Preciso mostrar o meu valor!
Cheguei nas terras populosas dos humanos a quem eles chamam de Mirai toshi. Vários mortais andavam em sintonia rumo a localidades diferentes. Não sabia como é que eles faziam para não se esbarrarem um no outro com tamanho aglomerado de gente. O lugar era bastante iluminado pelas invenções tecnológicas deles, onde várias imagens chamativas apareciam no que eles chamam de outdoor e nos objetos voadores que estavam por todos os lados. Máquinas metálicas de olhos vermelhos que chegavam perto da altura de um gigante adolescente, por volta de cinco metros e meio, serviam como a segurança deles. Esse lugar tinha a tecnologia mais avançada do que em outras localidades que eu já tive, o que me impressionou bastante.
Eu preciso tomar muito cuidado, e pensar muito bem antes de agir. Esse lugar era dominado por alguns Deuses a quem eu não posso perturbar, caso contrário, guerras poderão ocorrer. Por sorte, e como já era esperado, eu passei despercebido, sem ser notado por ninguém. Confesso que se sentir invisível, mesmo estando para os mortais, doía um pouco, contudo, era perfeito para achar o meu alvo sem que ele perceba.
Mas como achar um humano no meio de tantos mortais? Se eu pelo menos tivesse a visão da minha irmã, ou soubesse a localização exata.
Comecei a caminhar sem rumo até achar algo que eu pudesse usar para prosseguir. Segui o fluxo dos humanos e sério, como é que eles aguentam andar em um espaço tão pequeno para o tamanho da população? Minha vontade era de sair queimando tudo que interveio no meu caminho. Mas soube que muitos deuses tentaram diminuir a população causando terremotos e tsunamis nesse lugar, contudo, eles sempre davam um jeito de sobreviver e acabavam se fortalecendo com isso. Agora soube que virou um centro de disputas entre os deuses, que usa esse lugar para os seus treinamentos e testes de poder.
"Olá, em que posso ajudá-lo?" Uma mulher presa dentro de um desses aparelhos voadores perguntou, depois que eu "acidentalmente" bati de leve para que saísse do meu caminho. Ela falava na língua nativa deles, com todavia, eu conseguia entender com facilidade todas as línguas humanas. Fiquei intrigado por ela poder me ver, apesar da minha camuflagem, então resolvi interagir com ela.
— Eu procuro um humano chamado Yori Nagasaki. — Falei a encarando. A mesma continuava com o seu sorriso estranho.
" Olá, em que posso ajudá-lo?", ela voltou a repetir com a mesma expressão que não mudava.
— Eu disse que procuro um humano chamado Yori Nagasaki! — Falei já levando a voz. Mas nada dela me responder.
"Olá, em que…", um soco foi o que ela ganhou por me fazer de idiota. A sua arrogância de ter me desprezado me tirou do sério.
Eu me aproximo do objeto caído no chão. Ela ainda funcionava apesar de ter sido danificada, e depois de soltar algumas faíscas, uma imagem com alguns símbolos surgiu como em uma ilusão. Interessado, me ponho a clicar em algumas imagens e sou surpreendido com um painel que estava escrito " Canal de busca ". Comecei a escrever na tela o nome do meu alvo, e para minha surpresa, a imagem dele surgiu na tela junto de sua localização.
— Ah, muito obrigado, mulher máquina. — Me animei por saber aonde devo ir, e até me sentir um pouco mal pelo que fiz a ela, contudo, foi bem merecido.
Com um destino definido, foi bem mais fácil me mover. Desativei a minha proteção que me deixava invisível aos olhos humanos, e mesmo assim, mesmo passando por entre eles, mal notavam a minha presença. Comecei a caminhar à procura do meu alvo, mas era óbvio que eu não sabia chegar no lugar, por nunca ter visitado antes, então decidi ir de maneira mundana, pegando um automóvel voador.
Com rapidez, me direciono ao ponto que os humanos costumam pegar esse tipo de transporte, e…
— Saia da minha frente, idiota! — escutei uma voz masculina dizer após passar trombando em mim e me derrubando. Quando me virei para ver o culpado, eu só consegui ver alguns fios dos cabelos brancos sumindo por entre a multidão.
Mesmo bufando de raiva e com vontade de achar o Maldito, eu ignorei e seguir adiante entrando no veículo voador. Ao adentrar no automóvel, uma interface em holograma apareceu com vários símbolos para eu clicar. Reconhecendo o mesmo símbolo que havia aparecido no dispositivo voador anterior, apertei no painel, e nele estava escrito: "Digite o seu endereço ". Já sabendo para onde teria que ir, apenas obedeci o que a máquina pedia, e para o meu alívio, o veículo iniciou o seu alçar voo e em uma velocidade fora do normal, já estava em outra parte do Japão.
Não estava acostumado a me movimentar nessa velocidade. Apesar de ser uma invenção mundana, foi bastante útil e serviu para os meus propósitos. O automóvel me deixou no meio do nada, onde só se enxergava areias por toda parte, e depois partiu sozinho para algum lugar. Se antes eu estava irritado por estar em um espaço lotado de humanos, agora eu estou irritado por não ter ninguém, apenas dunas de areias e…mar?
O cheiro de maresia me atraiu. Segui em sua direção e avistei aquele mar extenso e belo na qual me confortava. Me sentia ligado a ele, por ter herdado alguns traços de minha mãe que era a governanta dele.
Abri um grande sorriso após avistar algumas tendas mundanas perto do mar, onde em uma delas, se encontrava o meu alvo a quem devo eliminar de imediato. Me abaixei ativando a minha invisibilidade e me misturando entre as dunas de areia. Com cautela, caminhei devagarinho para que não tivesse nenhuma chance dos inimigos me notarem, para não correr o risco deles fugirem antes de eu exterminá-los. O meu alvo estava cercado por outros mundanos vestidos com um jaleco branco e máscaras de mesma cor cobrindo as suas bocas, outros estavam com roupas táticas pretas com armas de fogo nas mãos. Ao contrário deles , o Yori Nagasaki estava com um sobretudo marrom por cima de uma camisa xadrez e calça preta. Um óculos escuro escondia os seus traços asiáticos.
"Ahhhhhhhhh!!!"
Escuto uma voz gritando em agonia saindo da tenda amarelada em que eles entraram. Alguém estava sendo torturado lá dentro, e eu podia sentir que se tratava do Láthos. Sua dor era tremenda que eu podia sentir por todo o meu corpo, como se fosse eu que estivesse lá dentro sendo torturado. Não podia deixar que isso continue.
Eu tenho que salvá-lo!
Continuei escondido esperando a movimentação diminuir. Os guardas estavam sempre em alerta com suas armas em mãos, prontos para atirar em qualquer coisa que se mexesse. Quando encontrei uma breja, não perdi tempo e adentrei a cabana que o Deus do azar se encontrava, tomando muito cuidado para não acabar piorando tudo.
— …não importa. Continue o teste custe o que custar! — O Yori discutia com os outros de jaleco branco. Ele encarava um painel que piscava em vermelho.
Eu me escondi atrás de uma das máquinas que tinha na tenda após entrar. Para a minha surpresa, o lugar era gigantesco por dentro, com vários aparatos metálicos por todo lado. Uma luz vermelha e outra branca passavam por entre algumas fendas que rodeavam a parede de metais azuis.
"Ahhhhhhhh!!!"
O grito foi mais audível que antes. Olhei um pouco mais a frente, e avistei o deus que estava sendo torturado. Ele estava preso com arcos metálicos em uma espécie de mesa do mesmo material. Alguns fios brancos e outros vermelhos estavam presos no centro de seu peito que estava exposto.
— Aumente a potência! — Ordenou ele com sua voz autoritária.
— Mas senhor, já estamos no vermelho. Se continuar assim, ele vai morrer! — o homem do jaleco branco de óculos falou. Ele parecia seriamente preocupado.
— Eu já disse que não me importa! — ele esmurrou a parede ao lado dele, causando uma pequena rachadura no local do impacto. — Caso ele morra, acharemos outro para ocupar o seu lugar.
— Sim, senhor Nagasaki! — Dizendo isso, o homem de óculos girou um botão, fazendo com que aumentasse a dor do Láthos a um nível que ele não iria aguentar por muito tempo.
— Aumente para potência máxima! Extraia tudo dele. — Dado a ordem, o capanga dele prosseguiu sem pestanejar.
— Ahhhhhhhhhhhhhhhhh!!! — A voz dele ecoou por toda a tenda. Qualquer um no alcance de um quilômetro poderia escutar.
— PAREM JÁ COM ISSO!!! — Gritei de tanta agonia que era assistir aquela tortura, e no reflexo de tentar tapar os meus ouvidos com as mãos para abafar o som, o meu cotovelo esquerdo acabou batendo e derrubando a máquina que eu estava usando como esconderijo, fazendo um grande barulho e chamando atenção dos demais. — Ops…
— Parece que temos um convidado…— O meu alvo me fitava com um sorriso perverso no rosto. — O que estão esperando? Um convite? Pegue-o!
Puta merda, agora ferrou!
Os humanos vestidos de branco avançaram em minha direção, mas eu ateava fogo neles fazendo-os recuar. Conforme me mexia, acabava derrubando alguns aparelhos tecnológicos deles no chão, os danificando e fazendo-os soltar faíscas. Contudo, para o meu azar, a queda dos aparelhos faziam mais barulhos, o que atraía mais guardas, os humanos com armas, e o olhar de fúria do Yori Nagasaki.
Com tantos humanos adentrando o lugar com as suas armas em mãos, eu logo me encontrei cercado. Sem saída, ativei o meu maior trunfo, deixando todo mundo no escuro utilizando o meu poder da escuridão, cuja habilidade que eu só usava em casos de emergência, pois era um poder arriscado e perigoso, tanto para os inimigos, quanto para mim.
— Droga, eu não enxergo nada. — um dos homens falou.
— Quem apagou a luz? — escutei outro dizendo.
Eles estavam completamente no escuro, nenhuma luz passava pelo local. Essa é uma habilidade útil para se usar em uma fuga ou até em combate, porém, eu ainda não fui capaz de dominá-la por completo, e assim como os meus inimigos, ela também me deixava cego. Outro problema é que uma vez liberada, eu não conseguia desativá-la, pelo menos não por vontade própria.
Um breu total dominava a minha visão, não tinha ideia alguma de onde deveria ir, ou aonde me encontrava. Eu saí tropeçando em todas as coisas que atravessava o meu caminho, muitas das vezes, me trombando com um dos humanos, na qual, eu acabava atacando mesmo cegamente.
— Belo truque, nova cobaia. — escutei meu alvo principal falar, dando leves risadinhas em sussurros.
Antes que eu pudesse reagir, fui acertado na nuca.Tudo o que eu consegui ver, foi um par de luzes verdes como olhos, antes de eu perder a minha consciência.
" Senhor, a cobaia número um não resistiu "
" Não tem problema. Agora temos mais uma."
" Estamos prontos senhor!"
"Ótimo. Acordem a cobaia número dois e…"
Minha cabeça estava doendo, mal sentia os dedos das minhas mãos. Minhas pálpebras estavam tão pesadas, que eu mal conseguia mantê-las no lugar. As vozes dos humanos perturbavam a minha cabeça, impossibilitando-me de pensar claramente. Entre piscadela, avistava o meu alvo me encarando com um sorriso de vitorioso no rosto. Tentei me mover, mas os meus braços e pernas estavam sendo impossibilitados por quatros arcos metálicos, os mesmos que prendiam o Láthos. Observei o mesmo jogado no chão mais a frente de onde eu estava. Ele estava morto. Os mortais deixaram o corpo dele naquele chão gelado como se não fosse nada. Marcas de botas sobre o seu corpo eram visíveis, revelando que os mesmos não se importavam em pisar por cima dele.
Malditos! Eu vou aniquilar vocês!
— Ora, vejo que acordou. — o do sobretudo marrom falou se aproximando de mim, e depois aplicou leves tapas em meu rosto.
— Como ouça, mortal!? — Meu olhar remetia a minha vontade de matá-lo.
— Mortal?... — sua expressão foi de fingir estar pensando. — Eu? — Agora mudou para uma de deboche — Por enquanto. Mas quando eu terminar com você, terei a vida eterna! Hahahaha!!! — disse por fim, se afastando de mim. — Está na hora.
— Sim, senhor! — o do jaleco branco disse e depois começou a apertar alguns botões.
— O que vocês…ARRRGGGHHH… — uma dor insuportável percorreu o meu corpo, mas não daria a eles a satisfação de me ouvir gritar. O que o Láthos tinha passado, eu agora estava sentindo na pele, contudo, não sou tão fraco quanto ele.
— Relaxa, amigão, esse foi apenas um aquecimento. — o seu prazer em torturar os outros estava bem explícito em sua face. — Você parece ser mais forte do que o outro, isso vai ser interessante. Você me causou sérios problemas e grandes prejuízos, então… — Eu não gostei do sorriso perverso que ele deu — Aumentem a potência para o máximo!
— O que? — Meus olhos se arregalaram por tamanho que foi o meu desespero. — Não, espere…. Ahhhhhhhhh…— A dor foi bem pior que antes. Era como se o meu corpo inteiro estivesse sendo pisoteado por um gigante enquanto era estraçalhado por um Titã. Estava explícito que ele não iria me deixar sair vivo disso. A morte me aguardava naquela sala, embora não quisesse me encontrar com ela agora. O tempo diante dos meus olhos passava bem devagarinho, e cenas do meu passado passavam diante dos meus olhos a cada segundo que o humano de óculos levava para girar o botão.
É esse o meu triste fim?
— Isso, grite mais! Agora veremos do que é feito!
Eu não conseguia parar de gritar de tanta dor que estava sentindo. Notava sangue expelindo do meu corpo a cada acelerada que meu coração dava. Fechei os meus olhos e aguardei a minha morte chegar. Não conseguia mais resistir a….
Boom…
Escuto uma explosão no local. Quando abro os meus olhos para ver o que estava acontecendo, o lugar estava pegando fogo, e várias cinzas de humanos estavam espalhadas pelo chão, restando apenas o mortal a quem eu tenho como alvo, Yori Nagasaki, e diante dele e de costas para mim, estava o mesmo homem de cabelos brancos que havia me derrubado antes.
— Você é patético! — disse ele me encarando. Seus olhos da cor de sangue foram a última coisa que eu vi antes de apagar novamente.
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ΩNotas do autor Ω
Mirai toshi: É a primeira cidade em que o Mandriel aparece. Era conhecida como Tóquio,a capital do Japão, na antiguidade e mesmo naquele tempo, já era conhecida por ser a cidade mais populosa do mundo. Em 2222, ano presente na história, o número de habitantes continua sendo o maior de todos, mesmo o lugar sofrendo com as disputas dos deuses. E também, a sua tecnologia avançou consideravelmente, sendo a única cidade do país a possuir drones aéreos de vigilância e reconhecimento, e mega robôs de patrulhamentos equipados com armas tecnológicas de desintegração. Ao ser atingido por um disparo dessa arma, o alvo é desintegrado e reconstruído diretamente na prisão, onde esperavam para receber o julgamento divino.
Tottori Sakyu: É um deserto de dunas de areia do Japão, a leste da cidade de Tottori na região de Chugoku. As dunas são formadas pelos ventos do mar do Japão, que trazem areia do fundo do oceano para a praia. Esse lugar permaneceu estável mesmo depois de tantos anos, para a surpresa de historiadores e cientistas.
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