A Linha Paralela - I
Foto: Envato Elements.
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Taiaçupeba, 12 de março de 2011...
Alguém já havia dito: "Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim".¹
Seria possível, no entanto, de alguma forma, voltar ao começo? Os espíritas dizem que a reencarnação é sempre um reinício, melhor, uma continuidade e isso, em termos físicos, é voltar, senão ao exato ponto de partida, no mínimo em condições de iniciar-se um novo ciclo, tendo-se findado outro. Nicodemos, o fariseu do Sinédrio, já perguntava a Jesus: "Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e renascer?", ao que Jesus respondera: "Não te maravilhes do que te digo: 'Necessário vos é nascer de novo', pois o vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito".
Basílio de Almeida, o delegado, depois do retorno de sua 'grande aventura antártica²', já devidamente reinstalado e descansando em seu sítio no interior de São Paulo, sentia-se satisfeito pelo resultado de tudo e, muito embora fora toda uma história fadada ao fracasso, como nas expedições do norueguês Amundsen e do inglês Scott, que tinham tudo para dar errado — e a do inglês efetivamente dera, sentia-se vitorioso como o aventureiro nórdico.
"E assim deve ter se sentido Amundsen, quando finalmente deitou a cabeça no travesseiro, lá na Noruega, após sua incrível jornada ao polo Sul, tendo sido o primeiro a pisá-lo em seu ponto máximo, o polo geográfico, desbancando seu adversário, o britânico Scott...", pensou o delegado.
Mas algo o incomodava. "Raios", era sempre aquele pensamento, de volta à sua mente. E tinha a ver com o passado. Na própria Antártida, haviam mencionado o caso Felipe Torres, o genro do poderoso 'banqueiro' do jogo do bicho, Nilo Romano³. E sempre o delegado passava por quem o tivesse solucionado, lá nos longínquos anos 1990, mas não! Os louros da vitória cabiam a Jorge Fontana, um intrometido advogado, embora, para a mídia em geral, Basílio tivesse sido o responsável pelo desvendamento. Mas ele sabia que não!
"Ah, se eu pudesse voltar atrás e tentar novamente"...
Até então, ele fora revestido pelo glamour da conquista, como sendo o mentor da solução do caso, mas no fundo ele sabia que não, que o devido autor da façanha chamava-se Jorge Fontana.
"É como se Amundsen deitasse agora a cabeça no travesseiro, tendo levado a fama, mas sabendo que, ao chegar no polo Sul, lá encontrara a bandeira da Inglaterra tremulando e assim teria sido Scott (e não ele) o verdadeiro e primeiro homem a conseguir a maior façanha gelada da história. Na volta, com a morte de Scott e o sumiço de seu diário, jamais seria conhecido que Amundsen era, no fundo, uma farsa; isso porque ele, na verdade, havia sido o segundo (e não o primeiro), a pisar o polo, mas, malandramente (e antes que chegassem seus companheiros) havia quebrado o mastro da bandeira inglesa, escondendo-a dentro da neve; e depois fincado no lugar a bandeira da Noruega, para a histórica foto ao lado dela".
Ilações, obviamente, porque ao chegar na base do mundo, não havia nenhuma bandeira ali e Amundsen, de fato havia, havia sido o pioneiro. E tampouco o diário de Scott havia sumido, foi encontrado junto a seu corpo, nos confins gelados da Antártida. Fora Scott, na verdade, quem encontrara a bandeira do adversário, mortificando-se por isso. Tratava-se tão somente de um devaneio do delegado, para tão somente dizer a si próprio: "Eu sou uma farsa".
"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim". E com esse pensamento ecoando, ele se deitou em 12 de março de 2011. E sonhou. Sonhou com a reunião protagonizada por Jorge Fontana, em 29 de abril de 1990...
Naquela tarde, durante a reunião, Basílio transpareceu tranquilidade e domínio da situação. Após determinar que detivessem o (a) suspeito (a), para que ele (a) prestasse depoimento no DEIC, ainda assim, não se sentia satisfeito por não ter sido ele o condutor daquele encontro. Queria para si, os holofotes? Sim, era uma possibilidade, mas, por outra, o que lhe incomodava era talvez não ter feito seu trabalho da melhor forma, dando seu máximo. Assim, desejou voltar no tempo e fazer diferente, quem sabe... E não só isso, voltar, mas voltar com todo o conhecimento adquirido, de forma que pudesse aproveitá-lo a seu favor, objetivando um novo fim. Pois ele sabia que algo naquela história ainda não estava bem explicado. Mas acabou convencido de que a vida era assim mesmo, tinha-se que lidar com sucessos e fracassos e assim, de tropeço em tropeço, entre erros e acertos, calcava-se o saber de um homem.
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¹A autoria do texto é erroneamente atribuída a Chico Xavier, Bob Marley e Francisco do Espírito Santo Neto (por meio de Hammed). Na verdade, pertence ao escritor James R. Sherman, publicada no livro Rejection, 1982 (fonte: www.pensador.com).
²"O Desafio Antártico, um caso do Delegado Basílio", 2005 (remake: 2021, como "Assassinato no Continente Gelado").
³"Que a Morte os Separe", 2007 (remake: 2022).
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