Capítulo 18- Decisões e consequências, parte 2
Olhei nos olhos brancos da criatura que me encarava fixamente. Ela começou a me apertar mais forte após ver a espada na minha mão, fazendo-me largar-la no mesmo instante.
— Aaai — o seu aperto estava ficando mais forte ao ponto de quebrar os meus ossos se continuar assim — M-medusa…
— O que faz aqui? Veio me matar? — sua voz esbanjava o seu sentimento de raiva.
— M-me d-desculpe! — já estava ficando com falta de ar — E-eu só q-quero salvar o m-meu amigo.
— Quem te mandou aqui? — Retirou o Elmo de minha cabeça — Isso cheira a Olimpianos! Eles o mandaram vir atrás de mim? — As cobras em sua cabeça ficaram atiçadas.
Já não conseguia emitir nenhuma palavra a não ser de dor, minha respiração estava muito prejudicada e já estava começando a ficar inconsciente. Percebendo isso, ela pára de me apertar e me solta, se afastando.
— Cof,cof…— Caio de joelhos no chão, retomando o meu fôlego devagar.
Olho para a medusa que se afasta lentamente e depois direciono o meu olhar para a espada que havia caído mais à frente. Eu dou uma cambalhota e me levanto segurando já o artefato na minha mão, apontando para ela, a mesma percebeu isso e apenas me olhou de canto de olho.
— Faça o que veio fazer, já cansei de lutar — Percebi o seu semblante entristecido — Eu não passo de um monstro mesmo. Embora eu tente lutar contra, a realidade não pode ser mudada.
Minhas mãos trêmulas revelavam a minha incerteza. Eu precisava matá-la, não tem outro jeito de salvar o Rafael, mas porque eu tô excitando tanto? Seria os meus sentimentos por ela me impedindo disso, ou o fato de eu realmente acreditar que ela não faz o que faz por querer? Minha cabeça estava confusa, já não tenho mais certeza do que é certo a se fazer.
— Me desculpe! — disse largando a espada, a jogando no chão ao lado dela — Eu não acho que você é esse monstro.
— Você é mole, garoto, — ela se virou pegando a espada que estava no chão e rapidamente a aponta para o meu pescoço — Você vai morrer se continuar tendo compaixão com o seu inimigo!
Conseguia ver o meu reflexo na espada que estava direcionada para o meu pescoço.
— Então mate-me! — disse sem desviar o meu olhar do dela — Eu queria te matar, então é justo que faça o mesmo. Vamos, me mata!
— Desculpa, Alexandre! — ela fecha os olhos e com um balançar trêmulo da espada direcionando para o meu pescoço, ela vai no intuito de cortar a minha cabeça fora.
— Aaai! — disse após a lâmina da espada entrar em contato com o meu pescoço, mas ao invés de cortá-lo fora, sinto apenas uma dor suportável.
— O-o que? — ela ficou surpresa após abrir os olhos e perceber que eu não estava morto — Eu não entendo, como eu não consegui te cortar? O que você é, afinal?
— Você não conseguiu me cortar por um simples motivo, você não me vê como o seu inimigo — abri um sorriso por entender isso.
— O que quer dizer com isso?
— Essa é a espada de Themis, a Deusa da justiça — aponto para a espada, a fazendo olhar para a mesma — Ela é capaz de cortar com facilidade os seus inimigos, mas ela fica cega com aqueles que não são.
— Mas, mas…
— Você não é um monstro como pensa que é — andei em sua direção, abaixando a espada assim que me aproximei — Você não é um monstro — repeti chegando ainda mais perto dela. Agora os nossos rostos estavam bem próximos um do outro.
Eu podia ver através do seu olhar confuso, nele se escondia uma mulher frágil, sofrida e bastante solitária, isso ainda não havia mudado, ainda era a mesma mulher que invadiu o meu quarto e roubou o meu coração. Não me contive e mesmo sendo atacado por aquelas serpentes em sua cabeça, eu a beijei, um beijo que ascendeu ainda mais a chama no meu coração.
Pov Medusa
O que há de errado com esse homem? Porque ele não quer aceitar o fato de eu ser um monstro? Eu não consigo entendê-lo.
Eu o vejo se aproximando, ficando muito, muito perto. As minhas meninas começam a atacá-lo e mesmo assim, ele não desiste, e… me beija. Sentir os seus lábios encostados aos meus, me faz esquecer por um momento a criatura que eu era.
Lágrimas teimaram em percorrer o meu rosto, demonstrando a minha felicidade por ter encontrado alguém como ele.
Eu…poderia não estar mais sozinha?
Observo ele se afastar lentamente, o meu coração ainda estava eufórico, batendo em uma velocidade incrível.
Pov Alexandre
Me afasto devagar. A imagem da mulher dos cabelos de cobra e cauda de serpente desapareceu. Agora ela estava em sua forma mais humana com os seus cabelos da cor da noite ondulados.
— Viu, só? Você é como eu, humana — abri um sorriso.
— Obrigada, Alexandre — ela sorriu de volta e depois focou no escudo preso em meu braço — Esse escudo… eu já vi ele antes.
— Esse é o escudo de Atena.
— Como você conseguiu ele? Aliás, como você conseguiu essas coisas? Não acho que você conseguiu as roubando — ela me encara — Isso tem haver com a pessoa que mandou você vir aqui?
— Sim. Atena as conseguiu. Ela me emprestou no intuito de me ajudar na luta contra você.
— Atena! — esbravejou — Porque ela quer me ver morta? O fato de já ter conseguido matar a minha mãe não a satisfez?
— Eu pedi para ela me ajudar a trazer o meu amigo de volta ao normal. Ela disse que precisaria da sua cabeça para desfazer a petrificação.
— Sinto muito pelo seu amigo, não foi a minha intenção, mas não tem como trazê-lo de volta. Eu tentei, porém não foi possível desfazer a petrificação. Não há como — sua tristeza foi bastante visível ao encarar a estátua do meu lado.
— Quem é esse? — fiquei curioso.
— O meu pai! Ou melhor dizendo, o pai da Mi-Suk, a minha descendente aqui.
— Sua descendente? Como assim?
— Pela sua expressão, eu percebo que você ainda não sabe o que está acontecendo, não é mesmo?
— (...)
— Eu não sei o que aconteceu e nem como aconteceu, mas eu, assim como todos os Deuses e os que eram consideradas monstros que tinham algum sangue divino correndo em suas veias, perdemos as nossas memórias e as nossas imortalidades, mas agora estamos voltando nos corpos de nossos descendentes, como ela — Ela apontou para si. Eu fiquei prestando atenção em cada palavra dita — A Mi-suk era uma professora de história brilhante e através de suas pesquisas, descobriu que isso poderia acontecer, já ficando preparada para eu tomar o controle, embora eu não quisesse.
Agora entendi o que aconteceu com a Katy.
— E tem como tudo voltar ao normal? Digo, às pessoas tomarem de volta os seus corpos novamente? — Preciso da minha amiga de volta.
— Eu não sei. Isso ela não conseguiu descobrir — isso me deixou cabisbaixo — Eu despertei no momento em que eles pesquisavam sobre, e acabei transformando o pai dela em pedra — ela olhou para a estátua — Eu tenho que cuidar dele, ao menos posso fazer isso por ela.
Me lembrei da estátua de pedra que estava me esperando no meu quarto.
— E agora? Como eu posso trazer o Rafael de volta? Aquela que roubou o corpo da minha amiga está esperando que eu volte.
— Não confie nos Deuses! Eles são ambiciosos e fazem de tudo para conseguirem o que querem — até parece que ela tá me descrevendo — Principalmente, não confie na Deusa Atena, ela é traiçoeira e ardilosa.
— Me lembro de você ter falado que queria me matar por achar que eu estava com ela. Ela te fez alguma coisa?
— Ela matou a minha mãe! — Percebi a raiva escondida em seu olhar.
— Sério? Como assim?
— Minha mãe era uma sacerdotisa no templo de Atena, ela a idolatrava. Porém a Deusa tinha inveja da beleza da minha mãe e a transformou em um monstro com cabelos de serpentes e para piorar, a amaldiçoou com essa habilidade da petrificação, e como se isso não fosse o suficiente, manipulou um semideus para que a matasse e arrancasse a cabeça dela, assim como ela te pediu para fazer — Eu fiquei sem saber o que dizer — Só o que ninguém sabia, é que ela estava grávida de mim.
— Isso…é muita coisa para alguém ter que passar. Agora entendi o porquê de você ter tanta raiva dela.
— O semideus voltou depois para verificar o corpo e me viu debruçada no sangue dela — essas deve ser uma lembrança muito dolorosa para ela, também, não é pra menos — Ele me protegeu e me criou, sem saber do fato que eu também havia recebido a maldição da minha mãe, a maldição da medusa e quando acabei atingindo a maioridade, a maldição se ativou e acabei o transformando em pedra sem querer.
— E o seu pai? Ele não sabia sobre você?
— Eu não sei. Naqueles tempos, muitos deuses se divertiam com humanas, as engravidam e logo depois as abandonam, minha mãe foi uma delas.
— Eu entendo… — agora eu a entendo mais. Ela já passou por muitas coisas que a tornaram quem ela é — Agora eu não sei mais o que fazer, preciso salvar o meu amigo, mas agora percebo que não tem como.
— Sinto muito por ter feito isso com ele.
— Você não fez de propósito — dei um sorriso sem graça — Eu só queria um jeito de…
Absorva a pedra…
Uma voz feminina ecoou em minha cabeça. Eu reconhecia essa voz, era a mesma voz da garota do meu sonho.
— Como assim, " absorva a pedra"? O que isso queria dizer? — sussurrei baixo, saindo como um resmungo.
— Você disse alguma coisa? — percebia ela me encarando, mas eu estava focado em saber o que aquilo significava.
De repente, a caverna ficou completamente escura, sendo tomada por uma escuridão que invadiu o lugar. Sinto que eu ainda estava na caverna, ou pelo menos fisicamente, pois a minha mente estava em outro lugar, talvez dentro da minha própria cabeça? Flash de imagens começaram a surgir e tomar conta do ambiente, me fazendo perceber através delas que era possível trazer o Rafael de volta. Eu vejo… a Atena… as armas dela… e… a medusa. Agora entendi o que devo fazer.
— Tem um jeito de salvar o Rafael! — Falei para a mulher de cabelos de serpentes que me olhou desconfiada.
— O que quer dizer com isso? — é natural que ela ficasse confusa.
— Preciso da sua ajuda! — segurei em suas mãos e a puxei — Não temos tempo a perder, te explico no caminho. — ela apenas assentiu.
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Eu corri até o meu quarto, procurei uma bola de basquete que eu tinha guardado no meu armário e assim que eu o encontrei, enrolei ele em um manto velho que eu tinha. Fui até a cozinha e cacei um ketchup na porta da geladeira, o abrindo e jogando um pouco sobre o manto em minha mão. Depois de uns truques de maquiagem que eu aprendi assistindo filmes, finalmente aquilo em minhas mãos estava parecido com uma cabeça decepada com sangue fresco.
Voltei para o meu quarto, e depositei a suposta cabeça em cima da escrivaninha perto da minha cama, e assim como eu fiz na primeira vez, chamei pela Deusa. Ela apareceu mais rápido do que a primeira vez, já na sua forma humana.
— Eu consegui o que me pediu — Falei apontando para o manto na escrivaninha — E agora?
— Eu sabia que seria capaz — não escondeu o seu olhar de satisfação — Menos um monstro no mundo.
— Mas e agora? Como usamos isso para fazer com que o meu amigo volte ao normal?
Ela parecia relutante em me responder. Sentia que ela estava me escondendo alguma coisa.
— Sinto muito. — falou depois de um tempo — Não tem como trazer o seu amigo de volta.
— Mas… você disse que… — fingir estar surpreso. Eu sabia um modo, porém ela não iria gostar da resposta.
— Eu sei o que eu disse, sinto muito por isso — Seus passos se direcionaram para pegar a suposta cabeça — Eu procurei informações de como reverter o processo, entretanto não tive êxito — ela pega o manto — Mas se serve de consolo, pelo menos se vingou da morte do seu amigo e aqui está o seu prêmio… — ela tirou a manta, revelando o que tinha por baixo, uma bola de basquete cheia de ketchup — Onde está a cabeça? — sua voz aumentou um tom acima.
— Ela está bem guardada! — a encaro.
— Me dê a cabeça! — sua voz se exalta, fazendo aparecer a sua lança em sua mão direita.
— Não! Você mentiu para mim, me enganou e ainda agora a pouco iria me petrificar. Acha que eu vou confiar em você?
Furiosa, ela parte para cima de mim, tentando me atacar com a ponta da sua lança, eu consigo me desviar, mas não sei por quanto tempo, o espaço era curto demais. Ela conseguiu me derrubar após aplicar uma rasteira e sendo mais habilidosa que eu, ela conseguiu com facilidade me prender contra o chão ficando sobre mim.
— Achou mesmo que poderia me vencer? — aponta a lança no meu rosto, ficando centímetros de distância do meu olhar — CADÊ A CABEÇA?!
— Ela está presa no meu pescoço, onde deveria estar.
No momento em que a Atena se distraiu com a aparição da medusa atrás dela, eu consegui pegar a lança com as mãos nuas e separei de sua mestra, a jogando para o canto da parede.
— Agora! — falei para a medusa que entendeu o significado, e abriu os olhos em direção à Atena.
— Não… — A Deusa tentou não olhar para os olhos brancos da mulher atrás dela, porém eu consegui empurrar ela para que caísse em frente da medusa e ficando petrificada como consequência.
— Desculpe, Katy, mas prometo que eu vou dar um jeito de te salvar — falei para a nova estátua do quarto.
— Tá, e agora? — Medusa me pergunta colocando um óculos escuro que eu dei a ela, enquanto se aproximava.
Eu retirei a estátua do Rafael que estava guardada no meu guarda-roupa, e a coloquei no meio do quarto. Em seguida, peguei a espada de Atena caída no chão e a segurei junto com o escudo da mesma que estava no meu braço. Pedi para a medusa ficar do lado do Rafael e ficar olhando para ele, ela o fez sem excitar, mesmo não entendendo nada. Coloquei a espada na mão do Rafael e o escudo dei para ela segurar, assim sendo, fechei os meus olhos me concentrando nos dois.
Pov Narrador
O Alexandre se concentrou nos seus amigos, recitando quase como sussurros, umas palavras estranhas que nem ele mesmo conseguia entender. Um círculo de fogo se formou ao seu redor, intercalando com o círculo de água ao redor dos outros, fazendo com que a medusa ficasse um pouco assustada, porém permanecendo no lugar.
Depois de um tempo recitando, ao que parecia, palavras mágicas, uma luz forte ecoou dentro dos dois círculos. Aos poucos, o Rafael que antes era uma pedra, começou a derreter e voltar ao normal, assim como a mulher de cabelos de serpentes.
Assim que terminou, abriu os seus olhos, vendo o resultado do seu esforço.
— Rafael? Rafa! — correu para abraçar o amigo que iria cair de tontura.
— Oi, mano — disse ainda tonto — o que aconteceu? E quem é ela? — Apontou para a mulher que se olhava no canto do quarto i.
— É uma longa história amigo — Disse o Alex, se afastando um pouco de Rafael e indo em direção a bela moça — Medusa, você está bem?
— Estou! — disse ela terminando de se olhar e abrindo um lindo sorriso — Na verdade, eu estou melhor do que nunca. Olhe! — Alexandre percebeu que o Rafael olhava nos olhos da medusa, mas ele não se transformava em pedra — A maldição acabou! Eu estou livre! — disse pulando de felicidades.
— Isso é ótimo! — Alex pulou de felicidade junto com ela.
— O que está acontecendo aqui? E porque tem uma estátua no seu quarto, mano? — Rafael não conseguia entender a emoção dos dois pombinhos.
— Senta aí, Rafa, eu vou te contar tudo…
Enquanto o Alexandre contava para o amigo tudo que tinha passado, alguém mais observava a cena através do vidro da janela.
— Isso é interessante! — o homem que voava com uns sapatos de asas, saiu correndo dali usando a sua velocidade e sem perder tempo, voltou para Olimpo à procura do comandante do lugar.
Eles ainda não se deram conta, mas atacar uma Deusa, como Atena, não passaria despercebida, e causaria a maior fúria que um Deus grego poderia sentir.
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ΩNotas do autor Ω
Mi-suk: na Coreia, significa, "aquela garota que é linda e pura"
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