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Capítulo 12: Rei André, magnífico rei André

— Agora vocês acreditam em mim? É isso o que ele faz, brinca com a realidade e com o espaço-tempo.

Várias pessoas passavam ao nosso lado e tudo era extremamente diferente. Mesmo aqui sendo extremamente o mesmo lugar em que estávamos antes, só que em outra época, eu sentia uma energia mágica bem mais forte e poderosa.

Estou na Era das Bruxas de Três Luas, bem antes da inquisição.

— Isso não é possível, não faz sentido. — Carol repete consigo mesma e arregala os olhos. — E o Paulo? Onde ele está? Ai meu Deus!

— Ele deve estar bem, em algum lugar por aqui, mas não deve lembrar de nada. Ele e todo mundo acredita que esta é a realidade comum, isso é o que vivem. — Explico e começo a caminhar para fora da biblioteca. — Precisamos de um plano para sair daqui.

— O André carrega um relógio mágico com ele, certo? — Letícia questiona e eu concordo com a cabeça. — Vamos tentar pegar o relógio para voltarmos à nossa realidade.

— É uma boa ideia, mas como faremos isso sem André perceber e alterar tudo novamente? — Bianca pergunta.

— Somos três, ele é só um. Duas de nós distraem ele e a outra arranca o colar. — Carol sugere, passando ao lado de um grupo de garotas que voltava do colégio.

— O problema é sabermos onde ele está. — Falo, mas então paro em frente a uma estátua a qual representava um rei, exatamente idêntico ao André. — Rei André, magnífico Rei André.

— O que esse garoto tem na cabeça, hein? — Letícia pergunta indignada, ao olhar para o alto e analisar a estátua de André. — Parece o Lorde Farquaad.

Um pouco mais a frente havia um grupo de anões em uma roda, pareciam estar discutindo ou coisa assim, mas quando passamos ao lado deles, pudemos enxergar uma placa escrita "Competição de Insultos - Vence o xingamento mais absurdo e criativo. Obs: apenas para anões".

Você é uma abóbora ambulante, isso mesmo! — Um dos anões diz, e os outros, que assistiam, fazem caretas de espanto.

— E você que é um cata-vento de asneiras? — O outro rebate, e logo ouço um "uuuuuhh" em coral.

Isso aqui é tudo muito estranho. — Bianca sussurra ao meu lado.

— Algo de errado não está certo. — Letícia diz, arregalando os olhos ao ver um jacaré numa coleira, acompanhado de uma senhora que o levava para passear como se fosse um pet. — Três Luas era assim antigamente?

— Não. Não era. — Afirmo com convicção, virando uma rua e dando de cara com um cavalo que usava... óculos?

— Ei, jovenzinha!

Olho para os lados para procurar quem estava falando comigo, mas não havia ninguém próximo a nós.

— Ouviram isso? — Pergunto para as meninas, mas logo ouço a voz novamente.

— Sou eu, bem aqui. — Olho para o cavalo e o vejo se aproximar, e jurava que ele possuía trejeitos humanos. — Meu nome é Elardino, sou um mago. Minha esposa é uma grande feiticeira e me transformou em cavalo!

— Quê? — Pergunto chocada, pois essa era a coisa mais absurda pela qual eu já tinha presenciado.

— Por que sua esposa te transformou em cavalo, hein? O que você fez a ela? — Bianca cruza os braços e o questiona, e Elardino relincha.

— Esqueci nosso aniversário de casamento.

— Que relacionamento saudável. — Carol comenta baixinho, e eu dou um passo para trás, ainda assustada com a abordagem de Elardino.

— Espera, você disse feiticeira? — Carol se põe na frente e olha para mim. — Se for real, será que ela pode nos ajudar com o caso do André?

— André, o rei, o magnífico rei André? Não, não, não! — Elardino relincha mais uma vez e mexe a cabeça algumas vezes. — Ele é o nosso rei, digníssimo rei! Rei André para todos os cavalos!

— Vamos dar o fora daqui. — Letícia conclui e das as costas, mas Elardino cavalga para frente dela.

— Tudo bem, tudo bem! Eu ajudo vocês, mas falem com a Brunilda que eu sou um cavalo bom, quer dizer, um homem bom! Ela poderá ajudar vocês com o que precisam. — Ele implora e Carol e eu trocamos olhares intrigados.

— Você não é um mago? Por que simplesmente não sai daí usando magia? — Bianca questiona e Elardino começa a rir.

— Brunilda é muito mais forte que eu.

— Que nome mais tosco, Brunilda. — Letícia diz segurando o riso, e Elardino relincha mais uma vez e a olha furioso.

— Não ouse falar assim do meu docinho de ameixa!

Elardino então, começa a correr atrás da Letícia, cavalgando rapidamente. Letícia dá as costas e começa a correr dele, o mais rápido que conseguia, então corremos atrás deles na tentativa de fazer Elardino parar de persegui-la.

Passamos no meio de uma feira e tudo o que estava na nossa frente foi simplesmente levado pelo caos que estávamos causando. Letícia entrou em um beco e fomos logo atrás dela, então Elardino para ofegante e relincha mais uma vez.

Antes de qualquer coisa, sou puxada para dentro de uma porta minúscula que havia no chão ao final do beco. O garoto fecha a entrada assim que nós quatro passamos, e de dentro, ouço Elardino tentando quebrar a porta com vários coices.

— Paulo! — Carol exclama ao ver o namorado, correndo para abraçá-lo.

— Gracioso é o encontrar-vos, minha dama. Saudações, nobres damas, como estais vós nesta jornada? — Ele questiona olhando para o resto de nós.

— Estamos bem. — Carol diz ofegante após corrermos longos metros. — Fico feliz em te ver.

— Pode nos dizer... quer dizer. — Letícia limpa a garganta antes de prosseguir. — O senhorito  poderíeis vós nos indicar onde nos encontramos?

— Neste momento, estamos na taverna da Madame Gironda. Desejais algo para restabelecer as vossas forças? Vossas faces denotam cansaço.

— Por que ele está falando assim e o cavalo estava falando normal? — Bianca sussurra confusa para mim.

— Sei lá.

Paulo usava uma túnica de tecido grosso e um avental de couro, calças de linho, botas de couro robustas e luvas grossas de proteção. Além disso, ele usava acessórios como um pequeno escudo de couro e um cinto com diversas ferramentas.

O garoto nos levou para uma espécie de bar, onde haviam cadeiras e homens de dois metros jogando algo com pedras. Paulo acena para uma senhora, a qual aparentemente não enxergava, que se aproxima de nós com um sorriso sem a maioria dos dentes da frente.

— O que desejam?

— Água. — Respondo, mas a velha ri como uma bruxa má e puxa uma garrafa com um líquido rosa dentro.

— Tome, minha filha. Tenho certeza que isso lhe fará bem. — Ela enche nossos copos de madeira com o líquido rosa, fazendo respingar a maioria para fora.

— A senhora é a Gironda? — Carol pergunta, enquanto Paulo senta ao seu lado.

— A própria!

— Nunca mais zoo o nome de ninguém, nunca mais zoo o nome de ninguém. — Letícia repete várias vezes antes de tomar aquele líquido de uma vez só. — Hmm, tem gosto de suco de abacaxi com hortelã.

— Paulo, o que você faz aqui? — Bianca pergunta, e o homem olha sorridente para nós.

— Eu, o forjador de armas e armaduras, sou uma necessidade na cidade. Sirvo ao exército de Três Luas e aos gladiadores, além de oferecer meus serviços às lojas de armamento. Às vezes, visito a taberna, onde a senhora Gironda é como uma avó para mim. — Ele diz orgulhoso e segura a mão de Caroline. — Meu amor, que tal expandirmos nossa família com nove crianças?

Carol se engasga com a bebida e leva um tempo para se recuperar, após se assustar com a pergunta de Paulo. Ela o olha indignada.

— Eu tenho dezessete anos!

— É claro, visto que estais velha. — Ele responde e eu seguro o riso.

Tomo um pouco daquele líquido, e realmente, parecia suco de abacaxi com hortelã. Letícia, que estava ao meu lado, chama dona Gironda e pede mais daquela bebida.

— Paulo, você sabe onde o Rei André está? Consegue nos levar até ele? — Pergunto, direcionando a atenção do jovem ferreiro para mim.

— O Rei André, magnífico André, encontra-se no seu castelo na colina mais alta de Três Luas, bem em frente às Mares Mágicas.  — Paulo diz e logo dá um gole à sua bebida. — Consigo, claro! Hoje ao pôr do sol será o grande Baile da Florença!

— açnerolF ad eliaB? — Bianca diz, aparentemente ao contrário, e eu a encaro totalmente confusa. — missa odnalaf uotse euq roP?

— Ei, Luna. — Letícia me chama e me encara de forma bem esquisita. — Desde quando você virou um pato? E por que o Paulo é uma girafa? E por que a Bianca é uma raposa? E por que a Carol é uma cobra?

— Desde quando você virou um pato? E por que o Paulo é uma girafa? E por que a Bianca é uma raposa? E por que a Carol é uma cobra?  — Tento responder, mas a única coisa que consigo fazer é repetir tudo o que Letícia falava.

— Ei, não me chame de cobra! — Carol diz e se levanta da cadeira, começando a dançar sem parar. — Eu não consigo parar!

— Ei, não me chame de cobra! — Repito, mesmo sem querer, tentando falar qualquer outra coisa que não fosse uma repetição. — Eu não consigo parar!

— Que engraçado, um pato falante. — Letícia diz dando uma risada extremamente lenta e logo pede mais uma bebida.

— adibeb a É! — Bianca exclama, e eu demoro um pouco para decifrar o que ela falou, mas com o resto que ela faz de apontar para o copo de Letícia, logo me dou conta.

— adibeb a É! — Repito o que Bianca diz e dou um tapa no copo da Letícia, fazendo a bebida se espalhar toda no chão.

— Isto, minha bela! És a melhor dançante entre todas! — Paulo aplaude Carol, enquanto ela continuava dançando sem parar.

Me levanto do banco e tento segurar Carol, mas a força da dança estava mais forte. Carol acaba me arrastando junto com ela, e acabamos tropeçando em algumas outras pessoas que passavam pela taberna.

— Você é a raposa mais linda que eu já vi. — Ouço Letícia dizer para Bianca, que tenta falar alguma coisa a qual eu não entendo.

— Você é a raposa mais linda que eu já vi. — Tento pedir socorro, mas isso é a única coisa que sai da minha boca.

Um anão que estava no concurso dos insultos passa ao meu lado comendo uma espécie de pão recheado de ovo cozido. Parecia zangado.

— Eu deveria ter usado o tapioca desajeitado! — Ele burra com raiva e vai para um canto aleatório.

— Eu deveria ter usado o tapioca desajeitado! — Repito, já ficando com vontade de me jogar de uma ponte.

Me jogo no chão com Carol, e após alguns segundos, finalmente aquele caos termina. Ela respira ofegante, após longos minutos dançando sem parar.

— Que diabos foi isso?! — Bianca pergunta perplexa, e logo solta uma risada ao perceber que havia voltado a falar normal. — Não acredito que voltei ao normal!

— É o seguinte. — Me levanto do chão, recuperando o fôlego ao ter ajudado Carol a parar de dançar e encaro Paulo. — Por que você nos deu esse troço?

— Ele ajuda a retomar a força de vocês. Estavam precisando. — Observo que sua bebida era verde, e Paulo não teve nenhum efeito colateral. — Não fiquem aflitas, eu paguei a conta.

— Paulo. — Carol se aproxima dele e o encara. — Eu vou matar você, mas não agora. Primeiro preciso saber o que é o Baile da Florença.

— É um baile que o rei André, magnífico rei André, organiza todo mês para comemorar sua beleza! Ele é realmente magnífico e os jovens cavalheiros se matam para tê-lo.

— E todos podem ir? — Questiono e Paulo concorda com a cabeça.

— Sim. O Lorde Daniel também estará lá. — Paulo diz, e quando cita o nome de Daniel, meu coração erra as batidas.

— Daniel?

— Damas, se não se incomodam, ouvi dizer que falavam do baile do Rei André, magnífico rei André.

Uma mulher se aproximou de nós, parecia bem madura e bonita. Lembrava um pouco a Mortícia da família Addams.

— Sim. E você por acaso seria? — Letícia pergunta, e a mulher dá um sorriso escaldante e estende as mãos para mim.

— Meu nome é Brunilda. Posso ajudá-las a vestirem-se para o baile?

Continua...

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