capítulo 15
📚 Milena Louise 📚
Sexta feira
Sempre que chega junho, um mês antes das férias, vem um parque para cidade ou colocam filme legal no cinema. Logo os ingressos acabam. Sorte teve quem conseguiu comprar adiantado.
É costume da nossa cidade ter sempre uma atração antes das férias. Os filmes não são apenas para crianças. Temos as nossas atrações também como os filmes de comédia romântica.
Também tem o nosso lugar preferido, o parque, esse convite eu nunca recuso. No parque não tem escada rolante nem elevador então posso ficar a vontade. E não corro o risco de passar vergonha na frente dos meus amigos.
Esse é o nosso rolê
Como Ruan e Jonas gostam de dizer
Porém, não estou muito no clima para comemorar a chegada das férias
Mas dessa vez preciso ir. Já não fui para o shopping semana passada e não quero deixar Liana chateada de novo.
Eu lembro de algumas coisas que aconteceram nos últimos dias. Pego o meu celular e mando mensagem para as únicas pessoas que podem me ajudar nesse momento.
Lari Lari: Oi amiga. Precisamos muito conversar... Eu sei que passei uns dias longe, mas preciso te atualizar, né? Olha a minha vida tá como uma verdadeira novela. Fiz amizade com uma garota da escola (Raíssa), eu estou trocando cartas com uma pessoa desconhecida, descobri um segredo de uma amiga (Isabelle). Tô começando a me entender melhor...
Gigi: Gêmea, tudo bem? Boa sorte nas suas férias. Também está chegando a viagem da escola para Minas Gerais. Eu estou super ansiosa. Gêmea... Eu tô indo de mal a pior nos estudos. Não consigo me concentrar para estudar.
Valen: Quando enfim vai chegar o dia que eu e você vamos perder o medo do mar e de escada rolante?
Pepeu: Hoje vou para o parque com os meus amigos. Quando eu chegar vamos fazer ligação e assistirmos juntos o filme As Crônicas de Spiderwick. Pode ser?
Quando eu digo que confio muito nos meus amigos virtuais... Estou falando disso. Para Larissa eu posso contar tudo. Falo para ela os nomes dos meus amigos, meus problemas, segredos, medos.
Com Gisele é diferente.Temos conexão como se nos conhecêssemos de vidas passadas. Porém, com Gisele eu não conto tudo. Apenas sobre a escola.
Valentina é a pessoa mais aleatória que tenho no meu celular. Conheci ela em um grupo e hoje em dia somos melhores amigas virtuais.
As vezes passo dias sem falar com Valen e do nada mando a mensagem aleatória. Com ela eu posso falar de signos, mercúrio retrógrado ou sobre o universo.
Pedro e eu somos amigos a uns meses só.
Descobrimos que gostamos do mesmo filme, As Crônicas de Spiderwick, e por isso combinamos de assistir mil e uma vezes se for preciso.
Ou conversamos sobre assuntos do dia a dia. Até uma conversa de "gente grande" sobre profissões nós tivemos. Eu amo o Pepeu.
Jogo o meu celular em cima da cama, me deito soltando um suspiro e sinto como se tivesse deitado em cima de um papel. Me viro de lado pegando o papel branco com poucas coisas escritas.
Aquela caligrafia perfeita parece estar querendo me intimidar. Como se cada palavra fosse reveladora demais para mim. Tenho uma suspeita.
Duas suspeitas no caso.
Raíssa e Livian.
Sei que não deveria pensar em Livian como uma suspeita, mas ela sabe desse lugar. Porém, ela me revelou que quem ficava nesse lugar era Raíssa.
Como se a mesa solitária, todas aquelas estantes empoeiradas, os livros velhos fossem seu esconderijo secreto. Como se "pertencessem" a Raíssa.
Vai ver estou me confundindo. Livian só foi para o fundo da biblioteca querendo ficar sozinha e Raíssa... É a minha única suspeita no momento.
Tivemos outra reunião hoje de manhã com a professora Cora para falarmos se os alunos tinham continuado sentados nas cadeiras do meio.
Na reunião eu nem olhei muito para ela. Foi difícil encarar a garota depois de ter pegado seu celular e visto que ela estava lendo uma fanfic sáfica.
— Liana e Manoela chegaram e as duas trouxeram uma surpresa — minha mãe abre a porta do meu quarto e sorri — Mando elas entrarem?
Eu imagino a surpresa.
— Claro que sim. Hoje vamos sair para o parque — aviso antes dela entrar — E a senhora vai poder ficar sozinha para ir planejar sua aula de segunda.
