um musical para apresentar.
[...]
🍁. E esse final? Será que Ashley tá mesmo falando a verdade? O que vocês acham?
🍁. Alguém surpreso com a atitude do Jason??
🍁. Deixem seus comentários, e não esqueçam de votar no capítulo 😘😘
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