I
Um Opala ano oitenta, quatro portas, vermelho, acelera pela DF 130 seu destino, a cidade de São Paulo. Dentro do automóvel, Gabriel olhava fixamente para a frente enquanto pisava cada vez mais fundo no acelerador.
— Ei! Mais devagar antes que acabe causando um acidente.
— Não sabia que tinha medo de morrer, Luci.
— Não tenho só, não quero estragar meus Desmon ele é exclusivo, sabia?— Lúcifer ajeita a gravata enquanto pisca para Gabriel, que aperta com força o volante do carro, imaginando como seria bater em uma mureta e ver aquele demônio voar pela janela. — Já disse para ir devagar, para que tanta pressa?
— Para quê? Você ainda tem coragem de perguntar? Cinco anos fazem cinco malditos anos.
— Ah! Por favor, não me diga que vai começar a reclamar, típico, vocês protozoários fazem drama por tudo. Eu avisei que era má ideia criá-los, mas alguém me escuta? Não! É só o Lúcifer estar com inveja, lúcifer quer atenção, ele quer o lugar do pai. E olha como está o mundo e por culpa de quem? Me diga e minha, das plantas, dos animais? Não! E de vocês a criação perfeita. Conseguiram acabar com o próprio lar. Hunf! Perfeita, meu ovo!
— Quando Gabriel finalmente parece ter decidido que jogaria o carro no precipício à frente na tentativa de calar Lúcifer, luzes azuis e vermelhas surgem em seu retrovisor, o ordenando a ir para o acostamento.
Os policiais se aproximaram do opala com armas em punho devido a experiências passadas apenas certos tipos de pessoas dirigiam daquela forma. E nenhuma delas eram boa coisa.
— Boa noite cidadão documentos do senhor e do carro.
— Boa noite seu guarda algum problema?
— Logo vamos saber. — O agente rodoviário pega os documentos de Gabriel e ao examiná-los se assusta e vai em direção aos companheiros retornando minutos depois. — Peço desculpas pelo transtorno delegado, pode seguir e obrigado pelos seus serviços.
— Tudo bem oficial obrigado e bom serviço. — Gabriel faz uma continência para o policial e parte novamente rumo a São Paulo.
Mal o carro se afasta da viatura rodoviária, Lúcifer começa a gargalhar.
— Qual a graça, diabo?
— Você, o que mais seria? Seu grandíssimo mentiroso, "obrigado pelo seu serviço delegado..." Qual é mesmo o nome?
— Juan Cardoso de Almeida .
— Ha, ha, ha! Esse mesmo, quem te viu e quem te vê, antes se borrava de medo quando tinha que falar esse nome, acho que alguém ia descobrir a verdade, agora mente que nem sente o tempo voa.
Gabriel se cala sem ânimo para uma discussão filosófica com o demônio sentado ao seu lado. Afinal, o que era um minuto, um dia, um ano, dez mil, para um ser que viu a aurora da existência e verá o fim dos tempos? Absolutamente nada, o mesmo não se podia dizer a respeito de Gabriel. Ele vivenciou muitas coisas nos 30 anos que esteve vivo na terra, algumas boas e outras ruins e, há pouco mais de sete anos, ele morreu. E, apesar das crenças com que foi criado, não acreditava nem no céu, nem no inferno. Agora imaginem sua surpresa quando fechou seus olhos pela última vez e, ao abri-los novamente, descobriu que o inferno existe e que ele é seu novo lar? Foi um choque para o policial Gabriel, que foi imediatamente torturado na intenção de fazê-lo pagar pelos seus crimes.
Essa situação durou o que pareceu uma eternidade para aquele homem. Um dia, sem qualquer motivo, Lúcifer surgiu diante dele, interrompendo seu sofrimento. O demônio tinha uma proposta a lhe fazer. Ele teria a chance de uma nova vida junto de sua amada Clara. Para isso, bastava cumprir o contrato. Sem pensar, Gabriel aceitou os termos de Lúcifer e, quando deu por si, estava em um quarto de hotel e haviam se passado apenas três anos desde que havia morrido. E agora, cinco anos depois de seu regresso ao mundo dos vivos, estava chegando ao fim seu contrato com o filho da perdição. Que no momento procurava uma música no rádio do carro.
— O que está fazendo?
— O que te parece?
— Não. Eu quero dizer aqui, por que você está aqui neste momento, neste carro? Normalmente um dos seus lacaios e que viria falar comigo.
— Bom, como logo vamos concluir nossos "negócios." Achei de bom-tom lhe acompanhar no final. Sabe como é para te apoiar.
— Acha que engana quem? Envia esse apoio você sabe onde! Tá na cara que tem algo acontecendo só lhe aviso que se tentar...
— O que você vai fazer a respeito humano? — Apesar da voz suave de Lúcifer, Gabriel podia sentir a promessa de dor que cada palavra carregava.
— Nada, mas você pode prometer que, seja lá o que for, não interfere em nosso contrato?
— Eu juro em meu nome. Agora que resolvemos isso, vamos tratar de assuntos mais importantes.
— Que seriam?
— Arrumar algo para comer, estou morrendo de fome.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro