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PONTO DE VISTA MATUÊ
Silêncio.
Em completo silêncio nos encontrávamos em uma sala agonizados.
Toda a família de Beatriz já se encontrava em aqui em Fortaleza, estávamos fechados em uma pequena sala do hospital somente aguardando alguma resposta dos médicos.
Em minha visão periférica, consigo ver Juliana abraçada com Teto em uma cadeira, ela estava com os olhos desesperados assim como o meu e Teto tentava consolá-la. Karla e Marcelo tentavam manter a calma com os dois outros irmãos, mas não deixavam de aparentar estar em desespero também.
Já eu, estava desolado.
Um caco.
Um poço.
Acho que nunca me senti assim na minha vida, a não ser quando perdi minha vó. Minha cabeça era somente em Beatriz e em como isso era minha culpa, eu não sabia o que havia acontecido com ela e isso matava. Os médicos não saíam do quarto por nada, não avisavam nada por no mínimo 3 horas até que...
— Beatriz Marques!
Todos da sala se levantam e consigo sentir a tensão.
— Preciso de uma pessoa só para conversarmos em particular. — O médico anuncia.
Nesse momento, cambaleio para trás procurando a cadeira para me sentar, meu coração estava acelerado em pensar que, se ele quis falar com uma pessoa só, era porque o assunto seria sério.
Karla toma frente e deixa a sala com o médico.
Porra, como pode tudo estar tão bem e do nada uma bosta? Esse mundo é um porre.
— Irmão, acalma o coração, vai ficar tudo bem. — Sinto o estofado ao meu lado se afundar e Teto dizer.
— Mesmo se ficar tudo bem, eu nunca vou me perdoar. — Me encosto na cadeira encarando o nada.
— Você tem que entender que não foi culpa sua, irmão, você não controla o mundo e não controla as pessoas, não é assim... — Ele diz enquanto sua mão aperta meu ombro.
— Exatamente, mas agora vou controlar a vida dos filhos da puta que fizeram isso com ela. — Esbravejo. — Ninguém vai sair ileso e não é só por questão de vingança, mecharam com a pessoa errada.
— Só te cuida para não enlouquecer, não faz besteira, eu tô aqui qualquer coisa. — Ele diz e se retira voltando até Juliana.
A porta se abre e então vejo Karla entrar como se tivesse visto uma assombração, me levanto rapidamente indo até ela que segura em minha mão forte.
— O que aconteceu? — Marcelo pergunta ajudando ela a se sentar ofegante.
— Eu não consigo explicar como o médico, mas pelo pouco que entendo... — Karla soluça. — Beatriz bateu a cabeça e levou alguns pontos, teve um pequeno traumatismo e ficará alguns dias desacordada.
Não sei se fico aliviado ou mais tenso ainda, saber que ela estava viva me deixava aliviado, mas em pensar que ela ficaria em coma por um tempo indeterminado era loucura.
Karla não quis usar a palavra coma para não assustar todos, mas pelo que sei, você não fica somente "desacordado" ao ter um traumatismo.
Porra, se eu tivesse ali perto para segurá-la, isso não teria acontecido.
— EU TE DISSE QUE SE ALGO ACONTECESSE COM MINHA IRMÃ, EU IRIA ACABAR COM VOCÊ!
Sinto meu corpo ser arremessado e então olho para cima vendo Eduardo, o mais velho totalmente alterado, não o culpo.
— Eduardo! — Juliana puxa seu braço.
Apenas levanto do chão sem o que dizer porque realmente não havia argumentos, era minha culpa.
— Não vai ficar assim cantorzinho de merda! — Eduardo diz, me fazendo avançar nele com um soco em seu rosto.
Me culpar, me julgar, me criticar como pessoa tudo bem, agora falar do meu trabalho não é justo e não faz sentido.
Teto me segura imediatamente enquanto Pedro segura Eduardo e a sala vira uma bagunça.
— Eduardo, tenha postura como sua família! — Karla grita com ele. — Isso não é postura de um Marques.
— Vamos para casa irmão, amanhã de manhã voltamos e revezamos o acompanhamento. — Teto me puxa pelo braço e então saímos da sala.
Meu celular começa a tocar no bolso e atendo.
— Fala.
— Matuê, o evento de amanhã...
— Cancela! Cancela tudo pelas próximas duas semanas. — Respondo e desligo o celular.
...
— Então, rapaziada, não costumo aparecer por aqui, mas hoje preciso falar uma coisa importante com vocês... — Seguro o celular em frente ao meu rosto enquanto o botão de gravação estava pressionado. — Como estão sabendo, alguns shows durante as próximas semanas foram cancelados e vocês têm total direito de se sentirem chateados porque querem ver a pessoa que vocês curtem, tá ligado? — Respiro fundo para continuar a falar. — Mas preciso que entendam o motivo disso.
Termino o vídeo enviando imediatamente no story do Instagram, estar me abrindo assim me deixava totalmente vulnerável, mas eu sentia que precisava dar uma explicação.
— Acredito que estejam sabendo que fomos roubados a caminho de um show três dias atrás... — Engulo seco, me lembrando. — Não foi uma situação nada legal, até me pareceu planejado e eu tô atrás disso, tá ligado? Mas levaram nossa van, nos agrediram e agrediram Beatriz, vocês já devem conhecer ela, é uma pessoa muito boa e... ela está em coma devido à agressão.
Paro o vídeo e jogo o celular na mesa esfregando meu rosto, meu coração estava apertado. Me levanto indo até a mesa de centro e pego um beck já bolado e caminho até a varanda, ascendo ele ali mesmo e dou minha primeira tragada.
É como se toda a dor física e mental fosse embora, era isso que estava me ajudando todos os dias, eu nunca havia fumado tanto quanto agora.
Era o que me mantinha.
Volto ao quarto, pego o celular novamente e continuo o vídeo.
— Ela está viva, porém em coma. Beatriz é uma pessoa muito importante para mim e eu queria a oração de todos vocês para ela e queria que entendessem o motivo dos cancelamentos.
Termino o vídeo mais uma vez e desligo o celular, me jogando na cama enquanto meu beck já estava acabando em minha mão. Jogo a bituca para qualquer canto do quarto e me levanto dali, pego a chave do carro em cima da mesa e saio de casa a caminho do hospital. Meus dias estão sendo assim, casa e hospital.
No meio do caminho, meu celular toca e atendo rapidamente.
— Já estamos com eles.
Não digo nada e apenas mudo meu caminho do hospital.
Dirijo até o fim da cidade até um bairro mais pobre e deixo meu carro em um beco dali, caminho duas quadras até onde a localização me mandava e encontro a casa da foto. Empurro o portão de grade e entro, dou passos largos até o primeiro cômodo que era a sala e vejo meus dois seguranças segurando o infeliz que deu um chute no peito de Beatriz.
— Roubou uma van de um milhão e continua se escondendo nesse muquifo aqui? — Digo, vendo-o me olhar sem surpresa alguma. — Você é bem burro mesmo.
Minha mão fechada atinge seu rosto, fazendo-o virar com força o rosto para o lado. Meus seguranças se assustam com a reação, mas não perdem a postura segurando ele.
— Sabia que a garota que você deu um chute está em coma agora? — Ele olha imediatamente, agora entendendo o porquê de eu estar ali.
— Eu não queria fazer isso! — Ele diz.
— Não? Com a força que usou, queria fazer o quê? — Lhe dou outro soco no rosto, agora do outro lado. — Se minha Beatriz viver, você até vai se dar bem, mas não do jeito que pensa, caso o contrário, não vai ficar nada legal para o seu lado e não adianta nem querer soltar isso para todo mundo. Estão todos do meu lado, eu tenho dinheiro para comprar todo mundo e você tem o quê?
Silêncio na sala.
— Está avisado! — Os seguranças lhe soltam, deixando-o de joelhos e com uma perna faço o mesmo que ele havia feito com Beatriz.
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