Capítulo 15
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Nos primeiros três dias de minha estadia quase não vi William, ele parecia fazer o possível para não ficar na casa principal. Estava sempre andando de um lugar a outro e tratando de assuntos com os subordinados da propriedade. Eu sentia uma onda de decepção, pois por mais que estivesse repreensiva sobre sua atitude ao me ver, imaginava que ele fosse mais receptivo.
Eliza passara a me tratar muito bem desde a noite anterior. Na verdade, eu não sabia o porquê do motivo de tamanha mudança de atitude. É certo que, a duquesa viúva nunca fora grosseira comigo, pois acho que era contra os princípios de sua excelente educação, mas era perceptível que ela não me via exatamente com bons olhos. No fundo, eu sabia que o motivo era seu filho. Não havia como eu saber o que ela descobrira sobre a relação que eu e William tivéramos, mas em momento algum passou pela minha cabeça que ela estivesse alheia a situação.
Eu estava no quarto, ainda de manhã, quando uma batida suave foi desferida contra a porta, me alarmando. Levantei-me de supetão e caminhei em passos largos até a porta, me questionando sobre quem poderia ser tão cedo. A minha surpresa foi evidente em minha própria face. A minha frente estava Eliza, vestida em um vestido elegante e com o cabelo perfeitamente arrumado em um penteado respeitável. Sorri ao vê-lá, ou pelo menos tentei. Afastei-me dois passos da porta, abrindo espaço para ela entrar.
Senti meu coração palpitar mais forte assim que a porta se fechou atrás dela. Lá dentro, sozinhas no quarto, ela parecia ainda mais superior a mim. Soltei um grunhido nervoso, sem conseguir controlar a ansiedade que sentia para saber sobre o que se tratava a inusitada visita aos meus aposentos. Ainda com a minha habitual roupa de dormir e os cabelos desgrenhados como os meus estavam, eu me sentia ainda mais nova do que era.
— Sei que deve estar surpresa com a minha visita repentina a essa hora. — Escutei ela balbuciar. A voz doce e tranquila, em um tom quase maternal.
— Realmente estou, Vossa Graça. — Minha voz saiu mais estridente e fina que o normal. Dei uma ou duas olhadas para a penteadeira a minha frente, desejando arrumar-me pelo menos um pouco e de algum modo parecer mais seria aos olhos dela.
— Fique a vontade, querida. — Ela apontou com os olhos para a penteadeira, notando a minha inquietação.
Sentei-me de costas para ela, pelo menos não encarando seus olhos profundos eu me sentia menos nervosa. Apesar da idade um pouco mais avançada a mãe do duque possuía uma impressionante beleza. Os cabelos antes negros, agora davam lugar para os primeiros indícios de fios prateados; os olhos em um tom de verde que se assemelhavam ao do filho, chamavam muita atenção para o seu fino rosto. Peguei a escova e comecei a passar lentamente pelas minhas madeixas escorridas, na tentativa de que elas ficassem mais lisas ainda.
— Se me permite... — Ela fez mesura de pegar a escova e eu a entreguei. Ela então começou a desembaraçar os fios lentamente. — Sabe, Lady Finch... Eu sempre quis ter uma filha. Uma pena que Deus não tenha me agraciado com uma. — Segurei a língua para não soltar um "Está reclamando de barriga cheia".
— Sinto muito por isso. — Foi o que saiu da minha boca. Ela terminou com o objeto e me entregou novamente. Levantei-me de imediato, agora ficando frente a frente com ela. Estávamos mais próximas fisicamente que antes.
— Eu sei que em algum momento pode ter pensado que eu tivesse algo contra sua pessoa. — Ela posicionou as mãos na frente do corpo, juntando às duas. Peguei-me acompanhando seus movimentos com os olhos.
— Eu não seria capaz de pensar em tamanho feito.
— Não precisa mentir para mim, querida. Eu sei que pensou. — Ela estalou a língua. — Sei que possuo uma personalidade difícil, meu marido fazia questão de me lembrar diariamente. — Ela sorriu de maneira discreta, parecendo ser invadida por boas lembranças de uma época alheia a mim. — Não sou uma mulher amargurada como, às vezes, deixo transparecer.
— Nunca pensei nada de ruim sobre sua pessoa, milady.
— Eu queria fazer uma pergunta, se me permite. — Assenti, ansiosa pelo que é que fosse. — O que há exatamente entre você e meu filho?
Quase me engasguei com o ar após ouvir aquelas palavras. Ela realmente sabia e agora eu não conseguia pensar em uma maneira de responder à pergunta sem entregar o jogo.
— Julgo pelo seu silêncio que fora mais que apenas flertes inocentes. — Apenas abaixei a cabeça depois da afirmação. Ela se aproximou mais ainda, agora segurando minhas mãos entre as suas. — Florence... Posso chamá-la assim? — Assenti. — Pois bem, sei que existe um grande sentimento entre os dois. Por mais que pareçam ser cabeça dura o suficiente para não se renderem completamente a ele.
Levantei a cabeça, agora estudando seus olhos. Eu não sabia se deveria acreditar nas palavras de alguém com tamanha experiência, ela poderia estar apenas tentando manipular-me.
— Eu sei que vocês já passaram à noite juntos. — Ela falou com uma grande calma, e eu puxei minhas mãos para perto de mim, quebrando o contato corporal que havíamos criado. — Não precisa negar, meu filho me contou. Quer dizer... Achei um grampo de cabelo em sua cama e ele me dissera ser de uma moça viúva por quem estava apaixonado.
— Londres é bastante grande, não sou a única viúva da cidade.
— O seu discurso poderia até me convencer se eu não tivesse visto as faíscas que trocam com o olhar quando se cruzam. Eu sei que se desentenderam. — Ela caminhou até a cama, passando agora a se sentar na beirada. — Confesso que quando soube do caso do meu filho fiquei com raiva, não queria que uma moça qualquer manchasse a reputação de bom partido dele.
— Não sou uma qualquer. — Rebati de imediato, me cansando daquela conversa que parecia que não chegaria a lugar nenhum.
— Eu sei. O que quero dizer é que eu não a conhecia e peço perdão por ter a julgado tão precipitadamente. Meu filho está infeliz e eu como mãe posso ver isso. Ele nunca tivera inclinações para o álcool, mas atualmente vive em um total estado de embriaguez. Devo acreditar que isso se deve ao fato de ambos não estarem mais juntos...
— Ela novamente envolveu minhas mãos com as dela. — O que quer que tenha separado os dois pode ser resolvido. Quero que se casem e eu irei ajudá-la.
A tarde iluminava a casa de uma maneira acolhedora. O clima certamente estava bem mais agradável que o da cidade e eu já não me importava mais de estar no campo. Tudo naquela casa parecia me tranquilizar, desde os empregados atenciosos aos que residiam no lar temporariamente. Aurora passava uma grande parte do dia em caminhadas ao ar livre junto do marido, eu sempre era convidada, mas não gostava de me sentir intrusa. Agora, me sentia cada vez mais próxima da duquesa viúva e podia enxerga-lá com outros olhos.
— Está uma tarde bastante agradável, não é?! — A duquesa falou enquanto bebericávamos o chá. Todos assentimos. — William, acompanhante Lady Finch em um passeio essa tarde. Ela ainda não conhece os arredores da propriedade e sei que ficará deslumbrada com o espaço. — Vi o filho abri a boca em protesto, mas ele logo foi interrompido. — Não aceito um não como resposta.
Saímos então os dois pares de casais alguns momentos depois. Aurora e Charles caminhavam mais à frente, as mãos dela, envoltas em seus braços dando-lhes proximidade. Eu e duque caminhávamos um pouco mais atrás, ele estendeu seu braço e eu aceitei de bom grado apesar de ainda manter a distância corporal.
— Quer andar até o lago? — Ouvi a voz grave dele me despertar dos meus pensamentos. Era a frase mais longa que ele dirigira a mim desde minha chegada na propriedade. Apenas assenti, com medo de falar mais algo e estragar o momento.
— Não sabia possuírem um lago. — Me permiti falar momentos depois.
— Artificial. Mamãe fez o antigo duque gastar uma imensa fortuna com ele. — Ele soltou um riso de canto, parecendo imerso em seus próprios pensamentos.
Aproximei-me ainda mais, apenas permitindo que o meu braço encostasse nele. Apesar de estarem cobertos pelo tecido, senti meus pelos eriçarem-se. Era tão estranho ficar tão perto dele e não poder abraçá-lo, não pelo fato de alguém poder ver e sim, por imaginar uma possível rejeição de sua parte. Eu o magoara e agora me condenava a todo segundo por isso.