— Aula? Eu vou é ficar de olho em um monte de aluno — ri e balança a cabeça — Esqueceu que semana que vem tem prova?
— Sorte a sua — me levanto e beijo a sua bochecha — Chegar as férias para enfim a senhora ter descanso.
Minha mãe olha para minha roupa com uma expressão séria agora. Parece estar prestes a perguntar se vou vestida assim para o parque. Eu chamo minhas amigas antes de mamãe falar algo.
Liana e Manoela entram segurando uma sacola.
— A gente não esqueceu — Manoela diz sorrindo e fecha a porta — Só atrasamos um dia.
— Manu comprou seu presente pela internet e só chegou ontem — Liana suspira e coloca a sacola perto de mim na cama.
— Mas o bom é que chegou certinho— diz Manoela cruzando os braços — Feliz aniversário, Milena.
Elas me abraçam rindo e quando nos afastamos pego a sacola rapidamente. Eu me surpreendo por ver tudo bonito e embalado.
Tiro três porta retratos de dentro e abro a boca surpresa. Uma moldura diferente da outra.
— O que é isso, gente? Essa moldura é o que estou pensando...
— Pode avaliar aí. É banhado a ouro — ela me interrompe — Esse presente é de nós duas. Gostou?
— Eu amei, meninas, é muito lindo — eu logo coloco os porta retratos em cima da cômoda — Tem umas fotos guardadas do Jorge criança. Vou tirar do álbum.
— Eu estava pensando de tirarmos umas fotos hoje no parque — Manu passa a mão no seu cabelo loiro — Revelamos e colocamos no porta retrato.
— Você que sabe, Mile — Liana pega nos ombros dela — Minha namorada só está sendo chata.
— Eu nunca sou chata, amor — vira o rosto e dá um selinho nela — Você que acha minhas ideias ruins — a vejo rir e fazer um biquinho.
— Golpe baixo isso aí — fala baixo e beija Manoela — Faz esse biquinho — diz entre um beijo e outro — Só para me provocar.
Eu reviro os olhos rindo pegando um travesseiro e jogando nelas.
— Ei, estão me excluindo. Só vai nós três? Quero ficar de vela não — cruzo os braços como se tivesse chateada.
— Para de ser chata, Lila. Qual é, fica interrompendo nosso namoro aqui — gesticula com as mãos apontando para elas.
— Jonas e Ruan vão também — continua abraçada com a namorada — Vai ficar de vela não. Só estamos aproveitando esses últimos dias antes da viagem.
— Ela já sabe. Mensagem todo dia como se tivéssemos perto uma da outra — fala com uma voz séria — Vou sentir muitas saudades.
— Quer ligação todo dia. Vê se pode — sorri e joga a almofada em mim — O que você acha, Milena? Eu ligo?
— Se eu fosse você... Ligava sim — digo rindo e pego a carta — Liana, preciso conversar com você — olho para Manu — É algo muito importante.
— Já entendi. Querem ficar sozinhas — se afasta levantando as mãos — Depois vamos para o parque.
Manoela sai e eu me levanto e não deixo ela ver a carta.
— É sobre Isabelle? O que foi? — logo pergunta me olhando com atenção.
— Não. Está acontecendo uma coisa meio estranha comigo — começo com a voz baixa — Tem algo que eu nunca te contei, mas tenho o meu lugar preferido na biblioteca da escola.
— Como assim lugar preferido? Entendi nada — franze as sobrancelhas — Só sei que você adora ficar lá. Se pudesse iria passar o dia todo.
— O fundo da biblioteca. O lugar onde tem aqueles livros lá empoeirados — eu mordo o lábio com medo da reação dela — Sei o que vai dizer. É perigoso eu ficar perto de toda essa poeira.
— Na verdade não ia dizer isso — diz falando devagar e abre a boca por umas três vezes tentando falar algo — Por que você não me contou? Não ia achar ruim se você preferisse ficar sozinha lendo. Amiga, ninguém vai para aquele lugar. Então se você gosta de lá é porque quer ler em paz.
— Não te contei porque achava que era a única a gostar de lá — respiro fundo — Aí na semana passada fui ler e encontrei a mesa riscada. Tipo, riscaram mesmo. Eu fiquei surpresa, né? Nunca suspeitei de ninguém.
— Riscaram a mesa do nada? Desenho ou escreveram algo? — ajeita o óculos branco e seus olhos ficam ainda mais grandes.
— Um desabafo. Essa pessoa escreveu uma frase desabafando sobre não saber qual profissão quer — desvio o olhar e tento ser sincera — E eu não saio por aí riscando mesas. É errado. Só que acabei escrevendo de baixo da frase.
— Então você riscou também? Meu Deus que história doida, Mile — ela ri e tenho a impressão de seus olhos terem ficado pequenos por um momento. Mesmo com o óculos.
— Você sabe como eu sou. Eu precisava ajudar — me defendo — O problema é que agora estamos nos comunicando.
— Deixa eu ver se entendi — senta na cama olhando para o teto — Você riscou a mesa e está "conversando" com uma pessoa? Conversando através de uma mesa?
— Não, não, não. Calma. Nada disso. Eu escrevi uma carta — eu digo virada de costas para ela — E estamos assim desde então. Conversando por cartas.
— Mile, que coisa doida, história digna de uma novela — pega no meu braço me virando de frente para ela — Você ao menos sabe quem é essa pessoa?
— Aí é que mora o problema. Nao faço a menor ideia — meus ombros caem — Por isso preciso da sua ajuda. Tipo, estou contando umas coisas da minha vida e eu nem sei quem é.
— Isso é perigoso. Vai que é uma pessoa ruim — arqueia sobrancelhas — Não pode ficar contando da sua vida. Conte para mim ou para Manu. Não confia na gente?
Eu queria confiar. Eu juro
Mas para vocês só posso contar uma coisa. Sobre eu estar me entendendo.
E os meus medos não posso falar
Porque me sinto melhor na internet. Vivo em dois mundos, o real e o fictício, e me sinto bem vivendo na ficção onde todos me aceitam como sou
Consigo desabafar com desconhecidos. É mais fácil
— Milena Louise, acorda. Você confia na gente? Porque não é o que parece — ela estrala os dedos na frente do meu rosto — Vai continuar trocando cartas com essa pessoa?
— Me ajuda por favor. Eu preciso saber quem é. Se é ela ou ele. Enfim — pisco os olhos tentando parar de pensar tanto.
— E esse papel aí? Tá escondendo por que? — tenta pegar da minha mão e eu puxo o braço rapidamente.
— É a carta, ué. Só para você ver como é. Essa é da pessoa que me mandou — digo rapidamente me afastando um pouco.
— Posso ver a letra? Assim poderei te ajudar — se levanta — Qual é, até para isso não confia em mim?
— Para de besteira, Liana. Óbvio que confio em você — falo um pouco alto do que o normal — Desculpa. Não queria gritar.
— Calma, amiga, não quis te chatear — balança a cabeça — Você tem alguma suspeita pelo menos? Um aluno, a letra de alguém conhecido? Sobre o que ele fala na carta?
— Coisas rotineiras do dia a dia — logo respondo sem entrar em detalhes — Até tenho suspeitas. Porém, uma acho que posso descartar.
— Quais são? Eu conheço por acaso? — ajeita o óculos de novo e me incentiva a dizer.
— Raíssa e Livian — digo baixo — Eu sei. Você deve tá bem confusa. Raíssa me falou que sabia onde Livian estava e isso foi na quarta. Fomos juntas e do nada ela me levou para o fundo da biblioteca. No final Livian admitiu que o lugar era o esconderijo secreto de Raíssa.
— Esse lugar anda movimentado — diz depois de um tempo em silêncio — Qual das duas você descarta? Porque pensa comigo... Raíssa gosta de ler e faz sentido ela gostar de ficar isolada. Qual o melhor esconderijo se não esse, né? Agora sobre Livian não sei direito o que pensar.
— Descarto Livian. Não acho que ela faz o tipo de pessoa que passa horas lendo — me encosto na parede — Mas também custo a acreditar que possa ser Raíssa. Vai que tem outro alguém nessa história.
Em um momento de distração Liana se aproveita e pega o papel de minhas mãos. Eu grito tentando pegar de volta e ela começa a rir. Um sorriso de vitória.
Olha para o papel sem ligar para mim se afastando ainda mais. Cruzo os braços já imaginando que perdi essa luta.
— Eu não li nada. Só verifiquei a letra — me devolve a carta — Percebi bem foi o nome Sky. Deve ser uma garota.
— Se verificou a letra então leu uma coisinha ou outra — coloco a carta em cima da cômoda — Tem algum plano?
— Você anda muito próxima da Livian, né? Conversaram na quarta feira? — muda de assunto — Apoio vocês serem amigas.
— Fala sério. Por que mudou de assunto? Se quer tanto saber — faço uma pausa — Ainda vejo Livian como um enigma.
