Capítulo 11
🛸 Raíssa Valentina 🛸
Tenho uma responsabilidade agora.
Preciso pensar em algo muito bom para acabar com a separação da sala. Tenho a ajuda de Milena que me surpreendeu sendo a primeira a se levantar e mostrar apoio.
Se ninguém aqui gostava de mim antes então agora devem me odiar. Claro que alguns não concordaram com a ideia. Eu acho que o problema não é termos que nos unir.
O problema é eu estar a frente de tudo
É a primeira vez que eu mostro querer ajudar. Antes eu era a estranha e agora Formiga com a ajuda do meu querido arqui-inimigo, Cabeção, devem fofocar de mim pela escola.
Mais um motivo para mim ser mal vista
Mas não me importo
Eu vou cumprir com meu dever de unir a turma. Eles gostando ou não.
O sinal tocou a uns 5 minutos atrás e eu precisei sair antes do intervalo, porque o celular tocou.
Mãe apareceu na tela e eu suspirei na sala de aula. Pedi o professor para sair e ele deixou.
Agora estou conversando com minha mãe em um canto mais afastado por nós estarmos no intervalo. Hoje a quadra tá fechada. O diretor abriu a quadra mais cedo e agora fechou de novo.Esse diretor é muito estranho.
— Fernanda já me contou tudo, Raíssa. Você faltou uma semana inteira e ainda usou Joaquim como desculpa — a voz de Maria Emanuelly me fez revirar os olhos e soltar outro suspiro.
— Joaquim estava doente, Emanuelly. O que você queria que eu fizesse? — sento no chão — Precisava ficar em casa para ajudar Fernanda.
— Você fez foi se aproveitar. Poxa, filha, sabe que não pode estar faltando aula — sua voz se acalmou um pouco — Eu mal chego de viagem e sou pega de surpresa com isso.
— Por que não me avisou que estava vindo? Eu iria faltar aula de novo e iria ficar em casa — digo tentando parecer inocente e completo — Te esperando como uma boa menina.
— Para de graça, Raíssa. Eu não estou para brincadeirinhas — respira fundo — Eu quis fazer surpresa. Achei que iria ser legal chegar sem te avisar. Comprei pizza para janta.
— Eu odeio pizza — faço careta — E nós vamos almoçar primeiro. Depois vem o jantar.
— Você amava pizza. Tenho certeza — ela diz e percebo pela sua voz que está meio pensativa — Não gostava?
— Nunca gostei e você saberia disso se estivesse comigo todos os dias — coloco um chiclete na boca — Vive dizendo que quer participar mais da minha vida sem nem ter ideia de qual é a minha comida preferida. Sabe nem qual a cor que mais gosto.
— Vamos ter tempo dessa vez.Irei passar mais uns dias aqui — ela fica alegre — Vou ficar sabendo de tudo que a nova Raíssa gosta. Não é assim que você diz? É uma nova Raíssa e a antiga Raíssa já é passado.
— Exatamente. Eu mudei muito — digo mais para irritar ela — Agora eu preciso desligar. Até mais, mãe — sorrio forçado e desligo.
Eu vou precisar lidar com minha mãe e seu jeito alegre se perguntando o tempo todo do motivo para mim ter mudado
Continuo masclando chiclete e vou para a biblioteca. É o único lugar capaz de me acalmar. Entro na biblioteca e já sinto como se eu fosse parte daquele lugar.
Como se eu pudesse simplesmente ficar ali o dia inteiro, folheando livros, tendo alegrias, momentos breves de felicidade, pois só podemos ter momentos.
Sinto falta de quando esse cantinho no fundo da biblioteca era só meu. Da paz que me fazia companhia, como o vento calmo capaz de preencher o silêncio, me mostrando que eu não estava sozinha.
Chego perto da mesa empoeirada e vejo que as luzes estão se apagando. Acende e apaga, acende e apaga, acende e logo depois apaga.
Vou pegar um livro na estante do lado esquerdo e escuto um espirro. Silêncio. Um pouco da luz do sol entra pela janela e ilumina os livros.
A luz ainda acende e apaga
Outro espirro seguido de um sussurro
Saio devagar de onde estou temendo ser a pessoa das cartas. Tive o azar de vim na hora errada. E se for mesmo a pessoa desconhecida?
Que não revelou a sua identidade verdadeira assinando o seu nome como Sunshine.
Ando devagar vendo a mesa ficar em foco, olho para os lados, coloco o livro embaixo do braço e outro espirro acaba me fazendo parar. Então eu vejo.
Uma pessoa sentada no chão, lencinhos de papel nas suas pernas e vários ao seu redor e um fone grande no ouvido. Não consigo ver muita coisa além disso.
Me aproximo mais a olhando com uma certa curiosidade. Será que estou vendo assombração? Sinto arrepio.
Se concentra
Escuto o som de uma música. Realmente a música do fone parece estar alta por eu ter conseguido escutar.
— Isso virou Stranger Things do nada? — alguém fala e rapidamente procuro uma lanterna. Viro a lanterna para essa figura/assombração.
A luz apaga. Completa escuridão se não fosse pela iluminação do lado de fora que entra pela janela.
Vejo a pessoa colocar as mãos no rosto e se afastar um pouco. Ali encostada na estante está uma menina alta, de cabelo curto cacheado, um piercing no nariz e outro na orelha.
A luz acende de novo.
— Raíssa? — ela tira os fones e passa a mão no nariz.
— Livian? O que tá fazendo aqui? — eu continuo segurando a lanterna. A garota abraça as pernas.
— Achei que a qualquer momento isso aqui ia virar Stranger Things — não me olha enquanto fala — Fiquei pensando como alguém gosta de ficar isolado em um canto sinistro desses como se tivesse a certeza que um dos monstros da série ia aparecer do nada.
— Como se aqui fosse um portal para o mundo invertido? — pergunto com as sobrancelhas franzidas desligando a lanterna — Achei que você não tivesse vindo hoje.
— Meus pais não me deixariam faltar — deita a cabeça nas pernas me olhando — Por isso estou escondida. Agora não conta para ninguém que me viu.
— Eu nem fico entregando o povo — me aproximo da mesa e me sento — Relaxa. Pode confiar em mim.
— Confiar em alguém que queria deixar toda a tarefa para mim no trabalho em dupla? — assoa o nariz com o lencinho — Prefiro te pedir para não contar para ninguém e torcer para que você cumpra com isso.
— Nossa. Que mau humor — reviro os olhos — Eu só estava brincando. Não ia te deixar fazer tudo sozinha.
— Talvez eu tenha exagerado também de ter dito que já é o bastante nos conhecermos de vista — fala baixo — Devo ter ficado na defensiva. Não sou muito acostumada a interagir.
— Te desculpo. Reconheceu o seu erro — coloco o livro em cima da mesa — Se pensa em se esconder em um local cheio de poeira...
— Eu sei que isso vai me fazer mal. Eu tô ligada — me interrompe e observo seus cachos caindo por cima de seus olhos — Não tem onde se esconder nessa escola. Achei que ninguém fosse aparecer aqui.
— Só uma menina estranha com os seus livros de história em quadrinhos — eu sorrio — Foi azar ou sorte me ver?
— Sorte por ter uma companhia e azar de ser logo você — ela sorri — Acha que o nosso santo bateu?
Ou eu fui precipitada? Eu até disse que podia gostar da sua companhia.
— Não sei. Nossa primeira conversa foi confusa — eu me encosto na cadeira e estico as pernas — Podemos tentar nos conhecer.
— Sou a Livian, irmã de Isabelle, ex do idiota do Ruan — encosta a cabeça na estante — Sei tocar ukelele, sonho em conhecer a Holanda e o museu de Van Gogh.
— Mentira. É fã de Van Gogh? — sento direito na cadeira — Sei pouca coisa sobre ele, mas admiro umas pinturas. É uma mais linda que a outra.
— Procura a história de vida dele — ela encara o teto forrado — Eu posso passar horas olhando suas pinturas e lendo as suas citações. Isso me ajuda a não ficar tão triste.
— É o que está te ajudando agora, né? Com esse lance — digo distraída ainda pensando em Van Gogh — Como é ser o centro das atenções por ser irmã dela?
— É um saco. Antes ninguém sabia de nada e era suportável — ela continua olhando para o teto — Só que falavam de mim, faziam suposições, nem se quer se importavam se eu estaria ou não ali escutando. Nunca fui invisível.
— O povo adorava fazer suposições a seu respeito. Eram inconvenientes — eu passo o dedo na mesa tentando limpar a sujeira — O ruim é que agora eles terão um motivo a mais para falarem de você.
— Nem me fale — pega nos fones e acho que pensa em voltar a escutar música — Sabe? Eu não gosto mais do Ruan. Com a traição dele fiquei tão magoada sentindo raiva, tristeza, arrependimento por ter confiado nele. Hoje sinto ranço, dor e odeio precisar ver ele todos os dias.
— Fico feliz de ter conseguido superar — limpo as mãos na calça jeans — Ruan não te merece. Isabelle também errou por ter brigado com você. Era para isso ter ficado só no jogo e ela levou a sério demais.
— Verdade. Eu não quis provocar ela — se defende — Mas quando estou em um mesmo local que Isabelle está fico assim. Quero tocar na ferida de novo de coisas de anos atrás... Eu sei lá. Acho que faço isso por querer ver ela arrependida.
— Sinto-lhe dizer, mas Isabelle parece estar a vontade no relacionamento — começo procurando palavras certas — Talvez pense que você ainda gosta dele por ter dito aquilo no jogo.
— Eu sei, Raíssa. Acabei dando motivos para ela pensar assim — dá de ombros — Não me importo com a opinião dela. Ruan é passado e eu não preciso provar isso para ninguém.
Ficamos em silêncio. Eu penso em uma garota que iria ficar feliz de ajudar ela. Milena pode tentar animar Livian. Eu vou estar fazendo minha parte de tentar aproximar elas duas.
— Isso tudo é como meu esconderijo — chamo a atenção dela — Você achou sem querer o meu cantinho de paz. Não tem problema se outra pessoa vier também.
— Esse seu olhar deve querer dizer que tem uma ideia — diz com cuidado e faz uma pausa — Nos conhecemos de vista o bastante para mim ter medo dessas suas ideias.
— Ruim pegar intimidade, né? — digo sorrindo — Relaxa. Minha ideia é só de contar para Milena onde você está. Nela pode confiar de olhos fechados.
— Espera. Milena Louise? A jogadora? — aponta para mim e fica pensando — Vocês são amigas desde quando?
— Faz pouco tempo. O lance é que ela pode ficar com você — solto torcendo para ela entender — Vocês podem ser amigas.
— Já falei uma vez com ela no ônibus — sorri e se levanta deixando cair vários lencinhos de papel — Só não sei se posso confiar.
— Claro que pode. Milena tem aquela marra toda só no jogo, porque na real é uma boa amiga.
— Nisso eu tenho que concordar — olho para seu nariz e está vermelho de tanto ter espirrado — Conte para Milena.
Agradeço por apoiar minha ideia e fico feliz.
Milena é linda, fofa, inteligente e posso me distrair tentando fazer uma boa ação.
Pode me agradecer Milena. Eu sei que sou perfeita. Agora você vai conhecer a verdadeira Livian Alves.
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