— Como você está, irmã? — Teto pergunta enquanto lhe olho pela chamada de vídeo.

— Estou bem agora e vocês? — Pergunto, fazendo Teto travar um segundo. Juliana estava com ele e eu sabia, ninguém consegue esconder nada.

— Ela sabe, amor. — Teto diz e então Juliana aparece brava na tela do celular.

— Que coisa, Beatriz, queríamos manter as coisas em off até acertarmos tudo! — Ela diz, me fazendo rir.

— Acontece que vocês são péssimos mentirosos, que coincidência você falar para mim que vai viajar com uma amiga e Teto falar para Matheus que viajará para casa de um amigo.

— Irmão, me ajuda, né? Quem deixou você contar para ela? — Teto diz e eu viro o celular para Matheus, que estava dirigindo, estávamos voltando para casa depois do almoço.

— Saiu sem querer... — Matheus se defende.

— Enfim, grandes mentirosos e grande amor, como vocês estão? — Pergunto sorrindo. — Como foi?

— Isso é muito feio de falar, mas foi graças a seu coma! — Teto segura o riso.

— Ah, então meu coma trouxe benefícios para algumas pessoas... — Zombo.

— Deus me perdoe por isso, mas, sim. — Ele ri. — A gente se reencontrou no hospital e ficamos bastante tempo juntos lá conversando e foi isso.

— Não vai agradecer à Beatriz? — Matheus pergunta, sem tirar a atenção da direção.

— Obrigado Beatriz por ficar em coma. — Ele diz sério e balanço a cabeça, negando.

— Que péssimo vocês são... Aproveitem aí, tchau! — Digo e já desligo a chamada.

Alguns minutos depois, estacionamos o carro na garagem.

— Adorei ter dirigido sua Cayenne. — Matheus diz, passando a mão pelo carro. — Quero uma!

— Te dou uma se me contar o que vamos fazer hoje. — Falo enquanto entro em casa.

— Está fácil assim? Falo na hora! — Matheus brinca, me seguindo pela casa.

— Sim, eu preciso saber o que vestir, como vou sair sem saber o lugar? — Faço um leve drama.

— É um show! — Ele solta arrependido.

— É um show? — Pergunto animada. — De quem? Do Justin Bieber?

— O Justin Bieber está no Brasil, Beatriz? — Ele cruza os braços enquanto me olha rindo.

— Vai saber, vai que você me coloca em um avião, me leva para os Estados Unidos e aí vamos a um show dele... — Dou de ombros caminhando até o banheiro do meu quarto.

— Nossa... — Matheus gargalha, me fazendo rir também, era um pensamento louco. — Vou anotar, quem sabe um dia, mas não é isso.

Entro para o chuveiro após me convencer de que ele não falaria mais nada. Minutos depois, faço o caminho até o closet e fico por alguns minutos encarando minhas roupas. Não seria um show de sertanejo porque eu não gosto, não sabia se havia algum famoso internacional no Brasil, então não poderia descartar essa ideia. Pode ser que seja um show de eletrônico também, ele sabe que amo, então teríamos mais um ponto aí.

Escolho um vestido preto tubo que ia até os pés, era o básico que combinava com tudo e não deixava meu corpo muito à mostra. Alguns minutos depois, estamos prontos. Matheus havia trazido uma mala que eu não havia percebido e então arrumou por aqui mesmo.

INSTAGRAM STORIES:

— Caramba, fiquei gato para caralho! — Matheus diz ao ver a foto nos stories, estávamos no carro rumo ao show.

— Realmente... Você é um gato! — Lhe olho sorrindo e ele deixa um beijo em minha boca.

— Por que não me marcou? — Ele pergunta, voltando a atenção para a tela.

— Porque não é para você repostar. — Dou de ombros. — Meu direct vai encher de mulheres me xingando.

Ele ri.

— Fiz alguns Stories explicando o motivo do meu sumiço algumas semanas atrás e pedi oração para você. — Diz, me fazendo olhar para ele.

— Sério? — Pergunto boquiaberta. — Então todos sabem?

— Acredito que sempre souberam. — Ri sem graça. — Sempre postamos fotos um do outro, isso não é esconder.

— Realmente... Mas nunca falamos nada, então achei que ainda estávamos atrás das cortinas. — Explico.

— Depois dos seus Stories, está nítido que não tem nada atrás da cortina. — Solta uma risada nasalada.

— Posso ver os stories que você postou falando sobre mim? — Peço, estava curiosa para ver o que havia falado, eu não imaginei que Matheus seria tão aberto ao seu público, já que ele sempre foi reservado.

Ele concorda e então procura pelos vídeos no Instagram.

"Então rapaziada, não costumo aparecer por aqui, mas hoje preciso falar uma coisa importante com vocês... Como estão sabendo, alguns shows durante as próximas semanas foram cancelados e vocês têm total direito de se sentirem chateados porque querem ver a pessoa que vocês curtem, tá ligado? Preciso que entendam o motivo disso, acredito que estejam sabendo que fomos roubados a caminho de um show três dias atrás, não foi uma situação nada legal, até me pareceu planejado e eu tô atrás disso, tá ligado? Mas levaram nossa van, nos agrediram e agrediram Beatriz, vocês já devem conhecer ela, é uma pessoa muito boa e... ela está em coma devido à agressão. Ela está viva, porém em coma. Beatriz é uma pessoa muito importante para mim e eu queria a oração de todos vocês para ela e queria que entendessem o motivo dos cancelamentos."

Engulo seco quando os vídeos terminam e uma lágrima desce em meu rosto. Aquilo foi extremamente pesado. Eu conseguia sentir a angústia de Matheus pelo vídeo, não posso imaginar o que ele estava sentindo e como passou esse tempo todo comigo daquela forma.

— Por que está chorando? — Matheus afasta meu cabelo para enxergar meu rosto. — Já passou.

— Desculpa! — Lhe abraço rapidamente, encostando meu rosto em seu ombro, mais algumas lágrimas caem no meu rosto.

— Por que desculpa, Beatriz? — Matheus pergunta sem entender.

— Por deixar você assim, partiu meu coração. — Lhe aperto mais forte.

— Foi difícil, mas já está tudo bem, não está? — Pergunta, se afastando para segurar em meu rosto e eu concordo.

— Sua mãe estava com você o tempo todo para te apoiar? — Pergunto, eu não sabia muito o que havia se passado com ele esse tempo.

— Sim, ela me ajudou bastante... E eu fumei para caralho também, foi outra coisa que ajudou. — Diz dando de ombros, como se não fosse nada.

— Seu pulmão deve estar péssimo. — Solto uma risada em meio ao choro.

— Tá ttranquilo, gatinha. — Ele pisca para mim e o carro para.

Descemos do carro na parte dos fundos e entramos por um local escuro com dois seguranças.

— Estou escutando eletrônica? — Pergunto enquanto nos aproximávamos.

— É... — Matheus concorda, sorrindo de lado.

— Mentira, quem? — Seguro sua mão forte, extasiada com a música eletrônica.

— Para de perguntar, Beatriz! — Matheus me dá um selinho e continuamos andando até chegar em uma escadaria.

Subimos alguns degraus e a música já estava extremamente alta, como se tivéssemos ao lado do palco. Um dos seguranças entrega dois crachás para Matheus, que coloca um em meu pescoço.

Seguro o plástico tentando ler o que estava escrito.

Stage Lounge Vintage Culture.

Na hora em que termino de ler, Matheus me puxa pela mão, abrindo uma cortina preta e então Vintage está literalmente ao meu lado, tocando para uma imensidão de pessoas.