Capítulo 11- William Spencer
Abro os meus olhos lentamente, sentindo uma corrente elétrica percorrer todo o meu corpo, que por sinal, estava em estado de estática. Percebi que minhas mãos estavam suspensas presas a correntes, assim como os meus pés presos no chão. Olhei ao redor fazendo o maior esforço pela minha debilitação, reparando que eu estava em um lugar úmido e velho, as paredes feitas de concreto estavam em completa decadência, tanto, que emanava um odor forte de mofo. Uma luz fraca vinda da lâmpada no teto, era a única iluminação do lugar, mas a sua falta de capacidade de cumprir a sua função, deixava os cantos na maior escuridão.
Um dos meus maiores medos tinha se tornado real, eu estava preso em um porão. Eu sempre odiei porões, não entendo por que das pessoas optam por ter um. Nunca, nada de bom acontece em um porão. Ninguém assiste filmes de terror, não é? Sempre o pior acontece em uma casa velha que tem o quê? Sim, um porão. Sempre no porão.
— S-soc…s-soco…socorro…— queria gritar por ajuda, mas minha voz era travada pelos os meu lábios que mal respondiam os meus comandos.
Eu opto por utilizar a minha super audição na esperança de escutar algo que me ajude a saber onde estou, porém não sei se é por causa da minha situação atual ou se é por conta das paredes grossas ao redor, que eu não consigo escutar nenhum som, nenhum barulho por menor que seja.
Continuo reparando ao redor, quando algo chama minha atenção. Um pouco mais afastado de onde eu estava, havia uma poça de sangue seco, junto com umas correntes queimadas. Alguma coisa terrível aconteceu ali, meu instinto me alertava do perigo que eu poderia estar passando.
Eu não me lembro de muita coisa antes de vir parar nesse lugar, minha cabeça estava um pouco confusa, tentando encaixar as peças que estavam fora do lugar nesse quebra-cabeça. Tudo o que me lembro é de… bem, eu estava na minha festa de aniversário que a Katrina havia preparado, até aí consigo me lembrar com clareza, mas… o que houve? Me lembro que a Katy saiu correndo atrás do Rafael e eu fiquei sozinho conversando com o…William? Sim, o Will estava comigo. O que houve depois? Um clarão me impede de me lembrar. Só me recordo de uma grande energia me atingir, quase como um raio, e…sim, me lembro dos pares de olhos brilhantes, olhos esses que assombram os meus sonhos. Ele estava na festa…Zeus!
Debati tentando me soltar, contudo eu estava fraco demais para fazer qualquer coisa. Quando estava me lamentando por não conseguir me soltar, uma luz surge iluminando uma escada encostada na parede mais a frente, luz essa que estava saindo da única saída que eu consigo notar. Começo a escutar passos pesados descendo as escadas em ritmo lento, quase como se saboreasse a sensação de cada passo dado. Parou por uns instantes para fechar a saída de novo antes de continuar a sua descida. Observo uma sombra escondida na escuridão, parada, apenas me observando.
Minha pele começou a tremer e eu comecei a suar frio, quando ele decide mostrar a cor dos seus olhos, que brilhavam mais intensos com a ajuda daquela escuridão, um azul claro que emitia alguns raios. Era ele, sem sombras de dúvida.
O homem parado começou a caminhar em minha direção, até que sua imagem se revelou perante a mim após ficar debaixo da fraca luz da lâmpada. Mas esse não é…
— Will? O que você… — o ouço soltar uma forte gargalhada. O seu semblante não era o mesmo que eu conhecia, algo nele havia mudado.
— Olá, Alexandre, está se divertindo? — seu deboche estava visível em seu rosto.
— W-will? Não, você não é meu amigo. Quem é você? — Seus olhos voltaram a brilhar intensamente, juntos com raios azuis que emanava de suas mãos. — Você é…
Um choque me atingiu com o aproximar de sua mão, forte o suficiente para fazer o meu corpo todo se contorcer em resposta.
— Olá, humano desprezível. — sua mão segura o meu queixo, me forçando a olhar em seus olhos — Finalmente chegou o dia que eu me vingarei daqueles que ousaram me prender por séculos — uma raiva estava presente em seu rosto, demonstrando uma fúria contida a anos.
— O que você quer? O que fez com o meu amigo…ahhh — outro choque me atingiu, dessa vez um pouco mais forte que o anterior.
— Como ousa interromper-me? Vocês, humanos, estão se achando os soberanos do universo, não é mesmo? Mas não passam de simples poeiras ao vento. Sabe quem eu sou, não sabe? Eu sou Zeus, Deus dos Deuses e o governante dos Céus — ele cerra os seus punhos, erguendo um para o alto, como se tivesse fazendo uma pose de poder, enquanto se auto engrandecia — Se ajoelhe perante a minha presença! — seus olhos miraram nas correntes que prendiam os meus braços — Ah, é mesmo, você não pode — um sorriso presunçoso fez presente em sua face.
— O que…você…quer…? — mal conseguia falar, ainda sentia as correntes elétricas presentes em meu corpo.
— O que eu quero? Simples, humano, eu quero o meu poder de volta! — seu olhar volta a fitar o meu — E quando eu conseguir, vou me vingar de todos vocês. Sim, todos aqueles que me traíram! E você vai me ajudar nisso!
— E-eu?
— Sim. Você é essencial para eu atingir o meu objetivo. Vai me ajudar nisso, querendo ou não.
— Não sei do que está falando, mas não vou fazer nada para te ajudar. Me solta logo daqui! — me debati tentando me soltar.
— Não preciso da sua vontade, só preciso do seu sangue! — do seu bolso da calça jeans que usava, retira um pequeno objeto afiado, semelhante à uma faca de caça, e o usa para cortar as palmas das minhas mãos, derramando o líquido vermelho que descia sobre os meus braços — Chegou a hora! — caminhou até um dos cantos escuros da parede e voltou segurando um pano que cobria alguma coisa — Veja, o começar de um novo mundo! — no desembrulhar do pano, revelasse o objeto que havia desaparecido.
— O amuleto? — vejo um brilho em sua pedra vermelha — Então foi você que…
— É irônico, não é? Esse amuleto foi usado para me exilar, e agora vai ser o responsável por trazer de volta a minha glória. Retornarei ainda mais poderoso! Mais do que um dia sonhei ser possível. — Seus olhos brilhavam de empolgação — Mas quem diria, que eu devo esse fato para um humano, — ele se olha — esse humano aqui foi essencial para eu concretizar o meu plano.
— Will…? arf,arf…
— Sim! Graças a ele, me tornarei imbatível! Hahaha!!! — sorriu ele, soltando faíscas azuladas de suas mãos.
Pov William (alguns anos atrás)
Acordei após escutar uma voz me chamando, que sussurrava várias coisas, as quais eu não conseguia identificar o que era,por repetidas vezes. Apesar do som emitido estar saindo em um tom baixo,pude perceber que era uma voz grave e masculina de alguém que guardava algum ódio em seu coração, mas ao observar ao redor do meu quarto, não encontrei ninguém. Estranhei o fato de continuar escutando a voz que ecoava entre as paredes do quarto. Isso me deixou intrigado, ao ponto de sair do meu quarto para procurar a fonte que estava sendo emitido aqueles sussurros.
Caminhei pelo corredor em busca da tal fonte, sem nem mesmo me importar do fato que eu estava seminu naquele largo corredor. O meu senso investigativo era maior do que a minha vergonha de ser pego nas condições que eu estava. Ainda bem que eu estava sozinho naquela enorme casa. O que é comum no meu dia a dia, já que meu pai ficava sempre preso no escritório de advocacia dele e a minha mãe não saia do hospital, pois o seu trabalho como médica era mais importante do que cuidar de seu próprio filho. Eu não me importava de ficar sozinho em casa, me dava mais liberdade e sossego para concluir as minhas pesquisas.
As vozes ficaram mais audíveis à medida em que eu atravessava a sala de estar. Isso só aumentou a minha curiosidade em desvendar esse mistério.
