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Capitulo 59: Afónica

- Parabéns Bia!- Todos me felicitavam de forma calorosa, menos a Natália e as suas amigas lésbicas, mas isso... é para o lado que durmo melhor.

- Eu... eu vou ser a protagonista?- Disse ainda tentando absorver a noticia, eu estava um bocado lerda por causa das dores menstruais.

- Sim, miúda!- O Kico (A minha alcunha do Rodrigo) pegou-me às cavalitas. Eu sorri.

- Eu consegui!!

Todos riram. O Justin olhava-me sorridente de longe daquela confusão. Se calhar estava a ver-se a si, mas numa versão feminina com um pouco menos de swag.

- ÀH!- Dei um grito de dor, quando o Kico deu impulso para me puxar para cima. Meteu-me no chão.

- Estás bem? Magoei-te?

- Sim, está tudo bem... só doeu um bocado.

- Bia, não olhes agora, mas acho que a Natália está com uma dor de cotovelo do pior.

Eu ri com isso. Porra! Eu era má, mas quanto mais em  baixo a Natália estivesse melhor eu me sentia.

- Tu foste demais, Beatriz!- Disse a Mariana.

- Obrigada malta!- Abracei-as com força e mais os quantos eu consegui. Senti uma forte tontura seguida de um enjoo.

- Bia!!- O Rodrigo apanhou-me.

- Eu estou bem... eu tenho o que preciso no cacifo...- Saí depressa em direção ao meu cacifo.

Abri-o depressa e encostei a cabeça ao cacifo de cima. O metal frio das portas dos pequenos armários sabia bem e aliviava com a dor de cabeça.

- Bia...

- Eu estou acordada!- Disse depressa, mas senti a garganta arranhada.

- Eu sei!- A Mariana chegou ao pé de mim e passou as mãos frias pela minha testa. 

- Isso sabe bem.- Disse sentindo o alívio.- Mas tens as mãos geladas...- Esfreguei-lhe as mãos depressa de modo a conseguir aquecê-las.

- Obrigada Bia.- Disse sorrindo fraco.

Procurei a minha carteira de comprimidos por todo o lado, mas não a via nem por nada.

- Que é que procuras?- Perguntou-me o Justin.

- A minha carteira de comprimidos... não a vejo nem por nada.

- Como é que é?

- Cor-de-roda e tem escrito: Beatriz.- Disse ainda a remexer o cacifo.

- Tens mesmo a certeza que aí está?

- Sim, eu...- Merda! Fiquei afónica. Levei a mão à garganta e doí-a imenso.

- Parece que tivemos problemas técnicos...- Ele disse aquilo a rir.

- Como é que fiquei afónica?! Isto não pode acontecer!!- A mim parecia que estava a gritar, ams não se ouvia quase nada.

- O quê?- Provocou-me.- Ok, estou a ser mau... Isso aconteceu porque tu insististe em cantar quando tinhas a garganta inflamada, agora estás feliz!

- Aquela velha abrigou-me!- Disse quase num ultra-som.

- Babe, estás à procura disto?- A Natália apareceu com as suas duas amigas. Trazia a minha carteira de comprimidos.

- Devolve-me isso!- Disse furiosa.

- Desculpa?!- Quando eu grito, é porque grito; se não grito é porque não ouvem: vão cagar, caraças!

- Vai-te fuder!- Respondi revirando os olhos.

- Já tentei, mas precisei de companhia!- Respondeu.

- Parabéns agora devolve isso!- Disse o Justin.

- "Beatriz Bieber"... Nada, mal... BB...

- Beatriz Bieber?!- O Justin ria a bandeiras despregadas, dei-lhe uma cotovelada.

- Com licença!- O Rodrigo arrancou-lhe a carteira de comprimidos das mãos.- Obrigada, pelo serviço.

- Vai à merda!- Disse aquela tipa.

- Já lá estou!

O Justin riu, só eu é que não ache graça.

- Tens aqui.- Entregou-me a carteira e tirei depressa o comprimido que precisava engolindo-o com a água.

- Obrigada.- Disse mais aliviada. Depois do comprimidos comecei a chupar uma pastilha para a garganta: tinha de servir até chegar a casa.

- Com que então a menina gosta de chupar...- Eu não sei porquê, mas arrepiava-me sempre que ele dava uma de mau.

Sorri perversa e mostrei-lhe o dedo do meio, seguindo para a sala.

- Deixa essa porra para lá!- Rodrigo deu uma cotovelada a Justin que mordia o lábio de forma maliciosa.

- Eu não fiz nada...

*

As aulas correram devagar e quando tocou a campainha fomos para minha casa fazer o tal almoço, porque eu praticamente tinha-lhes metido uma trela.

- Já agora Bia, a professora mandou-te decorar o Melhor de mim, da Mariza para amanhã.- Avisou a Margarida.

- Aquela mulher não gosta de mim, nem por nada!- Disse encostando a cabeça ao varão do autocarro.

- Qual é a música?- Perguntou o Justin.

- É esta.- O Kico mostrou-lhe.- Eu gosto, é bonito, meloso mas bonito, mas a Bia não está e condições de cantar isto para amanhã.

- Ela consegue!- O Justin tinha um olhar confiante.

- A sim?- Levantei a cabeça.

- Sim, mas a partir de agora só falas quando a casa estiver a arder! Falas connosco por mensagem.- Disse sério.- Eu sei exatamente o tratamento que precisas...

Eu senti um arrepio quando ele disse aquilo.

- Fui só eu que levei isto para o lado porco?- Perguntou o Kico. Todos rimos.

O autocarro parou e saímos, tínhamos de andar talvez 100 metros para chegar a minha casa, mas o Justin pegou no skate e fez uns truques muito fixes até. Ele ia-me ensinar estas manobras todas antes de ir embora!

- Boa, bro!- Felicitou Rodrigo.- Posso tentar uma cena?

- Claro!

O Kico meteu-se em cima do skate e... não se saía nada mal.

- Bia... quem a viu e quem a vê...- A Pattie batia o pé.

Fiquei sem gota de sangue. Fiz-lhe sinal para esperar um momento e fechei a porta na cara de todos. Entreguei uns óculos escuros e um lenço a Pattie e abri a porta.

- Boa tarde!- Disseram todos.

- Mãe!- O Justin foi abraçá-la e dar-lhe um beijo na testa.

- A Bia saiu à socapa!- Reclamou.

- Tu desobedeceste à minha mama?- O Justin parecia chateado.

Encolhi os ombros em sinal de pena.

- Boa!

- Jus... James!- Repreendeu.

- Não se faz James, não se faz!

Os dois rimos.

 Fui até à cozinha e pegue no frasco de mel. Peguei numa colher de sopa e engoli duas colheres generosas, normalmente resultava. Eu não sabia qual era o truque do Justin, mas este era o meu.

- Isso... agora bebes água quando precisares e não precisares e metes isto para te manter quente.- Ele embrulhou um lenço meu à volta do meu pescoço.

Soltei-lhe um sinal de agradecimento.

- Ei malta e se depois de almoço fôssemos...





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