Capítulo 23: As bruxas da galáxia
Ainda era difícil acreditar que éramos extraterrestres.
Apesar do nosso corpo ainda ter o formato humano, nossa pele brilhava em um azul claro, nossos olhos eram escuros e tínhamos antenas. Algumas das nossas próprias características ainda se mantinham, como nossos cabelos, por exemplo.
— Ei, será que o André levou o resto do grupo para outro lugar? — Carol questiona, e eu me dou conta de que estavam apenas nós quatro, e que talvez Daniel, Paulo e Miyu pudessem estar em outro lugar.
Ou talvez não tenham vindo ainda.
— Lembra da primeira realidade que fomos? Só os encontramos depois. Fica tranquila, eles devem estar por aí. — Letícia diz pacificamente, e eu acabo me recordando da catástrofe que acontecera há alguns minutos.
— Gente. — Chamo-as, e elas olham para mim. — E se eles tiverem... bom... por causa do meteoro?
— Que meteoro? — Bianca questiona confusa.
— Um meteoro atingiu Três Luas assim que chegamos na escola. Muitas pessoas ficaram feridas, e Morweena usou a alma de Luna para pegar o que ela chamou de Chave Mestra. — Carol explica, e Letícia e Bianca a olham atordoadas. — O André a ajudou.
— Eu sabia que não podíamos confiar nele! — Letícia diz incrédula e coloca as mãos na cabeça, então vejo suas anteninhas balançarem. — Precisamos achá-lo e prender aquele pilantra!
— Eu preciso treinar vocês. — Digo pensativa, e as três me encaram. — O tempo está acabando, Morweena está mais forte que nunca. Vocês precisam cumprir o ritual da tríade.
— E como você tem tanta certeza que isso dará certo? — Bianca questiono.
— Eu não tenho. É só uma aposta alta, mas preciso confirmar isso com o destino. Preciso saber se vocês são a chave para nos libertar do domínio de Morweena. — Afirmo confiante e logo começo a andar. — Vamos atrás do André e dos outros. Não temos tempo a perder.
O planeta possuía uma paisagem urbana futurista, onde edifícios orgânicos se entrelaçam com estruturas cristalinas que brilham suavemente em tons de azul e prata. As ruas são largas e limpas, percorridas por veículos flutuantes que se movem silenciosamente pelo ar. Hologramas coloridos e esculturas de luzes pulsantes adornam as praças e os cruzamentos, criando uma atmosfera de constante festa visual.
Os habitantes do planeta são uma mistura de formas humanoides com diversas características alienígenas, cada um exibindo uma aparência única e colorida. As vestimentas são elegantes e funcionais, feitas de materiais que parecem se adaptar ao ambiente, seja para conforto térmico ou para ajustes atmosféricos. Eles não pareciam se importar conosco ali, eram apenas uma civilização qualquer.
Observo um mercado intergaláctico que oferece produtos exóticos de todas as partes do universo conhecido, enquanto em outra parte daquela cidade estranha exibe performances artísticas que desafiam a gravidade e a percepção sensorial. Era tudo tão esquisito e agradável ao mesmo tempo.
— Ei, mocinhas! — Vejo um homem de pele amarela, com os cabelos brancos e algumas rugas pelo rosto, se aproximando. — Vocês não deveriam estar na escola? Vou ligar para o diretor e relatar esse absurdo. Esses jovens de hoje em dia!
— É que... — Bianca tenta inventar alguma coisa, e acaba tropeçando nas palavras. — Estamos em uma atividade da escola. Nós estamos procurando...
— Nós estamos calculando o preço nos mercados. É para a aula de economia. — Carol diz, complementando Bianca. — Aliás, está tudo tão caro ultimamente, o senhor não acha?
— Ah, sim. Então se é por isso, tudo bem. E está tudo um absurdo! O governo só quer que a gente trabalhe e trabalhe, e continua deixando as coisas caras! Tudo culpa do Tula. Faz o T agora!
— Olha, eu concordo totalmente com o senhor. — Letícia dá uma risada forçada e segura meu braço. — Agora a gente precisa ir. Foi um prazer te conhecer!
— Boa aula! — Ele acena, assim que saímos dali o mais rápido possível.
— Que loucura, viu. Até que aqui não é tão diferente do nosso planeta. — Letícia conclui e as outras meninas concordam com a cabeça. — Será que o André está na escola? Ou o Paulo, Daniel e a Miyu.
— Não sei. Eu nem sei onde fica essa escola, como vamos... — Antes de continuar falando, ouço um apito vindo do meu bolso.
Seguro um dispositivo semelhante a um celular, mas era um pouco menor e ficava virado na horizontal.
— Telefone da Luna. Você deseja que eu acione o LN1290?
