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Capítulo 1

2017

🛸 Raíssa Valentina 🛸

Aviso: Alunos, pais ou responsáveis estão convidados para a Palestra que vai se iniciar hoje com o objetivo de ajudar os alunos do ensino médio na escolha da profissão. Atenciosamente a direção.

Respiro fundo, me concentro nas notas boas que tirei ano passado e me lembro pela milésima vez como fui capaz de conseguir passar de ano. Eu precisava lembrar o quanto foi difícil estudar e me esforçar.

Precisava lembrar da primeira vez que fiquei até duas horas da madrugada estudando, precisava lembrar da minha reação quando consegui resolver uma questão super difícil de matemática, de como foi difícil ler todos aqueles livros na biblioteca.

E mais coisas que nem gosto de lembrar. Foi um processo lento. Não foi da noite para o dia que eu, Raíssa, virei a menina estudiosa que vivia com a cara enfiada nos livros como os professores diziam e me elogiavam. Claro que elogiavam.

Eu mal tinha chegado na Escola e já me consideravam expert em matemática, mas não. Eu não era expert em nada. Eu só precisava de uma boa distração para não ficar mais deprimida ainda...

Bom tem muito sobre mim que ninguém aqui sabe. Ninguém aqui me conhece de verdade. Eles vêem essa Raíssa, mas não a Raíssa verdadeira.

Talvez seja porque eu não esteja pronta para deixar essa Raíssa sair e se revelar ao mundo. Talvez eu precise de tempo e coragem... Ainda estou me curando de muitas coisas do passado.

Olho para os lados rapidamente e logo arranco aquele papel. Não consigo me controlar nem pensando nas notas boas do ano passado. Quando o assunto é Profissões eu simplesmente travo.

Amasso o papel com as duas mãos com força fazendo uma bolinha de papel. Agora ninguém mais vai ver esse Aviso e podem até esquecer da tal palestra. Vai que o diretor cancela e marca isso para outro dia.

A bolinha de papel fica toda mal feita e eu jogo no lixo discretamente dando de ombros. Os alunos continuam passando alheios aos Avisos.

Sempre quando tem alguma coisa nova aparece um ou dois papéis no Quadro para informar aos alunos. O Quadro fica entre os armários e em um lugar bem central.

Hoje só eu tive a oportunidade de me aproximar do Quadro e ler o aviso com a maior tranquilidade, pois o normal é ficar cheio de alunos na frente e você nem se quer chegar perto. E eu consegui arrancá-lo também.

Então ponto para mim

- Só o que me faltava. O diretor acha que vamos decidir uma profissão com simples palestras? - reviro os olhos e fecho a porta do meu armário.

- Olha lá, Formiga - escuto a voz do demônio, digo, a voz de Cabeção e eu me preparo antes de me virar para os dois meninos que estão rindo.

Cabeção aponta para mim rindo e o seu amigo ri junto.

Risadas contagiantes que chamam atenção de um grupinho de meninas que passam pelo corredor. Elas riem discretamente e quando me olham percebo que fazem careta.

Uma delas cochicha algo no ouvido da amiga e saem andando rapidamente. Como é legal estudar nessa escola, amo meus novos amigos, saio com eles todo final de semana e eu sempre tiro notas boas.

Repito ironicamente só na minha mente e sorrio forçado para os meninos. Queria que tivesssem inventado uma máquina do tempo para eu poder ser teletransportada o mais rápido possível.

- A esquisita falando sozinha de novo. É hilário - Cabeção cruza os braços e finalmente vai parando de rir - Você não cansa de falar com os seus amigos imaginários?

- Sabe que não? - pego um chiclete e coloco na boca olhando distraída para eles - Meus amigos imaginários sabem apreciar um bom livro, a arte, usam a inteligência. Diferente de certos idiotas que não sabem nem soletrar a palavra abduzir.

- E você é a inteligente que vai nos ensinar o bê-a-bá? - Formiga logo está na minha frente e pega no meu cabelo - Boa sorte, porque você vai precisar. Com essa sala do 2° B...

- Vocês são uns idiotas - afasto a mão dele para longe do meu cabelo - Por que estão aqui perdendo tempo comigo? Esqueceram o caminho de volta para o circo?

- E você esqueceu o caminho de volta para terra dos sem noção? - Cabeção começa a rir de novo junto com Formiga e eu sinto meu rosto esquentar.Que eu não fique vermelha, que eu não fique vermelha, que eu não fique vermelha.

