Capítulo 9
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Encantei-me por aquela mulher desde que vira seus olhos tão tristes no jardim. Eles me impulsionaram e causaram comoção, olhos tão azuis que eu facilmente poderia ver o reflexo de sua alma triste por eles. Mesmo no escuro, pude sentir a energia triste que ela carregava, e eu queria cura-lá.
A procurei na Escócia, em diversos lugares. Faltei bater de porta em porta a procura dela, mas foi então que descobri que seu sobrenome não era de seu pai, e sim, de seu marido. Não pude fazer nada a não ser voltar para Londres arrasado. Mas não a tirei da cabeça, mesmo com o passar dos anos.
A maior surpresa que tive em minha vida foi vê-la na casa de Lord Brandon em uma tarde comum como a que aquela fora. Senti meu coração bater tão descompassado que tive medo de que ela pudesse perceber minha aflição ao vê-la. E como ela estava bonita. Mais jovial que antes, o sorriso encantador.
Vê-la a luz do sol com toda a certeza foi a dádiva mais divina que Deus já me proporcionara em anos. Não pude não notar a cintura fina, marcada pelo espartilho e em como aquele vestido acentuava seus seios. O rosto fino, mas arredondado nas extremidades, nos seus traços delicados. Os olhos marcantes, a boca esculpida pecaminosamente em um arco de coração, o nariz arrebitado... Foi ali que eu soube que aquela mulher seria a minha perdição!
No início ela deixava-me confuso, principalmente, quando seu jeito tão descontraído tornava-se retraído. Então eu descobri o que acontecera com ela durante anos de sua vida. E céus... Só Deus sabe como eu quis estrangular aquele desgraçado que já estava morto!
Eu não conseguia entender como alguém poderia machucar alguém como Florence. Um ser, a meu ver, tão inocentemente puro. Mas eu sabia que comigo seria diferente, eu soube desde o momento em que ela me contou toda a verdade. Seria diferente porque eu a protegeria, seria diferente porque ao meu lado as únicas lágrimas que sairiam de seus olhos seriam de felicidade. E eu a desejava como minha esposa, tive a certeza quando a possui aquele dia, em meu quarto. Eu a queria como minha mulher, a queria para todo o sempre. A proposta de casamento, que havia feito, não fora em vão.
Eu estava deitado em minha cama, aninhado ao cheiro dela, quando mamãe entrou pela porta de supetão, arrancando-me bruscamente de meus devaneios com Florence.
— Gostaria muito que parasse de entrar no meu quarto desta maneira. — A fitei. Levantei-me e vesti minha camisa, abotoando o colete logo depois.
— Deixe de bobagens, William. Você nunca se opôs antes. Não entendo o porquê deste comportamento repentino. — Ela sentou-se em uma das poltronas postas no quarto.
— Eu nunca falara antes. — Destaquei. — Não quer dizer que não me incomodava.
Se ela ouviu minhas palavras, fingiu que não.
— Por que trancara a porta de seu quarto ontem? Você nunca ligou para a sua privacidade.
— Oras... O quarto é meu e eu tranquei a porta porque quis. Já basta deste assunto. — Fui até a mesa e tirei de uma das gavetas alguns papéis importantes.
Ela fitou-me por alguns segundos e percorreu os olhos pelo quarto de maneira cautelosa.
— Você não mandou que a empregada trocasse seus lençóis ontem. — Observou.
— E que diferença isso faz, mamãe? São apenas lençóis. Irá implicar até com isso?
Ela calou-se por alguns minutos e eu voltei a ler os papéis. Fui surpreendido quando ela se levantou, repentinamente, e caminhou até a cama.
— Odeio quando você deixa a cama desorganizada assim. Eu mesma irei a arrumar.
— Não precisa ter esse trabalho. Edith irá cuidar disso quando eu sair.
Ela não me ouviu. Continuo seu trajeto até a cama e puxou pano por pano até ficar aparentemente "organizado".
— O que é isso? — Sua voz soou curiosa e eu voltei meus olhos em sua direção. — Um grampo. Um grampo de cabelo! Certamente deve ser uma meretriz especial já que você nunca as traz para seu quarto.
— E como tens tanta certeza disso? — A questionei.
— Você seria um tolo se pensasse que Edith não me conta o que ocorre nessa casa.
Retorci os olhos. Sempre soubera da proximidade de mamãe com Edith, mas não sabia existirem relatos de minha vida íntima entre ambas.
— Que bom saber disso. Assim, faço Edith arrumar as malas mais cedo, o serviço dela já não era de meu agrado mesmo. Se a mantinha aqui era por você.
— Você não a colocará na rua. Não é? — Ela fitou-me atônita.
— Já a coloquei! Mas não pense que sou mau. Com a amiga tão generosa que ela tem, certamente não ficará desamparada.
Ela se calou por alguns segundos. Fitou-me com cautela a espera de que eu voltasse em minha decisão, mas não dei indícios de que faria assim.
— Quem é ela? — Sua voz saiu quase como ameaçadora. — A mulher com quem tem dormido. Quem é ela? Possui uma boa família?
— Não que isso a diga respeito, mas possui sim. Ela é a única mulher que em anos me despertou algum interesse.
— Pretende se casar com ela? — Sua voz começou a aderir um tom mais calmo.
— Sim. Quer dizer... Se ela me aceitar como seu marido. Ela é viúva e não sei se aceitará se casar tão facilmente.
— Uma mulher viúva? — Mamãe quase expressou repulsa em seu tom de voz. — Meu filho, você é jovem e bonito. Deveria se casar com uma lady debutante, uma mulher ainda pura. — Ela terminou de arrumar a cama e deu alguns passos em minha direção. — Você merece algo melhor.
— E meus sentimentos não importam? Pois, saiba que ela é uma mulher incrível e certamente me faria muito feliz.
Ela não se pronunciou mais. Saiu do quarto e bateu a porta com força. Terminei de vestir-me e desci para o desjejum. Mamãe já estava sentada à mesa com a cara emburrada.
— Saiba você que não tem minha benção para essa união. — Ela pronunciou entredentes.
— Nunca pedi sua benção. Já sou grande o suficiente para saber julgar o que é bom ou não para mim. Se alguém tem que abençoar ou não minha união é Deus.
As palavras pareceram ser como facadas no peito dela. Vi seu semblante adquirir um teor de fúria. Por um momento me arrependi por a estar tratando tão severamente, mas já não a aguentava mais se metendo em todas as minhas decisões.
— Você não irá casar-se com ela! — Mamãe bateu as mãos com força na mesa, fazendo os objetos ali em cima quase pularem.
— Isso é o que veremos. — Me levantei sem ao menos tocar na comida.
Tentei resolver os assuntos mais urgentes do parlamento, mas não obtive sucesso. A raiva pela reação que minha mãe tivera em relação a meu suposto futuro casamento consumiu meus pensamentos. Ela não podia agir assim, era a minha vida! Eu casar-me-ia com que eu escolhesse querendo ela ou não.
Mais tarde, descontara toda minha frustração na bebida. Queria esquecer mamãe por um tempo e não me preocupar com ninguém além de eu mesmo. Estava decidido a tomar um primeiro copo, mas os demais chegaram com demasiada rapidez, fazendo com que eu logo entrasse em um estado de embriaguez.
Eu não podia permitir que mamãe continuasse a tomar as decisões mais importantes da minha vida, eu me casaria com quem eu escolhesse. Eu não era mais criança e não estava em busca de sua aprovação. Se fosse alguns anos antes, sua opinião até poderia exercer influência em minhas escolhas.
Eu não conseguia tirar Florence da cabeça. Não conseguia parar de pensar nos seus olhos marcantes, na boca macia e em seu perfume doce. Eu queria aquela mulher para mim, a queria como esposa.
Depois de toda a bebedeira resolvi voltar para casa e encarar mamãe, eu diria-lhe que não existia a menor possibilidade de ela interferir mais na minha vida. Eu diria que eu estava completamente apaixonada pela senhora Finch. Comecei a andar pelas ruas de Mayfair com a cabeça a mil, nunca meus problemas pessoais tiveram muita importância para mim. Porém, agora, eles pareciam querer me arrastar com o intuito de me sufocar. Eu me sentia como um adolescente despretensioso novamente.
Ao levantar a cabeça vi vindo em minha direção Florence, mas eu não a conseguia enxergar com total nitidez. Fui pego de surpresa quando envolvido por um abraço apertado, agora eu possuía certeza sobre ser ela. Seu perfume era inconfundível.
A princípio dei duas passadas para trás tentando firmar meus pés no chão depois do impulso que ela depositara sobre mim. Disferi sobre seu pescoço dois beijos quentes e por um momento quase soltei a garrafa que segurava em minhas mãos, totalmente inebriado por seu cheiro sedutor.
Só então eu percebera como havia sido tolo por beija-la assim na rua, Florence se afastou de mim. Bebi dois longos goles da bebida quente tentando pensar em um jeito civilizado de me desculpar. Dei passadas longas até ela no intuito de pedir desculpas, mas o gesto pareceu ter a assustado, pois de imediato ela recuou.
— Vamos para minha casa? Eu preciso de você. Eu preciso muito de você. — Eu queria a levar para casa e mostrar-lhe que não precisava ter medo de mim. Aproximei-me novamente, tentando agora segurar sua mão e assegurar que eu não era Phillip, pois pude observar o medo através de seus olhos.
A tentativa de reaproximação parece ter sido pior, pois dessa vez, na tentativa de se afastar novamente ela tropeçou e caiu de costas. Fiz mesura em me reaproximar para a ajudar, mas temi que a situação piorasse. A amiga que a acompanhava a ajudou a se levantar rapidamente. Vi seus olhos marejarem ao olharem-me com decepção e quase pude sentir como se tivesse sido apunhalado.
— Você conhece esse homem, Florence? — A acompanhante a questionou com um olhar severo.
Florence negou com a cabeça em resposta a pergunta e eu senti minhas pernas vacilarem.
— Desculpe-me, milorde. O confundi com outra pessoa. — Ela disse em meio a um murmúrio se afastando rapidamente.
A olhei e um misto de culpa e confusão tomaram conta de mim. Ela estava certa em ter medo, pois quase não me conhecia e ao me ver daquele modo eu tivera a certeza de que ela se lembrou de todos os maus momentos com seu falecido marido. Senti um nó na garganta ao imaginar que a pequena dose de confiança que ela depositara sobre mim, agora estava quebrada.
Oh, céus! Eu era um infeliz por ter a magoado depois de tudo pelo que ela passara. Um infeliz!
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