William parecia hipnotizado com a visão do lago a sua frente, os olhos fixados na água. Na luz forte da tarde, seus olhos ficavam mais claros ainda, adquirindo um tom de verde mais vibrante. A postura séria e ereta me deixava um pouco desconfortável, pois sentia que era como ele tratava estranhos. Apesar de conhecer tão pouco dele, eu não era uma estranha. Por Deus! Eu já havia estado em baixo de seus lençóis. Como era possível que eu houvesse me afeiçoado tanto a ele se quase não sabia nada a respeito de sua vida?
— William... — Toquei em seu braço, seus olhos agora fitavam os meus. — Eu queria me desculpar por tudo e dizer que eu...
— É melhor não falarmos sobre isso. — Ele interrompeu-me, a voz ficando levemente mais grave. — O clima está tão agradável... É melhor só aproveitarmos. Não discutiremos agora para colocar em risco uma boa convivência na casa, não é?
Apenas assenti sem saber mais o que falar. Eu não iria insistir para que ele me ouvisse, eu sabia que o momento apropriado surgiria e ele não escaparia sem escutar a minha versão dos fatos.
— Olha, aí estão vocês! — Aurora e Charles nos alcançaram. — Estávamos procurando os dois para voltarmos. Vamos?
Regressamos de volta para o conforto da casa, meus pés doíam e o que eu mais almejava era um bom banho. Ao entrar pedi para que preparassem um para mim e depois fui ao encontro de Ruby, que brincava com a babá.
— Olá, pequenina. — Sorri-lhe ao entrar no quarto e recebi em resposta uma risada larga com ausência de alguns dentes.
— Titia! — Ela soltou um gritinho e bateu palminhas, surpreendendo Nancy e eu. Ela nunca se referira a mim, o máximo que fazia era sorrir. A menina correu até minhas pernas, as abraçando e levantou os bracinhos para que eu a pegasse no colo.
Concedi o pedido da criança e a peguei em meus braços, a envolvendo. Ela abriu outro sorriso, fazendo o meu coração derreter. Ali, junto daquela alma inocente, eu esquecia todos os meus problemas, dores ou tormentos. Ruby sabia como me acalmar de uma maneira que eu estranhava. Ela estendeu a mão e tocou em algumas mechas do meu cabelo, parecendo estar fixada com eles. Passou a mão pelo meu rosto e eu pude prever que teria mais uma daquelas visões. E eu estava certa.
Eu estava alguns anos mais velha, meu cabelo ganhando alguns fios grisalhos. Estava descendo as escadas da casa. Não era a casa de campo de meus pais e sim, a de William. Lá embaixo, ele me esperava com um sorriso gentil. Agora também mais velho, os cabelos mais grisalhos que os meus. Porém, continuava com a sua postura séria da jovialidade.
Estendeu o braço e eu o aceitei, ele então beijou minha testa.
— Você está linda como sempre. — Sussurrou perto do meu ouvido, acariciando logo após o meu rosto.
— Não consigo acreditar que a nossa menina irá se casar. — Falei com os olhos prestes a transbordar. — Eu sei que já casamos os nossos outros filhos, mas não imaginei que a nossa pequenina cresceria tão rápido.
A porta do quarto foi aberta e Ruby tirou a mão rapidamente do meu rosto, interrompendo o lampejo de fatos. A coloquei no chão e ao me virar vi Aurora a me olhar.
— Está tudo bem? — Minha irmã perguntou parecendo inquieta.
— Sim. — Nancy respondeu, parecendo alheia aos últimos acontecimentos.
— Poderia nos dar licença, Nancy? — Aurora se voltou para a mulher sentada na cama. — Gostaria de discutir algo com Florence.
A Srt. Hervey levantou-se, pegando a menina no colo e logo se retirou.
— Ela te fez ter uma visão, não é? — Assenti respondendo à pergunta.
— Eu estava mais velha e casada com William. Falávamos sobre o casamento da nossa filha mais nova. Você consegue acreditar nisso? Parece uma grande brincadeira. — Me sentei, finalmente sentindo o efeito do que a visão causara em mim.
— Quando abri a porta do quarto e vi vocês duas tão próximas e alheias ao resto do mundo, logo imaginei do que se tratava. Tenha cuidado Florence, nossa babá não sabe o que Ruby faz com as pessoas, e nem deve saber.
Assenti. Tínhamos que proteger a pequena Brandon dos olhos traiçoeiros das pessoas. O que ela fazia não era nada comum e as pessoas também não veriam como.
— É melhor ninguém além de mim, você e Charles sabermos disso. Não conte nem para a mamãe. Quanto menos pessoas souberem, mais protegida Ruby estará. — Pronunciei finalmente percebendo a gravidade daquilo.
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