Capítulo 7
🛸 Raíssa Valentina 🛸
Escrevi a minha primeira carta. Devo ganhar o Oscar por isso. Nem quando eu era criança tive trabalho escolar sobre Como aprender a escrever Carta.
Eu lembro de quando aprendi no ensino fundamental a diferença entre remetente e destinatário. Agora o guia de começo, meio e fim de uma carta nunca aprendi.
Acho estranho a ideia de escrever carta, porque 1°: não sei para quem estou escrevendo, 2°: tem informações pessoais e 3° ponto: é a primeira vez que confiam em mim para esse tipo de coisa.
Agora é o intervalo. Todos devem estar no pátio assistindo as palestras. Olho no relógio de pulso 09:49. Sera que isso é considerado hora igual? Por ter o 9 duas vezes.
Pego meu livro novo. Guia Completo sobre Cristais. Não é o nome desse livro, mas resume o assunto. Desde 2016 me interesso por cristais e a cada dia tento achar tempo livre para estudar sobre cada um.
A bruxaria natural também é algo bem interessante e trato esse assunto com o devido respeito. Agora que sou a nova Raíssa vejo a vida de outro jeito.
Acredito em horas iguais. Porém, ainda tenho muito para aprender
As próximas aulas vão ser Química. As aulas de Matemática e Química são no final da semana. Tudo nessa escola é sem nexo. As últimas aulas deviam ser de educação física ou Artes pelo menos.
Deixasse Matemática e Química para a quarta feira.
Eu estou nos fundos e daqui posso ver o muro da escola no qual fugi tantas vezes quando queria ficar sozinha. A sala me sufoca, a maioria dos alunos são tóxicos, ninguém gosta de mim.
Que bela volta por cima, Raíssa. Está de parabéns
Você vivia rodeada de gente e hoje em dia vive sozinha
Encontrando fugas para descobrir quem é de verdade
Já passou por tantas fases e talvez esteja confusa
Aqui nos fundos da escola é o lugar para onde sempre fujo quando estou cansada ou precisando de paz. Principalmente se quero escapar de alguma aula.
Se escuto vozes de alguém eu corro e escalo o muro. Na última vez eu ia caindo e me machucando gravemente.
A sorte foi ter sido alarme falso
Foi só o som do vento mexendo com as folhas. Não vinha ninguém. Então desci do muro dando um pulo para outro lado tomando bastante cuidado.
No outro lado tem um terreno baldio e é vizinho a escola. Só pular o muro. Tem muitas árvores antigas, a grama é alta, o cheiro de mato está por toda parte.
Coloco minha peruca preto com branco. Eu acho essas duas cores sensacionais e combinam juntas. A peruca de um dos Cosplay que faço.
Gosto de usar peruca vez ou outra e não preciso estar caracterizada como o personagem para fazer Cosplay. Uso as perucas porque me divirto.
Meu cabelo rosa está assanhado então é motivo para colocar peruca.
Tem uma franja na peruca que me deixa fofa e bonitinha. É a parte que eu menos gosto
Passo meu perfume que por um milagre achei para vender. O perfume de cheiro enjoento que usava quando era criança. Sai apressada de casa sem nem passar nada. Ótimo.
Sento em um canto onde não é sujo e eu começo a ler o livro dos cristais. Como é incrível aprender essas coisas. Como se pudesse viajar para dentro do mundo fantástico das pedras e cristais.
Escuto um som alto e percebo que é a voz do diretor no alto-falante. Avisa que as palestras vão continuar até dar o horário da última aula.
Avisa que quem não quiser assistir a palestra pode ir para quadra ou a sala de vídeo
Os alunos do 5°, 6°, 7°, 8° e 9° foram para casa após liberarem para o intervalo. Só está na escola quem é do ensino médio.
Estamos em um pequeno número. Então nem vão sentir falta da aluna que tem amigos imaginários.
Odeio ter essa "fama"
Uma coisa me interrompe quando ouço passos. Parece alguém pisando nas folhas. Rapidamente eu fecho o livro, me levanto com pressa, olho ao redor. O som de passos vem do lado esquerdo.
Respiro fundo. Aí vamos nós digo baixo e sem pensar começo a escalar o muro. Alcanço o topo do muro com a respiração ofegante, mas feliz por ter conseguido.
Escalar o muro não é mais tão difícil. Estou me acostumando.
A calça apertada da farda me impede de escalar as vezes. Preciso tomar cuidado. Suspiro aliviada e observo o lugar. Cadê os passos? Não escuto mais. Estranho.
— O que você está fazendo? — uma voz vem lá de baixo e acabo me assustando. Me desequilibro caindo com tudo no chão.
Não tenho tempo de raciocinar. Quando percebo estou mesmo caindo e grito em desespero. Até que caio em cima de algo e rolamos no chão numa rapidez e uma confusão de braços e pernas.
— Mas que merda — falo baixo ainda me recuperando do susto. Meu coração está acelerado.
— O que... — a pessoa nem termina de falar e tampo a boca dela. Estou atrás dela e ainda tentando pensar direito.
— Ouvi passos. Era algum professor ou só você? — sussurro próximo ao ouvido dela e sinto a sua respiração. A pessoa começa a se debater e no impulso morde minha mão.
— Sai de cima de mim — diz com a voz abafada e tiro minha mão rapidamente sentindo dor.
— Precisava me morder? Caramba — eu saio de cima dela e fico em pé — Quem mais estava com você?
— Só eu. Estou sozinha — ela se vira e eu finalmente vejo seu rosto. Uma menina. Sendo mais específica... É Milena Louise — Que susto. Eu pensei que era alguém tentando entrar na escola. Para... Sei lá. Assaltar?!
— Que horror. Hoje é seu dia de sorte— pisco o olho para ela e respiro fundo — Eu foi que tomei um susto. Felizmente foi alarme falso.
— Quem é você? — ela me observa com as sobrancelhas franzidas.
— Vem. Levanta aí — ergo minha mão e ela pega se levantando — Sou eu, Raíssa. Não acredito que esqueceu de uma garota tão incrível quanto eu.
O boné dela ficou torto por termos rolado no chão. Já minha peruca está aqui. Não intacta, mas ela permanece na minha cabeça. A peruca deve está bem torta. Isso explica o motivo dela estar me encarando assim.
— Eu sei que sou linda, mas sinto-lhe dizer que você tá me encarando até demais — brinco tirando a peruca e vejo que amassou — Muito azarada mesmo. Olha só. Tá me devendo uma peruca nova.
— Idiota — revira os olhos rindo — Eu não vou gastar meu dinheiro. Por que estava usando isso? — percebo que ainda estamos de mãos dadas e eu me afasto rapidamente.
— Vai sim. Mereço uma peruca nova — cruzo os braços — Assim assusto mais pessoas e vão pensar que sou assaltante tentando invadir escolas.
— Não brinca com assalto, garota — ela guarda um papel no bolso da calça — Essa foi definitivamente minha maior aventura. Seu... Perfume é enjoento.
Sorrio dando de ombros. Milena olha ao redor e fica em silêncio. O rosto dela é tão bonito que eu poderia ficar olhando por horas. Tem um sinal no seu pescoço e no pulso. É um de nascença.
No pulso é uma manchinha pequena vermelha em formato de lua. Que fofo
— Esse delineador combina com você — me aproximo sem conseguir me conter e toco na bochecha dela. Seus olhos negros como uma noite escura sem estrelas me encaram e sinto estar perto de mais.
Me afasto escondendo as mãos no bolso da calça
O fato é que a presença de Milena me deixa nervosa. O que não era para acontecer. Eu sempre tive uma certa admiração secreta por ela e torço em silêncio quando assisto os seus jogos.
Torço para seu time ganhar ou ela fazer um gol
Agora de frente para jogadora é como se eu visse muito mais que antes.
A beleza misturado com seu jeitinho atrapalhado. Ela talvez seja a garota mais linda que já vi.
Não vou elogia-la tanto. Isso pode soar estranho.
Preciso aprender a agir naturalmente perto de garotas bonitas
Sinto meu rosto esquentar e devo estar vermelha. Só o que me faltava.
— É... Obrigada, Raíssa — a sua voz é rouca, meio grave, mas agradável de se ouvir — Nós estamos parecendo fugitivas se escondendo no pior lugar possível.
— Não fala assim do meu esconderijo secreto — mantenho certa distância — A noite que fica sinistro. Imagina o tanto de morcego, grilos, sapos, cobras e aranhas.
— Vagalumes — completa entrando na brincadeira — Tudo sem energia. Já veio aqui de noite?
— Passei uma madrugada. Cheguei era meia noite e fiquei até as 4 horas. Foi a melhor experiência da minha vida.
— Com certeza. Acredito — ela balança a cabeça — Quer jogar Eu Nunca? Eu estava indo me encontrar com a galera.
— Não sou você, Lila — uso o apelido que vi uma das suas amigas dizendo um dia — Que chega em todo canto, todos te elogiam, sorriem. E se você vai embora todo mundo vai também. Sua presença é importante. A minha não.
Falo uma coisa séria transformando isso em uma brincadeira.
Meu passatempo preferido é rir e fazer meme dos meus problemas.
Esperava que ela fosse rir. No final fica séria, morde o lábio, olha para cima e percebo tarde demais. Ela não entendeu a brincadeira.
Deixa de ser burra, Raíssa
— Desculpa. Estava brincando. Leva a sério não — me apresso em dizer — Eu tenho nada contra você. Não leva para o lado pessoal.
— Tudo bem. Talvez ajudasse se você tentasse se aproximar das pessoas — me encara — Já pensou nisso? Tchau. Já tô indo.
— Calma aí. Desculpa — pego meu livro e corro atrás dela que anda mais rápido — Sou boba. Falo besteira. Não tenha essa impressão ruim. As boas impressões primeiro.
— Estou esperando boas impressões — diz ríspida e acompanho ela — Então só tem isso para me mostrar? — para de andar se virando para mim e quase nos esbarramos.
— Eu sou de áries. Tenho um planeta preferido, Júpiter. — puxo o ar e sorrio — Eu acredito na existência de alienígenas. Não é possível estarmos sozinhos aqui.
— Fala sério. Esperava mais de você — volta a andar se afastando — Uma coisa que sabe fazer, por exemplo. Ação caridosa. O que te faz ser única.
— Muito reflexivo — volto a andar atrás dela e passamos por as árvores — A natureza me encanta, os animais, a lua. Uma coisa que sei? Sou muito boa no videogame.
— Olha. Temos uma gamer aqui — entramos na escola — Falta muito para me provar e continuo achando que só tem isso para me mostrar.
— Provar o que? O quanto sou boa no videogame? — pergunto o óbvio — Pode jogar comigo lá em casa. Vai ser um prazer te ensinar.
Milena fica de costas para mim e se vira devagar. Parece me analisar. No fim ela solta uma risada debochada.
— Eu passo. Não gosto de jogos — ainda está com a risada debochada — Pode ser impressão ou é possível que o seu comentário tenha sido esnobe.
— Não sabe o que tá perdendo — bato de leve no ombro dela — Longe de mim ser esnobe. Só constatei o óbvio.
— Diria o que eu penso de você, mas ia te deixar feliz. Ficaria se achando — seu olhar tem uma certa inocência — Deixa quieto. Vamos ou não para a sala de vídeo?
— Se insiste tanto então vamos — coloco o livro por debaixo do braço — Só não se esqueça que tá me devendo uma peruca nova.
Dito isso saio correndo na frente e não me atrevo a olhar para ver sua reação. Corro tanto que meus cabelos voam e os fios cor de rosa brilham com o sol.
Oi oi oi gente. Estão bem?
Esse foi o capítulo de hoje
Quais suas reações para essa conversa delas? Gostaram?
Raíssa e Milena começando uma amizade...
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