— Acionar o que? — Falo comigo mesma, mas sem opção, apenas confirmo. — Sim.
Um som alto se aproxima, e vejo uma espécie de nave espacial descer do céu e pousar na nossa frente. Ele era um pouco maior que um carro convencional, tinha um formato de arraia e seu aço era coberto por uma tinta vermelha.
Assim que a porta abriu, subo a pequena rampa até entrar de vez naquele veículo. Fico de queixo caído ao ver tamanha tecnologia cobrindo toda a nave, com uma tela enorme na frente e diversos painéis de controle.
— Isso é demais! — Letícia diz impressionada, e eu me sento no banco do piloto. — Uau. Eu não quero mais ir embora daqui!
— Você aceitaria viver como um extraterrestre para sempre? — Bianca questiona para Letícia.
— Se você vivesse aqui comigo, aceitaria. — Letícia responde se sentando no banco ao meu lado, e Bianca fica um pouco sem reação, e não responde nada, apenas se senta no banco no fundo da nave. — Estou me sentindo os Guardiões da Galáxia!
— Podemos ser a Tríade da Galáxia! As Bruxas da Galáxia! As Quatro Mosqueteiras da Galáxia! — Carol diz, levemente empolgada com a ideia e Bianca a encara surpresa.
— Você também está gostando disso? Logo você, Caroline?
— Essa é uma civilização bem mais avançada que a nossa. A cidade é coberta de alta tecnologia, as pessoas parecem viver em paz, o conhecimento aqui é uma dádiva. Tem tantas coisas que ainda podemos descobrir aqui. — Carol olha o painel de controle, enquanto eu ainda tentava decifrar qual botão deveria apertar para a nave funcionar. — Se existir um planeta assim na nossa realidade, eles com certeza estão se escondendo dos humanos por saber que somos burros demais e egocêntricos.
— Onde que eu aperto? — Sussurro comigo mesma, abrindo um mapa que se dividia na tela do monitor.
— Para onde deseja ir?
— Para a escola. — Respondo.
— Aqui estão os duzentos e vinte e três resultados para "escola".
— O que? Não! — Toco a tela, sem saber exatamente o que estava fazendo. — Eu quero ir para a minha escola.
— Localizando Centro de Ensino Luminara. Iniciar partida?
— Sim.
Coloco o cinto de segurança e logo sinto a pressão da nave virando e dando partida. Observo a cidade lá de cima e vejo escrito Nebulor na tela, o que presumo ser o nome daquela cidade, ou até mesmo daquele planeta.
Alguns minutos depois, a nave estaciona em uma área aberta, onde haviam alguns prédios grandes e extensos, com uma vasta vegetação ao redor. Desço da nave, ainda impressionada, e vejo um grupo de extraterrestres juvenis entrando por diversas portas que haviam pelos prédios.
Aparentemente cada prédio envolvia uma área específica do conhecimento. Um prédio para cálculo e matemática, outro para ciências humanas, outro para linguagens e leitura, havia também prédios de robótica e tecnologia, de saúde e de combate à ameaças galáticas.
— Certo. Qual desses deve ser o nosso prédio? Vamos fazer duni-tê? — Letícia pergunta.
— Espera. — Pego meu dispositivo e tento acessar alguma coisa, apesar da tecnologia ali ser bastante avançada. — Celular, qual é minha turma?
— Ela parece uma idosa falando com o telefone. — Bianca sussurra para Carol, que concorda, e eu as olho feio.
— Sua turma é: Combate 201. Hoje terá treino de ataque intergaláctico com a professora Malina. — O telefone responde.
— Ela é quase uma Alexia. — Bianca diz, e logo procura algo nos diversos bolsos que nosso uniforme possuía. — Será que eu tenho um?
— Uau. — Letícia diz, também checando e achando um dispositivo semelhante. — Fomos burras demais por não termos percebido isso antes!
— É a euforia desse planeta. — Diz Carol. — Aqui diz que eu também tenho aula de combate. Somos da mesma turma.
— Eu também! — Letícia e Bianca respondem ao mesmo tempo e se entreolham constrangidas.
— Pelo menos estamos juntas. Vamos, talvez o André esteja lá também! — Letícia diz, começando a andar para dentro do prédio.
Depois de nos perdemos naqueles extensos corredores, encontramos um enorme espaço com simuladores de naves, naves maiores do que as que usamos. Elas tinham armas e muitos mais botões, miras e um metal extremamente resistente.
— Luna Trindade, onde você estava? E vocês três? Andem, já! Para o treino! — A mulher a qual suponho ser a professora Malina grita conosco, e rapidamente nos direcionamos para as naves. — Vocês farão um quinteto com o Zoão.
— Não seria João? — Carol pergunta confusa.