— Tá, e como ver Raíssa? Elas são bem diferentes — pega a bola e chuta sem muita força para a parede.
— Não vai perder seu posto de melhor amiga. Relaxa — me abaixo pegando a bola e ela logo reclama — Você está fazendo errado. Não sabe nem chutar. Eu estou decepcionada comigo de não ter te ensinado.
— Dessa vez você que está mudando de assunto — tenta pegar da minha mão e eu saio rindo — Eu tenho uma ideia. Ao contrário de você, né? Que usou essa desculpa.
— Ela me desejou feliz aniversário — eu admito enquanto jogo a bola na parede — Também me chama agora com um nome que inventou — eu pego a bola antes de cair — Colocou um apelido em mim. Esse foi nosso único avanço.
— Já estão nos apelidos. Eu diria que foi um grande avanço — ela senta para me observar — Você quer saber com quem está se comunicando e falam nas cartas sobre algumas coisas rotineiras do dia a dia.
Eu continuo jogando só esperando ela explicar a ideia.
— Então presta atenção nas coisas que essa pessoa te contou nas cartas — a bola cai no chão quando lembro no que li sobre a desconhecida fazer cosplay — Decora e convida Raíssa para ir para o parque com a gente.
— Raíssa? Convidar? Espera que eu me perdi — gaguejo voltando a jogar a bola.
— Chama a Ray para ir com a gente — sugere com um sorriso — Observa ela e vamos ver se fala algo como uma pista. Tipo o jeito que a desconhecida fala nas cartas.
Fico em silêncio. Como queria não estar envolvida nisso. Por que eu fui inventar de agir como salvadora da pátria?
Agora me encontro aqui conversando com sei lá quem e prestes a convidar uma garota para sair.
— Fica tranquila. Isabelle não vai. Só vai eu, você, Manu, Ruan e Jonas — me tira dos meus pensamentos — Ninguém tem nada contra Ray. Vamos nos divertir um pouco.
— Você acha que vai funcionar? — eu sento do lado dela — Eu não quero chamar Raíssa com a desculpa de... Sei lá. Com a desculpa de investigar ela.
— Não é investigação. Nós vamos para o parque nos divertir como sempre— tira o delineador da minha mochila — Depois podemos ir para a praça e você joga lá com o povo.
— Ah sim que bonito. Vou deixar minha convidada sozinha na praça enquanto eu jogo — digo com ironia — E não estou muito no clima de ir esse ano...
— Claro que vai. Vamos lá levantando e tirando essa baixa autoestima — ela me puxa — Porque a sua presença é muito importante. Eu vou fazer um delineado em você.
— Ah fala sério. Nem preciso me arrumar. Já tô pronta — me levanto com ela me puxando — Tá igualzinha minha mãe.
— Deixa de reclamação. Nem falei em roupa — me coloca em uma cadeira — Esse é seu estilo e eu não acho feio. Vou só fazer um delineado. Te deixar ainda mais linda.
Liana faz o delineado e escolhe um tênis para mim.
Ela sempre exagerando. Logo reviro os olhos vendo o tênis. Me viro para o espelho do guarda-roupa.
— Superou o meu delineado. Perfeito — digo admirada — Nem precisava disso tudo. Vamos só para o parque.
— Ah, Lila, para. Não é como se tivesse te maquiado toda — guarda o delineador — Qualquer coisinha que faz fica diferente, porque não somos acostumados a te ver de maquiagem.
— Vou ficar toda suada. É perca de tempo me maquiar né — explico enquanto calço o tênis — Na escola eu jogo na quadra, no parque corremos muito e na praça sempre quero jogar. Então para que se arrumar?
— Tem razão. Você já é bonita sem nada disso — faço um joinha com a mão para ela e pego o boné — Vamos lá, jogadora. Chama a Ray que eu vou ficar ali com a Manu.
Coloco o boné, pego o celular e começo a digitar. Sinto meus dedos tremerem um pouco e acho que estou nervosa.
E aí, Raíssa. Quer ir no parque hoje? Soube que a maior atração já chegou na cidade
Envio a mensagem sem pensar muito. Tentei passar a impressão de segurança, mas não sei se consegui. Olho a tela na mesma hora que aparece um sinal dela.
Digitando
Digitando
Digitando
Ah só o que me faltava essa garota estar escrevendo um texto enorme. Quase me arrependo de ter mandado a mensagem quando meu celular vibra.
Ai meu Deus. Ela respondeu. Vou levar uma convidada para o parque. E ainda preciso prestar atenção em tudo que ela me contar.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro