Capítulo 6- As Moiras entram em cena
As moiras, como eram conhecidas as três irmãs, filhas da Deusa primordial Nix, nasceram com uma grande responsabilidade em suas costas, o de decidirem a vida e a morte tanto dos Deuses quanto as dos Mortais. Seus nomes eram Cloto, Láquesis e Átropos. Cada uma ficou responsável por cumprir uma função. Cloto era responsável por tecer o fio da vida, simbolizando o nascimento, Láquesis era a mediadora, enrolava o fio cuidando de sua extensão e caminho, simbolizando o decorrer da vida, e Átropos era responsável por cortar o fio da vida, simbolizando a morte.
Elas eram temidas e respeitadas por todos os deuses do Olimpo, incluindo o próprio Zeus, e nem mesmo ele ousaria de se opor a elas, se não, acabaria por bagunçar o destino de todos no universo.
Pov Rafael
Chegando em casa depois da escola, eu fui direto para o meu quarto e me joguei na minha cama, sendo acolhido pela maciez do meu colchão. Por alguma razão, eu não me sentia "eu mesmo" naquela noite, como se o encanto que me mantinha bela tivesse acabado depois da meia noite, me transformando de volta em uma abóbora, ou melhor, em um rato de esgoto. Não ache que eu tô me comparando a uma certa princesinha da Disney, pois eu ainda sou muito melhor que ela. Sapatinho de Cristal, sério? Imagino o horror que seria na vida real.
Em meio aos meus devaneios, caí no sono sem nem mesmo perceber. Eu acho que estava mais cansado do que eu imaginava, já que nem o uniforme me dispus à retirar.
Estou caminhando sem enxergar o meu caminho pela escuridão que me cerca. Descalço, sinto a liquidez sob os meus pés que me molhava a cada passo que eu dava. Não faço ideia de onde eu estava e nem como eu vim parar aqui, só sinto que eu deveria continuar andando.
"Será que eu morri?" Esse pensamento passou pela minha cabeça após eu ver uma luz brilhante mais a frente." Que ótimo, a luz no final do túnel. Então eu tô morto mesmo. Foi uma vida boa." Decidido que não teria outra escolha, segui na direção dessa luz, que percebi ser uma linda pombinha branca pairando pelo ar.
Segui a tal pomba, tentando alcançá-la. Tinha algo nela que me era familiar, que me trazia paz de espírito. Não podia deixá-la escapar. Depois de tanto persegui-la, ela finalmente parou e posou em um tronco cortado que estava sendo iluminado por alguma luz vinda do alto, mesmo não entendendo de onde vinha essa luz dado aquela escuridão toda. Com cautela e passos leves, porém sendo entregue pelo barulho da água sob os meus pés, consigo chegar bem perto da pomba, mas sendo surpreendido pela mesma quando em passe de mágica, começou a se transformar em minha frente. As suas asas se transformaram em lindas e delicadas mãos, junto com o restante de seu corpo que se transformou em uma forma humana. Aquela silhueta com finas cinturas e grandes bustos, deixava transparecer uma linda mulher. E eu estava certo! Só poderia descrevê-la como uma Deusa com aqueles cabelos escarlates e os olhares tão penetrantes e brilhosos como duas pedras preciosas. "Que inveja", pensei. Ainda assim, algo nela me era familiar, eu a conhecia de alguma forma. Sentia ela me chamando para perto dela, e a cada passo que eu dava em sua direção, conseguia sentir o seu medo, o seu pavor e a sua raiva.
Com esforço, eu tentava me aproximar dela, mas sempre era repelido por uma barreira invisível. Eu tentava e tentava, entretanto o resultado era sempre o mesmo, até que finalmente quando eu achei que consegui ultrapassar, uma sombra tenebrosa cai sobre ela, a consumindo por inteira, e eu...eu…
— Não me deixe!!! — Grito alto após me despertar. Olho ao redor bastante ofegante, me direcionando para o meu celular que estava despertando, e depois que eu o desliguei, voltei o meu olhar para o vazio do meu quarto. — Foi apenas um…terrível pesadelo. Sim, um pesadelo, nada mais que um pesadelo. — sussurrei.
Levantei da cama e fui me lavar. A cada jogada de água no rosto, me forçava a esquecer aquele horrível sonho. Aquilo me trouxe memórias que há muito tempo eu havia enterrado no fundo das minhas memórias. A verdade é que, apesar de eu sempre querer parecer forte na frente dos meus amigos, eu era uma pessoa frágil, com muitos medos e receios. Eu tenho medo de ser abandonado, esquecido e… de nunca ser amado por ninguém, e é claro, baratas, como eu as odeio. Talvez isso seja por causa de um trauma de infância, pelo menos é o que o meu psicólogo diz.
— Chega disso! Se controla! — disse para mim mesmo depois de dar dois tapas no meu rosto em frente ao espelho do banheiro.
Terminei a minha higiene e vesti a minha roupa de correr; apenas um short de tecido leve preto, com uma blusa regata verde. Prendi o meu cabelo em um rabo de cavalo por ele ter acordado muito rebelde. Hoje com certeza não está sendo o meu dia. Então, opto por colocar o meu boné sobre ele. Peguei o meu fone de ouvido no criado-mudo e o conectei no meu celular, colocando a minha playlist para tocar, rock e eletrônica para animar a minha corrida. Depois que eu peguei a minha garrafinha de água na geladeira, saí para espairecer durante a corrida. Correr sempre me trouxe uma paz interior que eu não sabia explicar.
》》》》》》Ω《《《《《《
Pov Katrina
Pra que despertador, se você tem uma mãe histérica do outro lado do corredor? Sério, quem é que acorda a filha às 7 horas da manhã em pleno sábado? Eu só queria dormir até tarde e terminar o meu maravilhoso sonho, onde eu era uma formidável guerreira e os inimigos não tinham chances contra as minhas habilidades. Quer saber o por que dela ter me acordado tão cedo? Simples, para limpar a casa. Eu queria morrer…sério, me enterra agora mesmo.
Sem muitas escolhas, ainda mais com o segundo, terceiro e o quarto grito que, eu juro para você, dava para ser ouvido do outro lado do mundo, me levantei bufando da cama e me encaminho para tomar um café antes de começar as minhas "obrigações" domésticas.
Não me entendam errado, eu amo a minha mãe, mas tem horas que ela me tira do sério. Eu sei que também não sou fácil de se lidar, ainda mais agora que ela quer que eu passe alguns dias na casa do meu pai que fica em outra cidade. Óbvio que não tô afim. Não quero largar a minha vida por conta dele. Ele que quis largar eu e minha mãe para ir morar com a 'sirigaita' da amante dele, então ele que fique por lá. Mas eu sou obrigada a ir por causa que o juiz decidiu isso na guarda compartilhada. Ainda bem que daqui a alguns meses eu já completo a maioridade e me livro disso de uma vez.
Chega de falar em coisas que me deixam pra baixo. Está na hora de deixar essa casa brilhando. Esperei a minha mãe sair para trabalhar, e fui correndo ligar o som no último volume. Ao som de funks, começo a fazer faxina na casa toda.
》》》》》》Ω《《《《《《
Já era bem tarde quando terminei a minha tarefa, e como um merecido descanso, eu fui tomar um relaxante banho. Em meus devaneios no banheiro, eu tive uma brilhante ideia. Estava na hora de reunir o pessoal para dar uma "escapada" da realidade, e nada melhor para isso do que uma baladinha com muitas bebidas.
Saí do banheiro e já fui pegar o meu celular para confirmar com o pessoal. Liguei para o Rafael e ele aceitou de imediato, tentei ligar para o Will, mas sempre caia na caixa postal, já estou ficando preocupada com esse sumiço dele, e com muita insistência, consegui convencer o Alexandre a ir também.
》》》》》》Ω《《《《《《
Já iria dar meia noite quando decidi sair de casa para ir na balada, por sorte a minha mãe dormia cedo e tinha o sono muito pesado, então não tive problemas para sair. Estava usando um vestido preto com pedrinhas brilhantes de um ombro com lantejoulas, e um salto alto de mesma cor. Os meus cacheados estavam mais que perfeitos e minha 'make' estava impecável com um leve sombreamento no contorno dos meus olhos, o que os fizeram se destacarem mais, e um batom rosa vibrante para causar impacto. Eu sei, eu estou um arraso!
Levei uns vinte minutos para chegar na balada, e encontrei o Alexandre e o Rafael na porta me esperando. O Alex estava muito gato com uma camisa Polo vermelha por debaixo de uma jaqueta de couro suede preta, o que o deixou mais "fortinho", já que ele era invejavelmente muito magro, apesar do tanto de comida que ele come. Sua barba estava bem feita, combinando com seu corte de cabelo moderno penteado para trás. E já o Rafael, bem, até que ele estava jeitosinho com uma camisa social preta que mostrava o seu peitoral definido, uma calça jeans escura com detalhes rasgados no joelho e um óculos também escuro em seu rosto. Confesso que senti inveja do seu cabelo bem tratado. Como ele conseguia aplicar esse efeito macio e brilhante no cabelo? Queria saber, mas ele mantém esse segredo a sete chaves.
Assim que cheguei perto deles, eles pararam para me admirar, antes de adentrarmos o local. Eu já fui me jogando na pista de dança com a música eletrônica que o DJ estava tocando.
Pov Alexandre
A música estava bastante alta, dificultando escutar o que aqueles dois estavam falando. Katy sempre animada dançando com alguns homens em volta e o Rafael, não fica para trás, estava curtindo junto com ela com uma bebida em mãos. Eu por outro lado, não curtia muito dançar, então fiquei parado em um canto qualquer com uma lata de cerveja na minha mão. O gosto não é das melhores, mas a bebida, até que me ajudou a esquecer os meus problemas por alguns instantes. Não sou de beber, eu sei, e eu acho que é por isso que o efeito do álcool me deixou embriagado muito rápido, alterando os meus sentidos. Eu estava sorrindo sem motivos e outrora triste sem nenhuma razão. Não me lembro de quantas latinhas de cerveja eu havia tomado, mas foi o bastante para me deixar tonto com a visão turva.
Me encosto no canto da parede para me apoiar, evito olhar para o chão para não correr o risco de cair. Observando o pessoal se divertindo, minha atenção vai para uma silhueta estranha envolto de sombras que eu captei no canto de olho. Quando me viro, a sombra misteriosa se distinguiu, e em seu lugar, três mulheres estranhas usando um manto preto com um capuz, de mesma cor, com a face coberta por uma escuridão, apareceu me encarando.
— Você é um jovem sortudo? Ou um bem azarado? Nem mesmo nós temos como saber disso. O seu nascimento é um mistério para nós. Ninguém nunca escapou do nosso fio do destino. Você não era para existir! Realmente…estamos ansiosas para saber o que o destino te aguarda…— elas falavam em conjunto, como se fosse apenas uma única pessoa ali. — Para o bem ou para o mal, os Deuses estão retornando e sua existência é um perigo para eles, — Eu coçava a cabeça por não ter ideia do que elas falavam — então, tome cuidado com quem confia e aqueles que menospreza, não confie em ninguém e não negue ajuda, alguém vai te trair, outros vão lutar para te salvar, — Que merda que elas estão falando? É uma profecia?É uma praga? Para quem? — apenas lembre-se disso, você escolhe o seu caminho e suas ações vão ter sérias consequências…
— Alex, o que está fazendo aí sozinho? — me indagou o Rafael, direcionando a minha atenção para ele.
— Eu estava… — me virei para apontar para as mulheres que tinham chamado a minha atenção, mas antes de eu pensar em falar alguma coisa, assim que pisquei os olhos, elas desapareceram na minha frente, dizendo apenas um "boa sorte" em sussurros. Era como se elas nunca tivessem estado ali — não sei… eu tava só?
— Já está bem louco, hein. Você parece um velho aí parado — Gritou Katy se aproximando bêbada de nós — Venha, vamos lá dançar! — disse ela, tomando um gole de um drink rosa em suas mãos e me puxando para a pista de dança.
— Está bem. Uhull! — Gritei, me dispondo a ir, já me esquecendo do que tinha acabado de ocorrer.
************************************
Ω Notas do autor Ω
Sirigaita: geralmente é uma mulher que tenta de tudo para atrair o homem que deseja, não importando que o mesmo seja casado. Uma mulher vulgar e às vezes arrogante. Uma pessoa bastante vaidosa.
Make: maquiagem.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro