Taylor

Acordo no meio da noite e levanto da cama tão rápido que quase tropeço em meus pés, corro até o banheiro e me tranco lá dentro para ir até a banheira. Me encolho no canto e abraço minhas pernas com força.

Encaro o acrílico branco da banheira e fico tentando me convencer de que não foi nada, de que estava sonhando com as caçadas e que isso foi apenas um sonho horrível.

Sempre sonhava comigo quando era menor, quando meu pai dizia que íamos caçar e eu me trancava no banheiro para poder não ir. Ele sempre arrombava a porta e me arrastava para o carro, sempre me fazia ter que ir para aquela idiotice.

Tentava me convencer de que estava em Miami e não tinha um maluco do outro lado da porta que estava tentando me arrastar para uma floresta no Arizona para matarmos bambis e essas coisas.

-Taylor?- Charlie bate na porta.- Taylor, acorda....

-De novo?- Adam fala irritado.- Taylor, acorda!

Pisco algumas vezes tentando fazer isso e eles batendo na porta me lembram o som dos tiros. Recebi tanta pancada na cabeça até conseguir acertar o meu primeiro cervo que até hoje ainda dói um pouco quando eu lembro.

-Taylor, qual é!- Adam grita irritado.- Eu preciso mijar!

Tento me levantar e não consigo, só consigo ficar parado e encolhido. É ridículo como eu não consigo levantar, eu sou um homem adulto e não consigo levantar por que eu estou com medo de abrir a porta e encontrar meu pai.

Sendo que eu sei que meu pai está bem longe, no Arizona, então não tem por que eu estar com medo. Mas mesmo assim, minha cabeça se confunde quando eu durmo e sonho com a merda das caçadas.

-Taylor?- Ryan bate na porta.- A gente tem que tirar a tranca dessa porta.

-Tá doido?- Charlie pergunta.

-Sei lá, cara, coloca uma meia ou uma camisa na maçaneta quando entrar.- Ryan estala a língua.- Não quero mais Adam usando meu banheiro.

-Cara, o semestre está quase acabando e então vai demorar uns cinco meses para os nossos cursos acabarem.- Charlie explica.

Essa conversa vai me trazendo e logo estou levantando, paro na frente da pia e molho meu rosto enquanto o esfrego com força. Respiro fundo e ouço eles conversando sobre o lançamento do álbum no domingo e que vamos fazer uma festa aqui depois disso.

Então, vamos pra uma festa de lançamento no espaço que a gravadora alugou e depois voltamos para casa. Avisamos da festa e um monte de pessoal vai vir aqui, parece o meu tipo de coisa me alegra.

Abro a porta e eles me encaram.

-Tudo bem?- Ryan franze as sobrancelhas.

-Sim, dormi de novo.- sorrio indo para o quarto.

Fecho a porta atrás de mim e me jogo na cama, enfio minha cara no travesseiro e não quero sair daqui nunca mais. Minha energia acabou por inteiro depois do sexo com Gina e não estava com vontade de fazer nada além de transar com ela de novo.

Tinha que correr atrás, agora.

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Gina

Arrumo a mesa de som em cima do palco e vejo os caras arrumando a boate para receber as pessoas. Seguro os fios e vou conectando nas caixas de som distribuídas pelo palco.

Frank está arrumando as bebidas na prateleira e percebo que alguém fala com ele enquanto entra pela porta dos fundos, travo o maxilar quando vejo que Taylor está tirando o casaco e colocando embaixo do bar.

Ele sorri para várias das pessoas que já o conhecem por tocar aqui e vem caminhando na direção do palco. Não lembrava que ele vinha aqui na sexta para ajeitar as caixas de som que os meninos deixavam aqui.

-Hoje vai ser o que?- ele sobe as escadas.- Aqueles remixes da Adele?

-Você xeretou meu computador?- semicerro os olhos.

-Não tinha nada para fazer.- ele chega na minha frente.

-Você é um filho da mãe.- começo a conectar os cabos.

-Obrigado.- ele sorri e o encaro.- Sobre anteontem...

-O que aconteceu anteontem?- finjo não saber e conecto meu fone.

-Vai ficar nesse joguinho, é?- o sorriso dele aumenta.- Sabe que eu gosto disso.

-Taylor, sabe o que você deveria fazer?- me apoio na mesa e inclino meu corpo para frente.

-O que?- ele abaixa os olhos até meus lábios.

-Ir se foder.- sussurro.

-Prefiro foder com você.- ele pisca.

-Taylor...- mexo a cabeça.

-O que eu tenho que fazer para provar que eu quero muito transar com você de novo?- pergunta.

-Sumir da minha vista.- me afasto e começo a pegar o pendrive.- De preferência, para sempre.

-Tudo bem.- ele me observa ajeitando as coisas.- Ryan mandou falar que a festa depois do lançamento vai ser lá em casa.

-Ótimo.- não olho para ele.

-Imagino que não vai ter problema se eu estiver com alguém.- ele limpa a garganta.

-Claro que não, eu nunca ligo para isso.- sorrio.- Acha mesmo que só por que a gente transou, eu vou querer você só para mim?

-A maioria quer isso.- ele morde o lábio.

-Está tentando me fazer ficar com ciúmes, Taylor?- deito a cabeça.

-Claro que não.- ele balança a cabeça.- Espero ver você por lá, então.

-Nos vemos por lá, então.- o encaro.

-Bom show.- ele aponta com o queixo.

Ele vai para atrás do palco e volto a olhar para minha mesa de som, respiro fundo e tento não jogar ela nele só por ter tentado me fazer ficar com ciúmes. Eu nunca fico com ciúmes, nunca fiquei com ciúmes de Joshua e nunca vou ficar com ciúmes de qualquer outro.

Afasto os cabelos e coloco os fones para ver as músicas que posso usar, quando ajustar tudo tenho que me vestir para voltar a ficar aqui. Passar a noite toda em um show desses me cansa e preciso descansar um pouco antes de descer.

Passo a noite toda tomando energético e quando eu termino tudo já são umas quatro da manhã. Mas meus pais nunca disseram nada de negativo, eles até pagaram minhas aulas para aprender a mexer na mesa de som.

Enfim, se Taylor acha que só por que transamos eu vou ter ciúmes dele, está muito enganado. E eu vou provar que não estou sentindo nada por ele, não como eu sei que ele sente por mim. Ele vai ver, eu vou fazer ele morrer a língua de tanta raiva.