Capítulo 9: Colégio Santa Teresa
POV CAROLINE - 2 ANOS ATRÁS
Meu coração disparou quando vi meu pai segurando a carta da diretora da escola. Seus olhos castanhos, normalmente suaves quando me olhavam, estavam agora cheios de desaprovação. Eu sabia o que estava por vir. Aquela carta era uma confirmação do que ele já suspeitava, e agora a punição estava a caminho.
— Caroline, como você pôde fazer isso? — Ele perguntou, sua voz uma mistura de decepção e raiva. Eu engoli em seco, desejando poder desaparecer naquele momento. Eu tinha cruzado a linha, e agora teria que enfrentar as consequências.
— Eu sinto muito, pai — Murmurei, desviando o olhar para o chão. Não havia desculpas que pudessem justificar minhas ações, apenas arrependimento pelo que fiz.
Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo loiro, uma expressão cansada cruzando seu rosto.
— Caroline, você me deixa sem escolha. Suas atitudes estão fora de controle ultimamente. É hora de tomar uma medida drástica. — Meu coração afundou enquanto eu tentava processar suas palavras. Uma medida drástica? O que ele queria dizer com isso? Antes que eu pudesse perguntar, ele continuou. — Você vai para o Colégio Santa Teresa. É hora de você aprender disciplina e responsabilidade.
Meus olhos se arregalaram em choque. O Colégio Santa Teresa? Aquilo não podia estar acontecendo. Era um internato de freiras, conhecido por sua disciplina rígida e regras inflexíveis. Eu nunca tinha imaginado que meu pai pudesse ser tão severo a ponto de me enviar para lá.
— Pai, por favor — Implorei, sentindo as lágrimas começando a escorrer pelo meu rosto. — Não me mande para lá! Eu prometo que vou melhorar, que vou fazer o que for preciso para consertar as coisas.
Mas meu pai apenas sacudiu a cabeça, sua decisão já foi tomada.
— É tarde demais para promessas vazias, Caroline. Você precisa de uma mudança de ambiente, e o Colégio Santa Teresa vai proporcionar isso.
Eu tremia de medo e desespero, sabendo que não havia como argumentar com ele quando sua mente estava feita. Eu estava sendo enviada para aquele lugar, uma prisão disfarçada de escola, como punição pelas minhas transgressões. E assim, meu destino estava selado, enquanto meu pai continuava a falar sobre os preparativos para minha partida. Eu só podia imaginar o que me aguardava no Colégio Santa Teresa, mas uma coisa era certa: minha vida nunca mais seria a mesma.
Meu pai é o atual prefeito de Três Luas, uma cidadezinha que no último ano passou por muitas dificuldades. O senhor prefeito queria manter as aparências, mostrar que tinha dominância de tudo, inclusive de mim. Eu tinha que ser a filha perfeita, a filha prodígio, já que era a única filha.
Minha mãe o apoiava em tudo o que ele fazia, eu quase não sentia sua presença.
Isso tudo apenas porque matei aula e fui tomar açaí na praça com meus amigos. Um fofoqueiro de plantão tirou fotos minhas e postou na internet, duvidando da autoridade do meu pai sobre mim. Como se eu tivesse feito algo super errado.
O Colégio Santa Teresa se erguia imponente diante de mim, suas torres góticas alcançando o céu como se quisessem tocar as nuvens. Era uma estrutura imensa e imponente, cercada por altos muros de pedra e portões de ferro forjado. O ar parecia pesado com a seriedade do lugar, e eu me senti pequena e insignificante ao seu lado.
Ao entrar pelos portões, fui recebida por uma freira idosa. Seu rosto enrugado era suavizado por um sorriso gentil. Ela me deu as boas-vindas com palavras reconfortantes, mas havia um firmeza em seu olhar que deixava claro que ela não toleraria desobediência ou desrespeito.
— Seja bem-vinda ao Colégio Santa Teresa, minha querida. Aqui, esperamos que você encontre disciplina, responsabilidade e, acima de tudo, um caminho para o seu crescimento espiritual. — Disse ela com voz suave, mas firme. — Siga-me, vou levá-la ao dormitório onde ficará hospedada.
Eu a segui obedientemente pelos corredores silenciosos e escuros, passando por portas pesadas e corredores vazios. O silêncio era opressivo, e eu sentia como se estivesse sendo observada por olhos invisíveis em todos os lugares.
Chegando ao dormitório, fui apresentada à irmã Margaret, uma freira mais jovem com um sorriso acolhedor. Ela me mostrou minha cama e me deu algumas instruções sobre a rotina diária do colégio.
Depois de me acomodar, fui conduzida à capela para a missa da tarde. O interior da capela era impressionante, com seus vitrais coloridos e bancos de madeira polida. O som suave dos cânticos ecoava pelas paredes, criando uma atmosfera solene e reverente.
Foi durante a missa que eu o vi pela primeira vez: Victor. Ele estava sentado algumas fileiras à frente de mim, com os cabelos escuros bagunçados e um ar de despreocupação que contrastava com a seriedade do lugar. Nossos olhares se encontraram por um breve momento, e eu senti meu coração acelerar.
Depois da missa, nos encontramos do lado de fora da capela. Ele se aproximou de mim com um sorriso brincalhão no rosto.
— Você é nova aqui, não é? — Ele perguntou, sua voz suave e acolhedora.
Assenti com a cabeça, sentindo-me um pouco tímida diante de sua presença descontraída.
— Meu nome é Victor. — Ele se apresentou, estendendo a mão para mim. — E o seu?
— Caroline. — Respondi, devolvendo o aperto de mão com um sorriso tímido.
Ele parecia diferente de tudo que eu já tinha visto no Colégio Santa Teresa. Enquanto eu estava cercada por regras e rigidez, ele irradiava uma liberdade e uma despreocupação que me intrigavam. Eu sabia que não deveria me envolver com alguém como ele, mas havia algo em seu sorriso que me fazia querer conhecê-lo melhor.
Os dias se passaram no Colégio Santa Teresa, e eu continuava a encontrar Victor com frequência. Nossas conversas se tornaram cada vez mais frequentes, e eu me pegava ansiosa para ver seu sorriso brilhante e ouvir suas histórias divertidas.
À medida que o tempo passava, no entanto, comecei a notar mudanças em Victor. Seu sorriso já não era tão caloroso quanto antes, e seus olhos pareciam mais sombrios. Ele começou a falar sobre coisas estranhas e perturbadoras, como desafiar as regras do colégio e quebrar as tradições.
No início, eu tentei ignorar suas atitudes, convencida de que ele estava apenas brincando. Mas então, ele começou a agir de forma agressiva e sádica, zombando dos outros alunos e desafiando as autoridades do colégio abertamente.
Eu me sentia dividida entre a atração que sentia por ele e o crescente medo de suas atitudes. Ele parecia determinado a me arrastar para o seu mundo de rebeldia e transgressão, e eu sabia que não poderia permitir isso.
Uma noite, ele me convidou para sair do colégio e explorar os arredores. Apesar dos meus instintos me alertarem para não ir, eu acabei cedendo à sua persuasão. Saímos furtivamente pela porta dos fundos e nos aventuramos pela cidade escura e silenciosa.
Foi quando as coisas tomaram um rumo sinistro. Victor começou a falar sobre coisas cada vez mais perturbadoras. Ele parecia excitado com a ideia de quebrar as regras e desafiar a autoridade, e eu percebi com horror que ele estava tentando me arrastar para o mesmo caminho, mas não eram coisas bobas como nos vermos fora do horário, faltar à missa, roubar sobremesa ou coisas do tipo. Victor apelava para o sadismo, para a tortura psicológica de outros alunos, ideias extremamente doentias.
Eu me afastei dele com uma sensação de pânico crescente, percebendo que ele não era quem eu pensava que fosse. Ele se aproximou de mim com um sorriso cruel no rosto, seus olhos brilhando com uma luz perigosa.
— Você está com medo, Carolzinha? — Ele sussurrou, sua voz cheia de malícia. — Você deveria estar. Porque eu posso te mostrar um mundo que você nunca sonhou existir.
Eu recuei, horrorizada com o que ele estava insinuando. Eu sabia que precisava me afastar dele antes que fosse tarde demais, antes que ele me arrastasse para a escuridão que ele habitava. Com o coração acelerado de medo e determinação, virei as costas para ele e corri de volta para o colégio, jurando a mim mesma que nunca mais me deixaria ser seduzida pela sua escuridão.
Enquanto caminhávamos por um beco escuro e deserto, a atmosfera pesada e sinistra, Victor de repente se virou para mim, seus olhos faiscando de ódio e loucura. Antes que eu pudesse reagir, ele investiu em minha direção, suas mãos buscando minha garganta em um gesto de pura violência.
Instintivamente, meu corpo entrou em modo de sobrevivência, e uma força até então desconhecida se apoderou de mim. Com um movimento rápido, consegui desviar de seu ataque e girar para enfrentá-lo. Meus olhos se fixaram nos dele, determinados e cheios de uma coragem recém-descoberta.
Sem pensar duas vezes, usei todas as minhas forças para contra-atacar. Um grito rasgou o ar enquanto desferi um golpe certeiro em sua direção, acertando-o com uma precisão surpreendente. O impacto foi brutal, e Victor cambaleou para trás, atingido pelo choque da minha reação.
Enquanto ele lutava para se recuperar, eu me movi com agilidade, minha mente clara e focada em uma única coisa: sobreviver. Com determinação implacável, avancei em direção a ele, aproveitando a oportunidade para neutralizar a ameaça que ele representava.