- Ah como eles são bobinhos - digo masclando o chiclete e olho para o lado fingindo falar com alguém - Coloquem um nariz de palhaço que combina super com vocês, não é povo imaginário?

Aceno a mão para eles me afastando e sinto como se tivesse "vencido". Venci a minha primeira discussão com o tal de Cabeção, meu arqui-inimigo, e Formiga, um dos meninos que todos consideram o mais engraçado da sala.

Estudo somente com Formiga e graças a minha boa sorte não sou obrigada a ver o rostinho bonito do meu arqui-inimigo na sala de aula. Já basta encontrar com ele todo santo dia pelos corredores.

Mas eu sei que essa não foi a primeira e última discussão. Minha manhã inteira é cheia de discussões. Algumas tem a ver comigo, me defendo, sou irônica. Outras nem tem a ver comigo, mas é como se tivesse porque estou lá.

Já outras começam por besteira, simples apelidos bobos, alguém que pede algo emprestado e o outro não empresta, ou um engraçadinho senta na cadeira de outra pessoa e quando a tal pessoa vai chegando já vem brigando.

Eu disse. Coisas bobas. Eu estudo nessa Escola desde o ano passado e tive uma grande reviravolta do final de 2016 para esse ano. Quando cheguei aqui percebi o quanto a sala do 1° ano B era desunida. Não me importei no início.

Eu era aluna nova, estava me sentindo meio triste no início com a mudança de escola, mas conforme as semanas foram se passando eu fui começando a ficar realmente irritada com as discussões e muitas vezes por causa de besteira.

No começo de 2016 eu tinha uma vida normal e em fevereiro acabei entrando nessa nova escola. Eu ainda era feliz e isso estava estampado no meu rosto. As coisas meio que desandaram somente no mês de abril.

Abril

É difícil lembrar de abril de 2016. Esse mês ficou marcado na minha vida e se alguém falar o nome abril me recordo rápido do pior mês. Só que ninguém vai saber e vão falar o nome do mês mesmo assim.

Karen... Karen também é um nome que antes parecia lindo. Dizer o nome dela era tão comum para mim, tão simples, tão bonito. E ouvi-la dizer meu nome era tão... Verdadeiro.

Karen e eu nos conhecemos na escola antiga. Eu com 11 anos e ela com 12. Era uma data que jamais iria esquecer. O dia que conheci minha amiga. Afinal eu era a mais popular nesse tempo.

Quando tinha por volta de 8 para os 9 anos eu lembro bem como as coisas funcionavam no meu mundo. Fui uma criança bem mimada, que gostava de vestir roupa bonita, amava usar laços no cabelo e usava botas.

Como posso dizer? Eu era aquela típica menina patricinha. Sim. Passei por essa fase. Lembro de alguns episódios onde alguns meninos, colegas de sala, vinham até mim e ficavam meio que disputando a minha atenção.

A Raíssa de 9 anos adorava aquilo. Ela gostava de ter aquela atenção, aquele tratamento, aquela atitude. Achava que não tinha motivo para pensar em um namoro tão nova.

A antiga Raíssa atraia olhares de todos. Algumas meninas odiavam ela.

Tudo bem... Talvez a palavra odiar não seja muito apropriada para se tratar de crianças, mas era quase isso.

Nessa época seus pais ainda estavam juntos. Mas ela teve seus momentos românticos. Foi com ninguém mais e ninguém menos que os meninos da sua sala.

Achava alguns bonitos, mas na hora da conversa das meninas sobre garotos ela se via em um enigma. Tão complexo para antiga Raíssa entender isso.

Porém, prestava atenção nas garotas. Um dia percebeu o quanto olhava para boca de uma amiga enquanto a menina falava.

Quando se tocou do quão estranho isso podia parecer se recompôs e fingiu ter deixado seu brinco cair no chão só para ter motivo para se abaixar e disfarçar seu nervosismo.

Essa foi a primeira vez que sentiu algo do tipo

Nunca tinham sido ensinados sobre coisas assim. Seus pais achavam fofo vê-la dançando nas festas de São João. Seu par era sempre algum menino fofo nada popular que a professora fazia questão de escolher.

Teve um tempo que todos só falavam disso. Casalzinho com direito a declarações inocentes como cartinhas com a seguinte frase: "quer namorar comigo? e em baixo tinha (Sim) ou (Não).

Umas meninas faziam na inocência. Já outras tinham noção do que era um namoro mesmo sendo crianças. Alguns meninos aceitavam o pedido de namoro.

A Raíssa de 10 anos observava os casais achando engraçado o fato de pegarem na mão um do outro, beijo na bochecha, trocarem cartinhas e principalmente a falta do contato através do beijo.

Foi uma fase que todos conseguiram se divertir com uma brincadeira onde gerou muitas fofocas e risadas. Eu me via perdida no meio disso tudo.

Até minhas amigas tinham seus... Como posso dizer? Seus namorados. Enquanto eu assistia ao show de TV que a escola havia se tornado.

E o sentimento continuava lá mesmo que ainda escondido. Não conseguia e não queria ser obrigada a ter um crush. Os momentos românticos meus com os meninos não passavam de diversão.

Até que com 10 anos fomos nós brincar na piscina da casa de Gaby, a garota de cabelo curto que era a mais quieta da turma

E lá estava eu sozinha tirando fotos na piscina esperando a hora para tomar banho. Gaby chegou perto de mim com suas primas, falaram comigo rindo, eu também sorri. As primas dela estavam meio indecisas.

Acho que elas queriam entrar para meu grupo e não sabiam como pedir. Fui gentil ao responder as perguntas delas.

Já Gaby permaneceu parada no mesmo lugar só observando nossa conversa.

Decidi pular na piscina e chamei as primas dela que logo aceitaram rindo. Elas eram meio irritantes e infantis. Eu não queria que fizessem parte do grupo e fiquei alerta para o caso delas falarem algo a respeito.

Eu tirei minha blusa e meu short, elas também e mesmo sem querer não pude evitar desviar o olhar. As primas de Gaby conversavam passando protetor solar.

Fiquei constrangida de estar tão perto vendo elas passando protetor, ou rindo, apenas de biquíni. Não sabia nem para onde olhar. Fiquei nervosa, passei a mão no braço, olhei para o céu. Tentei muito disfarçar.

Gaby aproveitou minha distração e foi lá pular na piscina. Eu fui a última a entrar até que preferi ficar longe delas. Sentia frio, nervosismo e me odiava por ter a terrível impressão de estar com o rosto vermelho.

O que era aquilo? Estava ficando doida ou era normal encarar a boca de uma colega, ficar constrangida ao ver alguma menina trocando de roupa sendo que eu também era uma delas?

Os meninos que deviam querer minha atenção a ponto de eu trocar cartinhas com eles...

Foram os meus dois pensamentos embaralhados que me fizeram acreditar de estar ficando doida. Me recusava a aceitar. Não podia gostar de garotas. O certo era garotos.

E esse pensamento me perseguiu por anos

Uma vez sentei perto de Gaby durante a aula. Ela ficou surpresa e tímida. Desde aquele dia não tínhamos mais falado uma com a outra.

- Você sempre fica sozinha - comecei sem saber como agir e me odiei muito por logo eu, Raíssa a popular, estar tão vulnerável.

- E você sempre cheia de gente do seu lado - ela sorriu um pouco - Já parou para pensar o quanto muitos aqui não se aproximam por... Medo?

- Medo? Todos gostam de mim - eu lembro de ter achado aquilo absurdo - Inclusive você. Se quiser andar comigo então... Já sabe - gaguejei me sentindo idiota.

- Não devia implorar por atenção. É óbvio que a maioria te adora - pegou no meu braço meio sem jeito - Mesmo que você as vezes seja chatinha.

- Nunca fui chata - gritei sem querer - Você também tá gostando de alguém? - mudei de assunto.

- Talvez - sua resposta vaga me fez ter dúvidas - Sei lá. Eu não acho que a gente devia ter preferência sabe? Seria bom poder ficar com quem a gente...

- Como assim? - engoli em seco sem entender e meu coração acelerou.

- É complicado. Sei lá. Se eu dissesse para um adulto iam me repreender - ela mordeu o lábio - Seria bom poder ficar com as garotas também.

- Que absurdo - balancei a cabeça e deixei um clima desagradável no ar. Gaby olhou para mim tímida com a cara de poucos amigos, abriu a boca, tentou falar algo e ficou em silêncio.

- Desculpa - disse por fim - Sabia que não ia entender. Só que eu acho tão sem sentido crescermos sendo obrigadas a escolher um garoto. Por que não podemos beijar as garotas? Podíamos beijar meninos e meninas.

E então essa conversa nunca mais saiu da minha mente. Continuava achando aquilo um absurdo e tinha preconceito.

Me afastei completamente de Gaby. Mas suas palavras permaneciam lá.

Podíamos beijar meninos e meninas

O tempo se passou. Com 11 anos teve um desafio no grupo. Adorávamos brincar disso. Era o jogo da garrafa e eu tive o desafio de beijar Théo, o menino ruivo.

Congelei diante das risadas e incentivos para que eu o beijasse

Acabei me aproximando e foi apenas um selinho rápido. Eu não senti nada e fiquei torcendo para ninguém perceber que fiquei incomodada.

Mas eu tinha uma amiguinha que era minha companhia diária. Dias depois do meu primeiro beijo fui dormir na casa da minha amiga.

A casa onde morava era pequena, pagavam aluguel e seu quarto também era pequeno.

Tivemos que dormir juntas. Lembro de que queria dormir de conchinha com ela ou abraçadas. Eu me sentia errada ou ficava com raiva de mim quando os pensamentos vinham.

Na hora de dormir a mãe dela desligou a luz e a única iluminação foi da fraca luz do seu abajur que ficava em cima da cômoda. Ela tinha muito medo do escuro apesar de já sermos grandinhas então eu segurei sua mão.

Pegamos na mão uma da outra e assim ficamos. Ela gostava de ler uma história antes de dormir. Minha amiga só tinha tamanho, porque era bem medrosa e ainda dormia só se deixasse o abajur lá ligado.

Eu li um pouco da história e ela leu o restante com aquela sua voz bonita e me fez vê-la como professora. Ela era romântica e eu não. Continuamos lendo ali de mãos dadas e sorrindo de vez em quando com a história.

No final eu impliquei com ela dizendo que era bebezinha por ter medo do escuro, me levantei para apagar o tal do abajur, ela me puxou rapidamente com uma mão e com a outra tampou os seus olhos. Acabei caindo na cama com esse puxão e reclamei.

Porém, estávamos perto uma da outra e sua proximidade fez meu coração bater mais rápido. Ela foi tirando a mão dos seus olhos e me olhando meio que com a expressão confusa e assustada.

Naquele momento quis beijar ela. Então meio que ignorei o fato de achar errado, me aproximei com cuidado, fechei meus olhos e dei um beijinho nela. Ficamos um tempinho nesse beijinho e ela logo se afastou.

Deitamos direito na cama, a reação dela foi se enrolar com o lençol até a cabeça, se afastar um pouco de mim e não falar mais nada.

Com 11 anos finalmente conheci Karen, minha nova amiga, eu não sabia que ela ia vim a ser a pessoa mais importante e não fazia ideia que naquele momento ia começar uma nova fase de descobertas.

Karen e eu fizemos amizade rápido ao ponto dela ser convidada principal nos meus aniversários. Sempre que ia fazer a lista colocava ela em primeiro lugar. Karen não se importava com a minha popularidade e nunca a exclui em nada.

Eu tinha bonecas da Barbie e eram uma das melhores Barbie. Todas da minha sala queriam minhas bonecas e nunca emprestava para ninguém. Essa antiga Raíssa era muito orgulhosa. Só que com Karen as coisas foram diferentes.

Ela tinha cabelo preto, usava uma franja que cobria um pouco suas sobrancelhas, olhos castanhos, era bastante alta para sua idade. Mais alta que eu somente uns centímetros.

Karen gostava de coisas meio diferentes. Como subir em árvores, nadar no mar de noite, colecionar búzios. Ela até tinha um peixe.

Karen sempre gostou de borboletas, formigas, joaninhas.Isso foi o que me fez aprender mais sobre as joaninhas e de escutar todo dia alguma história dela e da joaninha que vivia no seu jardim.

Teve um dia de 11 para 12 anos que eu comecei a me interessar por borboletas e joaninhas. Formigas ainda eram meio "estranhas" para antiga Raíssa. Acabei aceitando entrar no mar de noite com ela e me arrependi por a água estar bem fria.

Um dia ela me desafiou a subir em uma árvore. Eu estava com minha saia nova e minha blusa rosa que eu amava. Logo aquilo pareceu sem sentido para mim. Ia sujar minha roupa e podia correr o risco de me arranhar tentando subir.

Era um desafio proposto pela minha bff, apelido que eu particularmente era fã, então eu precisava ir lá e cumprir o desafio. Não era mais eu ali ditando as regras.

Contei de 10 para baixo mentalmente e me preparei para subir na árvore.

- Se minha roupa rasgar - comecei a olhando e cruzei os meus braços - Ou eu precisar ir pro médico... Você vai ter que comprar uma blusa nova para mim. E eu quero essa aqui.

- Ai que exagero, miga, vai acontecer nada. É só uma árvore - Kah ria de mim e me deixava com raiva - Somos só crianças.

A Raíssa antiga achou isso um absurdo, pois se preocupava super com as suas roupas, seus laços no cabelo e etc. Para ela beleza era essencial. Foi aí então que Fernanda, a minha babá, apareceu me chamando para irmos para casa. Estávamos em uma praça.

Pedi para Fernanda esperar e disse que tinha um desafio para cumprir. Ela só riu do meu jeito e voltou a sentar lá no banco me observando.

Eu peguei no tronco da árvore meio sem jeito e ouvi a risada de Kah. Ali respirei fundo e me preparei novamente.

Eu não lembro bem como foi subir na árvore. Só me recordo de ter sentido meu joelho doer, minha saia rasgar, meu braço ficar relado.

Na hora de descer fiquei com medo de saltar lá de cima e tive que sair com a ajuda de meu pai que subiu para ir me pegar. Na verdade ele não me pegou, mas me ajudou a descer com cuidado. Me recordo também de ter ficado com as pernas trêmulas.

Vieram mais desafios propostos nos momentos de passatempo. Confesso que era até divertido. Karen me influenciou tanto ao ponto de eu parar com minhas preocupações de só fazer amizade com os populares.

Uma nova Raíssa foi começando a dar os seus primeiros sinais. Desfiz a amizade com amigos que vieram a ser só colegas de sala. Parei com essas besteiras de não querer me sujar, não querer correr.

Até que um dia me recordo de nós duas correndo alegremente atrás de umas borboletas amarelas que voavam. Nós queríamos pegar uma borboleta. Uma nova fase, uma nova perspectiva e uma nova Raíssa.

Meus pais, Maria Emanuelly e o Paulo Sérgio, adoravam Karen. As vezes eles deixavam eu ir dormir na casa dela. Só que eu nunca tive muito diálogo com a minha mãe. Vivia trabalhando e não tínhamos muita proximidade.

Com meu pai era mais fácil. Vinha a ser meu herói. Porém, mesmo confiando muito nele não conseguia contar tudo da minha vida. Sempre fui bem reservada em relação a segredos.

Foi com essa mudança que comecei a mexer na internet e foi como descobrir um novo mundo.

Meu pai não deixava eu ficar até tarde mexendo no computador só que eu ainda tentava aproveitar os momentos de pesquisa.

Estava um pouco cansada do estilo das minhas roupas e da cor rosa, cansada da decoração do meu quarto e eu andava tendo uns pensamentos diferentes.

Na verdade... Desde que beijei aquela menina senti que algo novo estava por se iniciar. Só que naquele tempo eu não entendia direito.

Pesquisei um pouco na internet sobre estilos. Eu queria inovar. Um estilo me chamou atenção, mas não sabia o nome.

Procurando por esse estilo comecei a me interessar por desenhos de caveira que via na internet. Não era nada a ver com o estilo de Karen. Ela era fofa e eu tava começando a gostar de caveira, a cor preta, maquiagem.

A maquiagem foi algo difícil para mim aprender e só tentava passar lápis de olho. Com o rímel quase sempre borrava tudo. Tive que ver tutoriais de Como se Maquiar e usei a maquiagem da minha babá. Fernanda ficou chateada quando descobriu.

E com os tutoriais eu descobri outros sites de tutorias totalmente diferente de como aprender a se maquiar.

Aprendi a jogar videogame, na época em que videogames eram muito usados, e pedi ajuda de meus primos para eles me ensinarem. Com minha adolescência chegando eu estava com essa vontade de descobrir o mundo.

A popularidade foi ficando para trás.

Teve o dia que minha mãe percebeu a minha mudança...

Eu estava no quarto abrindo gavetas da minha cômoda e tirando várias roupas. Colocava todas elas em cima da cama.

- O que você está fazendo? - minha mãe apareceu na porta do meu quarto com os braços cruzados.

- Não quero mais essas coisas velhas - disse e continuei tirando mais e mais roupas - Pode levar para doação ou sei lá - enxuguei o suor da minha testa e a encarei - Quero tudo novo.

- Mas filha como assim? - não teve uma boa reação - Isso aqui é lindo e é a sua cara. Olha esses vestidinhos, esse macacão rosa, seu shortinho. Você adora.

- Cansei de coisinha fofa - balancei a cabeça - Quero roupa preta. Sei lá. Ah e quero sapatos novos também. De hoje em diante sou a nova Raíssa.

- Você tem cada coisa, menina - ela riu não levando a sério - Isso tudo aqui é seu e você adora. Quais seriam essas roupas?

