Caminhando na quietude da madrugada
Confronto o longo caminho que se segue
Árvores sussurrantes margeiam a estrada
Enregelando o coração, antes que aquiete
O medo que se atiça e vai tomando conta
Fazendo de mim uma presa assim exposta
Mais um passo e outro, contornando a volta
Subindo agora o que antes era uma descida
Coisas notadas na hora, outrora desapercebidas
Ao pé de um muro jaz um cachorro preto
Sobre o mesmo muro um par de óculos
Nem cheiro ou aparente aspecto de podridão
Denotam que o bicho está entregue aos vermes
Tais pensamentos de mim logo se apoderarão
Tornando-me escravo dessa minha condição
Igual a de todos os que vivem, frágeis, reles
Não pude mais admirar paisagem, nem pessoas ou coisas
Só me vinham essas ideias em minha mente
Que essa viagem do cachorro não tinha volta
E ele fica assim jogado, porque é só um bicho
E meu destino seria outro, porque sou melhor que ele
À mim farão uma lápide e antes cavarão bem fundo
Dentro de um caixão me depositarão depois
E roupas, sapatos, botões, cadarços, maquiagem, cobrir-me-ão
Uma cerimônia, flores, velas, todos chorarão
Tão igual serei ao cão, nem melhor, só comida de verme então