Parei na porta onde os sussurros estavam mais altos. Logo na porta onde eu era constantemente proibido de entrar, a porta do escritório particular do meu pai.
— Que merda! — esbravejei.
Eu tinha liberdade para fazer o que eu bem quisesse, desde que eu nunca ultrapassasse aquela porta. Mesmo eu sempre morrendo de curiosidade em saber o que se passava ali, eu respeitei esse pedido dele. Até hoje! Eu tinha que chegar ao fundo disto.
Levei a minha mão até a maçaneta da porta, e usando um truque que eu aprendi em filmes de ação, destranquei a porta usando um grampo que eu peguei do bolso da minha calça. Ainda bem que eu sempre mantinha um comigo para o caso de eu encontrar um obstáculo como esse. Para a minha surpresa e desânimo, o escritório era como um escritório comum e sem graça, tinha apenas um computador no centro de uma mesa, dessas simples feitas para escritórios mesmo, e atrás decorando as paredes, várias estantes com livros velhos, provavelmente de advocacia.
"William…"
Dessa vez os sussurros foram mais audíveis. Algo me chamava, e estava vindo da estante que se encontrava em minha frente. Vasculhei entre os livros, passando a mão entre eles e sujando os meus dedos pelas poeiras que estavam impregnadas na estante. Estava na cara que pelo estado dos livros, o meu pai não costumava lê-los muito, a não ser um em especial, um livro de capa vermelha que se escondia entre as outras de mesma cor. O único lugar que marcava a retirada de um livro, era a onde esse se encontrava. Meu pai devia lê-lo bastante.
Peguei o tal livro, que em sua capa estava escrito " Mitologia, Deuses Gregos e suas origens", e podia jurar que ele vibrou após eu segurá-lo em minhas mãos. Eu achei aquilo estranho, mas não tão estranho quanto ao fato daquele livro estar fazendo ali, em um escritório de advocacia.
As vozes que sussurravam também pararam. Tudo me levou para achar aquele livro. Mesmo não entendendo o porquê. Abri o livro, os papéis estavam frágeis de tão velho que se encontravam às páginas, me levando a crer que aquele livro era bastante antigo. Folheie as folhas, analisando cada página daquele livro, até que uma página em particular me chamou atenção. A página falava sobre o Monte Olimpo e a morada dos deuses. Após tocar na imagem ilustrada na folha, ela começou a emitir um brilho forte e as folhas começaram a se mover rapidamente, passando página por página até parar em uma.
A página não tinha ilustração nenhuma e estava escrita com uma língua desconhecida. Eu acredito que seja grego, já que era uma das poucas línguas que eu não sabia falar, por falta de interesse mesmo. Toquei a página, e como passe de mágica, aquela linguagem estranha começou a fazer sentido. Em seu título estava escrito, "Zeus".
— "Zeus, o filho mais novo de Cronos. Subiu ao poder após destronar o seu pai…" — estava lendo a página quando algo me assustou. Larguei o livro, o derrubando no chão pelo susto de achar ter ouvido algum barulho vindo da porta. Achei que fosse o meu pai entrando no escritório, com certeza me daria a maior bronca.
Me abaixei para pegar o livro novamente, mas ele começou a brilhar em dourado e se mover sozinho, passando as páginas como se alguém estivesse lendo em alta velocidade, até que se fechou. Novamente, decidi me aproximar, quando sou surpreendido por uma explosão de luz que iluminava todo o quarto.
Quando abro os meus olhos, o lugar que antes era o escritório de meu pai, se transformou em um campo verde, com algumas pedras brancas com formatos estranhos, que eu imagino serem monumentos gregos antigos pelos traçados que estavam esculpidos.
Analisando o lugar, cheguei a conclusão de que eu estava, de algum modo, na Grécia. Sim, eu estava na Grécia usando apenas uma cueca boxer preta.Caminhei por entre o lugar e encontrei uma trilha que levava até um templo caído. Eu sentia uma forte ligação nesse ambiente que eu mal compreendia, era como se eu já tivesse estado aqui antes, embora seja a minha primeira vez aqui. Entrei no templo, pisando nos destroços que estavam espalhados pelo chão, observando os pilares que ainda estavam de pé, os analisando. Em um dos pilares, encontrei algo entalhado, um homem segurando uma espécie de raio com algo escrito embaixo de seus pés; "ο Δίας".