- Aqueles camisetão e moletom ou saia sabe? Ah e quero também pintar o meu cabelo - exigi e peguei meus laços - Pode ficar para você - a entreguei um baú onde ficavam todos os meus laços guardados.

- Tá doida menina? Pintar o cabelo? Você é criança - revirou os olhos e não aceitou o baú - Os seus lacinhos são a coisa mais linda. É a sua cara.

- Ai mamãe por favor - coloquei o baú em cima da cama - A nova Raíssa não pode usar esse cabelo e esses laços.

Claro que não pintei meu cabelo com essa idade. Meus pais não deixaram e só troquei meu estilo. Naquela época não sabia quase nada sobre Novos Estilos e muito menos o nome desse estilo que eu gostei.

Comecei a me vestir de forma diferente e me senti muito satisfeita. Meu pai aprovou o meu novo visual. Apesar dele ter ficado surpreso de me ver usando maquiagem pela primeira vez.

Já minha mãe...

Minha mãe nunca aprovou o meu novo visual. Ela dizia que eu estava crescendo rápido demais e as vezes comprava uns vestidos bem fofos daqueles que antes eu usava e acabava me presenteando no meu aniversário. Até hoje guardo esses benditos vestidos.

Ela também queria comprar esmaltes e eu não gostava mais de pintar as minhas unhas.

Apesar de toda essa mudança ainda teve outras. Com a amizade de Kah descobri que as pessoas populares podem sim se aproximar de outras que tem menos condições. E além disso fui descobrindo ainda mais sobre meus sentimentos.

Eu e Karen éramos muito próximas e tínhamos muita intimidade. As vezes eu me via olhando para ela. Ainda tentava evitar a todo custo.

Queria poder olhar para um garoto, me sentir atraída, acabar com a confusão. Tentei escolher um colega para gostar. Theo não era mais meu amigo e estava muito bonito com 13 anos

Não seria má ideia gostar de Theo

Assim lembro de ter feito amizade com ele e de rimos ao relembramos o desafio daquele dia.

Karen se juntou a nós e formamos um trio. Theo aceitou os gostos de insetos e confessou que achava divertido brincar com formigas. Meus antigos amigos populares nos olhavam com raiva por estarmos juntos de novo.

Eu lembro de um dia ter brincado de boneca da Barbie e estávamos eu e ela. Não tínhamos o Ken, namorado da Barbie, e eu estava penteando o cabelo da boneca enquanto ela vestia a boneca com um vestidinho branco.

Era para ser o casamento da Barbie e a gente ia fazer o casamento dela com a amiga. Éramos acostumadas a brincar e fingiamos que as bonecas se gostavam. Não tínhamos o bendito do Ken.

Fizemos o casamento de mentirinha tão rápido para ninguém ver. Ela fez a voz do tal padre imaginário, eu joguei as pétalas de rosas no chão perto da casinha da Barbie, ela fez os vestidinhos.

E na hora do beijo...

- Pode beijar o noivo - ela forçou a voz para fazer a voz do padre e acabou me olhando - Quero dizer podem se beijar.

Ela franziu as sobrancelhas sem saber o nome certo se ia ser noivo ou noiva e eu sorri colocando a mão na boca. Acabou que fizemos as Barbie se aproximar e se beijar.

Não sei o motivo daquilo ter ficado na minha memória e não ter esquecido o episódio do casamento da Barbie.

O episódio se repetia na minha mente toda vida que via ela. Aquilo estava passando dos limites.

Antes desse episódio percebia algo que achava intrigante. Karen também me olhava as vezes, fazia questão de pegar na minha mão e confessava que me amava.

Dizer "eu te amo" era algo tão normal entre todos da sala que eram amigos e até gostávamos de brincar dizendo eu te amo para os melhores professores. Eram três palavrinhas mágicas.

Eu ficava muito feliz quando ela dizia as três palavrinhas e não dizia de volta. Eu só sorria sem saber como expressar meu sentimento. Não dizia eu te amo nem para minha mãe e nem para Fernanda, minha babá.

Somente para meu pai.

E eu permanecia dizendo para mim mesma: "é só uma fase. Vai passar. Você só precisa relaxar. O que sente por ela é apenas amizade."

Theo foi chegando cada vez mais a ser próximo de nós duas e gostávamos da companhia dele. Tinha a impressão de que ele estava gostando de mim.

Achei a oportunidade perfeita para acabar com a confusão na minha mente. Karen achava bonito a gente junto. Ela nunca mostrou se apoiava. Se estava do nosso lado. Começamos a sentar juntos na sala e andar de mãos dadas.

Theo achou mesmo que estávamos namorando e eu tive que trazê-lo de volta a realidade ao dizer que estávamos só ficando.

Nesse tempo já sabíamos mais do que antes. Na verdade nunca tinha se quer o beijado e tínhamos a mesma idade. Precisava experimentar o namoro e voltar atrás daquela fase onde todos ficavam de casalzinho e eu ficava perdida.

Chegou o dia tão esperado. Marcamos de nos encontrar depois da aula. Karen parecia feliz por nós, mas eu sentia certo incômodo da parte dela toda vida que eu falava sobre o beijo. Ela simplesmente mudava de assunto.

Minutos antes os meus batimentos cardíacos aceleraram, as minhas mãos suaram, parecia mesmo que ia desmaiar. Decidi o beijar antes de ser tarde de mais.

Eu estava beijando Theo de novo

E agora o beijo vai ser de verdade. Não um selinho

Ai meu Deus

Ele beijava bem. Tentei o acompanhar e não aproveitei, pois o tempo todo eu tinha a impressão de estar fazendo algo errado.

Cadê as malditas borboletas? Aquelas sensações boas?

As borboletas no estômago que tanto falavam

Não era como se eu tivesse feliz

Não conseguia sentir nada

Continuar ficando com Theo só para provar algo para todo mundo e enganar a mim mesma foi a pior solução. Eu com 13 anos me via num dilema.

Passei uns três meses ficando com ele e nunca deixei Karen de lado. Ainda dava atenção a ela, brincávamos, ríamos.

Nós só estávamos meio estranhas uma com a outra. Sem Theo éramos nós mesmas e quando ele chegava todo feliz percebia que o clima mudava.

Eu sentia pena dele. Sua gentileza, alegria, autoestima, seu jeito fofo. Como eu não gostava dele? Tinha tudo para ser o cara perfeito. Nossos beijos eram bons. Qual o problema então?

Meus pais adoravam Theo e sempre me perguntavam se estávamos bem. Deixei claro que não era nada sério.
Já bastava ficarmos juntos, mentir para mim o tempo todo e ainda manter a pose como se tivesse enfim interessada em alguém.

Quando na verdade os meus melhores momentos continuavam sendo ao lado de Kah

E ela parecia ter ciúmes da gente

Quando finalmente resolvi terminar o lance com ele acabei o deixando triste. Porém, não estava funcionando toda essa mentira.

Um dia estávamos eu e ela em baixo de uma mangueira. Era o nosso lugar preferido onde compartilhávamos histórias divertidas.

Eu tentava ler um livro em quadrinho e ela falava e falava sobre a joaninha que sumiu do seu jardim. Estava triste por não ter se despedido da joaninha e o seu peixe havia morrido.

Decidi não a interromper e escutar com atenção. Gesticulava com as mãos contando da última visita da joaninha e da alegria que sentiu ao ter que pegá-la. Eu tinha me arrumado um pouco mais nesse dia.

Estava usando uma camiseta preta, um tênis e uma calça rasgada nos joelhos. Não usava maquiagem. Eu tinha me arrumado com meu novo visual e por um lado queria muito impressionar ela.

Queria que ela dissesse algo, que até me elogiasse, reparasse em mim.
Mas ela só queria falar sobre seus bichinhos e não admitia nada.

Me senti culpada de pensar nisso e de ter essas vontades de ser elogiada pela minha amiga.

- Sinto muito pela joaninha e por seu peixinho - falei com sinceridade - Eu estou aqui. Pode contar comigo.

- Desculpa por estar sendo chata com esse assunto e não ter nenhuma história divertida para contar - encostou sua cabeça no meu ombro - Nem te deixei ler.

- Não tem problema - fechei o livro rapidamente - Nem sempre temos boas histórias para contar. Pode desabafar.

- Achei que você ia se afastar de mim depois que começou a ter esse visual - ela sorriu fraco - E não fosse mais se interessar por bichinhos fofos.

- Mudei o visual - falei óbvio - Não o meu jeito de ser, sua boba - beijei a bochecha dela para fazê-la rir.

- Eu te amo - aí pronto. Ali estavam aquelas três palavrinhas que eu tanto sentia falta - O que foi? - ela deve ter percebido minha expressão.

- Desculpa, Kah - fixei meu olhar em umas folhas caídas no chão sem se quer ter coragem para encarar ela - Eu não consigo. Preciso revelar esse segredo de uma vez.

- Segredo? Do que está falando? - enxugou suas lágrimas e encostou as costas no tronco da mangueira - Você está passando por alguma coisa?

- Sei que não é uma boa hora, mas eu não acho certo guardar isso para mim - continuei observando as folhas no chão para me distrair - Eu acho que estou gostando de você.

Um tempo de completo silêncio reinou naquele momento. Eu não a encarava e só fixei meu olhar nas folhas.

- Ei, presta atenção - pegou no meu queixo me fazendo desviar os olhos das folhas - É sério?

- Se não fosse sério eu não estaria a ponto de ficar com o rosto vermelho de vergonha - sussurrei - E nunca que eu ia admitir isso em voz alta.

- Pois tá com vergonha - riu e logo ficou séria - Bom... - ela voltou a gesticular com as mãos, mas nada saia da sua boca - Também gosto de você.

- Mais que amiga? - disse sentindo que não era o que queria dizer ao certo - Não quero te pressionar, tá? Vamos só esquecer.

- Esquecer uma declaração? Acho que eu sou muito emocionada para tentar esconder que alguém se declarou para mim - confessou tímida - Não está me pressionando. Não estou fingindo.

- Você é uma pessoa corajosa. Não é tímida - encarei os seus olhos castanhos e senti que precisava ser honesta - É só que quando estou com você só penso em aproveitar cada segundo.

- Raíssa sendo romântica - aproveita para fazer piada, mas não sorri muito - Você ficou linda assim - admitiu ao analisar minha roupa - Confesso que tive ciúmes quando ficou com Theo.

- Eu já sabia - sorri um pouco - Já tava meio que na cara. Ficar com ele só me fez ter mais certeza - suspirei - Não sentia nada quando o beijava. Ficava procurando o que falavam de frio na barriga ou conexão. Paixão ou amor. Na verdade nunca senti nada com nenhum garoto.

- Fico feliz de ter terminado se não gostava dele - o vento veio e a sua voz ficou meio abafada - Ah você meio que é a primeira menina da qual gosto. Poxa... Não. É difícil admitir isso em voz alta. Sabe como é né - me olhou séria - Difícil crescer sabendo de tudo e de repente parecer não saber de nada. É como conhecer uma nova versão sua e nessa minha nova versão... Vejo que sempre gostei de você, Raíssa. E esse sentimento é confuso e lindo. Ao mesmo tempo que me sinto culpada também me sinto livre. As coisas tão embaralhadas na minha mente. Você entende o que eu quero dizer?

- Pode ter certeza - abracei ela sem conseguir conter umas lágrimas diante da sua história - Por que nunca me contou? A gente ficou tanto tempo mentindo para nós mesmas sendo que sentíamos isso tudo. Somos tão novas para sentir essas coisas.

- Não vamos nos afastar por causa disso. Eu estou contigo - garantiu - Podemos descobrir isso juntas e também aproveitar.

- E se a gente ficasse... Assim... Ficasse de vez em quando - me corriji bem a tempo antes de deixá-la confusa.

- Raí, tá me pedindo em namoro? - os seus olhos castanhos mostram muita surpresa - Não era nisso que eu estava pensando. Ainda estou confusa e isso não me parece certo.

- Relaxa. Não vamos virar um casal e ficar assim do nada - a acalmei rápido - E se a gente deixasse rolar? Ninguém precisa saber. Vai ser nosso segredo.

Depois desse dia e dessa declaração nós nunca mais fomos as mesmas. Eu e ela decidimos ficar de vez em quando e só ficaríamos se a gente quisesse.

E o nosso beijo. Beijar Karen foi como se eu tivesse me sentindo viva. Estava viva de verdade. Com certeza amava muito garotas.

Foi quase como se algo tivesse a muito tempo adormecido. Só esperando o momento certo para acordar

Minha confirmação

Conseguir me aceitar

Parar de negar o que era óbvio

Nunca mais fui a mesma

Mas gostar de garotas sempre esteve comigo

Sempre fez parte de mim

E voltar a esconder quem sou aqui na nova escola só me faz ficar péssima

Estou fazendo de novo o que fiz na adolescência

Como todo namoro... Começo, meio e fim. O nosso também terminou bem antes do esperado

Antes de Karen a vida era certeza e os dias eram alegres. Depois dela restou incertezas e eu preciso lidar com uma nova escola cheia de pessoas que não me conhecem.

Abril se foi e Karen também tão rápido como um simples flash de uma memória bonita que vivi.

Agora o que me resta é seguir a vida e tentar sobreviver nessa sala com toda essa gente difícil e complicada.

Viver sem Karen... Esse é o plano.

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