— Olá. — Um extraterrestre baixinho e de óculos se aproxima. Ele parecia ser um pouco diferente, tinha quatro olhos e a pele lilás. — Meu nome é Zoão.
— Jesus, não me permita zombar do nome de mais ninguém. — Letícia reza baixinho. — Da última vez, um cavalo me perseguiu. Não quero um extraterrestre me perseguindo também.
Entramos na nave e Zoão assumiu o posto de piloto. Nos dividimos em outras partes da nave e colocamos o cinto, e logo uma simulação de decolagem começa. Parecia tudo tão real, o simulador mostrando naves vindo de todos os lados, criaturas enormes que saíam direto do espaço e invadiam nosso planeta, ou pelo menos o planeta em que eu estava.
Zoão era bem eficiente. Ele acertava cada alvo, e eu ainda estava um pouco desajeitada, mas acionei alguns canhões na direção dos nossos inimigos. Parecia um jogo de videogame, só que bem mais real. Bianca estava na parte de decolagem, e desviava dos possíveis ataques que as outras naves faziam, e chegamos a ouvir gritos e correria por todo o lado.
— Espera, ouviram isso? — Letícia solta o cinto e acaba tombando para o lado, sendo jogada com tudo para uma das paredes da nave.
— Letícia! — Bianca se solta e vai atrás dela, se segurando para não cair também. — Está tudo bem? O que você ouviu?
— Os gritos são reais! — Letícia põe a mão na cabeça e uma espécie de gosma verde-escuro sai dela. Provavelmente, sangue alienígena.
Carol abre a porta da nave, que ainda estava em movimento apesar de não estar no ar, e vê a correria dos alunos e professores correndo por todo o campus.
— Se escondam! Os Piratas do Espaço estão aqui! — Zoão diz assustado e começa a correr para fora da nave, e quando olhamos mais de perto, uma nave grande e preta, coberta de aço negro estava bem no nosso campus.
Um homem sai dele, com uma máscara enorme no seu rosto e uma capa preta pendurado nas suas costas. Quando a máscara se ergue, vi o rosto de André, em sua forma humana, com um sorriso sádico.
— Que bom vê-las novamente, minhas caras amigas! — Ele abre os braços, como se fosse nos abraçar.
— Seu maluco sádico! Nós confiamos em você! — Bianca diz irritada, e logo vejo faíscas saindo das suas mãos.
— Você confiou nele. Eu nunca caí nesse papinho. — Carol se justifica e Letícia concorda com a cabeça.
— André. Se entregue agora ou sofrerá as consequências. — Digo firme, dado um passo à frente.
— Quais consequências? Você não percebe que você não é nada, Luna? Apenas uma humana perdida sem memórias? — Ele questiona, me encarando sem nenhum ressentimento. — Morweena trará a paz para o mundo da magia.
— Um mundo ao qual você não faz parte! Acha que só por ter o pêndulo do tempo é o ser mais supremo do universo? A magia vai muito além disso, André! — Digo com raiva, e logo vejo outros dois rapazes, com as mesmas vestes de André, se posicionarem ao lado dele.
— Eu descobri a magia no meu momento mais frágil, graças a Morweena. Eu rezei para todos os deuses, para todas as deusas, orei, fiz rituais, fiz votos sagrados, mas ninguém mais me ouviu! Hécate me ouviu? Não, não ouviu. Alguém da vida real me ouviu? Menos ainda. Mas ela me ouviu, ela me notou. Eu devo tudo à Morweena. — André diz determinado, e logo vejo que os garotos ao lado dele eram Paulo e Daniel. — A magia me fez criar aliados, Luna. Então, não tentem me deter. Não fiquem no meu caminho.
Paulo e Daniel pareciam não saber o que estava acontecendo. André fez algo para que os dois esquecessem quem eram, e eu acredito ter conseguido isso fácil demais pelos dois serem humanos.
— Bruxas da Galáxia, atacar! — Digo confiante, e as três se prepararam para lutar contra André.
Paulo e Daniel avançaram primeiro. Eles possuíam armas poderosas brilhando com energia pronta para ser desferida. Bianca rapidamente lançou raios em suas direções, mas eles se esquivaram habilmente, usando velocidade e agilidade para não serem atingidos.
Letícia começou a entoar um cântico que reverberava pelo campo de batalha, ameaçando desorientar Paulo e Daniel. Contudo, a voz de André cortou o ar, coordenando-os para focar em proteger um ao outro e avançar em direção a Letícia com precisão calculada.
Enquanto isso, Carol tentava acertar André com uma rajada de energia, semelhante a de anjos, mas ele fazia com que todas elas voltassem na nossa direção. Por sorte, Letícia criava barreiras sônicas ao nosso redor para nos proteger dos ataques.
Elas estavam cada vez mais fortes. Estavam evoluindo na magia de uma forma que eu tenho certeza que nunca vi antes, mesmo sem magia. Sabiam manusear o que tinham. Elas faziam parte da magia e a magia fazia parte delas, e eu tive certeza que elas foram a escolha certa para serem a nova tríade.
Eu tentei observar cada movimento de André, procurando por quaisquer sutis alterações que ele pudesse tentar. Sabia que cada pequena mudança poderia virar o rumo da luta a nosso favor.
Enquanto a luta se desenrolava, eu mantinha meus sentidos aguçados, procurando desesperadamente por uma brecha na manipulação da realidade de André. Ele estava se mostrando um adversário formidável, aproveitando seu pêndulo do tempo mágico para ajustar as circunstâncias conforme necessário. Eu não tinha poderes para ajudar a tríade, mas podia pensar racionalmente.
Observando atentamente, percebi um padrão nas mudanças que ele fazia: cada vez que ele alterava alguma variável na batalha, um brilho sutil se manifestava no pêndulo. Isso me deu uma ideia.
— Letícia, Carol! — Chamei, enquanto desviava de um ataque coordenado por Paulo. — Concentrem-se em atacar André diretamente! Se conseguirmos desarmá-lo ou incapacitar o pêndulo, podemos desfazer suas manipulações!
As duas entenderam imediatamente. Com um movimento coordenado, avançaram em direção a André, enquanto eu continuei a guiar suas ações e a proteger o grupo de novos ataques das bruxas.
Bianca tentava desarmar Paulo e Daniel sem feri-los, mas eles eram rápidoa demais. Estavam em uma luta física que parecia não ter fim, e eu percebi que Bianca estava começando a fraquejar.
André, percebendo o perigo iminente, tentou desesperadamente reforçar sua defesa. Ele mudou a gravidade ao redor de si, tentando repelir Carol e Letícia, mas elas persistiram, usando suas armas para criar uma pressão constante.
Observei o pêndulo com atenção, procurando o momento exato em que André estivesse momentaneamente distraído. Vi uma oportunidade quando ele se concentrou demais em repelir os ataques físicos.
Com um movimento rápido e preciso, avancei para mais perto, ignorando os feitiços que Carol tentava lançar para me distrair. Minha mão se estendeu, mas Daniel tirou o pêndulo antes que eu pudesse alcançá-lo.
— Chega, André! A luta acaba aqui. — Ele diz firmemente, e André o olha um pouco confuso. — Você não consegue me manipular mais.
Vejo que Paulo também estava um pouco confuso, e Carol se aproxima dele, exausta pela luta. Ela parecia se conectar com a alma de Paulo, e aos poucos, ele assumia o controle de si mesmo.
— Você não sabe os meus motivos, Daniel. Agora, me devolva isso, por gentileza! — André puxa o pêndulo da mão de Daniel, que parecia confuso e atordoado, mas eu não sabia exatamente com o que.
— Eu não acredito... — Daniel diz, encarando André com lágrimas nos olhos. — Você está fazendo isso.
— O que está acontecendo? — Bianca pergunta baixo, se aproximando de mim.
— Morweena prometeu que ia ficar tudo bem, Dani. — André insiste, encarando Daniel, que ainda parecia perplexo por algo que eu não havia entendido.
— André, você precisa me deixar ir.
E então, antes de qualquer tentativa, André mudou tudo ao nosso redor novamente. Não deu muito tempo para raciocinar. Quando vi, estávamos em uma cidade bem familiar pelos filmes.
— Nova Iorque? — Carol exclama surpresa.
Dessa vez, André não estava mais perto, e eu temia para onde ele havia nos levado agora.
Estávamos no alto de um prédio, onde dava perfeitamente para ver o Empire State. Parecia um prédio comercial, mas ele era envolvido por comupatores avançados e materiais de robótica, além de uma mesa enorme.
— Os Pingadores mais uma vez salvam a cidade do terrível deus da mentira, o temível Loko. — Um noticiário na televisão ligada começa a repassar as notícias do dia.
Vejo a foto de André em um uniforme verde, onde ele era o Loko. A próxima foto que apareceu me deixou de queixo caído por tamanha criatividade de André.
Era uma foto nossa em conjunto, como se fôssemos os Vingadores. Eu era a Capitã Brasil, Carol era a Mulher Mecânica, Letícia a Hulka, Bianca era a Thora, e Daniel e Paulo eram respectivamente o Menino Teia e o Viúvo Nego.
— Esse moleque tem bosta na cabeça! Eu odeio o André, eu vou matá-lo! — Letícia diz com raiva e começa a duplicar de tamanho e sua pele começa a ficar verde.
Continua...
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