— Está na hora…de você despertar…— levei um susto quando escutei alguém falar atrás de mim, uma mistura de vozes suaves, femininas, que falavam em uníssono.
Quando me virei para ver quem eram, uma mulher com cabelos grisalhos e um manto preto, estava parada segurando um novelo…dourado?
— Quem é você? — perguntei buscando o seu olhar, que estava escondido nas sombras de seu capuz.
— Quem nós somos,não importa, — seu rosto mudou de repente, ficou mais jovem com os cabelos loiros — Está na hora…está na hora…— mudou novamente a sua aparência, um tom moreno atinge a sua pele esbranquiçada, e seu cabelo encurta tomado pelo preto — chegou a hora de despertar! Esse é o seu destino.
— Do que você está falan…— Sou interrompido por um barulho alto de trovão que atinge o templo com toda a sua força, me atingindo junto sem nem mesmo eu ter tempo de reagir.
Quando dou por mim, estava de volta em casa. Tudo parecia estar em seu devido lugar, nada fora do normal. Foi um sonho? Eu não me lembro de ter ido dormir. Com certeza aquilo foi real, por mais maluco que pareça, eu sei que foi. Ainda não me tornei maluco o suficiente para imaginar coisas do tipo.
O livro ainda estava em minha posse, porém sentia algo diferente nele, e quando o abri, descobri o que era.
— Sumiu, tudo sumiu! — folheava as folhas e notava que as páginas estavam em branco. O livro todo se tornou branco. — Como isso é possível…? — O livro começou a ressoar comigo, como se fosse um ser vivo ali em minhas mãos, e vários fragmentos de memórias estavam se passando em meu córtex cerebral. Um passado de muitos séculos atrás, agora estava vivo em minhas lembranças. — Eu já sei o que tenho que fazer. Nem que para isso eu tenha que trair aqueles que gosto ou tenha que dar a minha vida. — falei para aquele que estava adormecido em mim — Nós voltaremos ao poder! Não importa quanto tempo leve.
Pov Alexandre
Eu já havia perdido muito do meu sangue, o que causou um cansaço enorme e uma tontura pior ainda. Mal conseguia encarar o homem em minha frente, que gargalhava de felicidade por estar se divertindo às minhas custas.
Minhas pálpebras estavam pesadas demais para mantê-las aberta, entretanto, o pouco que eu conseguia mantê-las em alerta, pude perceber o meu sangue escorrendo por entre o chão, quase como se tivesse vontade própria, formando vários símbolos que desconheço, dando destaque apenas por um "ômega " em seu centro.
— Está na hora! — Ele pegou o amuleto e o depositou no centro do ômega, proferindo palavras que eu não consegui identificar. — Acordem meus irmãos! Vamos tomar o que é nosso por direito! Hahaha!!! — o amuleto brilhou e depois flutuou soltando uma rajada de luz vermelha por todo o lugar.
— O que foi que…— eu estava tonto demais para conseguir processar alguma coisa.
Pov Narrador
A luz que estava sendo emitida pelo amuleto, estava se espalhando pelo mundo todo, fazendo com que os seres mágicos que antes estavam adormecidos, despertarem de seu longo sono. Um a um, os deuses, gigantes e todos os outros seres, tomaram o controle dos corpos de seus descendentes roubando as suas almas. Como que a humanidade irá lidar com isso? Nenhum lugar é mais seguro.
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ΩNotas do autor Ω
Agora as coisas saíram do controle. O que acontecerá com a humanidade? Qual o destino do Alexandre e seus amigos? Aguardem para os próximos capítulos.
O que estão achando da história? Escreva nos comentários, e não se esqueça de deixar aquele voto que me ajuda muito.
Obrigado e boa leitura
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