Cap.4
Uma semana se passou e o dia do Halloween chegou. Eu e Marcus não havíamos nos desgrudado em nenhum momento, apesar dele não ter ficado na minha casa por falta de permissão de meu pai.
Aparentemente tudo ao redor da gente funcionava para que o ritual de despertar ocorresse e, agora que já ocorreu, as coisas voltavam ao normal, exceto o sentimento que eu e Marcus passaram a nutrir um pelo outro.
Todo dia quando acordávamos um mandava mensagem para o outro e nos organizávamos para ficar juntos, seja em casa ou passeando pela cidade, o importante era não nos separarmos para evitar que eu me descontrolasse sem ele estar por perto.
Hoje nós precisamos nos arrumar e ir para igreja com nossos pais. Apesar da mãe dele ser bruxa como nós vamos permanecer com as aparências e ela continuará agindo como uma cristã devota, mas, na verdade, ela está lá para ajudar a gente com o que quer que aconteça.
Ela também nos explicou ao longo da semana de todo o processo de despertar e do início do aprendizado de uma bruxa. Começar a ter sonhos com seu poder é o primeiro, por isso sonhei tanto com fogo. Quando está mais perto da data de despertar começamos a sonhar com nosso parceiro, então temos até o próximo Halloween para nos relacionarmos sexualmente com ele, que é quando acontece o ritual principal.
Nesse momento, se isso não ocorrer, por qualquer motivo que seja, nós despertamos sozinhas. É mais doloroso pois além de todo sofrimento do momento, sentimos um buraco dentro de nós, como se faltasse um pedaço. Por causa disso não é possível conseguir usar os poderes. Mas isso não significa que é para sempre, se a bruxa achar seu companheiro depois o ritual pode ser feito novamente, mas os riscos de morte praticamente triplicam.
E aí chegamos na fase em que eu estou agora, eu não controlo meus poderes e eu preciso ser testada pelo Universo, saber que em uma situação crítica eu serei capaz de fazer o necessário sem desobedecer regras básicas, mas sem ter nenhum ensinamento também sobre elas. É o aflorar de certos instintos e percepções que preciso ter para não causar problemas.
Se eu conseguir passar por isso vou ser enviada para alguns locais do mundo onde conhecerei outras bruxas e aprimorarei meus poderes. A magia do fogo já é algo que está dentro de mim, uma característica, mas eu posso aprender outras magias características de outras bruxas. Como usar os outros elementos, o voodoo, ou magia com seres celestiais, por exemplo.
Tomo um banho para me arrumar para igreja, a pedido da minha mãe uso um vestido longo e branco com uma manga longa de renda.
- Você precisa parecer virginal. - ela falou quando veio me dar o vestido. - Use esses sapatos também.
Era uma sapatilha, também branca. Fiz o que ela mandou, apesar de não gostar em nada do rumo que isso estava tomando. Prendi meu cabelo em uma trança francesa e passei um batom mude apenas.
Minha mãe apareceu na porta, estava sorridente de maneira que aparecia rugas em seu rosto, ela teria um infarto se visse isso.
- Vamos. - Ela me deu a mão e me guiou até o carro, onde Dona Ester e Marcus já estavam esperando junto de meu pai.
- Eu vou fazer uma pregação sobre família hoje, já que a minha está completa lá, finalmente. - Meu pai começou, já me alfinetando. - Depois vou chamar vocês dois para dar um testemunho do amor de Deus e de como amam sua família.
- Okay. - Me limitei. Marcus nem respondeu.
Na igreja tivemos que cumprimentar pessoas da qual não gostávamos. Eu tentava sorrir para agradar meus pais, enquanto Marcus se mantinha por perto de semblante fechado e bufando a casa poucos segundos.
- Juro que quando sairmos daqui eu te recompenso. - Sussurrei em seu ouvido dando uma pequena mordida ali em seguida, torcendo para que ninguém visse. Ele finalmente abriu um sorriso.
Entramos na igreja de mãos dadas, ouvindo em repreensão um pigarro de Dona Ester, mas não nós importavámos, o culto nem havia começado e já estávamos estressados e cansados de tanta falsidade. Precisamos do apoio um do outro.
Nos sentamos na frente por sermos íntimos do pastor, algo que eu sempre odiei. Se era para ter que vir aqui preferiria que me deixassem sentada ao fundo, escondida, talvez em um lugar que pudesse tirar um cochilo. Mas isso seria impossível na minha situação.
Meu pai subiu no pupito e começou sua pregação. Ele falou sobre o quanto ama sua família, mesmo quase não ficando junto de minha mãe e me obrigando a ser o que não sou. Falou sobre respeito, confiança e dificuldades.
Eu sei que ele me amou e amou minha mãe, eu vi isso com meus próprios olhos por meio de minha avó. Mas não sei se isso ainda existe entre nós, acredito que ele só seja capaz de sentir isso pela igreja e pela fama que ela lhe dá nessa pequena cidade.
Meu pai não ama o seu Deus, ele ama o dinheiro que seu falso amor lhe dá.
Quando ele termina me chama para dar meu testemunho. Quero evitar me irritar hoje, então faço algo que possa parecer legal na visão dele. Eu falo da minha infância, esse momento em que eu realmente me sentia amada, querida e pertencente. Quando os problemas não me alcançavam.
A igreja bateu palmas de pé e disse algumas palavras como Aleluia e Glória, crentes de que seu pastor era um homem maravilhoso. Bando de ovelhas perdidas, cercadas por um lobo o qual não enxergam.
Desci do pupito e voltei a me sentar perto de minha mãe, ao lado de Dona Rosa, já que aparentemente, eu e Marcus não podemos sentar um ao lado do outro.
Meu pai falou mais algumas palavras e expressou mais amor, mas não por mim, pelos seus fiéis seguidores. Em seguida ele chamou Marcus para subir.
Marcus sorria de uma maneira quase macabra, seus olhos estavam faiscando de ódio. Ele sabia tudo o que eu sentia em relação a minha família e que, apesar de eu sempre ver meu pai com carinho e amor, ele já não me vê assim a um tempo.
Eu me acostumei com a situação e parei de me importar tanto com o tempo, mas Marcus não se esqueceu de quando meu pai se distanciou e eu chorei em seus braços querendo ter o mesmo relacionamento com ele de antes.
Quando ele pegou o microfone e começou a falar, eu sabia que ia dar merda.
- Sabe, eu entendo muito de amor familiar. Apesar do meu pai ter deixado a mim e minha mãe desamparados, eu nunca senti falta dele, pois ela sempre esteve presente por dois, mesmo isso não sendo sua obrigação. Ela é uma mulher incrível. - Ela olhou para mim e sorriu, e eu não pude evitar retribuir. - E eu entendo de amor familiar com Hana. Minha doce e querida Hana. Sempre foi como uma irmã para mim e sempre foi uma das pessoas mais importantes da minha vida. Mas o engraçado, é que a gente tá praticamente praticando incesto já que agora estamos nos relacionando de maneira mais íntima. Digamos que estamos, conectados como um. Como vocês gostam de dizer quando falam de sexo.
Eu fechei meus olhos, não querendo olhar para os meus pais, nem para as outras pessoas ao redor. Marcus pode esquecer a tal recompensa prometida.
Quando abri meus olhos, meus pais estavam de pé na minha frente, ambos com raiva por terem sido humilhados por uma filha pecadora na frente de toda a igreja. Isso me deixou um pouco feliz, admito.
- Isso é verdade? - Meu pai gritou. - Vocês transaram?
- Sim. - Usei o mesmo tom de voz que ele, para que todos me ouvissem.
Ele foi até o corredor central da igreja e olhou para todos os fiéis antes de começar com seu fingimento e drama.
- Minha filha foi corrompida. - Ele colocou a mão no peito e se curvou, como se sentisse dor. - Esse homem teve a audácia de manipular minha garotinha para que ela fizesse suas vontades. Um ingrato que eu deixei entrar em minha casa, o servi como filho, para receber isso em troca. Um pecador, um demônio. Sujo e ruim, que precisa ser purificado.
Junto com outros dois homens meu pai foi ao pupito. Os dois seguraram Marcus, que em nenhum momento se mexeu para sair do aperto deles ou abriu a boca para se explicar. Meu pai pegou um balde e encheu de água que disse ser ungida, apesar de eu saber que foi da torneira do tanque.
Eles mergulharam a cabeça de Marcus na água e o deixaram ali por tempo demais para ser algo como um batizado. Estavam tentando afogá-lo.
- Pai, para, você vai afogar ele. - Me levantei e andei um pouco mais para frente, já com lágrimas escorrendo pelos meus olhos.
- Ele precisa passar por isso para que você não peque mais, ele te manipulou filha. Você não vê isso? - Marcus começou a de debater, agora com falta de ar demais para aguentar a situação.
- Solta ele pai. - Meu corpo começou a esquentar, eu senti meu poder se acumulando, mas evitei liberá-lo pois eu sabia o que aconteceria.
- Nem Ester que é a mãe dele está reclamando. Ela sabe que é necessário. - Me virei para Dona Ester chorando e vi lágrimas escorrendo por seu rosto também.
"Deixe queimar" ela abriu um sorriso para mim
Parei de prender meu poder dentro de mim, abaixei todas as minhas guardas que protegiam o mundo ao meu redor e olhei para meu pai, que se assustou quando me viu.
Primeiro eu queimei eles. Os dois homens que seguravam Marcus arderam em chamas e começaram a sair correndo assustados, fazendo com que caíssem do pupito alto e batessem com a cabeça no chão, ficando inconscientes enquanto ainda queimavam.
Marcus levantou a cabeça da água e socou o rosto do meu pai. Eu poderia ter parado aí, eles estava salvo e iríamos embora. Mas ver o fogo queimar era tão bom, e saber que aqui estão tantas pessoas que me fizeram sofrer.
Não resisti e comecei a queimar os bancos de madeira em que todos estavam sentados, vendi as pessoas começarem a queimar, enquanto outras conseguiram sair ilesas do local.
Parecia que havia algo dentro de mim me controlando, exigindo que eu liberasse tudo e que queimasse todos. Tudo ao meu redor começou a pegar fogo e onde não pegava eu fazia a faísca nascer.
Eu estava desesperada, com ódio, e sentia que precisava descontar tudo em quem havia me machucado.
Senti braços ao meu redor. Não sei como alguém me alcançou, com tanto fogo ao meu redor. Mas eu conhecia aqueles braços fortes e firmes, que me traziam aos poucos de volta a realidade, me tirando daquele estado de transe em que eu estava cheia de ódio no coração. Aquela não era eu.
- Eu sabia que você nunca me machucaria. - Marcus me vira para si e me abraça, deixando que eu molhe sua blusa chamuscada com minhas lágrimas. - Está tudo bem, estamos bem.
O fogo ao redor foi extinguindo aos poucos, na mesma medida em que eu me acalmava. Parecia haver alguns feridos que conseguiam se movimentar e sair assustados, outros estavam em estado crítico e deveriam esperar a ambulância. Os dois homens que seguravam Marcus estão mortos.
- Sua avó está esperando você em casa. - Ester colocou a mão no meu ombro e sorriu para mim. - Me acalma saber que você irá cuidar do meu filho. Mesmo que hoje tenha se descontrolado, com o treino tudo ficará bem.
Meu pai e minha mãe estavam parados um ao lado do outro, ela chorando enquanto me olhava, decepcionada. Meu pai com ódio nos olhos.
- Vocês vão com a gente também. - Ester disse se dirigindo a eles. - Sua mãe está com saudade, Roger.
Todos fomos para casa no mesmo carro, mais como uma exigência de Ester do que porquê meu pai queria de fato fazer isso.
Na porta de frente da nossa casa estava minha avó, contrastando com todo o estilo vitoriano da casa. Naquela paisagem ela parecia futurística, como um presságio.
Vestia um vestido longo preto esvoaçante e um chapéu enorme, da mesma cor. Seus fios ruivos balançavam com o vento e ela sorriu quando me viu.
- Venha criança, está tudo bem agora. - Me soltei de Marcus e corri até ela, a abraçando. - Eu vou cuidar de você.
Apesar de ter conhecido minha avó no lago e só ter visto ela lá até hoje, eu sinto como se ela fosse minha verdadeira família, junto de Marcus e Dona Ester. Eu finalmente me sinto em casa com eles.
- Você não vai fazer nada. - Meu pai se pronunciou, enquanto minha mãe permanece chorando em desespero. - Minha filha deve ficar comigo, tendo uma educação adequada.
- Vai tentar afogar ela também? - Minha avó me põe para trás dela e se aproxima de meu pai. - Você é filho e pai de uma bruxa, deveria ser mais compreensivo a isso. Mas é apenas uma vergonha.
- Vergonha? - Seu rosto já estava ficando vermelho de raiva. - Eu não larguei minha filha, como você fez comigo. Eu cuidei e amei ela durante todos os dias de vida dela. Você acha que pode vir aqui me dar lição de moral? Você não é melhor que eu, mãe.
- Não, eu não sou. Mas eu aprendi. - Ela sorriu e colocou as mãos nos ombros de seu filho. - Foi um enorme erro te deixar para trás, eu errei. Mas não posso voltar no tempo e concertar isso, o que eu posso fazer é pegar minha neta e salvar ela de você. Sinto muito por você não ter tido alguém para fazer o mesmo.
- Mas eu sou um bom pai. - Ele começou a chorar também, esfregando as mãos em seu cabelo e puxando alguns fios.
- Não, você não é. - Marcus andou até o lado de minha avó e encarou meu pai. - Eu vi Hana chorar várias vezes por causa da falta de atenção da sua parte. Eu acredito que você a amou um dia, mas não que a ama até hoje. Você se tornou cego pela religião e por suas obrigações na igreja e esqueceu de casa, esqueceu que tinha um pequeno ser que dependia de você. Não apenas financeiramente, âmbito em que você nunca errou, mas emocionalmente também. Você foi irresponsável. - Ele apontou para o meu pai e em seguida para minha mãe também. - Os dois foram. Acreditem em mim quando eu digo que não farão falta para Hana. Eu os substituí nós últimos 8 anos, e posso substituir por mais 80 se necessário.
- Agora se nos dão licença. - Minha avó voltou a falar. - Hana e Marcus vão fazer as malas e virão comigo. Viu levá-los para estudarem bruxaria, quer vocês queiram ou não. Se ela quiser poderá, obviamente, manter contato.
- Filha. - Minha mãe andou até mim e me abraçou. Eu havia estado parada e distante da discussão até agora. - Você não pode me deixar, você é tudo para mim.
- Talvez se um dia vocês se arrependerem eu possa perdoar vocês. Mas não quero contato agora. - Falei olhando para o meu pai. - Sinto muito.
Entrei em casa e fui para o meu quarto fazer minhas malas, sendo escoltada pela minha avó, que não deixou em nenhum momento que meus pais se aproximassem de mim. Apesar das insistentes tentativas de ambos. Enquanto isso Marcus foi para casa com sua mãe fazer o mesmo, agora que ela não precisa mais nos vigiar, irá viajar conosco também.
Quando termino de arrumar minha bolsa me viro e olho para minha avó.
- Você é muito parecida comigo. - Ela sorri e faz carinho em meu rosto. - Eu não vejo a hora de começar a treinar você.
- Você que irá? - Achei que ela fosse me enviar para outra bruxa.
- O treino com fogo sim. - Ela pegou minha mala de mão me ajudando e abriu a porta para mim. - Seria um desperdício você ter uma avó com o mesmo dom e treinar com outra pessoa.
***
Estávamos em um barco, apenas nós 4 e o capitão dele. Minha avó disse que primeiro vamos para a Dinamarca, onde estudaremos magia nórdica ao mesmo tempo em que ela me ensina mais sobre meu dom.
Durante esse período Marcus estará comigo, estudando as mesmas coisas que eu e aprendendo certas práticas que os parceiros de bruxas podem adquirir.
Já Dona Ester vai precisar para o Estados Unidos, ela vai encontrar seu parceiro e deve levá-lo para nos conhecer em seguida.
Mesmo me distanciando dos meus pais eu sinto que toda esse aprendizado e descobertas que me esperam vão fazer muito bem para mim. Estou mais feliz do que nunca.
- Nós vamos ficar juntos em tudo o que enfrentarmos, Certo. - Marcus me olha sorridente, agora mais calmo do que antes.
- Certo, pela eternidade.
- Pela eternidade. - Ele me dá um selinho demorado, cheio de sorrisos no meio.
Estamos indo em direção ao nosso futuro, buscando um lugar em que sejamos aceitos e que nosso amor, tão diferente, possa florescer sem impedimentos.
Esse conto está oficialmente concluído!
Por favor não deixem de dar sua opinião, ela é MUITO importante para mim!
Além disso não deixem de ver o próximo capítulo também, pois tem algumas informações preciosas para vocês ficarem de olho. 👀
Por favor não deixem de dar uma olhada em outras obras minhas, se você gostou desse tenho certeza que gostaram das outras!
Muito obrigada por me acompanharem nessa jornada incrível e até a próxima ♥️
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