Capítulo 9- Um fatídico dia
Após ter deixado o seu filho recém nascido em uma caverna do monte Ida aos cuidados de Gaia, na ilha de Creta, Réia voltou para onde estava o seu marido, o entregando uma pedra enrolada em um manto no lugar de sua cria, que a devorou sem hesitar. Assim, Zeus foi salvo de ter tido o mesmo destino que seus irmãos.
O tempo foi passando, e Zeus foi crescendo saudável e forte com a ajuda da mãe Terra. Era amado por ela e pelas Ninfas que apareciam para lhe fazer companhia e para a sua diversão. Depois de ter chegado em sua adolescência, o que seria uns quinze anos em idade mortal, Zeus decidiu explorar mais o lugar. Usando a sua astúcia, conseguiu despistar as suas amigas Ninfas que estavam por toda a ilha, indo parar onde nunca havia estado antes. Caminhando pelo lugar, uma formação estranha na parede cercado de rochas lhe chamou a atenção. Levado pela sua curiosidade, andou em direção a parede, e sem que desse conta, acabou atravessando ela como se não houvesse nada ali, como se fosse apenas uma ilusão, atiçando ainda mais a sua curiosidade. Adentrou mais o lugar cercado de rochas, onde só o barulho de seus passos podiam ser ouvidos. Chegando mais afundo, deu de cara com uma barreira que impedia o seu prosseguimento. Ao tocá-la, sentiu uma forte energia que o repeliu,mas determinado em ultrapassá-la, voltou a tocá-la com mais firmeza, subjugando aquela barreira com a sua própria força de vontade. Não demorou muito e a barreira já estava no chão. Ele ficou contente por ter conseguido tal feito, porém ficou surpreso com o que encontrou. Uma menina dos olhos pretos como a noite, estava toda encolhida no canto da parede com o seu semblante assustado.
— Não tenha medo! Eu não vou te machucar. — disse Zeus estendendo a sua mão para a garota.
A menina o fitou com desconfiança, mas bastou uma olhada em seus pares de olhos azuis, que pôde decidir que poderia confiar nele. Pegou na mão do rapaz, proferindo apenas um "Obrigado " antes de saírem juntos daquela caverna que desabou logo depois.
— Obrigada por ter me ajudado. — disse a menina após respirar fundo — Meu nome é Mágissa, muito prazer.
— Eu sou o Zeus. — sorriu para a garota em sua frente — Não se preocupe, se quiser, pode ficar comigo. Eu te protegerei! — disse constatando a situação da menina.
— Sério? Muito obrigada! — ela abriu um largo sorriso — você é muito…
— Claro que tem uma condição! — interrompeu ela, deixando-a confusa.
— Qual seria essa condição? — perguntou engolindo a seco, sem desviar o olhar dele.
— Quero que seja minha! — Zeus a olhou com malícia — Somente minha. Quero que seja a minha mulher e de mais ninguém! — segurou nos braços dela quando a mesma ficou acanhada pela proposta dele, a puxando para mais perto de si e tomando os seus lábios em um ato feroz e agressivo. Mágissa tentou resistir, mas a força do homem que a dominava era maior. Sem hesitar, ele a jogou contra a parede rasgando o seu Quíton, deixando ela despida diante de seus olhos azulados e a possuindo com muito fervor naquela parede fria e sem vida.
Depois de satisfazer os seus desejos carnais, Zeus levou a Mágissa para viver junto com ele, prometendo que a protegeria de qualquer um. Mesmo com o aviso de Gaia sobre a origem da menina, ele não ligou, apenas serviu de mais motivação para que ele pudesse persuadir ela de ajudá-lo futuramente no resgate de seus irmãos, e como não tinha muitas opções, ela acabou aceitando.
O tempo foi passando, e os dois foram ficando cada vez mais próximos durante o treinamento diário que faziam, ao ponto de um confiar no outro plenamente. Pelo menos foi isso que Mágissa achava, mas os planos de Zeus eram outros. Depois de conseguir que a bruxa o ajudasse a concretizar o seu plano de resgatar os seus irmãos e se tornar o novo governante do Olimpo, ele a condenou para o abismo do Tártaro a pedido da nova esposa, que também era a sua irmã. Hera passou a odiar e desprezar Mágissa após ter tido uma premonição assustadora de que um dia, um dos descendentes dela, seria a ruína de seu marido.
Tendo o coração partido e a liberdade roubada, Mágissa jurou que um dia teria a sua vingança, nem que isso pudesse durar milênios, e faria de tudo para esconder o fato de estar esperando um filho do homem que a abandonou.
》》》》》》Ω《《《《《《
Pov Alexandre
Meu mundo tinha virado do avesso e desabado sobre mim. Não sei o que havia feito de tão errado para merecer os eventos que ocorreram nessas últimas semanas infernais. Hoje, me encontro jogando os primeiros punhados de terra sobre o caixão daquela que tive a honra de ter como mãe, enquanto sou observado pelos meus amigos e familiares que se emocionam com a cena. Familiares esses, que nunca estão por perto para oferecer qualquer ajuda ou nos visitar de vez enquanto, para checarem que ainda estamos vivos e respirando, mas são os primeiros a comparecerem para fazer esse melodrama todo na frente do padre, fingindo que se importavam com a minha falecida mãe. Bando de hipócritas! Se meus amigos não estivessem por perto para me confortar, eu mandava todos eles se fud…,irem embora, para não falar outra coisa.
Depois de ouvir algumas palavras do padre em consolo, eu me afasto e observo de mais longe o coveiro realizar o seu trabalho. A Katrina veio correndo aos prantos me abraçando, dizendo algo que mal entendi por sua voz se misturar com o seu choro. Logo em seguida, veio o Rafael acompanhado com o William que me abraçaram em silêncio com os seus semblantes entristecidos. Porque todos conseguiam chorar ou demonstrar qualquer tristeza em seus olhares, menos eu? Eu sei como eu me sinto. Tenho um vazio em meu peito que nunca vou conseguir preencher por mais que eu tente, contudo, por que eu não consigo demonstrar tudo isso que eu sinto? Podia escutar os murmúrios das pessoas presentes alegando que eu não me importava com a morte daquela que me criou, só pelo fato do meu semblante estar sério e frio. Bando de ignorantes, o que sabem sobre mim?!
"Tadinho dele. Como vai se virar sem a mãe?" — escutei uma prima distante falar com a família.
" Olha só a cara dele. Ele não se importa com a morte da mãe?" — uma suposta tia falou mais ao fundo.
" Deus me perdoe por falar isso, mas… será que ele a matou?" — Sério isso? Quem são essas pessoas?
" Não fale isso, tia Naná, ele não seria capaz disso". — Uma mulher de chapelão preto falou para a senhora idosa de aparência ranzinza.
" Eu soube que ela foi encontrada morta pela polícia dentro de uma lata de lixo…"
" Sério? Eu fiquei sabendo que ela morreu de overdose por consumir tantas drogas… "
Parei de tentar escutar depois dessa última, voltando com a minha audição normal. Eu sei o que você deve estar se perguntando, como assim audição normal? É uma longa história…o que eu posso dizer é, que tudo começou naquele fatídico dia em que eu descobri que a minha mãe havia morrido.
(Lembranças do Passado)
Não acredito que já se passaram dias e aquele sonho de ter visto a minha mãe em forma astral, ainda fazia presente em meus pensamentos. Por mais que eu tentasse, não conseguia tirar aquela imagem ou as informações fornecidas por ela da cabeça. Passei a semana toda com uma forte sensação de que algo muito ruim estava por vir, e com certeza não é por causa do tremor que está acontecendo nesse exato momento. Eu estava tranquilo me protegendo debaixo da mesa da cozinha, já que eu já havia previsto que isso iria acontecer. Espero que meus amigos tenham me escutado e se protegido como eu havia alertado a eles. O pequeno terremoto foi coisa instantânea, só servindo de aviso para os próximos que virão ainda mais piores que esse. Tirando os copos quebrados e os quadros tortos na parede, a cozinha ficou intacta. Eu sabia muito bem me prevenir, não é a primeira vez que faço isso, e posso dizer com a absoluta certeza que não é a última.
Com o passar do terremoto, saio do meu abrigo e me disponho a arrumar a bagunça que ficou. Estava recolhendo os cacos de vidro, quando sou interrompido pelas batidas cessantes na porta.
— Já vai! — Grito para a pessoa incômoda do outro lado da porta, me disponibilizando a abri-la.
— Senhor Ferraz? — um homem enfartado aparece na porta após eu abri-la. É o mesmo policial que ficou encarregado do caso do desaparecimento da minha mãe, e o seu parceiro que era mais baixo que ele. Eu balancei positivamente com a cabeça, confirmando a minha identidade. — Infelizmente,Senhor, não trazemos boas notícias.
— Ainda não conseguiram encontrar a minha mãe? Já se passaram semanas! — aumentei um pouco a voz, estava incrédulo com tudo isso — O que vocês fizeram nesse tempo todo? Não é possível que uma pessoa some assim, sem deixar rastros…
— Senhor, se acalme, por favor. — O parceiro dele disse, com o seu semblante que permaneciam sério, porém entristecido. Eu já estava temendo pelas notícias que ele queria me dar.
— Encontramos a sua mãe…mas…— falava o mais alto. Meu coração começou a acelerar e bater mais forte — a encontramos tarde demais.
— O que?...— meus olhos se encheram d'água. Não podia acreditar nas palavras do homem à minha frente. Ele tinha que estar errado.
— Encontramos ela após uma denúncia anônima. Ela estava pendurada em uma árvore, presa por uma corda. A primeira impressão seria que ela havia cometido suicídio, mas dadas as marcas de queimaduras espalhadas por seu corpo, incluindo os hematomas em sua face, fora as marcas de correntes em seus braços e pernas, nós deduzimos que alguem a tenha matado em outro lugar e depois tenha a levado para a floresta para… — ele reparou em meu desespero. Não tinha forças nem para ficar de pé. — Sinto muito…Nós sentimos muito — ele olha para o companheiro que havia abaixado a sua boina quepe preta como forma de prestar respeito. Depois se despediu e adentrou em sua viatura para sair do local.
Voltei para dentro de casa sem força alguma nos pés. Estava fora de mim, desejando que aquela dor que me matava por dentro desaparecesse e me levasse com ele. Me perguntava, o porquê de eu ter que sofrer tanto. Fui ambicioso demais a ponto de querer tudo e não conseguir nada? Quero voltar a ter meus cinco anos de volta, quando o tempo era bom e eu não precisava me preocupar com nada. O que foi que eu fiz para estar merecendo isso?... o que!?...
Fiquei socando o chão em frustração, não me importando que as minhas mãos ficassem machucadas e manchadas pelo derramar de meu sangue. Eu queria que esse sentimento sumisse…eu queria que…
" Filho…Filho…"
Ouço uma voz fraca feminina saindo dos cantos da parede.
— Quem está aí? — perguntei alto, observando ao meu redor.
" Como você cresceu filho…"
— Quem está aí? — Voltei a perguntar, elevando a minha voz. Ninguém se apresenta. Decido ignorar a voz que não se contém em continuar falando.
" Não tenha medo, meu filho, eu estou do seu lado… e juntos, iremos deter os planos de seu pai…"
— O que? Como assim? Meu pai está morto. E quem é…
" Não, ele não está morto. Pelo contrário, ele está desperto. Tome muito cuidado, ainda mais quando atingir a fase adulta, será a hora que ele irá atacá-lo."
— (...)
" Mas também será a hora que você vai se transformar no verdadeiro você…
— (????) — já não estava entendendo nada que a voz queria me dizer. Por que todo mundo ultimamente está falando em códigos? Por que não fala logo o que quer dizer e pronto?
" Por enquanto, vou lhe conceder o dom da audição…"
Senti o meu corpo formigar, emitindo uma linda aura dourada que me preencheu por inteiro.
" Pronto. Agora com essa habilidade, você escutará ele chegando à distância, disponibilizando tempo para que você possa fugir em segurança…Boa sorte meu filho…"
O silêncio voltou a preencher a casa. Pelo menos por uns breves segundos. Várias vozes, vários barulhos diferentes começaram a invadir os meus ouvidos. Conseguia ouvir com nitidez o som do vento passando entre as folhas das árvores, o rugido de um leão preso em um zoológico, assim como o pousar de uma abelha em uma flor a quilômetros de distância. Estava enlouquecendo com o barulho de vários carros buzinando ao mesmo tempo, sem mencionar o som das pessoas falando no telefone ou discutindo entre elas.
— Quero que isso paaareeee!!! — Gritei a plenos pulmões, antes de cair naquele chão totalmente inconsciente.
(Presente)
Levei um bom tempo para conseguir controlar essa habilidade. Por pouco ela não me levou a procurar um hospício para me internar. Não foi fácil, não, nenhum pouco fácil, e se não fosse pela minha esperteza, eu já teria desabado. Amaldiçoado seja a pessoa que me passou esse dom, como se já não bastasse a minha outra maldição.
Levanto da cadeira que estava sentado e vou em direção ao túmulo da minha mãe que já estava fechado, pegando um Jacinto roxo e jogando por cima dele, dizendo tudo que queria em despedida. Depois voltei para o meu lugar para dar chances de outros fazerem o mesmo.
Com o término do funeral, todos se dispuseram a sair e voltar para casa, menos eu e os meus amigos que ficaram para me dar apoio. Eles com certeza fazem as coisas se tornarem um pouco mais fáceis, sem eles, eu já teria dado um fim à minha existência.
— Estamos do seu lado, Alexandre,para o que der e vier. — disse o William depositando a sua mão em meu ombro.
— Disse tudo, Will! — foi a vez do Rafael se pronunciar — Eu estou aqui, então tudo vai dar certo!— Falou com um belo sorriso no rosto, enquanto batia forte em minhas costas, forte até demais.
Sim, eu posso ter perdido a minha mãe, mas a minha família continua estando presente. Os meus amigos, meus preciosos amigos…aaargh! Minha cabeça começa a doer junto com a chuva que descia sobre nós. Algo de ruim está para acontecer e não sei se estou preparado física ou mentalmente para isso.
************************************
Ω Notas do autor Ω
Jacinto: é uma planta bulbosa que apresenta uma bela floração na primavera. Elas são usadas bastante em funerais, e suas cores têm significado diferenciado. A da cor roxa, por exemplo, significa tristeza por cometer um erro ou tristeza pela morte de um ente querido.
Sabe de onde veio isso? Bem, na mitologia grega, Jacinto é o nome de um mortal que cativou tanto o Deus do Sol, Apolo, quanto o Deus do vento do Oeste, Zéfiro. Um dia, Jacinto estava se divertindo com o Apolo, e após o Deus lançar um disco para bem alto para o jovem rapaz pegar, o Deus do vento Oeste, enciumado por Jacinto preferir mais o Deus do sol do que ele, mudou a direção do vento, fazendo o disco retornar e acertar em cheio a cara do rapaz, que pereceu na mesma hora,mesmo com as habilidades de curar do Apolo. Com o derramamento de sangue do Jacinto no solo, nasceu uma linda flor roxa, que o Deus do Sol batizou com o mesmo nome de seu falecido amigo.
Gostaram da origem dessa flor? Algumas flores têm realmente um grande mistério por trás de suas belezas. Comenta aí, qual flor que você conhece tem uma boa história por trás de sua origem?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro