IIII
— Mas que inferno! — Uma cadeira voa e atinge a parede, se despedaçando.— Onde eu estava com a cabeça quando aceitei me unir a vocês?
— Tenha calma.
— Não venha me falar em calma velhote. — O velho homem se cala e observa o homem da cicatriz que anda de um lado para outro furioso. — Você tem noção do que esse verme fez? Ele fodeu com todos nós. Eu preciso sair daqui.
— Onde pensa que vai? — Átila, que até aquele momento estava sentado calado, se levanta e vai ao bar onde mexe em diversas garrafas.
— Vou procurar a porra de um buraco para me enfiar pelos próximos dois mil anos e torcer para Lúcifer não me encontrar. Para vocês que ficam, lhes desejo sorte.
— Que sua gente são criaturas simplórias e de pouca fé eu já sabia, acho que se deve por não terem alma. Porém nunca imaginei que eram estúpidos ao ponto de não conseguir entender a fina arte da guerra.
— Vai se fuder pedaço de carne, não venha me falar sobre estratégias e guerras, eu lutei a guerra das guerras, ninguém sabe mais que eu!
— E mesmo? Se sabe tanto, me diga quem foi que venceu mais guerras, eu ou você? — O homem da cicatriz se cala e observa Átila, que volta a se sentar com um copo de vodca em sua mão.
— Se você é tão esperto assim, me explique qual o sentido em prender o cão de caça de Lúcifer? Porque, a meu ver, a única coisa que fez foi nos colocar na mira dele.
— Me diga, demônio já viu um tigre?
— E claro que sim, e daí?
— É um animal fabuloso, forte, ágil, inteligente, capaz de rasgar um homem ao meio com suas garras. Ele também é um animal muito territorial, quando descobre que alguém invadiu sua área, ele vai à caça do invasor e o mata de forma impiedosa.
— E o que isso tem a ver com o cão de caça?
— Parece que esqueceu que São Paulo é território de um tigre extremamente perigoso. — Os olhos de do homem da cicatriz brilham ao entender o plano de Átila. — Quando o mascote de Lúcifer foi preso, fiz questão de que a informação chegasse até ele. Que nesse exato momento deve estar indo à caça do invasor e, com sorte, irá nos livrar de Lúcifer no processo.
— Vê demônio e por isso que digo que não há mal maior do que nos os humanos.. — O velho homem se aproxima trazendo dois copos e entrega um ao homem da cicatriz.
— E se ele falhar?
— Impossível, se tem uma coisa que ele odeia mais que demônio, são almas amaldiçoadas, ele irá destruir o cão de caça junto com seu mestre e tudo o que precisamos fazer é nos sentar e relaxar. Senhores, um brinde à liberdade. Senhores, um brinde à liberdade.
— A liberdade!
A vida é uma coisa engraçada. Enquanto alguns comemoram, outros choram. Enquanto uns brindam a liberdade, outros reclamam por perdê-la, é o caso de Gabriel, que no momento se encontra preso na Delegacia Geral de São Paulo, acusado de diversos crimes. Nas últimas horas, ele foi interrogado por praticamente toda a equipe de investigadores do prédio, em cada uma delas, teve um prazer de conhecer uma versão de policial, o mau, bom, indiferente, amigável, a única versão que ele não conheceu é aquela que deixaria ele ir embora.
— Então, por que você não facilita as coisas e nos diz quem você é?
— Como já disse, eu me chamo Juan Cardoso de Almeida. Sou um delegado da polícia federal em uma missão especial para manter lá uma quadrilha internacional.
— Sei como explicar os corpos encontrados por onde você passou.
— São vítimas dessa mesma quadrilha que não conseguimos salvar, mas acredite, eu não tenho nada a ver com isso.
— Entendi, sabe o que é engraçado? Ninguém em Brasília sabe sobre você sobre essa tal missão, entende onde quero chegar?
— Entendo sim e sabe algo mais engraçado ainda? Que ninguém aqui parece saber o conceito de missão secreta, voces devem ficar de lá para cá mostrando seus distintivos como um bando de idiotas.Com esse nível de profissionalismo não me admira como a criminalidade tomou conta da cidade.
— Tudo bem, não faz diferença, nós temos todo tempo do mundo, mais cedo ou mais tarde nós vamos descobrir a verdade. E aí, espertinho, você vai conhecer o inferno.
— Eu já conheci e não pretendo voltar. E diferente de todos aqui, eu não tenho tempo a perder. Quero fazer a minha ligação.
— Ligação?
— Isso. Se você não sabe eu tenho direitos e um deles é fazer uma ligação. E eu quero fazer a minha agora.
— Ok, pois ligue para sua mamãezinha e avise que não irá passar o natal em casa.
Gabriel é levado até um telefone e digita um número a contragosto. O telefone chama algumas vezes até que uma voz alegre atende do outro lado.
— Alô?
— Alô Luci, sou eu.
— Pedaço de carne. Como estão indo as coisas?
— Nada bem. Estou com problemas, preciso da sua ajuda. Alô? Lúcifer, você está aí?
— Sim, estou aqui, só estava apreciando esse raro momento.
— Eu mereço, como estava dizendo, fui preso como suspeito de diversos homicídios é preciso que você resolva isso.
— Entendi, pode deixar que eu resolvo.
— Ótimo.
— Mas só se pedir com jeitinho.
— Tá tirando com minha cara, seu demônio, filho de uma puta? É culpa sua eu estar aqui.
— Não, a culpa é exclusivamente sua, quantas vezes vou ter que repetir? Foram suas escolhas que colocaram você nessa situação. E já que não temos mais nada a dizer, vou desligar e...
— Não! Caralho, está bem. Lúcifer, por favor, você pode me ajudar a sair dessa confusão?
— Hum... Diga que eu sou o melhor anjo que você já viu.
— Porra, fala serio! Você é sem dúvida o anjo mais filho da puta que eu conheço.
— E vai servir, não se preocupe, Gabriel, você estará livre antes que possa dizer pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico. — Lúcifer encerra a ligação antes que Gabriel pudesse dizer qualquer coisa.
Algum tempo depois, ele recebe a visita do delegado geral em sua cela. Que havia recebido uma ligação do superintendente regional da Polícia Federal. Que lhe informou que, se fosse seu desejo ser exonerado, havia formas melhores de fazê-lo. E que, se não soltasse Gabriel, imediatamente seu desejo seria atendido.
— Quero pedir mais uma vez desculpas por essa confusão, delegado Juan, garanto que os responsáveis serão punidos exemplarmente.
— Tudo bem delegado não precisa se preocupar, afinal estamos todos do mesmo lado.
Após falar pela milésima vez que não faria uma reclamação formal contra nenhum dos policiais envolvidos com a sua prisão, Gabriel é liberado. Quando finalmente chega onde tinha estacionado seu carro ele vê uma garota que corria parecendo assustada. ele corre ao encontro dela.
— O que aconteceu? — A garota se joga sobre Gabriel o agarrando com força. — Se acalme, o que aconteceu?
— Um monstro!
— Monstro? — Gabriel olha para os lados procurando por sinais da criatura, sabendo bem o que poderia estar se escondendo na escuridão.
— Eu não vejo nada, tem certeza?
— Tenho.
— Onde ele está? — Gabriel olha para a garota e percebe um brilho dourado em seus olhos.
— To olhando para ele
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