II
Dois dias depois, o opala estaciona em frente a um hotel no bairro da Bela Vista, em São Paulo. Mentalmente, Gabriel agradece a Deus por ter finalmente chegado, ele não suportava mais a companhia de Lúcifer. A experiência de viajar com o príncipe das trevas fez com que o homem conseguisse entender o velho ditado "antes só do que mal acompanhado." A criatura só sabia comer e reclamar. Nunca que Gabriel imaginou que seria torturado de tal forma sem estar no inferno.
— Nossa, que viagem horrível, eu não sei como vocês humanos conseguem ficar nesse espaço tão pequeno por tanto tempo.
— Bom, teria sido mais fácil. Se você tivesse estalado, os dedos e nos transportado até aqui.
— Ótima ideia e já que vamos fazer isso, por que não começamos logo o apocalipse? Para sua informação, pedaço de carne fazer algo assim é uma clara violação às regras. Nada de poderes quando estiver na terra.
— É piada, né? O diabo, em pessoa, está me dizendo para seguir as regras. Está tudo bem por mim, mas se não pode usar poderes, como você explica os milagres?
— Já ouviu aquela frase "faça o que digo, não faça o que faço?" Então é sobre isso. E mesmo que não fosse caso. São Paulo não é exatamente a cidade que você gostaria de chamar atenção, vai por mim, tem coisas aqui que é melhor evitar de encontrar.
— Aí agora vai me dizer que posso encontrar um vampiro conversando alegremente com um lobisomem?
— Sim, entre outras coisas.
— Pera, tá falando sério? Eles existem, como é possível?
— Ha, ha, ha, vejam só, senhoras e senhores, que cena interessante, temos aqui um morto vivo perguntando para o diabo em pessoa o que é possível ou não. Vai ser melhor para todo mundo se você apenas aceitar. — Gabriel dá de ombros.
— Não é algo que me importe. A mim só importa que você cumpra o nosso acordo, de resto, foda-se.
— Pode ter certeza, nosso contrato é algo que, com o perdão da palavra, é sagrado. Apenas faça a sua parte e tudo vai ficar bem, pode confiar. — Gabriel sorriu ao ouvir as palavras de Lúcifer.
"Foi confiando que acabei indo parar no inferno."
A dupla entra no hotel e Gabriel se admira pelo luxo que surgiu diante de seus olhos.
— O diabo caminha de forma confiante até a recepção do hotel. Ele sorri ao perceber que todos os olhares de admiração e inveja lançados para sua pessoa. Era uma sensação maravilhosa para Lúcifer receber finalmente o reconhecimento que achava que merecia.
— Boa noite, cavalheiros, sejam bem-vindos ao Hotel, Lost Paradise. — Gabriel sorri ao ouvir o nome do hotel. O que posso fazer por vocês?
Eu tenho uma reserva, no nome de Lucius Filho. O recepcionista começa a digitar as informações recebidas em seu computador.
— Lucius Filho é sério?
— Shiu!
— Muito bem, desculpe a demora, senhor Lucius. A suíte presidencial está pronta e colocamos tudo o que o senhor solicitou. Porém, devo informar que houve um acréscimo no valor da diária devido a isso.
— E claro, então, se não tiver mais nenhum detalhe a resolver, gostaria de ir para meu quarto.
— Sim, imediatamente, senhor Lucius por favor queira me acompanhar. — Ao chegar na suíte, Gabriel solta um assobio ao ver a suíte, todo o lugar era gigantesco, sua antiga casa caberia facilmente em um canto da sala de estar. Olhando em volta, ele percebe que diversas peças de artes de artistas famosos eram usadas como decoração. E como se não bastasse, o hóspede tinha uma varanda espaçosa com acesso a uma piscina particular. Enquanto Lúcifer vistoriava o quarto, Gabriel vai até a varanda e olha para a vista de São Paulo. As luzes da cidade começaram a se acender enquanto o dia se encerrava. Era maravilhoso estar de volta, várias lembranças e Gabriel começa a se lembrar de sua antiga vida e de como foi feliz, pelo menos o que foi possível. Ele se lembrou dos amigos, festas, brigas, tristezas e alegrias, mas especialmente de seu amor, Clara. A imagem da mulher surge em sua mente sorrindo enquanto ela usava o vestido de que ele tanto gostava. Tudo o que ele desejava era ir até ela e poder dizer o quanto a amava.
"Será que ela ainda mora na nossa casa, será que ela está com alguém? Posso chegar lá no máximo em quarenta minutos. Mas o que vou dizer? Oi, Clara meu amor , sou eu, seu marido morto, voltei? Terei sorte se ela não me chamar de louco e mandar a polícia me prender."
— É melhor tirar essas ideias tolas da cabeça, exceto caso queira voltar para o inferno. — Gabriel se vira e vê Lúcifer sentado confortavelmente em uma poltrona enquanto bebia um Whisky de 200 anos.
— Ficou louco, Luci, do que tá falando?
— Gabriel, Gabriel, não tente mentir para mim. Eu conheço todos os seus segredos. Você está pensando em ir vê-la nesse momento. Isso seria uma clara violação do nosso contrato. E seria uma pena ver você fracassar agora que está tão perto de conseguir seu prêmio. Só porque não teve paciência.
— Olha só, quem te vê falando assim pensa que se importa com meu bem-estar. Nem parece a maldita criatura que sentia prazer ao ver meu sofrimento enquanto me torturava. — Lucifer se levanta com seus olhos brilhando vermelhos as sombras em volta deles começam a crescer mergulhando todo o lugar em trevas.
— Acho que você está um pouco confuso mortal. Eu apenas estou fazendo o que me é de direito se não queria sofrer que tivesse pensado antes é seguido pelo caminho certo. Ou por acaso se acha um homem bom um injustiçado? Principalmente depois de tudo o que fez. A sangue em suas mãos Gabriel e nem toda água do mundo pode limpar isso. Você deve pagar pelos seus crimes, não me culpe por ser quem veio cobrar a sua divida.
— Você está certo, demônio, eu devo pagar, mas não sou obrigado a gostar de sofrer e muito menos de você. Quando tudo estiver acabado, vou ter certeza de que, quando chegar minha hora, não vou passar nem perto do purgatório para não te dar esse gostinho.
— E o que veremos, Gabriel, lhe desejo sorte na sua cruzada para se tornar um santo.
Tudo volta ao normal conforme Lúcifer parece se acalmar e volta a beber seu whisky.
— Bom, agora que estamos conversados, vou tomar um banho e depois podemos ver algo para jantar.
— Aonde você pensa que está indo?
— Tomar um banho?
— Não, não, mais uma vez parece que você se confundiu mortal, eu vou ficar aqui, não você.
— Pera aí, onde que eu vou dormir?
— Não se preocupe, eu reservei um lugar muito especial para você que lhe fará sentir-se em casa. — Lúcifer dá um longo gole em sua bebida e sorri como se lembrasse de uma ótima piada. Aquilo faz Gabriel ter certeza de que ele iria comer o pão que o diabo amassou.
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