Com um golpe decisivo, consegui desarmá-lo de seu canivete enferrujado e derrubá-lo ao chão. O ar estava carregado com a tensão do confronto, e o som de nossos respirações ofegantes ecoava pelo beco vazio. Eu olhei nos olhos de Victor, uma mistura de choque e horror estampada em seu rosto enquanto ele percebia que suas intenções haviam sido frustradas.
— Achei que tínhamos algo especial, mas pelo visto estava enganado. — Ele debocha ao se aproximar de mim, mas eu precisava ser forte.
Ainda não era o fim para mim.
Num momento de puro instinto de sobrevivência, eu sabia o que precisava ser feito. Com uma determinação fria, administrei o golpe final, garantindo que ele não seria capaz de me ferir novamente.
• • •
À medida que a notícia da tragédia se espalhava pela cidade, pude sentir os olhares curiosos e os sussurros preocupados dos moradores ao meu redor. Junto com meu trauma, surgiu uma cicatriz que mais parecia uma lua minguante. Talvez fosse em algum momento em que Victor me segurou pelo pulso, e era por isso que eu sentia enjoo toda vez que olhava aquela marca.
Rumores e especulações voavam como folhas ao vento, deixando uma sensação de inquietação no ar. Enquanto isso, meu pai tomava a decisão de me tirar do Colégio Santa Teresa e me levar de volta para casa, longe daquela atmosfera sombria e perturbadora.
— Pai, eu sei que foi difícil para você tomar essa decisão. — Disse eu, tentando acalmar sua preocupação enquanto embalávamos minhas coisas no carro. — Mas acho que é o melhor para mim agora. Eu vou ficar bem.
Ele assentiu, mas pude ver a preocupação em seus olhos.
— Você precisa se afastar desse lugar, Caroline. Não quero que você se envolva em mais problemas. Achei que aquele lugar seria bom para você, mas eu estava errado.
Eu sabia que ele estava certo, mas uma parte de mim se sentia relutante em deixar para trás tudo o que eu tinha conhecido no colégio, mesmo que fosse um ambiente tão desafiador. Eu carregaria esse segredo comigo até meu túmulo.
De volta em casa, eu estava determinada a manter minha guarda alta. Aprendi da maneira mais difícil a importância de desconfiar dos outros e estar sempre alerta. No entanto, tudo mudou quando conheci o Paulo.
Nosso primeiro encontro foi casual, em uma aula de matemática. Ele se aproximou de mim com um sorriso amigável, e eu não pude deixar de me sentir intrigada por sua gentileza e senso de humor.
— Oi, eu sou o Paulo. — Ele disse, estendendo a mão para mim. — Você é nova por aqui, certo? Posso te ajudar com alguma coisa?
Eu aceitei sua oferta de ajuda, e antes que percebêssemos, estávamos conversando como velhos amigos. Sua presença era reconfortante, e eu me peguei sorrindo genuinamente pela primeira vez em muito tempo.
Conforme os dias passavam, nossa amizade se transformou em algo mais. Ele era paciente e compreensivo, sempre lá para me apoiar nos momentos difíceis. E antes que eu percebesse, estávamos oficialmente namorando.
— Nunca conheci alguém como você, Caroline. — Disse ele, olhando para mim com admiração. — Você é forte, inteligente e corajosa. Estou feliz por estar ao seu lado.
Eu sorri, sentindo-me grata por tê-lo em minha vida. Com Paulo ao meu lado, eu sabia que podia enfrentar qualquer desafio que viesse em meu caminho. Juntos, éramos imparáveis, prontos para conquistar o mundo lado a lado.
Desde então, não nos desgrudamos mais. Não era uma história de amor típica de um livro de romance, mas era sincero e absoluto. Eu sabia que com ele estaria segura, mas mesmo assim, ainda tinha um segredo a zelar, o qual nem Paulo poderia saber.
Pouco depois, conheci Bianca. Demorei um pouco para deixá-la se aproximar, apesar dela sempre parecer bem legal. Aos poucos criamos um vínculo de amizade forte, o qual eu presenciava pela primeira vez. Finalmente as coisas estavam fazendo sentido para mim.
Até Luna chegar na cidade.
Uma garota cheia de segredos e mistérios, que nem sequer se lembrava de si mesma. Mas de uma coisa tenho certeza: havia algo muito diferente nela. Um brilho, uma aura que me chamava a atenção.
— Carol! — Vi a garota correr na minha direção com os olhos um pouco inchados, como se tivesse chorado.
— O que houve? Está tudo bem? — Pergunto preocupada, imaginando mil coisas que pudessem ter acontecido.
— Preciso falar com você. Sabe onde está a Bianca e a Letícia? — Ela pergunta e eu nego com a cabeça. — As lágrimas não é por isso, é por outra coisa. Enfim, me encontre na biblioteca em dez minutos! Se vir alguma delas pelo caminho, fala que as mandei irem também!
Concordo com a cabeça e vejo Luna se virar para sair correndo novamente. Algo de muito errado estava acontecendo, e eu sabia que não era a única que havia notado.
Ainda não sabia se podia confiar na Luna.
Continua...
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